sexta-feira, 16 de outubro de 2009

À atenção do associativismo desportivo

Publica-se novo texto da autoria de Fernando Tenreiro e que se agradece.
A notícia da fusão das confederações patronais AEP, AIP e CIP como primeiras subscritoras deveria fazer pensar ao COP e à CDP se a razão das primeiras não será mais útil ao desporto.

As instituições empresariais irão “ser uma estrutura empresarial na qual venham a estar representados todos os sectores de actividade económica de todas as regiões do país”. A novel Confederação Empresarial Portuguesa receberá as competências e atribuições actualmente exercidas pela AEP e AIP na área institucional, sendo também implementadas novas funções, entre as quais se destacam a “representação de todas as actividades confederadas” junto das outras instituições, a “intervenção em negociações colectivas de trabalho e em convenções colectivas”, a participação “na preparação de reformas junto do Governo e de outros parceiros económicos e sociais” e a participação em organizações congéneres nacionais ou internacionais.

Esta estrutura e funções deveriam por a tocar todas campainhas do associativismo desportivo português.

Já o disse na Academia Olímpica que o COP deveria liderar o associativismo desportivo. Disse-o, acautelando em primeiro lugar que não era candidatado a nenhum lugar ou cargo no COP.
As federações devem compreender que sem uma instituição líder não têm uma imagem que as represente e capte os recursos necessários ao desenvolvimento.
O que está em causa é se dentro de vinte anos conseguimos dar desporto a mais de 50% da população como fazem os países europeus com maior bem-estar.

As instituições do desporto têm estado desfocadas destes objectivos maiores e accionaram o lóbi dos Jogos Olímpicos em Lisboa com prazo e dinheiros ilimitados. Esta fuga para a frente significa que o fracasso de Pequim fez o seu caminho. Verificando a incapacidade do COP de conquistar medalhas olímpicas, eliminando qualquer veleidade de atribuição pelo COI dos JO, voltam-se para a candidatura à organização para falhar porque “concorrendo já se ganha”. O lóbi dos Jogos Olímpicos de Lisboa também fala de estudos económicos. Isto para quem nunca se deu ao trabalho de os utilizar tem o objectivo simples de encomendar a quem diga que sim senhor, dar uns milhões para perder é excelente para o país, e para os atletas que até não têm de competir.

As federações devem evitar estes maniqueísmos que não servem o desporto e são eticamente reprováveis. Esta proposta não é séria.

As federações devem eleger o seu responsável máximo, de entre os melhores que se candidatarem, definir o seu objecto maior e consensualizá-lo com a sociedade e exigir ser financiadas para um programa de longo prazo de desporto sem as políticas habituais que transformaram o desporto português no mais pequeno da Europa.

São precisos estudos sobre o programa realizar sobre o associativismo, sobre a gestão dos projectos desportivos em geral e dos olímpicos em particular, possivelmente, das inúmeras áreas técnicas da prática de alto rendimento, assim como, apurar o que de essencial tem o desporto português e o lançamento de investimento para as escolas de modalidade com investigadores, laboratórios, publicações científicas portuguesas de primeira água e técnicos nas instituições desportivas que saibam o que é preparar a feitura de uma lei, lançá-la, acompanhar a sua aplicação e ter a capacidade de analisar os resultados do seu impacto nos agentes privados e na produção desportiva, por fim, reiniciando o processo.

A situação actual é iníqua e eticamente reprovável para as gerações do passado, actuais e as do futuro que poderiam beneficiar mais do consumo desportivo, e para os seus profissionais e instituições novas oportunidades floresceriam.
O Professor Carlos Cardoso e o Comandante Vicente Moura deveriam ser capazes de constituir alternativas de futuro e resolver tantos problemas que são verdadeiramente importantes como a produção de quantidade e qualidade da prática desportiva em taxas de crescimento dos praticantes federados superiores a 6% ao ano. Aglutinar a Confederação e Comité Olímpico foi um objectivo longe destes líderes no passado. Ou talvez das federações.

Todos eliminam a hipótese de ficarem na história do desporto português com um acto que os empresários resolveram concretizar, também depois de tanto tempo.

Certamente que as associações patronais se asseguraram junto do Governo e dos principais partidos da viabilidade e benefício deste projecto. Como empresários devem ter feito as suas contas… A decisão não surge apenas da iniciativa dos privados mas justifica o consenso público e a promoção junto da sociedade como se observo no anúncio público, ontem, 15 de Outubro.

13 comentários:

Luís Leite disse...

