quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Novas oportunidades, velhas hipocrisias

Na semana passada, com pompa e circunstância, o governo representado por vários ministros, promoveu com o Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol e com o Vitória de Guimarães mais uma campanha de promoção do Programa Novas Oportunidades.
Nestas cerimónias públicas, os governantes revelaram-se muito preocupados com o pós-carreira dos futebolistas. Infelizmente, o problema da reinserção profissional, equacionado como uma das medidas de apoio específicas aos atletas de alto rendimento em 1990 pela Lei de Bases do Sistema Desportivo, nunca foi assumido por qualquer dos nossos governos constitucionais.
Ao longo dos tempos, os atletas têm sido fantásticos aquando dos seus êxitos para as fotos, filmagens e “colagens” políticas, mas quando terminam a sua actividade, o Estado, que investiu recursos de vária ordem na sua preparação, não capitaliza as experiências anteriores, não as reinveste, olvida-as por completo. Enquanto assistimos em diversos países a políticas públicas de criação de emprego em vários sectores da administração pública, assim como através de parcerias com entidades privadas com vista à reinserção profissional dos melhores atletas nacionais, em Portugal presenciamos situações como as relatadas no último ano com os atletas Carlos Lopes, Aurora Cunha e António Leitão.
Confrange-nos, de facto, a omissão, a hipocrisia e a contradição existentes entre as palavras e os actos dos nossos governantes. O mesmo governo que declara a sua preocupação com o pós-carreira e propagandeia as novas oportunidades para os atletas, rescinde o contrato de prestação de serviços com os seus/nossos campeões. Apesar de estarem no desemprego, estes atletas continuam a deslocar-se a escolas e clubes com a missão de promoverem o desporto, acreditando na palavra de quem lhes prometeu encontrar uma solução para dar continuidade à sua actividade profissional. Até quando?

14 comentários:

josé manuel constantino disse...

Boa malha Maria José!
O problema ,para além do que bem refere,é que no caso dos contratos rescindidos foi assegurado que o assunto iria ter novo enquadramento a partir de Janeiro de 2007!Não houve sequer a honestidade de assumir a rescisão como definitiva ou cumprir o anunciado.

Anónimo disse...

Já tive oportunidade de aqui dizer que, vivemos numa ilha rodeada pelo futebol e por tudo aquilo que lhe está associado.Não quero com isto dizer que tudo é mau e que o futebol enquanto desporto de massas não contribui para a consciencialização desportiva e social do País.
O mais preocupante no meio de tudo isto é na realidade aqueles atletas como os que referiu, que tudo deram para a causa desportiva nacional e continuam a dar sempre que solicitados, nomeadamente nas campanhas governativas e nada foi feito para que esses antigos atletas tivessem um futuro dignificado.
Digo isto porque seria e éra de todo o interesse nacional que os mesmos fossem aproveitados para ocuparem lugares de relevo nas federações ou associações ou no próprio IDP, como aconteceu não há muito tempo, e estou-me a lembrar do Vitor Pereira e outros.
Como é evidente as pessoas servem enquanto alguem se quer servir delas e depois esquecem.
È portanto urgente que o enquadramento juridico e legal desses contratos ou vinculos com esses atletas seja efectivo e cumprido, mais que não seja para lhes dar o devido e merecido respeito, enquanto representantes das cores Nacionais, estas verbas não serão certamente a causa do défice publico.
Cumprimentos
José Barradas

Anónimo disse...

