segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Bater umas bolas

Tive ocasião de visitar neste fim de semana o Porto, local onde vivi no passado. Desta feita, por entre compromissos profissionais, surgiu a oportunidade de revisitar a cidade.
É curioso recordar os diversos polidesportivos e pequenos campos de jogos, alguns dos quais improvisados em locais ermos, bem como os playgrounds onde se juntavam diversos jovens para jogar basquetebol, o que tornava relativamente fácil encontrar um espaço de recreio desportivo na época.
Hoje, ao passar junto daqueles locais, constatei que a maior parte foram demolidos e reconvertidos em parcelas de áreas residências, parques de estacionamento, ou, em alguns casos, alvo de intervenções de requalificação e reconversão em pavilhões desportivos ou polidesportivos semi-cobertos.
Ao confrontar um colega com responsabilidades técnicas na gestão de instalações desportivas da cidade obtive a resposta já esperada: O crescimento da malha urbana obrigou à racionalização dos espaços públicos e à sua transformação, incluindo os espaços desportivos.
A espontâneidade das relações sociais que se criavam nas instalações desportivas descobertas tornavam possivel as pessoas encontarem-se para um jogo de basquetebol (no meu caso) a qualquer hora, sem uma rigidez de horários e normas de utilização rigidas, como ocorre nas instalações cobertas mais estandardizadas. "Havia sempre alguem para jogar".
No entanto, o desrespeito de alguns utentes que prolongavam a utilização para períodos nocturnos, perturbando o descanso dos moradores, bem como a "colonização" dos pequenos campos descobertos para actividades condenáveis pela comunidade encaminharam estes espaços para o seu fim.
Não deixa ainda assim de ser marcante, como se dá conta numa visita ao Parque da Cidade, a tendência para o retorno à prática desportiva informal em espaço público, sem qualquer enquadramento técnico.
Esta forma de requalificar a cidade através do desporto, pelos laços sociais referenciados a um lugar central, encontra nos parques e jardins públicos um pouco do que perdeu na cultura de playground, a qual ajudou a formar muitos dos nossos melhores basquetebolistas.
É saudoso recordar estes redutos de fuga a um desporto mecanicista e estandardizado, tipico de uma sociedade industrial, que olha para as instalações desportivas, como locais codificados e monofuncionais, numa perspectiva de fábricas de atletas.
Hoje quem procura um espaço apenas para "bater umas bolas" e encontrar alguém para um 3 x 3 tem muitas dificuldades. E não é só no Porto...
Felizmente que o Bull & Bear e a Casa Nanda se mantiveram fieis às suas raizes...

2 comentários:

Maria José Carvalho disse...

João Almeida

Compreendo bem o seu estado de alma relativamente ao retrato que fez dos espaços lúdico-desportivos de proximidade no Porto. Nasci e cresci entre eles e muitos deles vi perecer não pelos motivos mais fáceis de invocar, tipo as práticas condenáveis pela comunidade, mas sobretudo por desleixo e má gestão pública. Salva-se, de facto, o parque da cidade entretanto desenvovido, excelente espaço público, mas que podia ainda assim estar mais potenciado para a actividade desportiva. Ainda bem que a sua decepção ficou por este nível, pois a minha não pára de aumentar com o tempo já que o Porto tem mirrado ano após ano no seu desporto associativo, mas isso são contas de outro rosário...
Mas olhe que para retemperar o espírito para além da Casa Nanda e o Bull & Bear, continuamos com muitos outros onde os peixes e marisco, as tripas, os finos, as francesinhas e os cimbalinos continuam a receber muito bem...
Cumprimentos portuenses, mjc

João Almeida disse...

Cara Maria José Carvalho

Tive oportunidade de falar com um colega da Porto Lazer e fiquei preocupado com o que ouvi sobre algumas instalações desportivas de maior dimensão.
Infelizmente quando aí vou não disponho do tempo necessário para visitar mais casas de repasto.
De facto não posso esquecer uma cidade que me acolheu tão bem.

Bem hajam.
Cumprimentos