segunda-feira, 30 de abril de 2012
Leiria: e agora?
publicado por José Manuel Meirim às 09:35 3 comments Labels: 'Verdade desportiva', Desporto profissional
sexta-feira, 27 de abril de 2012
O descalabro
publicado por Maria José Carvalho às 18:52 12 comments Labels: Associativismo desportivo, Desporto profissional, Federações desportivas, Financiamento do desporto, Política desportiva
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Sardinha de bicicleta nas Festas de Lisboa
publicado por Ana Santos às 10:11 1 comments Labels: bicicleta, mentalidades
terça-feira, 24 de abril de 2012
No Olimpo os deuses devem estar loucos
publicado por josé manuel constantino às 09:26 4 comments Labels: Olimpismo, Política desportiva
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Mais ADoP e menos federações desportivas?
Como sempre, no plano formal, o PS e o PSD, pretendem deixar, pensam que como medida da sua competência, pegadas legislativas, «revogando-se» mutuamente e alterando as designações dos diplomas.
Se um fala em sistema desportivo, vem o outro e fala de desporto; mas, de seguida, em tréplica, volta o primeiro e fala em actividade física e desporto. Igual é que não pode ser.
Novidades em 2012, face a 2009? Neste caso parece que sim. O espaço permite-nos, apenas, por ora, alguns destaques, que centramos no âmbito do poder disciplinar.
2. A nova lei vem pôr um ponto final, afirma-se, à possibilidade da AdOP
avocar a aplicação das sanções disciplinares, bem como alterar as decisões de arquivamento, absolvição ou condenação proferidas por órgão jurisdicional de uma federação desportiva, proferindo nova decisão. E, adianta-se também, o recurso das decisões de órgãos disciplinares federativos (ou da AdOP), já não são para o Tribunal Arbitral do Desporto de Lausana, mas para um Tribunal do Desporto português em construção (e até lá vale o tribunal administrativo). Desde sempre, inclusive neste espaço, criticámos esta solução da Lei nº 27/2009.
3. Numa primeira leitura das palavras da exposição de motivos da proposta, fica-se com a sensação que haverá, em matéria disciplinar, menos AdoP e mais federações desportivas. Puro engano.
Em primeiro lugar, a instrução dos processos disciplinares e a aplicação das sanções disciplinares previstas na lei competem à ADoP e encontram-se delegadas nas federações desportivas titulares do estatuto de utilidade pública desportiva.
Por outro lado, se entre a comunicação da violação de uma norma antidopagem e a aplicação da correspondente sanção disciplinar mediar prazo superior a 120 dias, a federação desportiva em questão remete no prazo máximo de 5 dias o processo disciplinar à ADoP que fica responsável pela instrução e ou aplicação da sanção disciplinar. Concordamos.
4. Mas mais. Na verdade, muito mais.
O CNAD (órgão da AdoP) passa a deter competência para emitir parecer prévio, com força vinculativa, quanto à aplicação por parte das federações desportivas de sanções, decorrentes da utilização, por parte dos praticantes desportivos, de substâncias específicas, como tal definidas na lista de substâncias e métodos proibidos, quanto à atenuação das sanções com base nas circunstâncias excepcionais definidas pelo Código Mundial Antidopagem e quanto ao agravamento das sanções com base nas circunstâncias excepcionais definidas pelo Código Mundial Antidopagem.
5. E quanto à impugnação não é totalmente verdade que tenha sido afastada o Tribunal Arbitral do Desporto de Lausana. Com efeito, para as decisões emergentes de violações praticadas por praticante desportivo de nível internacional, ou em eventos internacionais, são recorríveis para o Tribunal Arbitral do Desporto de Lausanne, nos termos previstos no Código Mundial Antidopagem. E um «praticante de nível internacional» português é um o praticante desportivo designado por uma ou mais federações desportivas internacionais como pertencendo a um grupo alvo de praticantes desportivos de uma federação desportiva internacional.
publicado por José Manuel Meirim às 10:43 2 comments Labels: Administração Pública Desportiva, Ética desportiva, Federações desportivas
quinta-feira, 19 de abril de 2012
PT e Constantino guardador de vacas e de sonhos
Tenho períodos em que a necessidade de estar sentada a escrever durante muitos dias me faz pensar que a vida do hamster é muito mais excitante que a minha. É também nestas alturas que, tal como este bichinho, me apanho nas máquinas do ginásio a correr sem sair do lugar, produzindo e gastando energia, dando conta do desperdício que caracteriza o lado absurdo do modelo tecnológico. Olho à volta e imagino a energia de todos aqueles corpos, que ali passeiam e dão ao pedal, a ser aproveitada de modo a alimentar as próprias máquinas que, tontamente e ainda por cima, gastam electricidade. E é no ginásio que, alheados do mundo e de nós próprios, mandamos manguitos uns aos outros e, com um peso apertado na mão mais a acústica a envolver os ouvidos, nos fechamos publicamente no cuidar do nosso corpo.