Estou totalmente de acordo com Fernando Tenreiro.
Com uma ressalva: que não se multiplique por dois a incompetência, o compadrio político e o desconhecimento.
O grande problema são as pessoas.
Primeiro teria que haver uma limpeza total e uma renovação com gente mais nova e profissional, que saiba a sério de desporto, conhecendo o que se faz nos países mais desenvolvidos.
Até lá fundir organizações incapazes não adianta nada.
Em termos de desporto, por enquanto, somos terceiro mundo.

Anónimo disse...

Bom, eu só encontro uma solução para a progressão e evolução do Desporto em todas as suas vertentes neste País!
Para tal basta pegar em todos aqueles que figuram no Despacho 58/PRES/2009, página do IDP, recursos humanos, despachos, e colocá-los nos centros de decisão do Desporto Nacional.
Aposto que não se encontra melhor no âmbito desportivo nacional, com um senão: o IDP com a saída dos seus melhores cérebros ficava moribundo, ma sem contrapartida penso que as medalhas, as taças e toda a panóplia de louvores que cairia sobre o nosso Desporto o levaria aos píncaros do Evareste da Altíssima Competição e dos diários "cases studies" que tais cérebros iriam revelar ao Mundo!
Seria o renascer de 500 e a conquista do Planeta mas agora com "Armanis".

fernando tenreiro disse...

Luís Leite,
Você parece um animal feroz a julgar e correr com as pessoas.
Todos somos poucos para levar o desporto português para as médias europeias
Parece uma impossibilidade, não é?
Veja que os alemães conseguem criar governos de coligação e depois substituem um dos parceiros e o país parte imediatamente para um novo período
Este processo dá confiança à população e que sabe qual a situação geral com que pode contar e equacionar o melhor para a sua vida

Anónimo,
A sua nota é magnífica por demonstrar como afinal o animal feroz está vivo.
Mas há animais ferozes e animais ferozes.
Uma coisa são o Santos Silva e o Graça Moura que cumprem missões rigorosas com estratégias de régua e esquadro.
Não sei se você já ouviu os dois ou apenas um deles. Acredite, são ambos brilhantes sem falar de determinadas coisas como a política de que são profissionais acima da média.
Outros casos são diferentes.
Por exemplo você anónimo face à peça de um dos donos deste blogue você gozava com o ‘à’ que devia ser ‘há’. Essas coisas são importantes mas o conteúdo do texto era mais importante e você perdeu-o.
Depois você deixou de trabalhar com a régua e o esquadro na primária, você é superior à régua e ao esquadro.
Escreva sempre o que lhe apetecer.

P disse...

Centralizar tudo no COP?!?!?
se o presidente do IDP tivesse o mesmo comportamento que o presidente do COP na altura dos Jogos de Pequim, será que o membro do Governo responsável pela área do Desporto não faria o que se exigia?

O que sei é que tivemos as federações a apoiar mais do mesmo. Com dirigentes que apesar de tudo o que disseram se mantiveram agarrados ao cargo e outros que com tudo o que foi dito continuam a apoiar, acredita realmente que o melhor é ser o COP a tomar conta do Desporto Nacional?!?!?

P

Anónimo disse...

Diz FT: "Já o disse na Academia Olímpica que o COP deveria liderar o associativismo desportivo. Disse-o, acautelando em primeiro lugar que não era candidatado a nenhum lugar ou cargo no COP"

Socorro, está tudo maluco...

fernando tenreiro disse...

Ainda em relação ao Anónimo

Você não me viu dizer que os funcionários do IDP iriam para a nova organização.

O que eu falo é de novas funções.


Quanto ao P
Tem de haver uma análise credível e independente para estabelecer o nível em que o desporto português está, para onde deve ir e se as actuais condições conseguem responder a esse novo desafio, para finalmente propor novas medidas.

Como você diz os dirigentes desportivos privados não respondem ao socialmente expectável o que na minha perspectiva significa que os líderes desportivos privados não tiveram os incentivos do mercado ou do Estado para reagirem no sentido que maximizasse o óptimo social.

De acordo com a economia digo que se deve trabalhar para produzir o dobro de desporto, projectos de maior dimensão, maiores audiências, remunerações, investimento, competitividade e vida activa, transparência, frontalidade e ideias claras e fortes.

Recentemente ao fazer um documento várias pessoas disseram-se que a linguagem económica era excessiva e deveria ser retirada. Tirei tudo.
Acontece que os escritores e os compositores já não se chamam assim mas é comum ouvi-los na Antena 2 e outros locais de Cultura a falar de produtores de música e de escrita.

