quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Nós por cá!

Sentindo-se espoliado em recente arbitragem, o presidente de um clube solicita uma audiência na Liga de Clubes de Futebol Profissional. À saída, avança com a estafada solução de nomeação de árbitros internacionais nos chamados “jogos grandes”.


O presidente desse clube - parte integrante de uma Comissão responsável pela apresentação de uma proposta de reforma do Regulamento de Disciplina da Liga que devia ter sido entregue até ao final do ano passado – avança com esta medida como a panaceia para muitos dos problemas da arbitragem no futebol profissional, após declarações públicas, em tudo oportunas e pacificadoras, do presidente do município onde o clube está sediado, e cumulativamente presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol.

Obviamente essa visão sobre a arbitragem não é partilhada pelo responsável do sector na Liga, o qual procura garantir parcerias com diversas empresas, universidades e instituições públicas e privadas para valorizar a formação de árbitros em Portugal e reitera a necessidade de profissionalização da arbitragem.

Não discutindo o mérito da profissionalização, nomeadamente as suas implicações orçamentais, face ao actual quadro de despesas no seio da arbitragem de competições profissionais de futebol, uma vez que ainda não existe uma proposta concreta, questiono se esta deve ser uma prioridade para valorização da arbitragem de competições profissionais no nosso país. Isto, sem abordar, sequer, a precariedade e as carências na arbitragem de outros quadros competitivos. Questiono se estão reunidas as condições para seguir nesse caminho.

Por implicações profissionais acompanho de perto a formação de árbitros de 1.ª categoria e o esforço que é feito em assegurar, de ano para ano, melhores condições para este trabalho. É sabido, por quem está no terreno, que ainda existe um caminho a percorrer para que uma eventual proposta de profissionalização produza efeitos duradouros e concretize objectivos de responsabilização e valorização da qualidade da arbitragem. Importa ter ainda em consideração que não é uma proposta pacifica no seio dos árbitros e que no contexto europeu os árbitros profissionais existentes têm uma representatividade ínfima nas diversas ligas profissionais.

Por outro lado, a nível regulamentar estala a polémica com a interpretação do conceito de “goal average”. É o que acontece quando se aplicam estrangeirismos em normas nacionais. Ainda assim, traduzindo a palavra “average” por “média”, nos bancos da escola penso que ainda ensinam que uma média é uma proporção e não uma diferença. A ver vamos se o futebol inova nesta matéria. Tudo se encaminha nesse sentido.

A tutela política, essa, parece estar mais interessada em patrocinar as iniciativas de outras ligas, como ontem ocorreu com a inefável Liga Portuguesa de Futebol Não Profissional.

Tudo isto num quadro de crise, transversal a vários clubes profissionais, onde proliferam incumprimentos salariais e dividas a fornecedores, num cenário contabilístico dantesco e sem expectativa de melhores ventos a curto prazo, onde a entidade sindical já se conformou com a ausência de dinheiro e a inconsequência das ameaças de greve, desmultiplicando-se agora em outras iniciativas e em outras frentes.

Num ambiente caótico, sem regulação, sem ordem, sem estratégia e sem concertação entre os agentes desportivos do futebol profissional nada melhor que o anuncio de uma candidatura ao Mundial de 2018 para desanuviar a agenda em período pré-eleitoral. Não tivesse Teixeira dos Santos borrado a pintura...

4 comentários:

Anónimo disse...

Se o Estado é o primeiro a dar o exemplo sobre arrastadas dividas a fornecedores, por que razões exigir dos clubes o que o Estado não exige a si mesmo, para servir de exemplo?

Sobre o Mundial podemos estar mais descansados. A Rússia, por um lado, e a Inglaterra, por outro, vão estender uma longa nuvem sobre a península ibérica.

O que significa fortes movimentações diplomáticas de outras forças.

Somos uns perdulários sonhadores e uns inveterados românticos.

Mas o Estado também deve animar a população e as rotativas dos jornais.

Rui Lança disse...

Mais um excelente apontamento! Destaco no entanto aqui alguns detalhes. Como o próprio João Almeida sabe, os árbitros treinam no 'teu' campo no Monte da Galega e fazem bastante esforços.

