As eleições no Sporting surpreendem. O número de candidatos, o que fazem, o que dizem de uns e de outros. Mas só à primeira vista. Porque se pensarmos bem é no Sporting mas podia ser em qualquer outro emblema. No Benfica já ocorreu exercício semelhante. E é no futebol, como na política. É o país. E aqui reside, a meu ver, o trágico da situação. Não estamos apenas perante uma dimensão apaixonada, localizada e algo irracional resultante de um filiação clubista. Estamos perante em estado geral de incapacidade. Alguém já escreveu (José António Saraiva) que se trata de teatro de revista. Do mal, o menos. Mas receio que seja bem pior.
As eleições desportivas -e não apenas em clubes de topo mas até em federações desportivas - estão cada vez mais parecidas com as eleições para cargos políticos. Mandatários, comissões de honra, assessores, empresas de comunicação, jantares e sondagens. E muito espectáculo mediático. E muitas declarações/promessas. De jogadores, de treinadores e de fundos. Tudo aparentemente fácil. Sobretudo o dinheiro. Sem diferença entre o que se anuncia e aquilo que é possível. Tal como na política. Seguramente que, como na politica, também há, nestes ambientes, gente séria, pessoas empenhadas, propósitos meritórios e vidas respeitáveis. Mas o que mais impressiona nesta luta eleitoral é haver tanta gente com uma solução para um problema tão difícil: o que o clube custa é bem maior que aquilo que são os seus proveitos. E em que todos, pelo que leio, não invocam primeiro trabalho e sacrifício e depois sucesso. Mas soluções rápidas e de sucesso garantido, sem, pelo menos aparentemente, criarem condições para que tal ocorra. O que requereria dificuldades, trabalho e tempo. E convergência em vez de divisão.
O desporto - e o futebol em particular - não são um oásis nos contextos sociais em que ocorrem. Nem são a terapia ou a salvação dos males que uma sociedade padece. Mas também não têm necessariamente que ser um espaço sem verdade e sem rigor. No sucesso de uma organização desportiva joga-se muita coisa. Joga-se prestígio, poder e negócio. O que em si mesmo não constitui qualquer anátema. Tudo está no modo como se joga. E empenha a palavra. E com ela, a honra.
Voltamos de onde nunca saímos: ao país. Nos tempos que correm é difícil ganhar uma eleição falando de trabalho e de dificuldades. Mesmo que essa seja a verdade para alcançar o sucesso. Os tempos não estão para se ouvir juntar mais dificuldades às que já existem. Vivemos uma crise que é económica e financeira. Mas também de valores e de comportamentos. A generalidade dos analistas e o comum dos cidadãos reconhecem-no, mesmo que a forma como o verbalizam seja diferente. A resposta a essa dimensão dos nossos problemas é equivalente à sua natureza. Não é uma resposta exclusivamente do domínio da política e da governação. Mas de comportamento. De quem governa pelo exemplo que deve transmitir. Mas de quem é governado pelo grau de exigência que deve colocar a quem é responsável. Mas também a si próprio. É de todos. Sem cair no risco da lamechice retórica. Mudar este estado de coisas só é viável se cada um der o seu contributo para um país mais responsável. É que não há solução que disponha de qualquer efeito mágico, que dispense o investimento individual de cada um de nós no seu aperfeiçoamento. Sem ironia às Igrejas e às religiões. E sem qualquer resgate, por mais leve que seja, aos construtores do Universo. Porque nisto estamos de acordo.
As eleições desportivas -e não apenas em clubes de topo mas até em federações desportivas - estão cada vez mais parecidas com as eleições para cargos políticos. Mandatários, comissões de honra, assessores, empresas de comunicação, jantares e sondagens. E muito espectáculo mediático. E muitas declarações/promessas. De jogadores, de treinadores e de fundos. Tudo aparentemente fácil. Sobretudo o dinheiro. Sem diferença entre o que se anuncia e aquilo que é possível. Tal como na política. Seguramente que, como na politica, também há, nestes ambientes, gente séria, pessoas empenhadas, propósitos meritórios e vidas respeitáveis. Mas o que mais impressiona nesta luta eleitoral é haver tanta gente com uma solução para um problema tão difícil: o que o clube custa é bem maior que aquilo que são os seus proveitos. E em que todos, pelo que leio, não invocam primeiro trabalho e sacrifício e depois sucesso. Mas soluções rápidas e de sucesso garantido, sem, pelo menos aparentemente, criarem condições para que tal ocorra. O que requereria dificuldades, trabalho e tempo. E convergência em vez de divisão.
O desporto - e o futebol em particular - não são um oásis nos contextos sociais em que ocorrem. Nem são a terapia ou a salvação dos males que uma sociedade padece. Mas também não têm necessariamente que ser um espaço sem verdade e sem rigor. No sucesso de uma organização desportiva joga-se muita coisa. Joga-se prestígio, poder e negócio. O que em si mesmo não constitui qualquer anátema. Tudo está no modo como se joga. E empenha a palavra. E com ela, a honra.
Voltamos de onde nunca saímos: ao país. Nos tempos que correm é difícil ganhar uma eleição falando de trabalho e de dificuldades. Mesmo que essa seja a verdade para alcançar o sucesso. Os tempos não estão para se ouvir juntar mais dificuldades às que já existem. Vivemos uma crise que é económica e financeira. Mas também de valores e de comportamentos. A generalidade dos analistas e o comum dos cidadãos reconhecem-no, mesmo que a forma como o verbalizam seja diferente. A resposta a essa dimensão dos nossos problemas é equivalente à sua natureza. Não é uma resposta exclusivamente do domínio da política e da governação. Mas de comportamento. De quem governa pelo exemplo que deve transmitir. Mas de quem é governado pelo grau de exigência que deve colocar a quem é responsável. Mas também a si próprio. É de todos. Sem cair no risco da lamechice retórica. Mudar este estado de coisas só é viável se cada um der o seu contributo para um país mais responsável. É que não há solução que disponha de qualquer efeito mágico, que dispense o investimento individual de cada um de nós no seu aperfeiçoamento. Sem ironia às Igrejas e às religiões. E sem qualquer resgate, por mais leve que seja, aos construtores do Universo. Porque nisto estamos de acordo.
4 comentários:
Não posso deixar de corroborar as ideias de JM Constantino.
A sua análise é muito adequada.
A coisa hoje está calma.Compreende-se que há dias assim.
Caro Constantino
No desporto como na política, espera-nos o Colapso Económico, Fome e Miséria Programados e Iminentes, sem fuga possível.
Fica-nos a constatação dos factos irremediáveis, e a lucidez de os descortinar, para não sermos apanhados de surpresa.
Um abraço
Há de facto um conjunto de problemas de natureza internacional que condicionam muito a economia mundial.
Mas o que se tem passado neste país é ir de encontro à miséria, sem remissão.
E isso aconteceria, mesmo sem a crise financeira internacional, globalização, etc.
O problema é político.
O problema é o regime partidocrático corrupto em que vivemos.
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