segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O sonho de Oscar Pistorius

Se do poema de António Gedeão retiramos a mensagem sublime de que sempre que o homem sonha o mundo pula e avança, é duro quando enfrentamos organizações, regras e acontecimentos que aniquilam os sonhos de quem neles deposita a sua história de vida.
Em 2003, num congresso internacional partilhei três dias com atletas olímpicas que haviam participado por diversas vezes nas maiores competições internacionais. Entre elas, Natalie du Toit acalentava o sonho de, sem uma perna, conseguir os mínimos para competir nos Jogos de Atenas. Fiquei rendida à bravura e à capacidade hedonística desta jovem sul-africana de 19 anos e passei a estar mais atenta e apaixonada pelo desporto adaptado.
Entre outros atletas portadores de deficiência, fui acompanhando o percurso de Oscar Pistorius e foi com grande decepção que hoje li o comunicado da Federação Internacional de Atletismo (IAAF). Andamos nós a apregoar a inclusão dos deficientes para uma sociedade mais justa e equitativa, a comemorar anos internacionais e europeus da deficiência, a clamar por políticas sociais que combatam a discriminação em razão da deficiência e eis que surge a decisão da IAAF, assente em argumentos técnicos de um determinada investigação biomecânica, que inviabiliza a participação de Oscar Pistorius, um amputado às pernas dos joelhos para baixo desde os onze meses de vida, nos próximos Jogos Olímpicos.
Naturalmente, não será o estudo invocado que colocamos em causa, apesar do atleta apresentar dados contrários fruto de outros estudos, o que nos parece inverosímil é reduzir toda a argumentação, e aniquilar o sonho do Oscar, a restritivos e não conclusivos resultados de ordem biomecânica, quando o ATLETA e a sua performance desportiva apelam e resultam de múltiplas condicionantes, sejam de ordem fisiológica, técnico-táctica, psicológica ou social.
Contudo, como dizia um dos treinadores da Natalie, a tragédia da vida não está em não alcançarmos os objectivos, mas sim em não termos objectivos para alcançar, e destes não desistirá Oscar Pistorius que certamente irá recorrer da decisão da IAAF e continuar a sua carreira desportiva, nem tantos outros com tantas outras histórias de vida exemplares.

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