O efeito do pontapé na bola não se limita às novas linguagens da táctica. A defesa alta, a pressão sobre a bola, os losangos, as básculas e as compensações. Também entra na chamada economia da coisa. E nesta as delícias dos especialistas é a formação. Uma espécie de tesouro escondido. O futuro do jogo. E a alma do negócio.
Supostamente existiria mesmo em alguns clubes, cuja principal actividade é o futebol, uma estratégia de formação que cuidaria dos jovens talentos portugueses. No futuro transformar-se-iam em activos que abasteceriam os escalões superiores. Ou seriam transaccionáveis constituindo mais valias para as entidades formadoras. Num mercado pequeno e com dificuldades de financiamentos esta seria mesmo a solução de futuro. Num outro plano só essa solução garantiria qualidade às selecções nacionais e defenderia uma certa identidade nacional face à invasão de futebolistas estrangeiros.
A pergunta que cabe fazer é esta: se o assunto está estudado e a solução encontrada porque não é ela aplicada? Como explicar que a invasão estrangeira não ocorra apenas no escalão superior da modalidade e inclua já os escalões de formação? Como compreender que as selecções de escalões jovens tenham uma tão grande percentagem de praticantes nacionais que já militam em equipas estrangeiras antes de terminado o período de formação?
A anatomia da sociedade desportiva pode bem ser encontrada na economia política e no funcionamento dos mercados. Abertos, livres e concorrenciais. Capital sem pátria. Só a mão-de-obra a tem. Mas mesmo esta é transaccionável. Ou de nacionalidade reconvertível. Ambas são parte do negócio. Para quem compra e para quem vende. Para quem se naturaliza e para quem o legitima. E se é um negócio que se mantém - e que alimenta a indústria do futebol e a miríade de interesses que nela se abastecem - é porque, como negócio ,não é mau. Pelo menos para alguns. Os que, com as regras que existem, sobrevivem.
O futebol e a economia que o suporta vivem uma crescente contradição com o modelo originário. As equipas nacionais podem ser integralmente constituídas por estrangeiros. As selecções por naturalizados. A matriz identitária modificou-se. E a economia do futebol tende a seguir a outra economia. Conciliar o novo mercado com o antigo modelo é impossível. Regulação - dos governos e da autoridades desportivas - é o que tem sido pedido. Mas as experiências feitas não revelam grande sucesso.
A globalização acentuou as disparidades entre os mercados dos diferentes países. E deixou marcas. O segredo do sucesso do futebol inglês não foi a formação. Foi a captação de investimentos de milionários de todo o mundo. Nove das vinte equipas da primeira divisão são controladas por estrangeiros, que despejam fortunas (algumas de origem bem duvidosa) para reforçar as equipas.
Na última década, os ingleses aproveitaram-se do crédito fácil para financiar a compra do que havia de melhor no mercado do pontapé na bola. Dois terços dos jogadores da primeira divisão são estrangeiros. A euforia eclipsou a preocupação com as contas. Doze das vinte equipas estão deficitárias. As equipas devem mais de 5 biliões de dólares, o dobro do que arrecadaram no ano passado. A crise mundial colocou investidores e patrocinadores em sobressalto. A começar pelo Manchester United e o seu principal patrocinador.
O resultado destes desmandos foi a formação de uma espécie de bolha que Inflacionou o valor do campeonato inglês, com salários astronómicos.Com a outra bolha, a dos mercados financeiros, a ameaça de estouro paira sobre a realidade do futebol inglês.
Por cá somos bem mais modestos. O capitalismo selvagem ou social não nos amedronta. Somos pela formação enquanto sorrateiramente rapinamos o bolso dos contribuintes: contratos obscenos com as autarquias e com o (falido) serviço público de televisão que continuamos a pagar.
Supostamente existiria mesmo em alguns clubes, cuja principal actividade é o futebol, uma estratégia de formação que cuidaria dos jovens talentos portugueses. No futuro transformar-se-iam em activos que abasteceriam os escalões superiores. Ou seriam transaccionáveis constituindo mais valias para as entidades formadoras. Num mercado pequeno e com dificuldades de financiamentos esta seria mesmo a solução de futuro. Num outro plano só essa solução garantiria qualidade às selecções nacionais e defenderia uma certa identidade nacional face à invasão de futebolistas estrangeiros.
A pergunta que cabe fazer é esta: se o assunto está estudado e a solução encontrada porque não é ela aplicada? Como explicar que a invasão estrangeira não ocorra apenas no escalão superior da modalidade e inclua já os escalões de formação? Como compreender que as selecções de escalões jovens tenham uma tão grande percentagem de praticantes nacionais que já militam em equipas estrangeiras antes de terminado o período de formação?
A anatomia da sociedade desportiva pode bem ser encontrada na economia política e no funcionamento dos mercados. Abertos, livres e concorrenciais. Capital sem pátria. Só a mão-de-obra a tem. Mas mesmo esta é transaccionável. Ou de nacionalidade reconvertível. Ambas são parte do negócio. Para quem compra e para quem vende. Para quem se naturaliza e para quem o legitima. E se é um negócio que se mantém - e que alimenta a indústria do futebol e a miríade de interesses que nela se abastecem - é porque, como negócio ,não é mau. Pelo menos para alguns. Os que, com as regras que existem, sobrevivem.
O futebol e a economia que o suporta vivem uma crescente contradição com o modelo originário. As equipas nacionais podem ser integralmente constituídas por estrangeiros. As selecções por naturalizados. A matriz identitária modificou-se. E a economia do futebol tende a seguir a outra economia. Conciliar o novo mercado com o antigo modelo é impossível. Regulação - dos governos e da autoridades desportivas - é o que tem sido pedido. Mas as experiências feitas não revelam grande sucesso.
A globalização acentuou as disparidades entre os mercados dos diferentes países. E deixou marcas. O segredo do sucesso do futebol inglês não foi a formação. Foi a captação de investimentos de milionários de todo o mundo. Nove das vinte equipas da primeira divisão são controladas por estrangeiros, que despejam fortunas (algumas de origem bem duvidosa) para reforçar as equipas.
Na última década, os ingleses aproveitaram-se do crédito fácil para financiar a compra do que havia de melhor no mercado do pontapé na bola. Dois terços dos jogadores da primeira divisão são estrangeiros. A euforia eclipsou a preocupação com as contas. Doze das vinte equipas estão deficitárias. As equipas devem mais de 5 biliões de dólares, o dobro do que arrecadaram no ano passado. A crise mundial colocou investidores e patrocinadores em sobressalto. A começar pelo Manchester United e o seu principal patrocinador.
O resultado destes desmandos foi a formação de uma espécie de bolha que Inflacionou o valor do campeonato inglês, com salários astronómicos.Com a outra bolha, a dos mercados financeiros, a ameaça de estouro paira sobre a realidade do futebol inglês.
Por cá somos bem mais modestos. O capitalismo selvagem ou social não nos amedronta. Somos pela formação enquanto sorrateiramente rapinamos o bolso dos contribuintes: contratos obscenos com as autarquias e com o (falido) serviço público de televisão que continuamos a pagar.
1 comentário:
Não posso deixar de concordar na íntegra com a análise apresentada.
Chama-se a isto lucidez e coragem.
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