Há muito boa, e má, gente na nossa sociedade que gosta de escrever acerca do que não sabe, falar do que nunca viu ou viveu, julgar sem qualquer competência, evidência ou provas das factualidades, criticar sem conhecimento de causa e efeito, enfim...uns pobres de espírito mas pretensos ricos ou novos ricos do saber.
Uns têm de ganhar dinheiro, outros de fazer fretes e outros, ainda que sejam honestos intelectualmente, “não sabem da poda”, como dizem vulgarmente os sábios agricultores e jardineiros. Contudo, parecem, tal a (pseudo)firmeza da escrita, da fala, ou do julgamento, os deuses da verdade absoluta.
Uns têm de ganhar dinheiro, outros de fazer fretes e outros, ainda que sejam honestos intelectualmente, “não sabem da poda”, como dizem vulgarmente os sábios agricultores e jardineiros. Contudo, parecem, tal a (pseudo)firmeza da escrita, da fala, ou do julgamento, os deuses da verdade absoluta.
Porém, tal face como a face de Janus, há ainda, e continuará a haver (estou certa disso, pois não acredito nas “gerações rasca”), pessoas que escrevem, falam, julgam, criticam, ouvem e observam, com muita propriedade, dignidade e assertividade. Raros ou poucos são, infelizmente, os que o fazem no mundinho do desporto português.
Vem isto a talho de foice das realidades desportivas de importância capital para o desenvolvimento do desporto nacional, os clubes desportivos centenários. E claro está, terei de evocar dois dos clubes que melhor conheço e nos quais tive a honra de ser praticante desportiva treinadora e até dirigente, o Académico Futebol Clube e o Clube Fluvial Portuense , estes sim “os meus clubes”!
Celebrar e comemorar cem anos, como o último destes clubes já o fez (CFP,1876-2011) e como o AFC o está a fazer presentemente é, efectivamente, recordar, celebrar e eternizar muita vida!!
Será que quem assume responsabilidades neste país nas “infindas e variadas instâncias do poder” sabe a dimensão e o significado do trabalho destes e de muitos outros clubes nacionais? Saberão as repercussões que estes clubes e o desporto que lá se praticou e pratica tiveram, têm e terão na vida de um povo?
Ainda sou uma mulher de média idade, como um médico espanhol me apelidou há uns tempos, mas, apesar de optimista, já sou muito céptica relativamente a muita coisa da vida. Não tanto como a minha querida mãe, que aos seus 82 anos muitas vezes me diz: filha “não pode a cadela com tanto cachorro”, filha “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”, etc, etc...
E como esta mulher sábia me põe sempre a pensar, de facto, será que Portugal, este país falido, insolvente, não terá de mudar, ou melhor, só começará a mudar quando todos aqueles que há anos e anos usufruem e pactuam com as maiores folestrias e mordomias, políticas, administrativas, financeiras, desportivas, logísticas e por aí fora, prescindam ou lhes seja vedada essa realidade e canalizem um pouco dos poucos recursos que temos para o desporto? Digo, para o desporto! Para a vida em comunidade, para o associativismo, para a solidariedade, para o companheirismo, para o rendimento, para a superação, para o cumprimento de objectivos, para... e não pararia hoje, mas o tempo e o espaço, também neste blog, são bens escassos.
E como esta mulher sábia me põe sempre a pensar, de facto, será que Portugal, este país falido, insolvente, não terá de mudar, ou melhor, só começará a mudar quando todos aqueles que há anos e anos usufruem e pactuam com as maiores folestrias e mordomias, políticas, administrativas, financeiras, desportivas, logísticas e por aí fora, prescindam ou lhes seja vedada essa realidade e canalizem um pouco dos poucos recursos que temos para o desporto? Digo, para o desporto! Para a vida em comunidade, para o associativismo, para a solidariedade, para o companheirismo, para o rendimento, para a superação, para o cumprimento de objectivos, para... e não pararia hoje, mas o tempo e o espaço, também neste blog, são bens escassos.
