sexta-feira, 20 de março de 2009

Deitar dinheiro fora?

O Correio da Manhã revelou que a areia colocada nas praias da Costa de Caparica já custou 17 milhões de euros e foi praticamente toda levada pelo mar, baseando essa revelação num estudo do geógrafo José Nunes André.
Este especialista entende que "a intervenção que o Instituto da Água está a fazer é tecnicamente incorrecta e corresponde a deitar dinheiro fora". O autor do trabalho de análise do actual estado da costa defende que a "solução deverá passar pelo recuo e pela recolocação das pessoas e bens se necessário, uma vez que depois de tantas intervenções este troço da costa continua ameaçado". Nunes André defende que a deslocalização de pessoas deverá ser para uma área superior a 50 metros, numa medida que não irá afectar um grande número de habitantes. "As intervenções que se vem fazendo no Litoral são politicamente correctas, porque as populações ficam satisfeitas, mas científicas e ambientalmente – e até economicamente incorrectas – pois gasta-se avultadas verbas mas não se resolve o problema". Até ao final de 2010 está previsto gastar-se mais 5 milhões de euros num país que em média cada dia que passa se endivida em 48 milhões.
Não sou especialista na matéria. Não sei se a solução apontada é a melhor Mas uma coisa é certa: a areia colocada desapareceu.
Este exemplo de desperdício de recursos infelizmente não diz respeito a apenas esta situação. Podemos encontrar outros exemplos de dinheiro deitado fora. A decisão sobre a transferência do Museu dos Coches, por exemplo. Mas também no desporto.
E sem ir buscar decisões políticas que só o clientelismo pode explicar, doença que infelizmente é partidariamente transversal quando no exercício do poder, preocupa sobretudo os milhões de euros investidos em infra-estruturas desportivas sem uso adequado ou inadequadas para os fins a que se propunham. O exemplo comparado é excessivo? Talvez! Concedo até essa opinião. Mas se bem atendermos, no essencial, trata-se também de “deitar dinheiro fora”.
O João Almeida já aqui chamou a atenção para a dimensão deste problema. Quem tem uma ligação profissional ao campo das práticas desportivas tem sempre uma estória para contar sobre erros em equipamentos construídos, por vezes tão caricata que até custa acreditar. Mas não são apenas os erros de projecto ou de construção. São as próprias opções tipológicas, a sua localização, os seus custos de manutenção e o baixo aproveitamento desportivo.
Num momento em que o governo central e os governos locais, face à proximidade eleitoral, se desdobram no anúncio de tantos novos equipamentos seria bom que estivéssemos seguros de que não vamos, uma vez mais, hipotecar recursos públicos, que são escassos, sem assegurar a eficiência, a viabilidade e a sustentabilidade destes novos projectos.
Em muitas das decisões de que vamos conhecendo ninguém se dá ao trabalho, que é porventura aborrecido, de explicar qualquer tipo de pensamento político ou ideológico que justifique as opções tomadas ou qualquer estudo ou fundamentação técnica que as suporte. Numa matéria tão sensível e de importância estratégica para o alargamento e desenvolvimento da prática desportiva, correr o risco de decisões que delapidam recursos e, a prazo, hipotecam a possibilidade de responder às necessidades de prática desportiva dos cidadãos, seria continuar uma lógica errada. A menos que se tenha aprendido com os erros. É a esperança que resta.

