O discurso desportivo tradicional não quer explicar que os melhores não são o resultado de uma selecção natural, mas o reflexo das condições sociais oferecidas aos praticantes para exprimirem o que neles existe sob forma potencial: o seu talento ou capacidades desportivas. E essas condições vão desde as condições de preparação e treino desportivo, á tecnologia dos materiais e equipamentos, até à medicalização do rendimento desportivo. A igualdade de oportunidades, que a regra desportiva consubstancia, é meramente formal, não é de natureza substantiva. Nem é neutra. A idealização simbólica de um desporto em que todos à partida seriam iguais, para além das suas diferenças de género e de âmbito morfofuncional, conduziu a que, sobre ele, se construísse um modelo normativo, qual espécie de código universal, do que era o verdadeiro desporto. E ao fazê-lo, contribuiu para criar um verdadeiro “obstáculo epistemológico” a uma visão crítica sobre os problemas do desporto.
Um dos aspectos mais singulares do que acabamos de afirmar, está patente no lugar outrora atribuído ao chamado “amadorismo", durante décadas elemento estruturante de um dos valores nucleares do desporto e particularmente do olimpismo e hoje, conceito claramente ultrapassado, transformado numa espécie de “arcaísmo” ideológico. O que se não disse e escreveu a respeito dos “profissionais”!
A progressiva profissionalização do desporto e a dinâmica da indústria do espectáculo desportivo colocaram uma pedra definitiva no assunto. E não ficou por aqui. O desporto procurou, em boa verdade sempre o fez desde tempos imemoriais, descobrir novos modos de aumentar o rendimento desportivo. O caso dos fatos dos nadadores é apenas um pormenor. Novidade para os nadadores. Lugar já comum para muitas outras modalidades. Todas buscam na evolução das tecnologias de suporte - do vestuário aos instrumentos de apoio - modos de aumentarem os rendimentos ou a espectacularidade dos desempenhos. O que é relativamente pacífico. O que não é, como é do conhecimento geral, são as possibilidades colocadas à disposição dos atletas nos domínios da farmacologia e da medicina de apoio. Aí a única saída tem sido o de criar a “excepção desportiva”. O que não deixa de incomodar.
Um dos sinais mais evidentes desse incómodo é atitude argumentativa perante a crescente medicalização do rendimento desportivo. E, sobretudo, o recurso à farmacologia, como meio de o aumentar. Um fenómeno que, não sendo novo, tem como novidade a sua extensão, complexidade e sofisticação. De tal modo que é nos dias que correm assunto da agenda política na generalidade dos países e até das organizações desportivas.
O discurso desportivo dominante balanceia entre a realidade e o desejo de um desporto onde o rendimento fosse apenas o desenvolvimento das capacidades endógenas ao indivíduo mais o trabalho (treino). Acaba por criar uma realidade ficcionada, o chamado “desporto limpo”, ora suportada pela defesa da “verdade desportiva”, ora agarrado a uma eventual defesa da protecção da saúde do atleta, mas que ignora todos as restantes condições em que é produzido o trabalho desportivo de alto rendimento. A “dopagem de Estado” que durante anos programou a leste a vida desportiva internacional tem olvidado a crítica ao planeamento desportivo e aos “métodos científicos de treino”em que as cadeias de trabalho desportivo são um claro atentado à saúde dos praticantes. A “escola” é a mesma. E caiu num beco sem saída. O que melhor encontrou foi a penalização/criminalização dos comportamentos farmacologicamente interditos. Mas autorizando muitos outros. Foi a solução possível. Resta saber por quanto tempo.
Um dos aspectos mais singulares do que acabamos de afirmar, está patente no lugar outrora atribuído ao chamado “amadorismo", durante décadas elemento estruturante de um dos valores nucleares do desporto e particularmente do olimpismo e hoje, conceito claramente ultrapassado, transformado numa espécie de “arcaísmo” ideológico. O que se não disse e escreveu a respeito dos “profissionais”!
A progressiva profissionalização do desporto e a dinâmica da indústria do espectáculo desportivo colocaram uma pedra definitiva no assunto. E não ficou por aqui. O desporto procurou, em boa verdade sempre o fez desde tempos imemoriais, descobrir novos modos de aumentar o rendimento desportivo. O caso dos fatos dos nadadores é apenas um pormenor. Novidade para os nadadores. Lugar já comum para muitas outras modalidades. Todas buscam na evolução das tecnologias de suporte - do vestuário aos instrumentos de apoio - modos de aumentarem os rendimentos ou a espectacularidade dos desempenhos. O que é relativamente pacífico. O que não é, como é do conhecimento geral, são as possibilidades colocadas à disposição dos atletas nos domínios da farmacologia e da medicina de apoio. Aí a única saída tem sido o de criar a “excepção desportiva”. O que não deixa de incomodar.
