quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O síndrome da Travessa da Memória


Na vida pública deste país começa a atingir uma dimensão preocupante o número de casos noticiados de responsáveis por organismos, unidades técnicas ou comissões a manifestarem-se publicamente contra a missão para a qual estas foram criadas.


Convenhamos - independentemente dos motivos ponderáveis que levam a estas ocorrências bizarras, nomeadamente por circunstâncias onde porventura a possibilidade de não recusar tais funções, devido a tutela hierárquica, é exígua -, tratarem-se de situações aos olhos da opinião pública, e com o devido respeito, semelhantes a um radical muçulmano a gerir uma exploração pecuária.

A coisa fia mais fino nos casos onde quem preside ou assume a responsabilidade destas missões é convidado para o cargo e sabe, à partida, aquilo que conta. Trata-se, portanto, de uma opção livre, supostamente ponderada e decidida mediante as circunstâncias e os elementos disponíveis.

Ora, em relação a Londres 2012 dois elementos há muito que eram do domínio público:

·        O disposto no regime jurídico dos contratos programa de desenvolvimento desportivo (Art.º 12.º, n.º 1 al. c)) onde se estabelece como um dos elementos do conteúdo de tais programas a “Quantificação dos resultados esperados com a execução do programa”

À luz destes dados como se podem encarar as declarações ontem proferidas do responsável pela missão lusa em Londres de que Portugal deveria «ter sempre como objetivo a conquista de medalhas» e que, para isso, deve «assumir uma estratégia clara, com resultados quantificáveis», com «objectivos bem definidos» ?

Não foi com aquele programa que se comprometeu a chefiar a missão portuguesa, onde, nas suas palavras de então, “não há objectivos quantificados” e a participação nacional "pode não ser um fiasco mesmo sem medalhas…”? 

Como ficamos? Será que a memória é assim tão curta na Travessa da Memória ? Ou o peru já vota a favor do Natal  ?


18 comentários:

Anónimo disse...

Faz parte das eleições à portuguesa para o Natal de Março.

Luís Leite disse...

O COP é um saco de gatos interesseiros, onde nunca ninguém soube nem quis saber o que fazer.
Nunca existiu uma estratégia nem objetivos desportivos.
Nem um diálogo profícuo com as Federações.
Consequentemente, também nunca houve responsabilização pelos resultados olímpicos de Portugal.
Que são, globalmente e em termos europeus, miseráveis.

josé manuel constantino disse...

Os objetivos do contrato- programa para a missão olímpica em Londres devem ser lidos com os objetivos dos contratos –programas assinados pelas federações desportivas com atletas presentes onde estão devidamente quantificados os resultados previstos…….o que levanta um outro problema: o contrato da Missão não acolhe os objetivos das federações. Adiante….
Não entendo as declarações do chefe de missão ontem proferidas como contraditórias com o que afirmou antes. O título das declarações que cita tem de ser lido com o que está no interior da notícia: “vimos com ambição, com os pés bem assentes na terra, mas com a ambição de os atletas que conseguiram resultados de medalha lutarem por essas medalhas e os que conseguiram resultado de final tentarem confirmar. É essa a lógica da preparação olímpica”. O que me parece correto.
O que talvez valesse a pena discutir é o entendimento das instituições de tutela (tipo f Inspeção de Finanças mas que tem escola no Tribunal de Contas)de que sempre que os objetivos desportivos de um contrato-programa não são atingidos os apoios financeiros recebidos devem ser devolvidos. Não estou a inventar !!!

Luís Leite disse...

Caro JM Constantino:
Conhece o teor dos contratos assinados entre as Federações e os atletas?
A verdade é que não estão definidos ou previstos em lugar algum objetivos.
O que existe é uma integração nos diversos escalões da Preparação Olímpica e no Regime de Alto Rendimento (ex-Alta Competição) em função das marcas e classificações obtidas.
Nada mais.
Apenas nos Planos de Atividade e Orçamento são apresentadas pelas Federações objetivos a nível de resultados.
E a avaliação é feita nos Relatórios e Contas.
Depois, as Federações acabam por receber financiamento em função desses resultados, mas isso é à posteriori.

Anónimo disse...

E o que dizer duma modalidade que já foi grande sem tecnocratas
- A NATAÇÃO

Que confusão vai por aquelas bandas com a promoção pessoal e outros apendices que vão alimentando as suas familias.

