Um texto de João Almeida abriu caminho, se bem que de uma forma indirecta, a um segundo texto, agora de José Manuel Constantino. Este último assume uma postura carregada de pragmatismo. Se não atraiçoamos a sua ideia, podemos resumi-la à seguinte expressão: sendo o desporto moderno também negócio, espectáculo e ponto de encontro de interesses económicos, entende-se, com facilidade, que tais interesses procurem influenciar (e determinar) o resultado final da organização e gestão do desporto. É o desporto global, pleno de economia e política.
Seguiram-se alguns comentários sobre o binómio (ou dicotomia) realidade desportiva e retórica desportiva, reafirmando-se o seu (progressivo?) afastamento dos termos equacionados.
Terminaram as causas, os valores e os princípios, no desporto?
Pressente-se, contudo, nas linhas escritas, o evitar da formulação de juízos de valor em face da disparidade constatada entre a narrativa e a vivência.
Apenas por entender que é um tema que merece permanecer vivo, adito agora informação colhida recentemente em Lausana, na sede do Comité Olímpico Internacional.
As apostas on-line sobre resultados desportivos parecem ser das tais realidades globais que vieram para ficar.
Se até aqui, em alguns países, o jogo era monopólio do Estado, assiste-se claramente a um movimento liberalizador, encimado pela Comissão Europeia – e com o contributo do Tribunal de Justiça – em nome das liberdades económicas europeias.
O risco de que as competições desportivas e os seus resultados venham a ser viciados em favor de proveitos oriundos do “mercado das apostas” é, pois, todos o sabem, bem real. Presentemente, cabe ao ténis internacional o protagonismo das suspeitas dos “jogos combinados”.
Os Jogos Olímpicos não escapam a tal risco.
Por essa razão, o COI debate presentemente duas coisas.
Por um lado, estuda a melhor forma de enquadrar (acreditar) as grandes empresas internacionais de apostas. Desse modo, a postura não é, à partida, de confronto, mas antes de procurar que tais empresas sejam conquistadas para o universo olímpico, recebendo, em troca, uma legitimação do COI.
Quase que se diria que se trata de “uma espécie de legalização olímpica do jogo”.
Ultrapassada essa fase, surge a segunda questão.
Deve ou não o COI, em virtude dessa acreditação, ser remunerado por essas empresas de apostas?
Neste domínio são duas as posições que ainda subsistem sobre a mesa: não ao dinheiro das apostas; sim, tendo em vista a sua aplicação a projectos do movimento olímpico.
Como disse, o meu propósito com este texto, era modesto.
No entanto, quem sabe se da junção de crescentes exemplos, e do debate em seu redor, não se assistirá a uma reafirmação dos valores (tradicionais?) do desporto ou, ao invés, sermos compelidos a, de uma forma límpida (sem desfasamentos entre a retórica e a vida), assentar em outras premissas para o desporto moderno.
Seguiram-se alguns comentários sobre o binómio (ou dicotomia) realidade desportiva e retórica desportiva, reafirmando-se o seu (progressivo?) afastamento dos termos equacionados.
Terminaram as causas, os valores e os princípios, no desporto?
Pressente-se, contudo, nas linhas escritas, o evitar da formulação de juízos de valor em face da disparidade constatada entre a narrativa e a vivência.
Apenas por entender que é um tema que merece permanecer vivo, adito agora informação colhida recentemente em Lausana, na sede do Comité Olímpico Internacional.
As apostas on-line sobre resultados desportivos parecem ser das tais realidades globais que vieram para ficar.
Se até aqui, em alguns países, o jogo era monopólio do Estado, assiste-se claramente a um movimento liberalizador, encimado pela Comissão Europeia – e com o contributo do Tribunal de Justiça – em nome das liberdades económicas europeias.
O risco de que as competições desportivas e os seus resultados venham a ser viciados em favor de proveitos oriundos do “mercado das apostas” é, pois, todos o sabem, bem real. Presentemente, cabe ao ténis internacional o protagonismo das suspeitas dos “jogos combinados”.
Os Jogos Olímpicos não escapam a tal risco.
Por essa razão, o COI debate presentemente duas coisas.
