segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Sempre os mesmos

Somos como os dirigentes desportivos. Há muitos anos quase sempre os mesmos. Os que escrevemos. Os que discutimos. Os que polemizamos sobre a vida desportiva nacional. Os eternos candidatos a marcarem o tempo político. Sempre sem sucesso. Não tem sido fácil a renovação do pensamento crítico sobre o desporto. Das ideias e dos protagonistas. Num país pequeno, intelectualmente fraco, com um desporto avesso a grandes teorizações, as ideias e os debates circulam quase sempre entre as mesmas pessoas. Alguns cansaram-se e deixaram de dar para este peditório. Outros continuam até também se cansarem. Mas há uma nova geração de gente descomprometida com as lógicas institucionalizadas com muita capacidade e qualidade intelectuais que importa estimular e dar oportunidades. Alguns acompanham-nos neste espaço de opinião. Não viveram a ditadura nem as lógicas pré e pos- democracia. Mas ganham-nos em capacidade empreendedora. Outros, nas autarquias, em alguns organismos desportivos, nos ginásios, nas universidades produzem um trabalho meritório. O que vamos deixar a essa geração é contraditório. E não vai valer muito. Por um lado, algum trabalho teórico, alguma doutrina e alguma obra feita. Mas por outro lado a pequenez da intriga e da maledicência, a afirmação à sombra das sinecuras partidárias para alcançar um estatuto que só com a vida profissional seria difícil, o deixarmos com frequência de lado o debate das ideias para nos servirmos das ideias como arma de arremesso para o ataque pessoal, mesquinho, invejoso e de mero ajuste de contas. Confundimos coragem com pose. Firmeza com arrogância. Falamos muito de valores, de ética e de princípios mas pratica-se pouco. A relação com o poder é depredadora e não há militância política, religiosa ou maçónica que a impeça. E afinal qualquer uma delas seria suficiente para purificar a almas, porque as consciências são bem mais difíceis. Bastava que se praticasse. Mas não é fácil superar esta incompatibilidade de fundo. Porque do que se trata não é de valores: é de formação de carácter. E aí não há qualquer dilema ético: há o que somos e o que gostaríamos que os outros achassem que somos. Não são necessariamente coincidentes.

7 comentários:

Comité Português Pierre de Coubertin disse...

Caro JMC
A tua prosa pronuncia uma profunda depressão. Tens de ter cuidado. Com essa idade… Possivelmente estás a precisar de férias. Ou de ir ao médico… Se calhar as duas.
De facto, somos sempre os mesmos a reflectir as questões do desporto. É pena, mas, mesmo assim, não nos devemos deixar envolver por um sentimento de culpa. Não estamos a tirar o lugar a ninguém. Não temos nem meios nem poder. Nada recebemos. Escrevemos em espaços abertos onde as ideias podem ser confrontadas. Não nos escondemos covardemente atrás de eleições de democraticidade duvidosa, de dinheiros públicos mal utilizados, de grandes empresas de advogados, ou até das glórias e das misérias dos atletas. Cada vez que escrevemos, expomo-nos. Somos avaliados.
A reflexão é a nossa arma de combate. Se a utilizarmos bem, de maneira a provocarmos melhorias no sistema, por muito pequenas que elas sejam, já nos sentimos recompensados.
Julgo que temos conseguido. Se as coisas não estão piores, é porque sobre elas temos reflectido. Por vezes com alguns excessos, mas sempre de forma frontal, aberta e leal.
Assim, caro JMC, nesta altura do campeonato da vida, só porque não os conseguimos vencer…. Para isso, não contam comigo.
Até porque me sinto satisfeito e vou continuar com redobrado esforço. Sabes que para a semana que vem começa um novo ano?
Digo-te do coração que mais vale quebrar do que ceder.
Feliz Natal.
Bom Ano Novo, para ti e para todos aqueles que, de uma forma benévola, ainda se dão ao trabalho de reflectir …
Gustavo Pires

João Almeida disse...

