Viver a cerca de três centenas de quilómetros da macrocefalia institucional e organizativa do desporto nativo tem, como tudo na vida, convenientes e inconvenientes assinaláveis. Mas, para quem da vida procura carrear optimismo e boa disposição, a tendência é maximizar os convenientes e minorar os inconvenientes. Como tal, este meu (aparente) distanciamento da centralidade e da concentração de determinado “poder político e organizativo” das hostes desportivas, tem-me permitido, ao longo dos tempos, estabelecer uma relação saudável com inúmeros agentes desportivos e uma leitura equidistante da morfologia e da dinâmica organizacional desportiva.
Foi para mim, confesso-o sem tibiezas, um regozijo ter sido vice-presidente da direcção da Confederação do Desporto de Portugal no período de 2000-2003 e um desencanto ter sido relatora do Conselho de Justiça desta mesma entidade no período de 2003-2007. Regozijo pela acção e inovação, desencanto pela inoperância!
Podemos e devemos reflectir, e escusado seria dizer, mas por ora recomenda-se - de forma intelectualmente séria -, o modelo bicéfalo que existe entre nós relativamente às organizações desportivas que se situam na cúpula organizacional desportiva: a Confederação do Desporto de Portugal e o Comité Olímpico de Portugal. Podemos contribuir para a clarificação histórica, para a leitura estatutária e para a determinação da missão e vocação de cada uma destas instituições desportivas. Podemos contribuir para a avaliação, objectiva e subjectiva, do trabalho e da importância que cada uma delas tem tido no desenvolvimento desportivo nacional. Contudo, o verdadeiro debate de ideias e o esgrimir de argumentos relativamente ao merecimento ou desmerecimento deste modelo bicéfalo, à sua continuidade ou remodelação, pertence, em primeira instância, ao movimento associativo desportivo, designadamente às federações desportivas nacionais.
E aqui chegados, eis, para mim, o nó górdio da questão, ou seja, as federações desportivas se não têm fugido desta questão como o diabo da cruz, também não a têm promovido em sede própria, com elevação, com argumentos substanciais e desprovida de interesses particulares e individualistas. A congregação de esforços e de motivações para a existência de uma intencionalidade política de cunho estratégico por parte do associativismo desportivo deveria ser entendida como uma prioridade de todos e para todos. Com honrosas excepções, ao invés, vamos assistindo a reacções por impulsos, destes ou daqueles, movidas ora por interesses de militância político-partidária, ora por interesses corporativos agastados, ora ainda pelas pretensões virulentas de garantir e manter o poder já exercido há anos e anos.
Nas últimas três décadas de democracia portuguesa será difícil encontrarmos nos 24 ministros responsáveis pelo desporto, nos 13 secretários de Estado e nos 14 responsáveis pelos serviços da administração pública desportiva, dirigentes políticos que daqui a cem ou duzentos anos sejam recordados pelo mérito dos seus feitos. Contudo, estamos também em crer que dos milhares de dirigentes desportivos que indubitavelmente têm, a grande maioria de forma benévola e graciosa, dedicado a sua vida, ou grande parte dela, à promoção e desenvolvimento do desporto, e particularmente os que têm assumido funções de destaque nas cúpulas organizativas do associativismo desportivo, poucos registarão o seu nome na lápide da memória colectiva pela sua capacidade de mobilização e liderança de projectos desportivos nacionais e de congregação e representação dos interesses e reivindicações colectivas.
Foi para mim, confesso-o sem tibiezas, um regozijo ter sido vice-presidente da direcção da Confederação do Desporto de Portugal no período de 2000-2003 e um desencanto ter sido relatora do Conselho de Justiça desta mesma entidade no período de 2003-2007. Regozijo pela acção e inovação, desencanto pela inoperância!
Podemos e devemos reflectir, e escusado seria dizer, mas por ora recomenda-se - de forma intelectualmente séria -, o modelo bicéfalo que existe entre nós relativamente às organizações desportivas que se situam na cúpula organizacional desportiva: a Confederação do Desporto de Portugal e o Comité Olímpico de Portugal. Podemos contribuir para a clarificação histórica, para a leitura estatutária e para a determinação da missão e vocação de cada uma destas instituições desportivas. Podemos contribuir para a avaliação, objectiva e subjectiva, do trabalho e da importância que cada uma delas tem tido no desenvolvimento desportivo nacional. Contudo, o verdadeiro debate de ideias e o esgrimir de argumentos relativamente ao merecimento ou desmerecimento deste modelo bicéfalo, à sua continuidade ou remodelação, pertence, em primeira instância, ao movimento associativo desportivo, designadamente às federações desportivas nacionais.