É preciso centrar a atenção naquilo que é realmente importante: os atletas neste caso os nadadores. É por estes que os clubes, as associações, os dirigentes e os árbitros existem. E foram exactamente os nadadores que foram esquecidos durante estes dois mandatos da Federação. Importante foi a "máquina" montada em torno de um "senhor" que se tornou um sorvedouro de dinheiro enquanto atletas e clubes vão penando para continuarem a praticar a modalidade.

O futuro da natação é negro, num país falido onde o desporto não tem uma posição relevante.

josé manuel constantino disse...

Sim conheço os contratos-programa.E nos anexos finais dos contratos de apoio ao alto rendimento estão definidos (e quantificados)os objetivos de natureza desportiva.

josé manuel constantino disse...

Ignoro no entanto os contratos assinados com os atletas.Não era a esses que me referia....

Luís Leite disse...

Pois eu reportei-me àquilo que você, meu caro JMC, escreveu:
"os objetivos dos contratos –programas assinados pelas federações desportivas com atletas presentes onde estão devidamente quantificados os resultados previstos".
As federações não assinam contratos-programa com os atletas.
Assinam "compromissos", onde não constam exigências de objetivos.
Os Contratos-Programa celebrados anualmente entre o Estado e as Federações é que integram objetivos.
São coisas muito diferentes.

josé manuel constantino disse...

Está esclarecido.
Obrigado.

Anónimo disse...

Ainda a ladainha das «medalhas»?

Essa ladainha só é útil para refletir sobre a utilidade da «definição de objetivos». Concretamente, para constatar a inutilidade da «definição de objetivos» quando o diagnóstico-de-partida está errado. Por exemplo, o «objetivo: medalhas» não é um objetivo fraquinho e insuficiente para uma Política de Desporto consistente e verdadeiramente útil para a maioria dos cidadãos no contexto da realidade demográfica portuguesa?

Repare-se, para se ter um termo de comparação, na inutilidade da «definição de objetivos» num domínio não-desportivo por causa do mesmo erro de diagnóstico-do-contexto: - Depois de ter pedido aqui tantas vezes sensatez, contra a insensatez das medidas de austeridade exatas, parece que começam a acordar das fantasias teóricas e das ilusões ideológicas. Até parece que vieram aqui ler à Colectividade a Folha A4.

Afinal enganaram-se.
Passo a citar: «Christine Largarde, diretora do FMI defendeu ontem, na reunião anual com o Banco Mundial, que teve lugar em Tóquio, no Japão, que seja colocado um travão nas medidas de austeridade que estão a ser implementadas na Europa. O relatório semestral chegou com um assumir de culpas sobre as erradas previsões do impacto da austeridade. Os modelos de projeção utilizados até agora estimavam que por cada euro de austeridade se perdia 0,5 euros no PIB. No entanto, os dados económicos têm revelado que por cada euro de corte em despesa pública ou agravamento de impostos, o PIB perde entre 0,9 e 1,7 euros. Entre os países europeus afetados por estes erros de cálculo estão aqueles que tentam atualmente recuperar a sua economia, ou seja, Portugal e Grécia. O Governo português, por exemplo, revelou-se surpreendido pela forma como evoluiu o desemprego e a procura interna, cujo mau desempenho se reflete ao nível do défice orçamental. A diretora-geral do FMI disse que "por vezes é melhor dispor de mais tempo" e deixar as economias ajustarem-se por si próprias em vez de se concentrarem esforços no aumento de impostos e nos cortes da despesa, num espaço curto de tempo.» (Lagarde, FMI, noticia o jornal Público 9Out2012)

De enganos destes já somos todos doutorados. Conhecemos há muito as suas consequências para as Soberanias.
Dizem-nos com candura: «Olhem, paciência, enganámo-nos. Mas entretanto uma parte do que era vosso é agora nosso. Olhem, estamos prontos a dar-vos a nossa solidariedade no vosso legítimo choro. É a Vida, ou como vocês dizem: é o vosso Fado. Tivessem alguém que vos avisasse … Afinal foram sempre pobrezinhos, não era agora, com o nosso dinheiro, que iam ficar igual a nós.»

No Desporto, ponham a Folha A4 a funcionar e veríamos quem tocava a música.

Talvez

Anónimo disse...

A ladainha da «definição de objetivos», sem cuidar dos diagnósticos nem dos contextos, é uma discussão sem fim e completamente improdutiva.
Todos se acusam uns aos outros sem perceberem essa relação fundamental sem a qual essa definição é completamente desprovida de sentido.
E, como também é comum nessas situações, cedo, «começam a tirar a água do capote».
Passado pouco tempo não foi ninguém que disse, e, portanto, ninguém teve a culpa.
Esta é a ladainha dos objetivos-fora-de-contexto, ou seja, dos objetivos que não querem saber dos diagnósticos concretos da realidade.