O que faz falta não sei se serão tanto as questões físicas de treino ou preparação, mas também questões comportamentais. E tudo se relaciona numa abordagem quase sistémica. O convívio com a frustração e erro tem de ser gerida. Não se pode vir discutir com os restantes agentes desportivos para a praça pública. Não me posso esquecer das palavas que ouvi na defesa de tese de mestrado de um dos árbitros que mais admirava e depois observar a forma como ele conviveu com o erro e a critica no golo anulado no jogo Benfica-Nacional. Nem quero entrar em questões técnicas, mas percebeu-se que afinal o suporte para lidar com a pressão não era a mesma que foi pintada uns dias antes.

A profissionalização é um meio e não um fim, deverão a seguir vir os passos de trabalho quer técnico quer comportamental. Como dizia Aristóteles "nós somos aquilo que fazemos, logo a excelência é um hábito"...

Grande abraço João!

João Almeida disse...

Rui. Obrigado pelas tuas palavras.

A dimensão comportamental é uma das que ainda está incipiente no plano de formação de árbitros de 1.ª categoria e sublinham o caminho que falta percorrer que escrevi no post, ainda que, do que me é dado conhecer, tenham existido alguns avanços em relação à epoca passada nesta matéria.

Um outro dominio onde se assinalam lacunas importantes é na estratégia de comunicação, mas este é um problema em que a arbitragem acompanha outras esferas do futebol profissional.

Ainda a propósito deste post aproveito para partilhar uma pérola da sã convivência em democracia e respeito pelas suas instituições que mão amiga, oportunamente me fez chegar.

http://31daarmada.blogs.sapo.pt/2096698.html

Abraço

Anónimo disse...

NOTICIA Público

"Laurentino Dias
prefere cerveja
ao Parlamento,
diz JSD"

A Cerveja Rosa Zero em homenagem
à falta de apoios às associações juvenis; cerveja Rosa Boémia para a falta de cumprimento da promessa de 150 mil novos empregos; Rosa Light pela falta de soluções para a habitação jovem; e ainda a Rosa Clássica para as prioridades invertidas do Governo,que coloca o casamento entre pessoas do mesmo sexo à frente da resolução da crise.
Estas quatro novas “variedades” de
cerveja foram criadas e justificadas pela Juventude Social-Democrata em protesto pela ausência do secretário de Estado da Juventude e do Desporto na audição trimestral no Parlamento,
que deveria ter tido lugar teontem.
Segundo a JSD, Laurentino Dias terá
preferido “uma reunião com uma
conhecida empresa no sector da cerveja”.
Por isso, apresentou as novas
cervejas à porta da Assembleia da República, com um rol de críticas.
A audição trimestral de Laurentino
Dias na Comissão Parlamentar de
Educação e Ciência estava marcada
para terça-feira (dia 20) à tarde, mas o secretário de Estado pediu, por escrito, o seu adiamento, em carta enviada na sexta-feira (dia 16) ao presidente da comissão. “Por motivo imprevisto,
se me afigura problemática a possibilidade de estar presente no dia e hora que se encontra designado”, justificava
na missiva. Mas acabou por
estar, nesse dia e à mesma hora, num evento ligado ao futebol.
Contactado pelo PÚBLICO, o seu
assessor, Francisco Trigo Abreu, explicou que Laurentino Dias, “devido ao excesso de trabalho, não teria disponibilidade
para dar todas as explicações
devidas numa audição”. Esta
foi remarcada para 10 de Fevereiro.
“Quando já sabíamos que tinha sido
adiada, na segunda-feira, surgiu
um convite para apresentação da nova imagem do Turismo do Norte, às
15h, no Pavilhão de Portugal. E também para a assinatura do protocolo entre a Liga Portuguesa de Futebol não Profissional e a Central de Cervejas, na fábrica de Vialonga, que depois foi adiada para as 16h”, defende o assessor.
Segundo o presidente da Comissão
Parlamentar de Educação e Ciência,
António José Seguro, “não foi
a primeira vez que um secretário de
Estado faltou à audição regular. Justificam sempre a ausência e neste caso alegou um compromisso”. Por regra, não é preciso identificá-lo, disse Seguro ao PÚBLICO: “Há sempre uma
questão de boa-fé.”

É o FUTEBOL meus senhores.

INFANTE SANTO