Finalizo, questionando e recomendando: será que alguém poderá se atrever a trabalhar num determinado sector social sem perceber a sua raiz, o seu contexto e o seu fundamento? Quem quiser, na verdade exercer funções no desporto, seja de jornalista, crítico, jurista, comentador, economista, sociólogo, psicólogo, professor, fisioterapeuta, médico, fisiologista, entre tantas e tantas outras, comece por estudar, pesquisar acerca do desporto, da sua história, dos seus valores, da sua importância e então, depois dedique-se à sua lavra e faça o seu melhor. Quem quiser um Portugal melhor para os seus filhos e vindouros, poupe, trabalhe e seja feliz com os parcos recursos que temos, mas com a maravilha do território e do povo que somos, também com e através do desporto.
Bem hajam, o CFP, o AFC e demais clubes desportivos, centenários ou não!
12 comentários:
Souness, quando treinava o Benfica, certa vez disse: "Em Portugal todos os burros falam de futebol!" Na realidade, em Portugal fala-se muitas vezes de futebol julgando-se que se fala de desporto... E, para aqueles que imaginam "saber de futebol" pensando que "sabem de desporto", vale a pena parafrasear o Dr. Abel Salazar: "quem só sabe de futebol, nem de futebol sabe!"
Hoje, toda a comunicação social aborda os nove anos de Mourinho sem perder como anfitrião...
Mas nenhuma comunicação social (sem querer generalizar) salienta que num clube de Sintra com mais de 120 anos, o «União 1º de Dezembro» a equipa feminina de futebol terminou a 1ª fase do campeonato nacional sem derrotas, atingindo os 101 jogos consecutivos sem perder...
Bons temas (os parabéns são desnecessários) que a Prof.ª Maria José aqui nos deixa: quem conhece (ou finge conhecer) o desporto, os clubes centenários ignorados (mas que merecem constar da história do desporto do nosso país), o papel também muitas vezes esquecido das Mulheres (com «M») na história do nosso desporto e... o mundo que vamos deixar aos nossos filhos... ou os filhos que vamos deixar a esse mundo!!
Nota final: o papel dos clubes centenários e o papel das Mulheres no desporto do nosso país ainda está por escrever... apesar de já haver algumas obras que abordam os temas!
Ao contrário de alguns, às vezes escrevo aqui só para concordar.
Para apoiar as ideias expressas.
É o que faço agora com o texto de Maria José Carvalho e com o comentário de Armando Inocentes.
Não posso deixar também de acrescentar que, infelizmente, a população portuguesa ainda é constituída, por culpa dos sucessivos Governos, por analfabetos funcionais, uma multidão enorme, ociosa, que não pára de crescer.
No tempo de Salazar, apesar das enormes desigualdades sociais, as pessoas aprendiam uma profissão e, mesmo que sendo exploradas miseravelmente (muitas), tinham o seu ganha-pão garantido. Não havia desemprego. Aprendiam a fazer qualquer coisa bem feita, mesmo que com pouca ou nenhuma escolaridade. E havia uma moral e uma ética, impostas, é verdade, pela religião única, mas toda a gente sabia separar o bem do mal.
Agora, as desigualdades mantêm-se, já não há analfabetos, há uma liberdade (sobretudo de direitos, muitos e em todas as áreas, menos de deveres), há escolaridade obrigatória de 12 anos, mas a maioria não percebe o que lê, não sabe fazer contas, não sabe situar-se num qualquer contexto de espaço e tempo; considera-se livre, mas não sabe o que é a privação da liberdade. E vota! E escolhe partidos para governar!
Antes, como agora, as pessoas resignam-se.
Antes, como agora, as maiorias são facilmente manipuláveis.
Pobre Nação sem futuro!
Felicito a crónica de umas das mulheres desportistas de mais elevado valor quer no plano pessoal, quer no plano desportivo e internacional. Maria José Carvalho uma fantástica atleta(internacional) e exemplo de desportista para a juventude de então que na sua crónica recorda os clubes centenários da nossa cidade, Académico, Vasco da Gama e estrela Vigorosa, gerações de atletas que se formaram nestes clubes autenticas universidades de bons costumes continuam a prestar serviços á comunidade desportiva e á juventude.