E aqui chegados, eis, para mim, o nó górdio da questão, ou seja, as federações desportivas se não têm fugido desta questão como o diabo da cruz, também não a têm promovido em sede própria, com elevação, com argumentos substanciais e desprovida de interesses particulares e individualistas. A congregação de esforços e de motivações para a existência de uma intencionalidade política de cunho estratégico por parte do associativismo desportivo deveria ser entendida como uma prioridade de todos e para todos. Com honrosas excepções, ao invés, vamos assistindo a reacções por impulsos, destes ou daqueles, movidas ora por interesses de militância político-partidária, ora por interesses corporativos agastados, ora ainda pelas pretensões virulentas de garantir e manter o poder já exercido há anos e anos.
Nas últimas três décadas de democracia portuguesa será difícil encontrarmos nos 24 ministros responsáveis pelo desporto, nos 13 secretários de Estado e nos 14 responsáveis pelos serviços da administração pública desportiva, dirigentes políticos que daqui a cem ou duzentos anos sejam recordados pelo mérito dos seus feitos. Contudo, estamos também em crer que dos milhares de dirigentes desportivos que indubitavelmente têm, a grande maioria de forma benévola e graciosa, dedicado a sua vida, ou grande parte dela, à promoção e desenvolvimento do desporto, e particularmente os que têm assumido funções de destaque nas cúpulas organizativas do associativismo desportivo, poucos registarão o seu nome na lápide da memória colectiva pela sua capacidade de mobilização e liderança de projectos desportivos nacionais e de congregação e representação dos interesses e reivindicações colectivas.
2 comentários:
“Cada qual faz o que é capaz de fazer, mas a sua capacidade depende completamente da sua preparação: isto obriga-nos a manter desperta a consciência da nossa solidariedade com as forças e até com os vícios do passado.”
José Ortega y Gasset
Maria José Carvalho
Antes de considerar que ninguém ficou na fotografia temos de tirar a fotografia.
Prefiro indicar a capacidade de realização mesmo tendo perspectivas diferenciadas das suas performances.
Mirandela da Costa, José Chabert, Manuel Brito e José Constantino foram dirigentes desportivos que dignificaram o lugar que ocuparam.
A incompetência que também passa por estes lugares não dignifica nem os nomeados nem aqueles que lá os colocam.
Isto, porém, não é o suficiente. Faltam mecanismos de alerta amarelo, laranja e vermelho que despertem os sentidos e as decisões de transformação e digam qual o limite que está a ser ultrapassado e qual a consequência do curso da realidade, caso não existam transformações ou reformas imediatas.
Sem informação e sem instrumentos de aferição do que é positivo para o país e o desporto é impossível o desenvolvimento desportivo. Esta lacuna impede os agentes desportivos de estabelecer os limites entre aquilo que é o seu interesse e o resto que não lhes interessa.
Quem está péssimo na fotografia é a universidade do desporto.
A criação da fotografia, dos critérios e do debate civilizado cabe-lhe e o vazio é enorme em diferentes facetas.
Existindo critérios e parâmetros de aferição, todos os agentes se posicionarão para conquistarem ou manterem alguma fatia de sucesso.
Independentemente de Pequim e da legislatura, ou por causa deles, as reformas e os projectos de transformação que marcam devem ser assumidos.
No desporto português esses projectos de transformação visando um objectivo maior e capaz de mobilizar a pluralidade dos agentes, por temor do risco ou por incapacidade de decisão não são accionados.
Aqui é que a universidade daria um contributo inestimável avançando os cenários e instrumentos óptimos e possíveis alternativos.
Concordarei com José Ortega y Gasset na estrita medida em que os responsáveis nos cargos dêem o seu melhor ao nível do que melhor a sociedade lhe exige.
Para isso é que é necessária informação, critérios de aferição e mecanismos de alerta actuantes ao serviço dos agentes desportivos.
Este o sentido da reforma necessária e também o essencial da acção das universidades e dos seus catedráticos e investigadores.
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