Por um lado, estuda a melhor forma de enquadrar (acreditar) as grandes empresas internacionais de apostas. Desse modo, a postura não é, à partida, de confronto, mas antes de procurar que tais empresas sejam conquistadas para o universo olímpico, recebendo, em troca, uma legitimação do COI.
Quase que se diria que se trata de “uma espécie de legalização olímpica do jogo”.
Ultrapassada essa fase, surge a segunda questão.
Deve ou não o COI, em virtude dessa acreditação, ser remunerado por essas empresas de apostas?
Neste domínio são duas as posições que ainda subsistem sobre a mesa: não ao dinheiro das apostas; sim, tendo em vista a sua aplicação a projectos do movimento olímpico.
Como disse, o meu propósito com este texto, era modesto.
No entanto, quem sabe se da junção de crescentes exemplos, e do debate em seu redor, não se assistirá a uma reafirmação dos valores (tradicionais?) do desporto ou, ao invés, sermos compelidos a, de uma forma límpida (sem desfasamentos entre a retórica e a vida), assentar em outras premissas para o desporto moderno.
2 comentários:
Os chamados jogos sociais têm sido monopólio do Estado devido aos riscos de desvio e fraude e fundamentalmente ao interesse público na redistribuição das receitas junto de organizações sociais.
Mesmo os jogos de fortuna e azar geridos por privados, como o bingo ou os jogos de casino, são alvo de fortes medidas de fiscalização e controlo financeiro.
Não deixa de ser curioso que grande parte do financiamento público ao desporto reverta das receitas dos jogos sociais, como forma de garantir uma suposta independência e autonomia financeira do movimento desportivo face aos poderes públicos.
Também os bingos e até as apostas on-line têm, como é do conhecimento público, um forte peso no financiamento ao desporto profissional.
A possibilidade de o movimento olímpico vir a ser financiado por empresas de apostas levanta um conjunto sério de questões que, na minha opinião, devem ser enquadradas entre a sustentabilidade financeira do mercado desportivo e a preservação dos seus princípios elementares inscritos na Carta Olímpica.
Se olharmos, por exemplo, para o caso das autoridades administrativas independentes, com competências de regulação de mercados, o seu financiamento advém das empresas reguladas, não dispondo de verbas transferidas do Orçamento de Estado. Serão assim mais autónomas e independentes nas suas competências de fiscalização, no equilíbrio dos mercados, protecção da concorrência e dos interesses dos consumidores?
Numa época em que a especificidade do desporto e os seus valores “tradicionais” estão no topo da agenda política e das autoridades desportivas, a lógica do negócio, os mecanismos de financiamento e os interesses comerciais em torno do desporto estão cada vez mais presentes e reclamam, no mínimo, o mesmo destaque nas prioridades dos líderes políticos, caso se pretenda, de facto, preservar a especificidade e o valor social do desporto
"A tradição já não é o que era"
Tentarei um segundo e último comentário, já que o primeiro foi incapaz de passar pelo autor do blogue.
Apenas a economia do desporto pode preservar a especificidade e o valor social do desporto. O actual funcionamento liberal do mercado do desporto tenderá a destrui-lo.
A opção económica do desporto não é de escolha livre. Quer se queira ou não a economia do desporto existe e faz-se. Já nos gregos assim era. A opção de a amordaçar é possível de multiplas formas. Como por exemplo não desenvolver departamentos, não apoiar a especialidade, não consultar com maior profundidade e conhecimento, chamar à economia do desporto, informação económica quando o direito é do desporto, por exemplo.
No limite, mesmo a ignorância com que se tratam as questões económicas do desporto português são opções económicas. Muitas vezes mediocres são opções económicas que ferem o desporto português. Como já demonstrei, este processo paga-se nas centenas de milhões de euros perdidos directamente e em milhares de milhões indirectos, que não demonstrei. Afinal ao negar a economia brinca-se com o desporto, o país, a população e o futuro.
Destas brincadeiras está a destruição "distraída" e "sem querer" que se faz das organizações do desporto, públicas e privadas, dos princípios e das políticas.
A tradição no desporto português é o que sempre foi e a tendência é para o agravamento acentuado.
Votos de felicidades para o blogue.
Fernando Tenreiro, economista do desporto
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