Um dos sinais mais evidentes desse incómodo é atitude argumentativa perante a crescente medicalização do rendimento desportivo. E, sobretudo, o recurso à farmacologia, como meio de o aumentar. Um fenómeno que, não sendo novo, tem como novidade a sua extensão, complexidade e sofisticação. De tal modo que é nos dias que correm assunto da agenda política na generalidade dos países e até das organizações desportivas.
O discurso desportivo dominante balanceia entre a realidade e o desejo de um desporto onde o rendimento fosse apenas o desenvolvimento das capacidades endógenas ao indivíduo mais o trabalho (treino). Acaba por criar uma realidade ficcionada, o chamado “desporto limpo”, ora suportada pela defesa da “verdade desportiva”, ora agarrado a uma eventual defesa da protecção da saúde do atleta, mas que ignora todos as restantes condições em que é produzido o trabalho desportivo de alto rendimento. A “dopagem de Estado” que durante anos programou a leste a vida desportiva internacional tem olvidado a crítica ao planeamento desportivo e aos “métodos científicos de treino”em que as cadeias de trabalho desportivo são um claro atentado à saúde dos praticantes. A “escola” é a mesma. E caiu num beco sem saída. O que melhor encontrou foi a penalização/criminalização dos comportamentos farmacologicamente interditos. Mas autorizando muitos outros. Foi a solução possível. Resta saber por quanto tempo.
2 comentários:
O nosso desporto necessita de passar mensagens simples
Necessita de se envolver nas lutas dos outros e desmitificar as interpretações dos outros acerca do desporto
As heterodoxias são um discurso interno que melhorariam em reavaliar o alvo
Porque estamos em Abril e "sempre mais além" como diz JMC
O Sr. Presidente da República está preocupado com os jovens porque não sabem política.
É uma preocupação saudável e curta.
As pessoas do desporto dirão que também não sabem de desporto o que alguns estudos atestam.
O mais importante é que por não saberem desporto e não saberem o essencial do desporto terão vidas mais sedentárias e atreitas às respectivas consequências.
Não sei se o Sr. Presidente da República distinguiu os mais pobres dos mais ricos.
As pessoas do desporto sabem que os portugueses mais pobres praticam um pior desporto ou não o praticam e sabem que os talentos são "carne para canhão" dos políticos de ampla latitude.
Mas é necessário começar por algum lado e o Sr. Presidente da República terá dado um novo primeiro passo.
Esperemos que um dia consiga chegar ao desporto, saibam ou não os jovens portugueses quem são os Presidentes da República.
Existe no desporto português uma selecção natural antes de ser social, técnica e medicamentosa.
Por isso, o potencial genético da população portuguesa, sendo potente, está por realizar.
Existe uma hecatombe de miúdos com jeito para alguma coisa e que se perdem devido à crise estrutural e de longo prazo do sistema de ensino português.
O amadorismo foi ultrapassado porque os homens trabalharam para se suplantarem e mesmo na ausência de técnicos e medicamentos conseguem ultrapassar-se. Cristiano Ronaldo trabalha avidamente para beneficiar de tudo o que o leve a colocar mais longe os seus resultados desportivos.
Os limites têm de ser estabelecidos mas o mais significativo é eventualmente que os de hoje são os mesmos de Coubertain.
Toda a época tem os seus limites e o diálogo entre a concretização da potência e a ética do socialmente aceitável é permanente.
Quando converso com pessoas do desporto a questão do dinheiro, e os salários absurdos de alguns sectores e praticantes, é aquela que mais mexe com as pessoas.
A tecnologia, a saúde e o dinheiro dos atletas são activos que ajudam a equacionar a igualdade de chegar e participar nas competições.
Cada competição tem de ter leis transparentes e que se aplicam a todos os participantes.
A luta livre americana tem regras e, por essas regras, não entra nos jogos olímpicos nem nos seus ideais. Por essas mesmas leis os senhores da FIFA preservam o seu “negócio” para manterem a tensão com os seus consumidores éticos, desportivos ou económicos.
Os fatos da natação estão a colocar outro debate, que pode não ser tão novo como parece porque no atletismo já se discutiu a questão do lançamento dos dardos "voadores".
Enviar um comentário