O presidente de um organismo desportivo, há algum tempo, queixava-se que tinha de ter cuidado quando reunia a sua direcção, que, diga-se, ele escolhera, re-escolhera e voltara a escolher, porque tudo o que se passava nas reuniões era depois contado ao responsável politico do sector. Ignoro o que lá se passava e se o que se passava tinha algum interesse para o responsável político. Ou se existe algum exagero na observação. Mas o queixume vale por mil tratados sobre o estado da coisa.
Não é difícil, a quem conheça os meandros do movimento associativo ,designadamente a sua estrutura federativa, saber das rivalidades, dos medos, das desconfianças e até das invejas entre alguns dos seus principiais protagonistas. Toleram-se. Mas não apreciam o destaque que este ou aquele possa ter. Sobretudo se for maior que o próprio. Por vezes é o futebol o mal-amado. Que normalmente não liga e corre por conta própria. Em outras, o atletismo cuja capacidade de pensar os problemas desportivos é habitualmente superior. Coisa, de resto, temida e pouco apreciada. Nas subcategorias das diferentes modalidades há para todos os gostos. As raízes deste problema são de natureza vária. Protagonismos distintos, a personalização do poder, diferente atenção da comunicação social, desigual obtenção de recursos públicos e, no geral, uma cultura desportiva pobre e pouco aberta à diversidade de valores, de interesses ou de opiniões. E que convive mal com o sucesso alheio.
A perpetuação dos mesmos actores e a respectiva profissionalização induziu a uma cultura corporativa que funciona em círculo fechado. Alimenta-se de pequenas disputas e problemas de mando e de protagonismo. Revelam “pouco mundo”, embora alguns,reconheça-se, viajem muito. O desporto começa e acaba nas suas modalidades. Rivalizam em quem chega mais facilmente ao poder político. A palavra vale pouco. E o proscrito pode passar a aliado num abrir e fechar de olhos. Para o exterior prevalece, por vezes, uma falsa unidade que não passa de uma “cultura de queixa” contra o Estado a quem se habituaram a encostar e a dele depender. Trocado por miúdos significa apenas a necessidade de “ dinheiro”.
Este ressentimento- severo sempre que qualquer situação na tesouraria da administração pública desportiva obriga a atrasos nas transferências financeiras ou a reduções nas mesmas - é uma pêra doce para qualquer governo. Um poder político minimamente atento, sabe bem como ultrapassar esta situação. A fragilidade da estrutura federada e a ausência de uma solidariedade transversal ao movimento associativo permitem manter o ”ressentimento” em níveis aceitáveis. E, em alguns casos, sendo tanta a dependência perante o poder político, trocar o ressentimento público pelo silêncio. Há excepções, felizmente. Mas poucas. A coesão e unidade são frágeis. O que também não ajuda a governação por ausência de uma parceria sólida, estável e credível.
Se recensearmos as intervenções públicas e programáticas de quem se propõe liderar este sector encontramos um discurso que é sempre feito das mesmas ideias, das mesmas frases, um léxico reduzido a meia dúzia de lugares comuns e as mesmas rotinas. Um realismo prudente dirá: estes são os dirigentes que temos e goste-se ou não é com eles que é preciso trabalhar. Mas é possível trabalhar numa base de reserva e desconfiança permanentes? Ser possível é. Mas as dúvidas são muitas quanto às possibilidades desse trabalho ter efeitos sustentáveis e duradouros que tornem o sistema desportivo mais apto e mais qualificado. Menos egoísta. E mais solidário.
Não é difícil, a quem conheça os meandros do movimento associativo ,designadamente a sua estrutura federativa, saber das rivalidades, dos medos, das desconfianças e até das invejas entre alguns dos seus principiais protagonistas. Toleram-se. Mas não apreciam o destaque que este ou aquele possa ter. Sobretudo se for maior que o próprio. Por vezes é o futebol o mal-amado. Que normalmente não liga e corre por conta própria. Em outras, o atletismo cuja capacidade de pensar os problemas desportivos é habitualmente superior. Coisa, de resto, temida e pouco apreciada. Nas subcategorias das diferentes modalidades há para todos os gostos. As raízes deste problema são de natureza vária. Protagonismos distintos, a personalização do poder, diferente atenção da comunicação social, desigual obtenção de recursos públicos e, no geral, uma cultura desportiva pobre e pouco aberta à diversidade de valores, de interesses ou de opiniões. E que convive mal com o sucesso alheio.
A perpetuação dos mesmos actores e a respectiva profissionalização induziu a uma cultura corporativa que funciona em círculo fechado. Alimenta-se de pequenas disputas e problemas de mando e de protagonismo. Revelam “pouco mundo”, embora alguns,reconheça-se, viajem muito. O desporto começa e acaba nas suas modalidades. Rivalizam em quem chega mais facilmente ao poder político. A palavra vale pouco. E o proscrito pode passar a aliado num abrir e fechar de olhos. Para o exterior prevalece, por vezes, uma falsa unidade que não passa de uma “cultura de queixa” contra o Estado a quem se habituaram a encostar e a dele depender. Trocado por miúdos significa apenas a necessidade de “ dinheiro”.
Este ressentimento- severo sempre que qualquer situação na tesouraria da administração pública desportiva obriga a atrasos nas transferências financeiras ou a reduções nas mesmas - é uma pêra doce para qualquer governo. Um poder político minimamente atento, sabe bem como ultrapassar esta situação. A fragilidade da estrutura federada e a ausência de uma solidariedade transversal ao movimento associativo permitem manter o ”ressentimento” em níveis aceitáveis. E, em alguns casos, sendo tanta a dependência perante o poder político, trocar o ressentimento público pelo silêncio. Há excepções, felizmente. Mas poucas. A coesão e unidade são frágeis. O que também não ajuda a governação por ausência de uma parceria sólida, estável e credível.
