quarta-feira, 16 de abril de 2008

Saber esperar também se treina

A probabilidade de Vanessa Fernandes conquistar a medalha de ouro nos próximos Jogos Olímpicos é muito elevada. Mais do que elevada é natural. Ajudam os resultados alcançados e a constância dos mesmos. Justificam-no a qualidade e o mérito desportivo alcançados. Está por isso criada uma situação curiosa. Como o natural é que conquiste a medalha de ouro qualquer outra medalha, o que em termos olímpicos e desportivos será sempre um feito extraordinário, surgirá, não como uma derrota, mas como algo aquém da expectativas e até, porventura, decepcionante. Para quem conhece as contingências de uma competição desportiva tudo encontrará uma explicação. Mas a opinião pública reage de modo diferente. O que seria de uma crueldade imerecida. Surpreende por isso que, no plano da exposição pública, o único cenário com que se está a trabalhar seja o da conquista do ouro. Oxalá este cenário se concretize. Mas para atleta em causa e para quem lhe assegura a respectiva gestão de carreira, desportiva e comercial, talvez fosse prudente gerir de outro modo as expectativas. Numa atleta tão exposta e com uma carga competitiva que já inclui provas de atletismo, numa clara resposta a compromissos de patrocinadores, a prudência é sempre boa conselheira. Mesmo que essa prudência obrigue a baixar as expectativas e com elas os contratos publicitários que tem vindo a rubricar. E o que se aplica à Vanessa Fernandes aplica-se a todos os restantes. Nem sempre uma exposição excessiva serve os interesses desportivos. Nem sempre os interesses comerciais servem os interesses desportivos. A gestão da relação atleta/treinador/clube passou, em muitas situações, a incluir também a do agente. Para quem o resultado desportivo não é um fim,mas um meio para o rentabilizar comercialmente. Saber esperar também se treina e se aprende. Bem sei que a vida é desportiva é curta. E que no imediato as hipóteses de facturar são muitas. Mas os riscos são grandes. Na será mais importante esperar um pouco agora, para ganhar muito, mais tarde? Questão cuja resposta cabe a atletas e treinadores. E sobretudo a quem os agencia.

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