Mas que grande al-draba existe neste texto. A Autora mais parece estar a querer dizer que se quer candidatar a um futuro lugarzito na política com "p" pequeno, do que a ser uma Dra.ou Gestora. Talvez ache que está tudo ligado, o ser uma pequenina em estatura quando com rigor se fala e escreve e esse almejado lugarzito também, certamente, pequenito. E se comparasse esses nomes com o dos outros que também foram "campeões e campeãs", e os contasse a todos, e os multiplicasse por quanto já ganharam os que ganharam em avenças? Já fez a conta? E já viu nas declarações do IRS quem precisa e quem não precisa? E para o futuro essa conta era de quanto? Seria assim que se prestigia o desporto e os atletas? Ou é muito mais com o caminho iniciado só agora, como muito bem diz, plas Novas Oportunidades? Em vez de fazer propaganda barata talvez fosse melhor aprender a ter mais responsabilidade e qualidade nas opiniões que emite em público. Mas esta é apenas uma opinião de um não-doutor...

João Almeida disse...

É verdade a falta de referências no desporto português.
É um facto a dispersão da memória desportiva pelo efémero mediatismo dos nossos dias.
É verdade o serviço público que estes atletas de eleição prestam à comunidade.
É verdade a carência de mecanismos de gestão no final de carreiras, mais ou menos relevantes, ligadas a profissões de desgaste rápido, seja na cultura ou no desporto.
É verdade que ainda se está numa fase inicial de implementação de políticas activas de emprego (como demonstra as "novas oportunidades").
Posto tudo isto, as soluções e as exigências são sempre as mesmas.
Venha o Estado dar uma ajuda, uma vez que é esta a sua obrigação.
Mas será que não se percebe as ineficiências desta orientação intervencionista? Será que não se percebe que o problema da gestão de carreiras está a montante de tudo isto? Na compatibilidade entre a formação desportiva e a formação escolar.
E o movimento associativo? O que tem a dizer? Reclama a intervenção do Estado quando lhe convém até ao proximo cheque público em branco. Quanto ao mais exige a sua independência e autonomia para gerir o seu negócio com as mesmas ferramentas que sempre fez. Os resultados estão à vista.

Anónimo disse...

Sr. Joaquim, sugiro-lhe uma leitura cuidada de tudo o que foi escrito anteriormente.
Certamente tem a capacidade para entender o enquadramento que se pretende para atletas medalhados em Campeonatos da Europa, Mundo e Jogos Olímpicos.

Atentamente,
Paulo Bernardo

Anónimo disse...

Impunha-se rigor e exigência em todas as tomadas de decisão, por parte do governo, e isso não tem acontecido. A área do desporto é disso exemplo.
As pessoas já não acreditam nos políticos que fazem muitas promessas que sabem que não conseguem concretizar. É que dizer sim a tudo não é, no nosso País, como em qualquer outro, a melhor forma de defender os interesses nacionais.
É verdade que é difícil encontrar um princípio orientador sem beliscar algumas franjas. Um político não quer beliscar ninguém e quando não quer beliscar não toma decisões. Desta forma as coisas vão-se arrastando pelo tempo, como é este caso. Não podemos continuar com esta intermitência entre o amarelo e o vermelho tem que haver uma decisão. Espero que decisão não seja redutora ao ponto em saber se há ou não bolsa, ou se a bolsa é maior ou menor. A decisão deverá responder no fundo às questões que colocou o João Almeida. Vamos esperar para ver.

Anónimo disse...

Conforme referi anteriormente concordo em parte com o texto publicado.
Atques pessoais em nada contribuiem para uma discussão saudável da problemática do desporto profissional, em particular o desporto fora do ambito do futebol,porque de forma alguma podemos conparar as verbas auferidas por uns e outros, e aí sim impunha-se uma análise cuidada aos IRS de cada um, para podermos comparar.
Em minha modesta opinião penso que deveria existir uma maior articulação entre o desporto de competição e a escola desde o inicio da actividade desportiva do atleta, temos que permiar os bons e aqueles que de forma eficiente conseguem alcançar bons resultados desportivos, porque não podemos esquecer que são esses que ganam medalhas nas olimpiadas e campeonatos do mundo.O futebol é um desporto à parte.
Na realidade se existisse essa ligação podia ser que esta discussão não se coloca-se pois quandos esses atletas de alta competição terminassem a sua carreira desportiva continuavam a sua carreira profissional.
E mais uma contribuição
José Barradas

Comité Português Pierre de Coubertin disse...