Ora ouçam esta pérola:
- «O presidente da Comissão Europeia Durão Barroso disse esta quinta-feira, em Bruxelas, ser fundamental que se perceba que os Governos nacionais são responsáveis pelas medidas de austeridade que aplicam, e não a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu ou o Fundo Monetário Internacional.».

Mais ainda:
- «As decisões não são tomadas pelas instituições europeias, mas sim pelos Governos da Europa, e isso é muito importante em termos de RESPONSABILIDADE, porque esta é parte do problema, já que alguns governos tentam passar a ideia de que as medidas que adotam lhes SÃO IMPOSTAS, O QUE NÃO É VERDADE. É muito importante que se clarifique esta questão da RESPONSABILIDADE, porque alguns governos dizem ao seu público que têm problemas porque 'eles', aqueles 'fulanos' em Bruxelas, ou em Frankfurt, no caso do BCE, ou em Washington, no caso do FMI" estão a impor-lhes algo, E ISTO SIMPLESMENTE NÃO É VERDADE, e dificulta ainda mais a aceitação de medidas já de si dolorosas. Sublinhando que o ajustamento económico e orçamental é indispensável mas estes programas só funcionam SE TIVEREM CONDIÇÕES POLÍTICAS E SOCIAIS PARA SEREM VIÁVEIS.»

Não é verdadeiramente inacreditável que a Vida se repita assim, igual ao que era, sem dó nem piedade?
Para que serve a «definição de objetivos» (desse famigerado e abstrato objetivo das medalhas) sem se assumir a responsabilidade por um diagnóstico da realidade e do contexto português? Como é possível definir objetivos para a Política de Desporto em Portugal se ao fim de 30 anos ainda não se fizeram as contas-básicas que a Folha A4 indica? Como é possível esta irresponsabilidade?

Não digam que a culpa é da Comissão Europeia, como muito bem disse o nosso concidadão Presidente dela…

Talvez

Anónimo disse...

o PS no seu melhor é o anónimo Talvez num A5 a GôGô como os mentecaptos colocados para dar lições de moral no Parlamento com o fim da coluna vertebral bem estufado em astrakan, não há limites para a estupidez com que tratam as necessidades e as possibilidades da população numa crise tão grave, pata que o pôs o Zurro do Zurrinho sobre 'os custos da democracia', os custos da democracia são estes inomináveis colocados pelos partidos do arco da governação nas instituição públicas e da comprovada imoralidade dos seus dirigentes a começar pelos mais velhos incapazes de reconhecer as suas limitações e a herança que deixaram ao ponto do país ser levado à falência, Santana, Sócrates, Passos e Portas são uma destruição metódica, consecutiva e sem emenda levada a efeito pelos partidos do arco da governação

Anónimo disse...

no jornal de notícias de hoje - O grupo parlamentar do PS é o mais bem fornecido no que toca à frota automóvel, tanto em qualidade como em quantidade. As quatro novas viaturas ao serviço dos deputados socialistas, que ontem o JN noticiou, custam aos contribuintes 3800 euros por mês.

Luís Leite disse...

Ó Sr. Talvez:

O diagnóstico português está mais que feito.
E contextualizado.
Toda a gente o conhece.
Também no Desporto.
O grande problema no Desporto é o politicamente correto eleitoralista das medidas governativas.
Apesar da nova legislação do PS "Lei da Actividade Física e do Desporto", que mal ou bem sempre separava coisas diferentes, os Governos e "especialistas" como você continuam a a adorar a misturada.
Veja se percebe:
Uma coisa é alto rendimento, outra é o restante desporto federado, outra é desporto de lazer. Práticas de manutenção, que visam o bem-estar e a saúde, não competitivas, não são Desporto, são Actividade Física.
Caminhadas organizadas episodicamente não são desporto. Muitas nem são actividade física. São pura demagogia eleitoralista ou mera actividade comercial.
E só pratica desporto quem gosta, quem quer e possui um mínimo talento para sentir o retorno compensatório.

Anónimo disse...

Muitos parabéns pelo blog! Precisamos de debater o estado do desporto em Portugal!
Também tenho um blog recém-nascido e totalmente amador comparado com este: www.olimpicamania.blogspot.com

Anónimo disse...

Não aprendem.
Realmente a Mudança é difícil para quem cá esteve sem mudar nada; e teve os resultados que teve. Criticar e lamentarem-se não equivale a apresentar qualquer solução, nem a resolver o mínimo problema. De conversa dessa, pela boca dos mesmos que não foram capazes nestes últimos 30 anos (apesar de terem estado nos sítios da execução e da governação), já estamos fartos.

