Mais de 50% dos adultos e uma em cada sete crianças na União Europeia são obesas ou têm excesso de peso, revela o estudo “Health at a Glance – Europe 2010”, publicado pela Comissão Europeia e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). De acordo com os referidos estudo os índices de obesidade nos 27 países membros da União Europeia mais do que duplicaram nas últimas duas décadas e não há evidências de que o aumento da prevalência de excesso de peso/obesidade esteja a abrandar ou a diminuir.
Se compararmos, na mesma realidade geográfica, este indicador da obesidade com o indicador de prática desportiva verificamos que para igual período o índice de pratica desportiva aumentou. Pelo que se pode concluir que o aumento da prática desportiva, por si só, não foi suficiente para impedir o aumento da obesidade e que é preciso ir buscar a outros factores os motivos explicativos para tal ocorrência. Os resultados agora encontrados evidenciam que a agenda política europeia que coloca o aumento das práticas do desporto – como também pretendem os higienistas que se instalaram no universo desportivo – como combate à obesidade falha nos seus propósitos.
A obesidade é um fenómeno estranho à matriz fundadora do conceito e as práticas do desporto. Qualquer evidência empírica constata que há práticas e modalidades desportivas de baixo gasto energético e onde não há qualquer incompatibilidade de tipo motor com o praticante obeso. Mas por outro porque o desporto não foi criado para responder/resolver qualquer anormalidade, desconformidade ou distúrbio atribuível a factores ligados ao baixo dispêndio energético e à obesidade. A perspectiva biologista e as ciências da saúde para aí o querem empurrar mas os resultados demonstram o equívoco.
Os epidemiologistas e os apóstolos dos estilos de vida saudáveis com a inevitável pastoral do desporto/actividade física - em que um qualquer vulgar cidadão que caminha no passeio equipado com vestuário desportivo corre o risco de ser classificado como “praticante desportivo”por uma das igrejas /sinagogas do exercício que pululam por essa Europa fora- têm certamente uma explicação cientifica. Mas não têm como sustentar que a obesidade é um problema que cabe ao desporto resolver. O desporto precisa de gente saudável para ser praticado com menos riscos. O desporto não serve para tornar saudável quem o não é. O problema é de outra natureza.
Conhecem-se os problemas individuais que concorrem para a obesidade. E sabemos que quem tem dinheiro bem pode procurar um dos milhares de clínicos especialistas que lhes podem dar a solução de um corpo perfeito. Mas ultrapassadas estas questões formais fala-se pouco das relações entre a obesidade e a desigualdade social. Mas estudos realizados e abundantemente citados mostram que a obesidade tende a baixar nos países onde as diferenças de rendimento são menores. A esse propósito os trabalhos publicados por Richard Wilkinson e Kate Pickett( O espírito da igualdade -porque razão sociedades mais igualitárias funcionam quase sempre melhor ,Editorial Presença,) evidenciam as determinantes sociais da obesidade e quanto o desenvolvimento económico e a distribuição da riqueza são decisivas no modelação do padrão de saúde das comunidades.
A obesidade por conta e risco de cada um -conquanto cuidem do regime alimentar e dispendam energia- não passa de uma grande ilusão se não se alterarem as condições onde nascem, crescem e desenvolvem os comportamentos e hábitos classificados como de risco. E a sua superação só é possível num quadro de luta mais geral contra as desigualdades sociais.E deixem o desporto em paz.Não peçam, nem esperem do desporto aquilo que ele não tem condições de resolver.
Se compararmos, na mesma realidade geográfica, este indicador da obesidade com o indicador de prática desportiva verificamos que para igual período o índice de pratica desportiva aumentou. Pelo que se pode concluir que o aumento da prática desportiva, por si só, não foi suficiente para impedir o aumento da obesidade e que é preciso ir buscar a outros factores os motivos explicativos para tal ocorrência. Os resultados agora encontrados evidenciam que a agenda política europeia que coloca o aumento das práticas do desporto – como também pretendem os higienistas que se instalaram no universo desportivo – como combate à obesidade falha nos seus propósitos.
A obesidade é um fenómeno estranho à matriz fundadora do conceito e as práticas do desporto. Qualquer evidência empírica constata que há práticas e modalidades desportivas de baixo gasto energético e onde não há qualquer incompatibilidade de tipo motor com o praticante obeso. Mas por outro porque o desporto não foi criado para responder/resolver qualquer anormalidade, desconformidade ou distúrbio atribuível a factores ligados ao baixo dispêndio energético e à obesidade. A perspectiva biologista e as ciências da saúde para aí o querem empurrar mas os resultados demonstram o equívoco.
Os epidemiologistas e os apóstolos dos estilos de vida saudáveis com a inevitável pastoral do desporto/actividade física - em que um qualquer vulgar cidadão que caminha no passeio equipado com vestuário desportivo corre o risco de ser classificado como “praticante desportivo”por uma das igrejas /sinagogas do exercício que pululam por essa Europa fora- têm certamente uma explicação cientifica. Mas não têm como sustentar que a obesidade é um problema que cabe ao desporto resolver. O desporto precisa de gente saudável para ser praticado com menos riscos. O desporto não serve para tornar saudável quem o não é. O problema é de outra natureza.