Há muita gente a falar...
Geralmente os políticos têm "costas largas".
Contudo, o que está em causa é apurar a responsabilidade e sobretudo aquilo que pensam o Sr. Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo o Sr. Presidente do Comité Olímpico de Portugal e o Sr. Presidente da Confederação do Desporto de Portugal.
Há muito que é tempo de se deixar de teorizar no abstracto.
Os líderes têm responsabilidades, gerem fundos públicos, devem explicações.
Não podem ficar calados que nem ratos ou sardinhas.

Gustavo Pires

João Almeida disse...

Estimado Prof. Gustavo Pires

Apesar da nossa lingua ser muito rica não existe uma tradução para a palavra inglesa "accountability".

O mais aproximado é a prestação de contas ou a imputação, a qual fecha o ciclo das politicas publicas devolvendo ao cidadão os resultados da gestão dos seus recursos.

Talvez seja um problema de léxico. Sem uma boa prestação de contas, a responsabilização é um mito.

Mas prestar contas, envolve também o dar-se conta. E os cidadãos muitas vezes nem se dão conta do que se está a passar.

Não me interessa tanto o que os dirigentes pensam ou falam. Interessa-me mais o que fazem, como fazem, quanto gastam para fazer e quais os resultados que obtêm!

Maria José Carvalho disse...

Boa noite José Barradas,

Uma das minhas intenções no texto comentado foi de facto, como o José captou e sublinhou, o problema grave do desperdício de recursos num país pobre como o nosso. Atletas de alto rendimento que durante anos adquiriram competências riquíssimas no relacionamento com o sistema desportivo nacional e que conheceram e usufruíram de modelos de realidades internacionais diferenciados não podem, quando terminam a sua prática desportiva, se pretenderem continuar a sua actividade profissional no desporto, ser excluídos pura e simplesmente do meio no qual podem gerar mais proveitos. Em nenhum dos países que são exemplos para nós tal acontece, muito menos quando se trata de campeões do mundo e da europa.

Maria José Carvalho disse...

Boa noite Joaquim,

Registei, de forma triste evidentemente, o estilo e a forma como se dirigiu a mim e ao meu texto, mas não retribuirei na mesma moeda pois não é a isso que estou acostumada, nem neste blog se tem enveredado pela indelicadeza e falta de educação.
Fique, no entanto, descansado que da minha parte não terá concorrência no exercício da política. Os dois convites que outrora tive, e que me honraram, para exercer actividade política declinei-os e não será agora, seguramente, que mudarei a minha rota.
Quanto o Joaquim tiver interesse em discutir, de forma séria, o problema da reintegração profissional dos atletas de alto rendimento/competição, estarei disponível para o fazer. E então depois poderemos fazer contas, apontar nomes, já ver os IRS duvido, mas talvez com a sua ajuda se chegue lá.

Maria José Carvalho disse...