Mas querer falar de advogados iletrados ou analfabetos no desporto que quando aparecem a representar instituições desportivas como Ligas e Associações desportivas, não deixam de ser meros fantoches das suas decisões e com a agravante de terem prejudicado os Clubes do desporto português caso do Boavista e Salgueiros, assim como dirigentes de indiscutível mérito desportivo.
O que eles têm a mais em brilhantina na cabeça têm a menos bom senso, o que eles têm a mais de ignorância desportiva das leis e regulamentos têm a mais a mentira expedita de que estão a cumprir a lei?
Perderam uma grande oportunidade de fazer Leis e regulamentos que unissem clubes e massas associativas, pelo contrário destruíram "Clubes Centenários" e dirigentes de elevado nível desportivo. Os actos praticados escudados nas leis não foi mais, que gestos de desonestidade intelectual e desportiva. Haja bom senso, o lixo não faz falta ao desporto, quer como atletas, treinadores e dirigentes. Gostava de me encontrar com Advogado RC para ele me esclarecer os seus comportamentos ao serviço das suas vaidades e mesquinhez saloio. Aguardo com toda a calma esse magnifico encontro.
ac
Um dos últimos exemplos do dirigismo desportivo português (algum!): O Clube de Futebol Estrela da Amadora, fundado em 22 de Janeiro de 1932 vai ver o seu património vendido em hasta pública (mais um destruído, como diz o anónimo ac).
Há os Clubes que chegam a Centenários porque os dirigentes os servem - e sabem como servir o desporto - e há aqueles que nem a centenários chegam porque muitos dos seus dirigentes eram daqueles de que fala Luís Leite, dos que apesar de lerem "não percebe o que lê" mas que percebiam o suficiente para se servirem do Clube.
Caro Luís Leite: felizmente ainda há pessoas que não se resignam assim tão facilmente, embora possam sofrer na pele a sua resistência, a sua denúncia, a sua contestação... penso que estamos nesse grupo! Aproveitemos a liberdade com dignidade e vontade de alterarmos algo... fazendo algo!
O desporto, como o País em geral, precisa de Gente com Capacidade, Honestidade e Competencia. Gente com Valores e com o olhar fixo nos outros e não no seu umbigo. Mas, o que é grave e preocupante, é que Portugal tem, com toda a certeza, em muitos dos seus filhos,Gente com essa elevada estirpe mas, e isso é que é preocupante, têm receio ou outra coisa qualquer, em se mostrar, em se fazer ouvir, em assumirem os seus Valores como os de um Povo que continua perdido à procura de si próprio. Como dizia Martin Luther King «...o que é mais preocupante, não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, ou dos sem ética. O que é mais preocupante, é o silencio dos que são bons.». Oh meu País adiado!
Maria José, lançaste-me hoje o desafio de ler o teu texto... e foi isso que fiz agora, só agora, ainda com a "cabeça quente" de tantos outros assuntos... desportivos e não só...
Sobre o teu texto, actual, muito actual, a tocar numas quantas feridas que não são novas. Costumo dizer que seria interessante fazer um estudo sobre o passado desportivo de tantas pessoas que "mandam" no desporto e nos clubes em portugal; salvo honrosas excepções, diria que muitos dos que "mandam" (ou pensam que mandam...) não percebem bem a real dimensão do desporto simplesmente porque não fazem a minima ideia do que é o desporto e do que significa ser desportista...
Que fazer então? O meu lado positivo, que tem a "mania" de ver sempre um lado positivo em tudo, diria que é tempo dos "verdadeiros desportistas" aqueles que sentem bem qual a dimensão do desporto na sociedade, assumirem o rumo e serem mais activos na defesa dos interesses de clubes com tanta história no nosso país.
O Desporto ensinou-nos a todos que é "preciso dar tempo ao tempo" e que é com palavras que não estão na "moda", tais como... competência, disciplina, rigor, treino muito treino... que se "chega lá"...
é isso que o desporto e os clubes precisam...
diria que é isso que o nosso país precisa... para ontem!
Cara Maria José
Clubes centenários em Portugal há, pelo menos, 150, nascidos entre 1742 e 1910, pelo que se me afigura louvável a sua "investida" num passado que ajudou a consolidar a identidade de muitas pessoas.