Conhecem-se os problemas individuais que concorrem para a obesidade. E sabemos que quem tem dinheiro bem pode procurar um dos milhares de clínicos especialistas que lhes podem dar a solução de um corpo perfeito. Mas ultrapassadas estas questões formais fala-se pouco das relações entre a obesidade e a desigualdade social. Mas estudos realizados e abundantemente citados mostram que a obesidade tende a baixar nos países onde as diferenças de rendimento são menores. A esse propósito os trabalhos publicados por Richard Wilkinson e Kate Pickett( O espírito da igualdade -porque razão sociedades mais igualitárias funcionam quase sempre melhor ,Editorial Presença,) evidenciam as determinantes sociais da obesidade e quanto o desenvolvimento económico e a distribuição da riqueza são decisivas no modelação do padrão de saúde das comunidades.
A obesidade por conta e risco de cada um -conquanto cuidem do regime alimentar e dispendam energia- não passa de uma grande ilusão se não se alterarem as condições onde nascem, crescem e desenvolvem os comportamentos e hábitos classificados como de risco. E a sua superação só é possível num quadro de luta mais geral contra as desigualdades sociais.E deixem o desporto em paz.Não peçam, nem esperem do desporto aquilo que ele não tem condições de resolver.
6 comentários:
Como não concordar com JM Constantino?
É evidente que a obesidade vai naturalmente aumentando com a terciarização.
O abandono do sector primário, durante muito tempo considerado sinal de desenvolvimento, é hoje, sobretudo num país como o nosso, uma fonte de problemas.
Um desses problemas é a falta de actividade física de uma parte muito considerável da população, inerente à fuga da Agricultura e da Pesca.
Mais uma vez insisto, corroborando as palavras de JMC:
Desporto é uma coisa; Actividade Física é outra.
Não podemos meter tudo no mesmo saco e muito menos misturar actividades com objectivos completamente diversos e, demagogicamente, como acontece para aí nas meias-maratonas, fazer as pessoas pensarem que é tudo igual.
Não é...
Uma caminhada eventual nada tem a ver com correr a 3 minutos por Km!...
Desporto implica esforço, treino duro e metódico e competição a sério e até pode, nalgumas modalidades, mesmo no alto rendimento (como no Xadrês) contribuir para a obesidade.
Actividade Física é usar o corpo diariamente de forma mais ou menos intensa, com motivações ou objectivos muito diversos.
As estatísticas da UE, aqui referidas por F. Tenreiro, são disparatadas quando no Desporto só consideram duas variantes: Alto Rendimento e Recreação, sendo que só são considerados de alto rendimento os desportistas com mínimos para Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo ou da Europa.
Um disparate.
Por exemplo: saltar 2,25m em altura ou lançar 62m no disco são, com aqueles critérios, considerados recreação, embora esses atletas sejam, naturalmente, profissionais de altíssimo gabarito, embora fiquem à porta dos mínimos conseguidos por uma elite reduzidíssima...
A questão da obesidade, enquanto resultado de desigualdades sociais, é um fenómeno essencialmente cultural, como tantos outros.
De facto a vantagem da democracia de se dizer o que se pensa é um risco para quem expõe as suas ideias quando há quem não pese as palavras usadas.
O desporto ensina a respeitar a vitória e a derrota e a distância entre este princípio e a sua aplicação entre nós é grande.
Não pretendo dar a corda e o que acontece é que os locais se tornam impróprios, pela garantia que pessoas dão da 'inocência' dos seus propósitos e do seu comportamento inusitado.
Ainda há sítios onde é mais simples estar e conversar sem depender de estados de alma e níveis de animosidade constantes e trepidantes por activo que seja o estilo de vida individual.
Se "mais de 50% dos adultos e uma em cada sete crianças na União Europeia são obesas ou têm excesso de peso", Portugal deve estar fora deste número, pois pelas contas do Sr. Secretário de Estado temos 45% da população a fazer desporto...
F. Tenreiro,
Desculpe, mas não consigo perceber nada daquilo que escreveu.
E julgo que não sou o único...
Pode ser mais concreto?
Antecipadamente grato.
Ignoro se não haverá outros factores de natureza ainda desconhecida, além das prováveis origens persistentemente debatidas, como o que se come e o exercício que não se faz.
Dizia um médico sueco: "Se não gosta de fazer exercícios, compre um cão".
Não dá. Tenho um cão que, em vez de correr, prefere desenvolver o faro, me obriga a paragens constantes.
O médico deveria ter acrescentado "cães ensinados a correr".
Bem, tudo isto para transmitir que a engorda parece ter a sua origem em outros factores ainda não bem especificados, mas com pistas a investigar para conclusões mais assertivas.
Depois da epidemia da cólera da febre porcina, e da febre aviária, temos a epidemia da engorda... nos animais.
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