Caros João Almeida e Pedro Carvalho

João, sendo inquestionáveis as verdades que tão bem assinala e que decorrem dos desempenhos de excelência dos atletas de alto rendimento, concordará comigo que é também uma verdade clamorosa o deserto existente em matéria de reintegração profissional desses mesmos atletas. E sejamos claros, o Programa Novas Oportunidades não é um programa de empregabilidade.
Quanto ao problema de gestão de carreiras também será conveniente contextualizarmos devidamente as carreiras. E bem sabemos as especificidades da carreira (e não gosto muito desta designação) dos atletas de alto rendimento. Só quem não passou por ela, ou não acompanhou/a a preparação e o dia a dia de quem treina e compete a nível internacional é que não sabe as dificuldades de compatibilização da vida pessoal, estudantil e desportiva desses atletas. As fragilidades que destaca entre a formação desportiva e a formação escolar são bem conhecidas e cada vez mais difíceis de superar no nosso sistema educativo. Obviamente tudo isto está a montante da reintegração profissional dos atletas, mas não podemos é escudarmo-nos nesse argumento e deixar gerações de atletas sem soluções para o seu futuro profissional, porque simplesmente nem por parte do Estado nem por parte das organizações privadas do desporto se foram melhorando os problemas a montante nem projectando programas próprios de acolhimento futuro e de potenciação e transferência de competência para outros campos de acção dos ex-atletas.
Basta, por exemplo, vermos em França, Inglaterra ou no Canadá os programas para os seus atletas de excepção e a continuidade destes no meio desportivo. Entre nós, é confrangedor não existir um único programa, seja de origem pública, seja de origem privada ou em parceria que vise a actividade profissional dos praticantes desportivos de excelência.
Relativamente ao comentário do Pedro Carvalho, permita-me destacar o que escreveu dizendo que “espero que a decisão não seja redutora ao ponto de saber se há ou não bolsa, ou se a bolsa é ou não menor”. Se bem interpretei, esta ideia subjaz o que pretendi exaltar com o meu pequeno texto, que foi tão só a partir de três situações concretas espoletar a discussão em torno da reinserção dos atletas de alto rendimento e não ficarmos agarrados, apesar de toda a sua importância, aos exemplos apontados. Com estes exemplos, e com a decisão política de rescisão das avenças com os atletas o que é por demais entristecedor, é o poder político não ter apresentado qualquer proposta para a questão de fundo do problema em causa.

Maria José Carvalho disse...

Professor Gustavo Pires,

Na verdade também me intriga que as organizações desportivas representativas que assinalou não tenham apresentado até hoje propostas concretas e do conhecimento púbico, relativamente à reintegração dos atletas de alto rendimento.
Contudo, penso que não podemos eximir o Estado das responsabilidades e dos deveres para com os atletas que durante anos a fio representam o País prestando um serviço público inquestionável. E não me refiro à atribuição de “pensões vitalícias”, nem a medidas parecidas, apenas me parece que é a importância da continuidade desses atletas de excelência em funções diversificadas no desporto que justifica a intervenção do Estado e designadamente dos governos na criação de estratégias e programas para a sua reinserção profissional.

João Almeida disse...

Cara Maria José Carvalho

Agradeço os seus comentários.
O problema da reintegração profissional é transversal a toda a sociedade, não é exclusivo do desporto.
Apenas talvez se faça sentir mais, tal como nas artes performativas, porque são carreiras com desgaste rápido.
O que pretendi frisar foi que a intervenção do Estado se deve centrar mais na compatibilidade entre a formação escolar e o percurso pré-competitivo dos atletas de elite.
A gestão das carreiras é um dominio a ser tratado pelo atleta e pelo desporto federado, em particular a preparação do fim da actividade competitiva.
Esta foi a opinião que transmiti em devido tempo no COP a este propósito. É claro que admito ser controversa, mas penso que há que "desengordurar" a intervenção do Estado no desporto federado.
Quanto à rentabilização das competências dos ex-atletas é também um problema transversal ao mercado de trabalho, onde todos os anos assistimos a pessoas que se reformam, e com elas o seu saber-fazer, que não fica retido nas organizações, nem sequer é transmitido ou aprendido por pessoas que o saibam valorar.
Se a isso juntarmos os problemas de gestão do desporto federado, que resumidamente referi em outro post, então a gestão de competências, rentabilização de carreiras e promoção de programas dessa indole no desporto é um utopia.
Bom...Não querendo ser pessimista nesta quadro, e mudando de tema, fui relembrado no outro dia dos jogos que o Colégio de Gaia vinha fazer a Paço de Arcos. Raramente ganhávamos. Ora aqui está um bom exemplo de competência.

Bom Natal para si