3 comentários:

Anónimo disse...

a questão actual mais interessante é saber se o cop vai ser agraciado com mais dez, vinte ou trinta milhões para não se responsabilizar pela produção de nenhuma medalha olímpica

tudo aponta para que a prenda seja dada sem remorço e sem atenção por todas as palavras ditas e o fracasso que obscureceu toda uma legislatura

quem vai ser avaliado nas eleições legislativas por esse fracasso, que não o seu autor material, irá dar ao cop a remuneração pretendida?

não seria mais barato voltar ao modelo antigo de dar a cada federação o que necessita em vez de contratar um agente fracassado e irresponsável para distribuir fundos públicos

e que se autoelegeu irreponsavelmente?

qual é o diferencial entre distribuir fundos públicos em casa ou comprar uma organização associativa falhada para o fazer?

estas são questões que do ponto de vista económico se justificam colocar

a realidade europeia mostra que portugal pode competir para 5 medalhas olímpicas

quanto custa fazê-lo com eficiência é a resposta que a economia pode dar

não o usar serve a ineficiência, a prepotência e a megalomania de trabalhar com o dinheiro público sem prestar contas e sem ser chamado a fazê-lo?

o desporto português agradeceria nas urnas a eficiência e a ética de o levar onde está a europa

josé manuel constantino disse...

Caro Fernando Tenreiro

A questão que você coloca está para além do conteúdo do post. Não obstante e porque sobre a matéria que invoca têm sido ditas as maiores barbaridades ,creio que só é possível avaliar o procedimento relativo ao modo como se processou o apoio público à preparação olímpica se fizer uma avaliação que não pode ser apenas a dos intervenientes(COP e administração pública desportiva).Deixar aos protagonistas essa avaliação é permitir que se criem sobre-realidades à própria realidade. Ora não é possível avaliar bem quando se começa por distorcer o próprio ponto de partida ou introduzir sobre esse ponto entendimentos que só o fracasso dos resultados posteriormente veio a determinar. Até ao princípio dos Jogos o modelo era excelente e nem o objectivo “medalhas”foi alguma vez questionado. Pelo contrário, e sem que ninguém o solicitasse foi inúmeras vezes enfatizado.Mas qualquer modelo é bom se bons forem os resultados.E por isso mais importante do que discutir o modelo é discutir os objectvos que se pretendem alcançar com a pariticipaço olímpica nacional.

Anónimo disse...

Caro José Constantino

Foquei o cop porque o que acontece tem haver com ética

Concordo consigo em plenitude

eu esperava que portugal alcançasse as 5 medalhas para passar à modernização sobre o sucesso e não sobre o caos

Pequim, foi o caos, ao falhar em mais de 50% dos resultados contratados e pelo descontrolo de liderança, governance, auditoria e prestação de contas, demonstrou que havia e que há muito mais coisas erradas

Há que começar de princípio

Os dados que tenho analisado provam-me que Portugal tem recursos económicos e demográficos para produzir 5 medalhas olímpicas para se aproximar da média europeia

Menos de cinco medalhas olímpicas somos ineficientes e afastamo-nos da europa

é mentira que as medalhas sejamum caso de sorte e azar
os países europeus ganham porque são eficientes e competentes

somos incompetentes, desperdiçamos recursos e não auditamos os gastos
somos irresponsáveis

A questão que coloco é que o COP e o associativismo desportivo português necessitam da reforma técnica e económica que nunca tiveram

o dinheiro de que vivem são amendoins e os resultados desportivos são da cauda da europa

são nossos amigos e pessoas desesperadas porque o pouco que recebem lhes parecem fortunas de um ponto de vista pessoal

a maioria das organizações económicas do desporto português são micro e pequenas empresas, raras alcançam o estatuto de médias e muitas trabalham com o dinheiro dos contribuintes que recebem ao fim do mês sem prestação de contas

o ponto de partida do projecto de Pequim, que o Constantino aponta, necessita de uma auditoria de modernização ao cop

Haverá alguém com coragem para o fazer?

A começar seria pelo cop, como instituição que representa o topo da produção desportiva e dos princípios que são pedidos aos melhores atletas

só a partir de auditorias de modernização é possível dar às organizações desportivas o que necessitam sem a imposição de actos cegos que a comunicação social 'aprecia' e que estrangulam o desporto português


Mas, porquê dar aos dirigentes associativos desportivos aquilo que não querem?