quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Heterodoxias desportivas (II) - o futebol

De acordo com o ultimo relatório publicado sobre o número de praticantes desportivos federados (2004) cerca de um quarto dos praticantes desportivos federados pertenciam ao futebol. E destes, mais de 60% eram jovens até aos 16 anos (escalões de juvenis). O total destes jovens correspondia ao triplo do número de praticantes desportivos da modalidade que a seguir ao futebol (andebol) tinha mais praticantes filiados. O número de mulheres a praticar futebol era superior ao número total de praticantes desportivos em 47 das 69 federações recenseadas, ou seja 68%. Entre 1996 e 2003 nenhuma outra modalidade desportiva cresceu tanto como o futebol. Não sei qual é hoje a realidade. Mas provavelmente, no essencial, este quadro não se alterou. O contributo que o futebol dá à prática desportiva nacional é indiscutível. A relação de custo por praticante, a partir do financiamento público do Estado, é a mais baixa de todas as modalidades desportivas. Alguns méritos hão-de ter os clubes, as associações e a federação respectiva. O trabalho que desenvolvem não é despiciendo ou negligenciável. Sem esse trabalho o desporto português seria bem mais pobre. A prudência aconselha a avaliarmos sem preconceitos a importância que o futebol tem no desporto nacional e não cairmos na tentação fácil de o responsabilizar por tudo quanto de negativo ocorre. Não para o ilibar mas para contextualizar a sua realidade. Nem tudo é negativo. A monocultura do futebol e o carácter hegemónico que por força desse facto tende a exercer sobre a realidade desportiva nacional não são culpa do futebol. Os dirigentes desportivos do futebol não são uma espécie de gente de moral inferior. Pode-se não gostar de futebol ou entender que tem um peso excessivo na vida do país (o que a meu ver é verdade) sem a necessidade de responsabilizar o futebol por algo que é transversal ao desporto e á sociedade. Nem todo o desporto é futebol. Mas muita da “futebolização” mora em outros desportos. Os desvios a uma certa moral desportiva (corrupção, mercantilismo, dopagem, viciação de resultados, etc.) não são pertença exclusiva do futebol. Muita da diferença é de escala. E com ela a visibilidade.

Sem comentários: