Ultimamente este blog tem proporcionado reflexões variadas acerca do planeamento e estratégia no desporto. Assim, procurarei sinteticamente contribuir para esta discussão com um exemplo prático, paradigmático da ausência de qualquer planeamento estratégico nacional.
Em 1988, participei pela selecção nacional de andebol no Mundial C, em Dreux, (época em que ainda se disputavam os mundiais em 3 níveis – A, B, C). O objectivo de França, segundo o que os seus dirigentes de então me transmitiram, era ascender ao Mundial A e participar nos Jogos Olímpicos. Com idênticas pretensões também os nossos dirigentes nos fizeram sonhar…
Em 1999, França classificava-se no 2.º lugar do Mundial (já apenas num único nível competitivo) e em 2003 sagrava-se Campeã do Mundo. Em 2006, 3.ª classificada no Campeonato da Europa e nos Jogos Olímpicos de 2004 atingia o 4.º lugar. Hoje, termina mais um campeonato do mundo organizado em França e para o ano de 2008 já se anuncia neste país uma competição feminina profissional organizada pela Liga.
Portugal, evidentemente, de sonho em sonho, de projecto em projecto, apenas “vendia e continua a vender ilusões”. Nunca existiu qualquer planeamento estratégico para o desenvolvimento da modalidade no sector feminino, quer ao nível da prática desportiva em si, quer ao nível da formação sustentada de treinadores/as e dirigentes. E, na verdade, a escassez de recursos financeiros nem seria a desculpa, já que ao longo dos anos têm sido desbaratados milhões de euros com sucessivas apostas frustradas de alcançar o top internacional no sector masculino.
Claro está que a selecção feminina absoluta de andebol nunca participou nem nos Mundiais, nem nos Europeus, nem nos Jogos Olímpicos. E, incrivelmente, vivem-se tempos de euforia na selecção feminina por ter sido apurada para a fase de play-off de acesso ao próximo Europeu.
Em suma, em 20 anos, a FAP, presidida continuamente pelo mesmo dirigente, gerou e aplicou dinheiros públicos sucessivamente, sem ser avaliada pelo trabalho desenvolvido. Para quê o planeamento estratégico, para quê melhorar as competências e a produtividade quando a gestão corrente e doméstica chega para preservar o poder?
Em 1988, participei pela selecção nacional de andebol no Mundial C, em Dreux, (época em que ainda se disputavam os mundiais em 3 níveis – A, B, C). O objectivo de França, segundo o que os seus dirigentes de então me transmitiram, era ascender ao Mundial A e participar nos Jogos Olímpicos. Com idênticas pretensões também os nossos dirigentes nos fizeram sonhar…
Em 1999, França classificava-se no 2.º lugar do Mundial (já apenas num único nível competitivo) e em 2003 sagrava-se Campeã do Mundo. Em 2006, 3.ª classificada no Campeonato da Europa e nos Jogos Olímpicos de 2004 atingia o 4.º lugar. Hoje, termina mais um campeonato do mundo organizado em França e para o ano de 2008 já se anuncia neste país uma competição feminina profissional organizada pela Liga.
Portugal, evidentemente, de sonho em sonho, de projecto em projecto, apenas “vendia e continua a vender ilusões”. Nunca existiu qualquer planeamento estratégico para o desenvolvimento da modalidade no sector feminino, quer ao nível da prática desportiva em si, quer ao nível da formação sustentada de treinadores/as e dirigentes. E, na verdade, a escassez de recursos financeiros nem seria a desculpa, já que ao longo dos anos têm sido desbaratados milhões de euros com sucessivas apostas frustradas de alcançar o top internacional no sector masculino.
Claro está que a selecção feminina absoluta de andebol nunca participou nem nos Mundiais, nem nos Europeus, nem nos Jogos Olímpicos. E, incrivelmente, vivem-se tempos de euforia na selecção feminina por ter sido apurada para a fase de play-off de acesso ao próximo Europeu.
Em suma, em 20 anos, a FAP, presidida continuamente pelo mesmo dirigente, gerou e aplicou dinheiros públicos sucessivamente, sem ser avaliada pelo trabalho desenvolvido. Para quê o planeamento estratégico, para quê melhorar as competências e a produtividade quando a gestão corrente e doméstica chega para preservar o poder?
4 comentários:
Obrigada por trazer este assunto à baila.
Sou atleta, treinadora, licenciada em Desporto e Educação Física, e amante de andebol.
Todos os dias penso que gostaria de dizer ou fazer algo para que tudo mude.
Faço minhas as suas palavras!
Já agora, Parabéns pelo Doutoramento!
Sinto muito orgulho por um dia ter sido sua aluna!
Sra. Professora Doutora Maria José Carvalho
Os meus mais calorosos e sinceros parabéns pelo (de)grau alcançado.
A sua última questão é o ponto fundamental. Porquê planear se o uso de fundos públicos é indiferente à eficácia desportiva e à eficiência económica?
E a resposta aplica-se a todas as federações.
Devo dizer que em relação ao Sr. Luís Santos e a tantos outros presidentes de federações portuguesas, eles são agentes competitivos o que muito discurso não aceita e adjectiva negativamente. Penso que não são menos competitivos do que os dos outros países europeus. As condições em que trabalham são distintas e em Portugal de menor valia técnica.
Como exemplo, o Sr. Luís Santos encomendou e recebeu um estudo de viabilidade técnico e económico sobre o campeonato de elite masculino. Esse estudo de pouco serviria porque o regime jurídico das federações não estava preparado para decidir com base em estudos técnicos e económicos nem estava preparado para conceber programas de médio prazo para homens, mulheres ou crianças praticarem desporto em Portugal.
Faltam ao desporto as condições de competitividade para os atletas alcançarem os seus feitos máximos sendo liderados por presidentes eleitos em eleições democráticas concorridas.
A carência de que fala a novel Professora Doutora é a visão e querer de conjunto de que o andebol é uma parte.
Fico-me por aqui porque com as novas funções que tenho no Panathlon as minhas intervenções terão de ser menos coloridas do que antes foram.
O Sr. Luís Santos não foi o único para quem fiz um estudo económico, mas foi dos poucos que o fizeram, quer comigo quer com outros economistas.
Muitos dirigentes incluindo distintos responsáveis não federativos do desporto preferem trabalhar sem estudos técnicos e económicos e envolverem-se em projectos de muitos milhares e dezenas de milhares de euros o que demonstrando uma significativa afeição ao risco contraria a natural aversão do investidor tradicional.
A afeição ao risco na verdade explica-se pela permeabilidade do regime jurídico ao erro e ao fracasso demonstrando como o investidor em desporto é racional e respeitador das leis e dos princípios.
A culpa da não avaliação do trabalho dos dirigentes associativos desportivos não lhes deve ser atribuída.
Esse discurso é fácil e demagógico. O discurso a incentivar é o de compreender como fazer para que haja uma avaliação dos dirigentes desportivos ao nível da que é realizada a atletas, treinadores e árbitros.
Quando é que começamos a discutir as questões interessantes da política desportiva?
Fugir à fulanização do erro é mais produtivo para se poderem discutir os objectivos, princípios e critérios a aplicar.
Fernando Tenreiro
Boa noite GD,
De facto só quem tem vivenciado ao longo dos anos a realidade a que aludi é que tem a plena percepção do muito que se perdeu em termos de desenvolvimento desportivo no andebol. Mas se a GD ainda tem tão viva a sua paixão pelo andebol, apesar de não puder mudar tudo, não desanime, não desista e vá trabalhando de acordo com as suas convicções para melhorar o estado da situação. Verá o quão congratulante é, por exemplo, ao fim de muitos anos encontrarmos ex-atletas, passarmos por locais ou clubes e verificarmos que a nossa acção não foi em vão.
Já agora, não se iniba nos comentários aos textos deste blog, que bem precisa do contributo das mulheres. Um bom 2008 andebolistico.
Boa noite Fernando Tenreiro,
Como o Fernando bem sabe para se dirigir a mim não é necessário recorrer aos títulos académicos. Já ultrapassamos há muito esta questão saloia e menor no relacionamento e comunicação entre as pessoas. Claro está, que agradeço as suas felicitações e oxalá que em breve lhas retribua.
Agora vamos à matéria. Conheço e li cuidadosamente o estudo de viabilidade económica que refere no seu comentário e que foi elaborado por si. Porém não me parece que o motivo que levou a que esse estudo tivesse ficado na “gaveta” tivesse sido o regime jurídico das federações desportivas. Como bem sabe o que aconteceu no andebol, no tempo a que reporta este estudo, foram querelas sucessivas entre os agentes e as organizações desportivas do andebol, apenas motivadas pelo domínio do poder, que impossibilitaram a mudança organizacional e decisória na competição profissional. Caso tivesse ocorrido a partilha de poder em harmonia, e aqui sim de acordo com o instituído no regime jurídico das federações desportivas, esse estudo não teria sido relegado para segundo plano como foi.
Permita-me que lhe diga que não foi minha intenção fulanizar o erro, se fosse teria que contar muitas histórias e das verídicas, apenas fiz a leitura diacrónica de determinado processo. Discorrer acerca de políticas desportivas sem a aproximação à realidade, concreta e vivida, pode tornar-se um exercício diletante e estéril, e isso a mim pouco me apaixona. Espero ter-me feito compreender Sr. Presidente e já agora desejo-lhe todo o sucesso para as suas novas funções.
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