Depois de mais um sorteio para mais uma fase de apuramento para mais uma grande competição internacional, logo surgiram vozes - o televisivo Rui Santos, por exemplo - a reclamarem a criação de duas divisões europeias que separassem o "trigo" do "joio", a fim de assim se evitar que as selecções de maior nomeada tivessem que realizar jogos cansativos que só servirão para cumprir calendário. Assim, a selecção de Portugal não deveria ter que jogar com os seleccionados da Albânia e de Malta.
Não vou discutir os méritos e os deméritos destas propostas. Mas vale assinalar que elas acompanham uma certa "sensibilidade geopolítica", sensibilidade que se mostra cada vez mais irritada com toda a conflituosidade política associada aos nacionalismos de leste e que começa agora a deixar para trás a euforia celebratória que antes brindara o estilhaçamento nacionalista da URSS e da Jugoslávia. (O mesmo, embora com contornos diferentes, sucede a respeito de Timor). Resta saber se estas propostas que defendem uma competição a "duas velocidades" têm cabimento no quadro das actuais tendências da economia mundial do futebol profissional, tendências marcadas pela lógica de expansão capitalista do jogo.
Acrescento, no entanto, um argumento que os patriotas lusitanos podem brandir a favor das "duas velocidades" e da tese da separação do "trigo" do "joio": é que assim sempre evitavam os empates entre o trigo e o joio, como aquele 1-1 obtido por Portugal na Arménia. Por outro lado, convém não menosprezarmos as vantagens das teses das "duas velocidades": seguindo estas teses, teríamos sido poupados, por exemplo, aos inúmeros elogios feitos à selecção portuguesa de rugby no recente mundial da modalidade.
Ressalvo, por fim, que nada me move contra o rugby. Pelo contrário. É porque a modalidade me interessa que ademais critico a onda nacionalista que sobre ela se abateu no Verão passado. Isto porque quer-me parecer que a forma como alguns jogadores e muitos propagandistas e marketeiros do rugby comentaram a performance da selecção portuguesa se limitou a reproduzir os estereótipos mais simplistas que pairam sobre uma modalidade complexa: a ênfase colocada em virtudes como a "honra", a "coragem" e a "bravura", cristalizadas no episódio da berraria do hino nacional, acabou por reduzir, uma e outra vez, a complexidade de um jogo inteligente à imagem primária da força bruta.
O cunho aristocrata da modalidade - sublinhado aqui e ali nos elogios ao amadorismo de grande parte dos jogadores - parece aliás dar-se bem com estas virtudes guerreiras. Assim é em Portugal mas também noutras paragens: pelas ruas de Buenos Aires, podia-se ver recentemente um outdoor da VolksWagen (que julgo também ter apoiado a selecção de rugby portuguesa) no qual se legendava a equipa de rugby argentina com um slogan que, mais coisa menos coisa, rezava assim: "animais que se comportam como cavalheiros".
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
O Nacionalismo Oval
publicado por Zé Neves às 15:03 Labels: Modalidades desportivas, Nação desportiva
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2 comentários:
Em primeiro lugar, as boas vindas ao Zé Neves.
Depois, a minha concordância com o seu escrito.
Aliás, se posso adiantar algumas considerações acerca dos resultados desportivos da selecção oval, permito-me jogar mão de informação alheia.
Assim, Portugal seria o 2Oº do ranking e a Nambíbia o 22º.
No Campeonato, Portugal ficou em 19º e o país africano em 20º( e útlimo lugar).
A Nambíbia fo a selecção que sofreu mais pontos; a seguir veio Portugal.
Ou seja, em termos desportivos imediatos, a selecção oval nada se superou, limitando-se àquilo que já era.
Bem melhor, sem querer entrar em "guerras" de modalidades, esteve a selecção nacional de Basquetebol, no Campeonato da Europa e, no entanto, pouco ou nada transpareceu dessa presença desportiva.
PS: Gostava ainda, a respeito do amadorismo, saber algo mais sobre o segmento "argentino" da nossa selecção.
José Manuel Meirim
Parabéns pelo post e pelo inicio das actividades bloguísticas.No caso do râguebi estamos perante uma situação que merece um verdadeiro "estudo de caso".Tiro o chapeú a quem gere a comunicação da modalidade que consegue transformar derrotas volumosas em vitórias e vender aos patrocinadores uma imagem de sucesso mesmo quando os resultados desportivos o não suportam .
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