Se recensearmos as intervenções públicas e programáticas de quem se propõe liderar este sector encontramos um discurso que é sempre feito das mesmas ideias, das mesmas frases, um léxico reduzido a meia dúzia de lugares comuns e as mesmas rotinas. Um realismo prudente dirá: estes são os dirigentes que temos e goste-se ou não é com eles que é preciso trabalhar. Mas é possível trabalhar numa base de reserva e desconfiança permanentes? Ser possível é. Mas as dúvidas são muitas quanto às possibilidades desse trabalho ter efeitos sustentáveis e duradouros que tornem o sistema desportivo mais apto e mais qualificado. Menos egoísta. E mais solidário.
5 comentários:
Caro Dr. JM Constantino,
O nosso sistema desportivo é um categórico exemplo ilustrativo do funcionamento de uma dominância sociopolítica de teor patrimonialista, ou mais exactamente neopatrimonialista. E isto porque a nossa sociedade está toda ela estruturada segundo eses modelo de dominância. Assim, a sociedade portuguesa é ainda hoje uma sociedade de tipo patrimonialista, mais exactamente neopatrimonialista, na qual o outrora papel determinante do suserano foi substituído pelo moderno do Estado. Neste tipo de dominância sociopolítica não imperam as relações burocrático-racionais, nem as exigências do tratamento indiferenciado e as estruturas de poder são frágeis e baseadas em lógicas ad hoc de favorecimentos particulares e de gestão administrativa pouco independente e profissionalizada. Os respectivos centros de poder e patrimoniais estabelecem uma configuração piramidal com as elites centrais a acumularem os factores e sinais básicos do poder e a estabelecerem o predomínio das relações de tipo clientelar e a formação de grupos corporativos.
Por isso, no nosso sistema desportivo se perpetuam as lideranças, estas não questionam o poder político central e dominante e são incapazes de produzirem um discurso, narrativa ou doutrina que conflitue com a do poder, mesmo que esta seja incapaz de apresentar quadros estratégicos de desenvolvimento do desporto. No modelo neopatrimonialista tudo tende para manter-se, ainda que tenha níveis evidentes de falta de efcácia e de eficiência. Pos o modelo não gera mudança, a não ser por rupturas que geralmente não ocorrem por fragilidades evidentes dos actores das periferias do poder. Mas há vontades simétricas relativamente aos quadros de poder central e das organizações, só que dificilmente são poderosos para afrontarem os detentores/elites instalados.
José Pinto Correia
Todos nós, poder ou periferia, sofremos de
"...um discurso que é sempre feito das mesmas ideias, das mesmas frases, um léxico reduzido a meia dúzia de lugares comuns e as mesmas rotinas."
Nos blogs, jornais, revistas, Parlamento, desporto... e por aí adiante.
Todos temos as mesmas limitações, por vício, hábito ou carência.
Vivemos num mundo hermético, por muito aberto que se ache.
Não é só no "nosso sistema desportivo", que ninguém vive em ambiente asséptico.
Como diz o Obama
OS TEMPOS MUDARAM, E NÓS TAMBÉM TEMOS DE MUDAR
Nós deveríamos ter mudado em 25 de Abril mas mantemos o espírito, os modais, costumes e hábitos do antes.
Apanhados na encruzilhada do europeísmo e do globalismo, continuamos arreigados a uma mentalidade do passado porque foi nele que nascemos e dentro do qual somos capazes de respirar.
Com a introdução dos novos tempos que implicam mudanças, como a Europa ainda viciada nos seus nacionalismos, e o global ainda desconhecido nas suas origens e nos seus objectivos, obrigam o lusitano a ancorar-se no que conhece arreigadamente do passado.
É uma defesa perante um futuro que se desconhece.
José Constantino
O que paradoxalmente falta ao futebol e ao atletismo é competitividade.
O futebol vai dar o golpe do bau de novo, depois do Euro2004, segue-se o Mundial2018.
Mesmo que a parceria perca muita 'tinta' vai correr para aquela direcção.
Concordo que o Fernando Mota desequilibra a balança associativa do desporto.
A hipótese de 'lhe dar luta', o que o próprio não menosprezaria, é uma falha que o Estado não usa em Portugal.
Todos perdem. O futebol e o atletismo perdem neste momento com os 'peanuts' orçamentais.
Esta falta de luta chega a 'aborrecer' o Fernando Mota, 'penso eu de que'.
Contudo, entre ter 5 na mão e 10 a voar ele racionalmente prefere os 5.
Só que os 5 actuais, são pequenissimos 5, e quem perde os outros 5, para termos dimensão europeia, somos todos.
Ele se reformou e já não vai em voluntarismos de juventude e o bom senso diz que é a atitude correcta.
É mau para o desporto de Portugal que um dos seus líderes mais sagazes não tenha condições institucionais para competir pelos interesses maiores da sua modalidade e do desporto nacional.
Esta é a situação em que nos encontramos.
José Correia,
A hipótese que lhe coloco é a de descrever quem ganha e quem perde, de acordo com a sua abordagem e qual seria a situação alternativa.
Fernando Amado dizia que a "velhice é uma chatice".
O Estado mantém a psique de que "o desporto é uma chatice", fixação que se mantém viva e colada a todos os Governos, para salvar a face e manter a coerência.
Enviar um comentário