Caro José Manuel Constantino

Ora aqui está um discurso pouco natalicio. Talvez fosse bom esperar mais uma semana...
Num país carente de referências, compete às gerações mais velhas continuar a dizer que "há sempre alguém que resiste", mesmo que a realidade pouco mude.
Não existe tempo histórico para ser feita uma avaliação do legado da sua geração.
Mas normalmente as verdadeiras referências são aquelas que estão à frente do seu tempo. Ainda recentemente faleceu Stockhausen, um exemplo disso.
Portanto, não se preocupe com o que é, ou o que os outros acham que é. O conceito de identidade é algo muito complexo.
Faço votos que continue, aqui ou em outros locais, a escrever, a criticar, a pensar e a exercer a sua cidadania desportiva.
Terá vários leitores atentos.
Deixo-lhe com um pequeno trecho de uma referência que me ajuda em momentos de crise identitária.
Feliz Natal


"É mais difícil ser livre do que puxar a uma carroça. Isto é tão evidente que receio ofender-vos. Porque puxar uma carroça é ser puxado por ela pela razão de haver ordens para puxar, ou haver carroça para ser puxada. Ou ser mesmo um passatempo passar o tempo puxando. Mas ser livre é inventar a razão de tudo sem haver absolutamente razão nenhuma para nada. É ser senhor total de si quando se é senhoreado. É darmo-nos inteiramente sem nos darmos absolutamente nada. É ser-se o mesmo, sendo-se outro. É ser-se sem se ser. Assim, pois, tudo é complicado outra vez. É mesmo possível que sofra aqui e ali de um pouco de engasgamento. Mas só a estupidez se não engasga, ó meritíssimos, na sua forma de ser quadrúpede, como vós o deveis saber.

Vergílio Ferreira, in 'Nítido Nulo'

Anónimo disse...

Tenho exemplos de jovens que erram ou não estão preparados para os desafios que defrontam, o qual não vejo como um problema de maior. Vejo também menos jovens que podem contribuir com resultados positivos e são afastados, pelos jovens, o que me parece mais dificil de aceitar.
Encontrar o equilíbrio é o desafio porque o desporto necssita de pessoas de maior experiência e necessita dos novos saberes que os jovens têm.
A democracia do desporto nacional sairá reforçada com a criação de estruturas complexas de saberes forjados no tempo e aprendidos nas escolas.
Fernando Tenreiro

Anónimo disse...

Joaquim disse…

Apenas três comentários.
Comentário 1: ― Com o devido respeito, esta mensagem de José Manuel Constantino, mais parece uma … prece. Certamente muito adequada à época natalícia. Mas que, como de costume, depois de resumida, é um conjunto de generalidades e intenções muito piedosas, que servem “para tudo e para nada”. Não exprime uma ideia concreta, não se refere a nenhum documento referenciado, não pode ser escrutinada nem refutada em relação a nenhum dado que releve para a discussão ou o debate. Antes do “25 de Abril de 1974” chama-se a esta pretensa moral, “conversa de sacristia”. Em que de um lado estavam os piedosos, que se intitulavam, como nesta mensagem, donos da moral e donos-da-verdade; e do outro ficava o Povo ignorante, a olhar para esse púlpito. Este já não esse tempo. Hoje há desafios e mudanças em Portugal que não se coadunam com esse “tipo de saber” e com esse imobilismo do passado.

Comentário 2: ― Qual é a ideia de desporto que aqui se discute? Quais são os documentos onde vem a opinião de José Manuel Constantino sobre o modelo de desenvolvimento de desporto até 2013? São a essas opiniões que aqui me refiro. Qual foi a opinião de José Manuel Constantino acerca de assuntos de desporto no Congresso do Desporto 2005/2006? Quais são as prioridades que defendia para o desenvolvimento do desporto em Portugal antes de 2005? Qual o diagnóstico que fazia sobre as prioridades? Não seria mais profícuo debater esses erros de perspectiva (i.e. a não adequação dessas propostas à realidade demográfica, social e cultural especificamente portuguesas) e a falta de capacidade para definir as prioridades correctas para o desenvolvimento do desporto? Em vez de pregar aquela moral barata, não seria mais interessante debater “o que mudou no modelo e nas realizações” com a nova política de desporto iniciada em 2005? Haverá essa coragem? Sugiro que comece por expor uma ideia ou uma opinião concreta sobre um assunto concreto, e diga qual a solução que adoptaria. E assim sucessivamente. Repito, haverá essa coragem?

Comentário 3: ― Falemos agora da mesma coragem mas noutro âmbito. No âmbito da falta de capacidade para aceitar as consequências do debate em rede que a Web e a Internet hoje nos possibilitam. Então os professores queriam que os alunos das suas turmas se identificassem antes de aqui escrever? Que os subordinados dos vários chefes também se identificassem? Que os funcionários dos presidentes e dos dirigentes também fizessem o mesmo? Que os sem-estatuto e sem-cargos se identificassem perante as listas pidescas dos moralistas? Que os jovens fossem identificados perante os mais idosos? Etc., etc.. Mas isso era o mesmo que as votações-de-braço-no-ar das assembleias de má memória. E que em 2005 ainda foram encontradas no “modelo de organização do desporto português”, e mantidas por aquela perspectiva de desenvolvimento que herdámos em 2005, com a responsabilidade dos dirigentes que as mantiveram. O debate na Internet não é o mesmo que esse, e exige outra coragem e outra preparação. Aqui são as ideias, as opiniões e os contributos que são escrutinados e vigiados e não a aparência física ou o status das pessoas. Escrutinados e vigiados por Todos e não, como antigamente, sempre pelos mesmos… como diz o título desta mensagem.

