“Não importa a cor do gato, desde que cace o rato”
Deng Chiao Ping
É consensual o entendimento de que assistimos a partir do último quartel do século XX a uma reestruturação do sistema capitalista mundial marcado, por um lado, pela revolução das técnicas de informação e, por outro, pela globalização dos mercados. A queda dos regimes comunistas a leste e a abertura ao capitalismo por parte da China tornaram este país um parceiro do mundo. O Ocidente adaptou-se com facilidade e não colocou grandes exigências perante os chamados valores ocidentais, entre os quais os sempre recorrentes “direitos humanos”. Quando o Comité Olímpico Internacional atribuiu a Pequim a organização da edição de 2008 dos jogos olímpicos de Verão tratou-se de uma decisão sábia.Servia a República Popular da China e sua legitimação no contexto internacional. Servia os interesses do mundo capitalista. Sendo formalmente da responsabilidade do organismo olímpico, neste como em outros casos, a decisão do COI foi a decisão que melhor se adequava aos interesses financeiros, comerciais e políticos de quem o suporta. Reconhecê-lo não envolve qualquer juízo de valor. Apenas coloca a questão fora de poder entender-se a decisão como estritamente “olímpica” ou “desportiva”. Tiananmen já lá vai e o comunismo chinês dá crescentes provas de se querer converter ao mais desenfreado capitalismo. Era, e é, um mercado emergente. E apetecível. Tibete e o seu nacionalismo, uma mistura de misticismo, religião e regionalismo, vieram estragar o que parecia ser um passeio triunfante ao longo da grande muralha. Não é nada que se não ultrapasse. Mas que comporta perigos. E exige algumas precauções. Não tanto pelo que valem por si as manifestações tibetanas, mas porque as autoridades chinesas já deram provas de que não brincam em serviço. O que coloca em situação de crescente inquietação as autoridades ocidentais.O mais preocupante não são as manifestações dos tibetanos e de quem os apoia. É normal que pretendam aproveitar o palco que é proporcionado pelos jogos olímpicos para afirmarem os seus propósitos. Sempre assim foi. O perigo vem do modo como as autoridades chinesas lidam com essas manifestações. Tiananmen não foi um excesso da revolução cultural ou um “up-grade” da superação do esquerdismo estudantil misturado com a oposição de vários tons e matizes. Foi o modo como actual nomenclatura chinesa, então liderada pelo pai da abertura ao capitalismo Deng Chiao Ping, geriu a contestação .Que garantias existem de que, como no passado, o exemplo se não repita. E se repetir?
Deng Chiao Ping
É consensual o entendimento de que assistimos a partir do último quartel do século XX a uma reestruturação do sistema capitalista mundial marcado, por um lado, pela revolução das técnicas de informação e, por outro, pela globalização dos mercados. A queda dos regimes comunistas a leste e a abertura ao capitalismo por parte da China tornaram este país um parceiro do mundo. O Ocidente adaptou-se com facilidade e não colocou grandes exigências perante os chamados valores ocidentais, entre os quais os sempre recorrentes “direitos humanos”. Quando o Comité Olímpico Internacional atribuiu a Pequim a organização da edição de 2008 dos jogos olímpicos de Verão tratou-se de uma decisão sábia.Servia a República Popular da China e sua legitimação no contexto internacional. Servia os interesses do mundo capitalista. Sendo formalmente da responsabilidade do organismo olímpico, neste como em outros casos, a decisão do COI foi a decisão que melhor se adequava aos interesses financeiros, comerciais e políticos de quem o suporta. Reconhecê-lo não envolve qualquer juízo de valor. Apenas coloca a questão fora de poder entender-se a decisão como estritamente “olímpica” ou “desportiva”. Tiananmen já lá vai e o comunismo chinês dá crescentes provas de se querer converter ao mais desenfreado capitalismo. Era, e é, um mercado emergente. E apetecível. Tibete e o seu nacionalismo, uma mistura de misticismo, religião e regionalismo, vieram estragar o que parecia ser um passeio triunfante ao longo da grande muralha. Não é nada que se não ultrapasse. Mas que comporta perigos. E exige algumas precauções. Não tanto pelo que valem por si as manifestações tibetanas, mas porque as autoridades chinesas já deram provas de que não brincam em serviço. O que coloca em situação de crescente inquietação as autoridades ocidentais.O mais preocupante não são as manifestações dos tibetanos e de quem os apoia. É normal que pretendam aproveitar o palco que é proporcionado pelos jogos olímpicos para afirmarem os seus propósitos. Sempre assim foi. O perigo vem do modo como as autoridades chinesas lidam com essas manifestações. Tiananmen não foi um excesso da revolução cultural ou um “up-grade” da superação do esquerdismo estudantil misturado com a oposição de vários tons e matizes. Foi o modo como actual nomenclatura chinesa, então liderada pelo pai da abertura ao capitalismo Deng Chiao Ping, geriu a contestação .Que garantias existem de que, como no passado, o exemplo se não repita. E se repetir?
2 comentários:
Caro Constantino
A decisão não é olímpica nem desportiva, é mercantil.
O COI é uma multinacional e funciona nos mesmos moldes das multinacionais.
Globalizou-se e está dentro desses meandros.
É uma grande empresa que devolve ao desporto as suas origens:
1.º - O que era inicialmente uma profissão (caça, pesca) transmutou-se em desporto (caça, pesca)
2.º - O COI devolve o desporto às profissões.
É o retorno à origens.
Aí é que se engana.
Os chineses também gostam de brincar em serviço.
Repare que a China, possuidora de um latifúndio, boicotou durante 32 anos os Jogos Olímpicos, porque o minifúndio de Taiwan foi autorizado a participar nos Jogos de Helsínquia, em 1952.
Agora deseja o minifúndio tibetano e que os países desviem os olhares para algures.
E o COI diz que o boicote não resolve nada? Devia tê-lo dito aos chineses em 1952, aos 60 países, incluindo USA, que boicotaram os JO de Moscovo (1980), e ao bloco do leste que boicotou os JO de Los Angeles.
Nada se pode fazer porque a lógica política tem parâmetros que não casam com a lógica económica.
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