Para o desporto crescer nem que sejam 30% precisa de outra estrutura.

As cenas com os anónimos são elementos que fazem imenso mal ao desporto. São pessoas que ocupam os lugares de topo das organizações desportivas e não conseguem colocar uma questão como a sua.

São eles os verdadeiros líderes e suportes dos presidentes que o preocupam.

Luís Leite disse...

Fernando Tenreiro:
A analogia com um animal feroz não me parece minimamente adequada.
Infelizmente conheço suficientemente a generalidade das pessoas que estão no COP e na CDP, para não falar no IDP e no CSD.
Posso garantir-lhe, por experiência pessoal, que, em geral, o panorama é simplesmente mau.
Todos não somos demais? Livra...
É precisamente o contrário!
Era tão simples... Bastava escolher as pessoas certas e implementar um modelo já testado com sucesso num país evoluído.
Vicente de Moura e apaniguados mais Carlos Cardoso?
O primeiro deveria ter sido corrido do Movimento Olímpico pelo próprio IOC pela vergonhosa e inédita prestação em Pequim. O segundo, está a levar a CDP, progressivamente, até ao zero absoluto.
Quanto a Luís Sardinha, é a pessoa certa no lugar errado ou vice-versa.
Uma tristeza.

Luís Leite disse...

Os comentários de anónimos não me merecem o mínimo respeito, já que se trata de pura e simples cobardia.
Pobre país em que as pessoas, por interesse pessoal, têm medo de se assumir.

josé manuel constantino disse...

Creio que face á realidade actual a questão é irrelevante. Faz sentido defender uma única organização quando a fusão das existentes resulta em valor acrescentado à criada face a objectivos previamente definidos.Quando os objectivos a atingir ganham com a existência de uma única organização em vez de duas. No caso que cita, o das associações empresariais, houve um prolongado trabalho de preparação e existem objectivos político/programáticos. Mas existe ainda em aberto um problema de liderança, que não é de menor importância. Francamente creio que, no desporto e no quadro actual, é indiferente haver uma ou duas organizações representativas do mesmo espectro associativo, salvo no domínio da economia de meios e de custos. O problema existente é de natureza programática/institucional. Se ele fosse exigente e liderante obviamente que as federações desportivas tenderiam a encontrar um modelo de representação consentâneo com esse desígnio. E nele tanto poderiam coexistir duas organizações –com âmbitos de intervenção distintos - como apenas uma. Depende do que se pretendia e do que se entendia deverem servir as organizações.

fernando tenreiro disse...

Em relação ao primeiro anónimo

A sua intervenção ao referir o despacho do IDP não disse que o mesmo era o de avalliação do desempenho dos melhores funcionários.

Toma-se nota que você, portanto, não está interessado em ter nas federações os melhores funcionários de 2008 do IDP.

Por omissão toca-me profundamente que você não se importará de ter os não premiados de 2008 do IDP nas federações como é o meu caso…



Quanto ao segundo anónimo
Isto há destas coisas “ora se é preso por ter cão, ora por não ter”, não é?

Isto ataca todos os doidos e aos outros também!



Óptimo Luís Leite,
Possivelmente você não tem quem o aconselhe.
Você não acredita nos líderes, o que está no seu direito.
Agora, é um argumento seu que você deve reforçar.
As duas últimas notas afastam de si pessoas que podem não compreender a sua posição sem explicações adicionais face a acusações que são graves e deveriam ser fundamentadas.
Depois quer você acredite ou não, existem pessoas que já fazem esse tipo de acusação há trinta anos e não avançaram um milímetro nos seus propósitos.
E quando houve pessoas que saíram, foram substituídas por outras que também foram acerrimamente criticadas.

Construa e apresente argumentos positivos, seja parte da solução e não do problema.



Segundo José Manuel Constantino, “o problema existente é de natureza programática/institucional e neste domínio tanto podem existir uma como duas organizações, depende do que se pretendia e do que se entendia deverem servir as organizações.”

Deita fora da determinação do modelo institucional, a economia como domínio de meios e custos.

As ciências sociais são o único conhecimento capaz de determinar a eficiência dos ‘meios e custos’, como lhe chama, das instituições desportivas.

Sem ciências sociais tem-se a retórica tradicional sem resultados europeus.

• Portugal tem grosso modo 1,5 milhões de jovens sem praticar desporto, mais 2 milhões de mulheres que deveriam ter um estilo de vida activo através do desporto, mais um milhão de obesos e mais um milhão de idosos sedentários e em processos de recuperação sem cuidados desportivos básicos.