Na impossibilidade de inserir aqui a lista, bem como uma recolha que fiz na BN, de anúncios dos clubes existentes no séc. XIX, entre 1834 e 1853, estou disponível, a quem interessar, para enviar todo o espólio, via net, para o que basta enviar-me o respectivo e-mail.
O conhecimento é universal.
Cordialmente
A propósito do culto da solidariedade e amizade que os clubes sempre alimentaram, convido a ver e ouvir a música que compaginou os Jogos Olímpicos de Barcelona: Amigos para siempre.
Esta tarde da noite, o tempo é escasso e o sono vem vindo... Mas ao ler tal texto intitulado: "Clubes desportivos centenários" da professora Maria Jose Carvalho, no primeiro momento, me fez lembrar quando eu a abordei para ser minha orientadora na tese de conclusão do curso de Mestrado em Gestão Desportiva.
Sei que não sou de Portugal, pois algumas situações retratadas no texto são assuntos que nem sei o que significam.
Mas porque não generalizar, porque não vestir a carapuça e porque não estender para outros campos da vida e do mundo?
Nesses meses de convívio com este poço de sabedoria que é a Professora Maria José Cavalho, aprendi algumas coisas.
Lembro-me como se fosse hoje:
No momento de solicitar a orientação da tese, a mesma perguntou o que eu queria fazer, eu disse algo parecido com: "Uma comparação da regulamentação da Profissão em Educação Física no Brasil e em Portugal"
Logo me veio a resposta: "Antes de querer fazer uma relação (comparação) entre dois ou mais países, CONHEÇA O TEU PAÍS. Para depois alçar voos sobre outros países e culturas" é algo parecido com isso.
Por isso digo: Brasileiros, Portugueses, Coreanos... Qualquer nacionalidade que for, CONHEÇAM SEU PAÍS, CONHEÇAM SUA CULTURA, para depois se aventurarem por terras desconhecidas…
Deixo aqui um ensinamento que carrego comigo: Se não souber argumentar sobre determinado assunto, é melhor ficar em silêncio. E se depois disto, sentir a necessidade em romper com o silêncio, vá para casa, para uma biblioteca, viva mais um pouco ou simplesmente deixe o tempo passar, talvez assim se consiga ter argumentos para defender uma causa.
Muito boa noite!
Antes de mais, devo confessar que só hoje tomei conhecimento deste blogue, por parte da minha estimada Professora Maria José Carvalho, e também desde logo gostaria de felicitar todos os seus colaboradores.
Porque o tempo não me permite mais, só gostaria de concordar com a professora que não poderia ter mais razão quanto ao facto de nos últimos anos termos vindo a assistir ao desaparecimento de instituições que muitas delas muito já deram - e poderiam continuar a dar, ao nosso país.
Poderei mencionar os casos de Boavista, Salgueiros, Estrela da Amadora, Campomaiorense, Farense... assim como muitos outros que correm o risco de lhes acontecer o mesmo sem que as autoridades competentes se importem. Veja-se o caso do 'meu' S.C. Espinho, capital do voleibol e com tradições futebolisticas... o estádio (o 'velhinho' Comendador Manuel de Oliveira Violas) já mal se segura de pé e o pavilhão, com os dias de temporal da semana passada, é ver para crer no estado em que ficou.
Mesmo assim, ainda lutamos por títulos e medalhas, sem condições ou orçamentos de outros países Europeus e continuamos a formar campeões!
Saudações desportivas
Um dos grandes problemas do desporto português, que se vira contra os clubes, centenários ou não, é a excessiva futebolização do país e a importância dada pela Administração Pública a esta modalidade profissional, praticada maioritariamente por estrangeiros, empresarial, falida e protegida como nenhuma outra actividade empresarial para gáudio de uns tantos que se fazem milionários rapidamente.
Há muito que visito este blog, apesar de nem sempre ser com a regularidade pretendida.
Gosto destes olhares pelo desporto, olhares de pessoas que considero e sabem do que falam. Este artigo é disso bom exemplo. Parabéns amiga.
Enviar um comentário