A Mudança que irá ocorrer na Política do Desporto por efeito da Folha A4 será brevemente uma realidade. Porá fim a um ciclo de 30 anos, e iniciará outro caminho. Não apenas por causa da maldade ou dos erros do passado, mas por causa do contexto social e económico que em redor do Desporto mudou.

A Folha A4 foi exposta para começarem gradualmente a ter consciência das parcelas e das contas que cada uma implica no sistema desportivo português.
Nem sequer a simples quantificação de cada um dessas parcelas foi feita nestes últimos 30 anos. Razão pela qual não foram tidas na devida interdependência durante as últimas três décadas. É preciso agora, depois de a Folha A4 a explicitar, estarem a fazê-la. Esse é já, aliás, um contributo da Folha A4. Basta ler os Programas de Governo, os Planos de Atividades das entidades, os conteúdos que as Federações vêm escrevendo, ou o teor dos contratos-programa, para o constatar com objetividade.

A «definição dos objetivos» vai finalmente ser correlacionada com aquilo que devia ter sido feito. Concretamente, com um «diagnóstico competente da realidade social e económica do País». Que (como em tudo o que é exigente e rigoroso) só pode ser feito por profissionais com provas dadas nesse trabalho, e não por amadores ou curiosos de outras disciplinas do saber.

Para os que querem aprender, e não têm medo de mudar, ouçam com atenção o que é mudar. E aprendam a importância dessa «correlação entre Objetivos e Contexto» que há tanto tempo venho avisando:
- “A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, afirmou hoje ser necessário que as economias avançadas realizem um "ajustamento orçamental a médio prazo credível" COM UM RITMO E MEDIDAS ADAPTADAS A CADA PAÍS. As medidas de ajustamento orçamental NÃO SÃO SUFICIENTES POR SI SÓS. O ajustamento orçamental DEVE ESTAR CALIBRADO A CADA PAÍS E AJUSTADO ESPECIFICAMENTE ÀS BASES DE CADA ECONOMIA”.

Nem todos os que «querem» governar são capazes de governar. Dizer mal e enxovalhar não é sinónimo de ser capaz. Capaz de, aqui, à vista de todos, apresentar soluções.
Se o fossem já há muito se tinha notado.
É a Vida… Que diz: até breve.

Talvez

Anónimo disse...

O “síndrome da Memória”… um belo tema de debate.

Ontem era o Joseph Stiglitz a dizer: - (passo a citar) “O Euro não é bom para a Paz. No geral, o euro foi contraproducente. A situação atual é instável e levará a mais divisão”. Porque se a união política não for imposta pela força não vejo como se fará".
“Os problemas não se devem ao sobre-endividamento Público mas, ao facto dos Governos terem respondido à crise pagando a Dívida do Sector Privado. E foi isso que fez a dívida agravar-se. Porque fê-la passar do Sector Privado para o Público. Os Governos deram dinheiro aos ricos com o dinheiro dos contribuintes pobres, e obrigam agora os pobres a pagar a dívida que era dos ricos.”

Anteontem era Paul Krugman a dizer: - (passo a citar) “A austeridade na Europa imposta pelo comando da Alemanha é uma loucura, e levará à catástrofe.”

Hoje é este curioso comentário de um Anónimo a propósito da visita da Sra. Chanceler Alemã: - (passo a citar) “Os americanos perderam vidas para defenderem os europeus dos alemães. Fomos salvos com o sangue de muitos americanos, e com muitas lágrimas das mães e pais deles. Ainda há menos de 70 anos, não foi? Criou-se a NATO para dar sentido a essa aliança, não foi? E o que os alemães fizeram? Depois de terem atacado e destruído meia Europa criaram uma moeda diferente do dólar para poderem outra vez dominar os europeus. E os tótós avençados e as elites desses países foram na conversa de quem os tinha atacado e destruído em 1939-1945, não foi? Se fossem os pais e as mães dos americanos que cá morreram para nos livrarem dos alemães o que sentiriam disto? Não é uma traição? Para quando Portugal pedir a saída da moeda Euro e pedir para aderir ao Dólar?”

Tanta coincidência que até parecem combinados. Estarão? Terão razão? Não? Sim?
Para o tema “síndroma da Memória» talvez sejam preferíveis os contos antigos, como aquele que sussurrava: - (passo a citar) “Será chuva? Será vento? Vento não é certamente, e a chuva não bate assim…”

Talvez

Anónimo disse...

Ao "Cavalo Branco" vai certamente suceder uma "Besta Negra".