Anónimo disse...

Mais uma vez tomo a liberdade...porque pelo menos ela aqui ainda é possivel, em expressar a minah modesta opinião de quem já por cá anda há alguns anos ligado ao desporto, como atleta e como dirigente.
Na realidade cada vez mais assiste-se a um vazio que chamarei de institucional relativamente aos dirigismo desportivo, puro e amador. A actual sociedade está vazia de voluntarismos de pessoas que dedicam o seu tempo a causas nobres, a não ser aquelas que lhes tragam algum protagonismo pessoal e como já foi referido na sombra de alguns politicos da nossa praça. Ou então como é o caso de algumas federações desportivas a troco de um cargo remunerado.
Faz muito bem e deve fazer refeencia ao passado, porque na realidade estamos talvez a passar por um período em que a palavra pode ser incomodativa para alguns, daì que se utilizem métodos "pidescos" e processos Kafkianos para calarem o pensamento e a opinião daqueles que sempre se dedicaram à causa desportiva sem que para isso estivessem à espera de reconhecimento.
Ainda bem que há sempre alguem que resiste...alguem que diz não!
JBarradas

josé manuel constantino disse...

Caros Gustavo Pires, João Almeida e Fernando Tenreiro.
É um puro engano pensar que é pelo facto de todos podermos defender as nossas ideias que as melhores acabarão por se impor. Esse facto não nos deve levar à desistência. Mas deve dar-nos a lucidez suficiente para constatarmos que a sobrecarga do debate político e dos seus actores a lógicas pessoais e de mera manutenção do poder parasitou o debate de ideias e enquistou as possibilidades de mudança e de reforma .O problema é que, e recorro ao Virgílio Ferreira aqui trazido pelo João Almeida( e cito de cor) “o país nunca viveu de ideias, viveu sempre de impulsos”.Resistir resisto,José Barradas,é o que resta!

Anónimo disse...

Caríssimos,
Já Newton dizia que cada geração tem à sua disposição um manancial de informação impossível de abarcar sem critérios e princípios. O factor distintivo de cada homem era a sua capacidade de tomar o essencial e liderar o fluir dos acontecimentos.
Outros filósofos, cientistas e pensadores tomaram esta matéria e concluíram pela primazia da teoria e dos princípios para a decisão.
Hoje o mundo produz mais informação do que em qualquer outra época histórica razão pela qual mais se exige o domínio do conhecimento e da informação tanto na sua produção como no seu consumo.

Voltando ao primeiro poste do José Constantino, o qual refere o aparecimento de saberes dos mais novos e uma possível prevalência sobre os mais velhos … que resistem (?), reafirmo a equidade de direitos e de responsabilidades dos protagonistas.

No seu último poste nota a resultante do diálogo como de sobrecarga e esgotamento.
O que acontece nas sociedades mais evoluídas é que as pessoas e as organizações alcançam com eficiência níveis superiores de consenso e evoluem para maiores níveis de satisfação e benefício individual e colectivo.

Para este resultado a capacidade de formalização do debate é essencial.
Já vimos neste blogue pessoas satisfeitas pelo facto do Congresso do Desporto ter um site onde se encontram todos os contributos. Esta disponibilização parece interessante. A União Europeia faz livros brancos, assim como, o ministério da segurança social em Portugal, os quais apresentam as posições das partes chamadas ao debate e, em consequência, apontam direcções para a acção futura.
O João Almeida num poste de hoje também prefere esse procedimento.
Não avançamos mais rapidamente porque não possuímos a capacidade formal de distinguir objectivos maiores e consensuais.

O debate neste blogue já esteve mais avançado.
O início dos trabalhos do Conselho Nacional do Desporto, abre vertentes novas de debate a que o João Almeida deu início com a proposta legislativa sobre os ginásios.
A resposta de José Manuel Chabert ao poste de José Manuel Meirim mostra que existem espaços de intervenção em aberto, havendo a qualidade de intervenção que incentive a defesa de perspectivas contrastantes.
Caso todos façam um esforço, de deixar algum “alecrim e manjerona” em casa, os resultados positivos mesmo que indistintos surgirão a prazo.
É forçoso que assim aconteça ou, então, a nossa viagem europeia continuará atribulada.

Fernando Tenreiro