• Até hoje não foi possível definir um objectivo deste género para as organizações desportivas portuguesas.

• As culpas das federações só produzirem desporto para 5% da população não são só do Estado.

• O Estado não terá meios para suportar sozinho a actividade desportiva de 50% da população portuguesa como único financiador do associativismo desportivo.

• É fundamental pedir meios para cinco milhões de portugueses terem um estilo de vida activo através do desporto e dizer exactamente que instituição será a responsável pela aplicação dos meios disponibilizados.

• O desporto é um sector da actividade uno que produz recreação e alta competição de uma forma integrada, para a qual necessita de uma liderança esclarecida e forte.

Com as ciências sociais, incluindo toda a área que vai da sociologia à gestão e passando pela economia existem objectivos, responsabilização e sabe-se se a produção de bem-estar para a população está ser destinado a quem dele necessita mais e se o dinheiro é bem aplicado.

Cortando o desporto das suas ciências sociais surgem constatações do género “o problema existente é de natureza programática/institucional e neste domínio tanto podem existir uma como duas organizações, depende do que se pretendia e do que se entendia deverem servir as organizações.”

Esta frase concorda com a situação institucional criada, com o processo de regulação, de essência legislativa prosseguido nos últimos 4 anos, e com os resultados de estagnação produzidos de actividade desportiva da população.

Teoricamente este é um posicionamento pré-crise financeira mundial de cariz liberal.

Ver continuação na nota seguinte

Grato pelos comentários,

fernando tenreiro disse...

Continuação da nota anterior

Proponho que partindo dos fracassos verificados se assuma uma política de cariz keynesiana de maior intervenção do Estado e renovação dos princípios de governance do associativismo desportivo português tal como correm em todas as grandes instituições mundiais incluindo as transformações profundas nas desportivas.

Não é por se negarem as ciências sociais através de argumentos programático/institucionais que a crise deixa de ser real e de atingir com violência o desporto português como vem acontecendo. Os líderes desportivos necessitam de soluções para a crise que têm sido arrastados e que não conseguem debelar por si sós e sem instituições que liderem o combate aos fracassos transversais a todo o mercado do desporto nacional.


Existirá espaço para políticas liberais pontualmente no desporto português. Neste momento o esforço de solução deverá passar por definir os objectivos da Missão, os princípios de regulação onde o Estado e as organizações associativas desportivas tenham funções complementares e bem estruturadas com incentivos claros, objectivos viáveis, leis eficazes, uma assumpção do risco ao nível do mercado do produto respectivo e um sancionamento eficaz.


Uma coisa é certa, na correcção das crises o desporto vai ter de apresentar soluções alternativas aos apertos gizados automaticamente para os segmentos da economia mais dinâmicos. As características do desporto não sendo consideradas obrigarão o sector a esforços correctivos desiguais e de maior dimensão.


A redefinição de funções das instituições desportivas é uma das chaves tanto na resposta à crise fortalecendo as funções públicas, como no incentivo ao protagonismo regulador privado, funções que num e noutro nível simplesmente não existem e não são conhecidos do desporto português.

Grato pelas Vossas intervenções

Anónimo disse...

Caro Luís Leite,

Lamento imenso que você se tenha tornado uma espécie de José Manuel Meirim versão arquitecto-desportiva. E em relação à competência, eu teria mais cuidado no apontar do dedo. Basta analisar as alterações que você andou a fazer em projectos do IDP que, do ponto de vista técnico e desportivo, são puras aberrações que tiveram de ser emendadas, com custos, à última hora. Por outro lado, também me parece patético que o Luís Leite venha agora afirmar-se como a via justa na regeneração do dirigismo desportivo. É caso para perguntar onde estava o Luís Wally Leite na última década? De certeza que estava no lugar certo na altura errada. Ou, citando o próprio, vice-versa.

Luís Leite disse...

Como já disse anteriormente, não costumo responder a anónimos que não têm coragem para se assumir e aproveitam o anonimato para, cobardemente, caluniar e ofender a dignidade profissional de outras pessoas, sem apresentar provas de nada...
Se a pessoa que faz este comentário é quem eu penso que seja, então é um bom exemplo do Princípio de Peter, já que pouco percebe das funções que desempenha e quanto a instalações desportivas, não percebe mesmo nada do assunto, embora goste de mandar palpites.
Não me façam falar do que sei...
Nota muito negativa em dignidade.
Nota muito alta em cobardia.