O programa de treinos não foi incompatível, para além das práticas do sexo, com muito fumo e álcool. A reportagem era omissa quanto à natureza do fumo e às variantes do álcool. É o menos importante. O que aqui importa constatar - não para qualquer juízo moral mas como facto socialmente relevante -é que o apelo a um estilo de vida saudável com uma forte componente de actividade física e de exercício não é incompatível com outros prazeres da vida .Que desafiam um certo número de verdades “cientificadoras” sobre comportamentos de risco. E que colocam a nu (nunca o termo foi tão apropriado…) a volatilidade de uma certa ética do corpo na sua relação com a saúde. De resto, de acordo com a tradição de uma conhecida discoteca lisboeta que há muitos anos organizava algo semelhante. Nem todos podem fazer como Berlusconi. Ou limitar-se às matinés dançantes nos Alunos de Apolo.
Fenómeno isolado ou tendência? Não há como responder. Escasseiam estudos que permitam sustentar uma tese. Alguns trabalhos jornalísticos sobre massagens e saunas parecem indiciar algumas escolhas afins a certo tipo de orientações sexuais. Mas tudo pode não passar de delimitação de territórios sem relevância social significativa. Embora seja possível afirmar que a procura de espaços de condição física, a sua frequência e hábitos de permanência tem muito a ver com motivações que se Inscrevem em lógicas de interesse e de afirmação individuais onde os ambientes, contextos organizacionais e permutas comunicacionais são importantes.
Quem já frequentou um ginásio ou um health club percebeu que o local não é apenas um lugar especial de tratamento da condição física. É também um espaço social onde se procuram trocas pessoais e emocionais que estão muito para além do treino. São lugares onde se vai e se pretende ver e ser visto. Como lugares de exercício e de exposição dos corpos tem subjacentes linguagens e códigos que não são redutíveis ao activismo físico. Muito do vestuário e da moda da “condição física” é uma linguagem carregada de sensualidade que procura valorizar esteticamente /sexualmente os corpos. Os apelos à desinibição e à fruição sensoriais estão patentes nas coreografias e nas diferentes disciplinas do corpo. As solicitações ao consumo intenso de cosméticos, fármacos, alimentos dietéticos, cirurgias plásticas, avolumam-se na procura de um corpo saudável e atractivo. Migrar estas lógicas para um roteiro de viagem em cruzeiro parece transportar para um patamar superior com os corpos em movimento.E parece que em exaltação aeróbica. Efeitos marítimo/afrodisíacos?