publicado por Ana Santos às 15:50 4 comments Labels: lazer, mentalidades
terça-feira, 17 de abril de 2012
Fruta da época
O governo, que agora elogia Pinto da Costa, é o mesmo que construiu uma campanha sobre a ética no desporto? E que fala nos valores? Perante a situação descrita a pergunta que importa ser colocada é esta: o que privilegia o governo? O sucesso desportivo, independentemente dos meios muitas vezes utilizados ou os valores que lhe estão associados? Qual é o limite? O paradoxo agora vivido só resulta da contradição existente entre a penitência dos valores e o tribunal da sua avaliação. Ou uma coisa nada tem a ver com a outra?
Pretendem as nossas palavras significar que o exercício de governação de Pinto da Costa não respeita os traços fundamentais dos chamados códigos da ética no desporto? A resposta é fácil de encontrar: não respeita, não está em causa, nem isso o preocupa. É o governo que diz que se preocupa com a matéria a ponto de ter destacado a situação e criado um programa próprio. Pinto da Costa não tem essa responsabilidade. Nem nunca a reivindicou. Liderou um clube para vencer e tem-no conseguido. O que o distingue dos outros não é uma conduta distinta no domínio dos valores. É uma maior competência no alcançar de resultados.
Ninguém espera que um governo que pretenda negociar com os chineses levante o problema dos direitos humanos; ou com os angolanos e pretenda esclarecimentos sobre a presença obrigatória da nomenclatura do partido e das forças armadas nos negócios; ou que um governante no desporto penhore um sucesso desportivo em nome da defesa de valores. Mas quando se elege a ética como programa político,num discurso o austero e tautológico de moral superior, dá este resultado: o sucesso pode ser destacado e elogiado, mesmo que o caminho possa merecer reparos.
Para muitos daqueles que operam nos domínios da competição, seja política, empresarial ou desportiva, os golpes baixos podem bem ser o adn das suas governações. E uma das formas mais finas de golpear os princípios dos códigos é não precisar de ajoelhar no tribunal dos valores perante a importância suprema do resultado que se alcança ou do poder que se atinge.
O que o secretário de estado do desporto disse de Pinto da Costa diz mais sobre ao força das convicções do secretário de estado que sobre Pinto da Costa. O sucesso desportivo deste é evidente. O apego à defesa dos valores da ética no desporto por parte do secretário de estado passou por uma prova de fogo e saiu queimado. É a vida como dizia um ex-primeiro ministro. Ademais sejamos claros: a questão que colocámos não é sequer um problema para o governo. Virá algum mal ao mundo na forma como o governo elogiou o mandato de Pinto da Costa? Não. Quando muito irritou Rui Rio e as suas querelas locais. O problema é outro. É a constatação que é sempre mais fácil falar da ética no desporto, que no exercício da governação separar o trigo do joio. Tudo isto na lógica da ideologia desportiva: uma igreja com dogmas, com muitos pastores, mas sem culto. Essa a razão do nosso ceticismo relativamente a estes programas da ética no desporto. Que adoram as análises gerais e abstratas, mas que fogem como o diabo da cruz das realidades vividas e dos comportamentos dos respetivos atores. São fruta da época.
publicado por josé manuel constantino às 09:35 5 comments Labels: Política desportiva
domingo, 15 de abril de 2012
O desporto para além do futebol: os direitos dos atletas de alto rendimento
1. A semana encontra-se marcada por mais um “caso” no futebol. Sobre o mesmo já dissemos aquilo que é possível dizer (neste momento), uma vez que manchas de nebulosidade ainda perduram. Apenas uma observação adicional de uma pessoa insuspeita quanto à hipervalorização da nação do futebol no nosso desporto e sociedade (veja-se o triste exemplo do secretário Mestre Picanço a marcar presença no lançamento da final da Taça da Liga): não só o futebol padece destes “casos”, tenham estes ou outros contornos. Com efeito, sabem-no bem clubes e agentes desportivos que vivenciam outras modalidades, que também aí proliferam actos, omissões e factos que não desmerecem do desvalor futebolístico. No fundo, é sempre uma questão de decência ou indecência, no futebol, no desporto e no todo que é este infeliz país.
Vamos, pois, ao que realmente interessa.
2. O Tribunal Constitucional (TC), a 28 de Março, proferiu importante decisão relativa aos direitos dos praticantes de alto rendimento. Entendeu o TC julgar inconstitucional, por violação do princípio da segurança jurídica e da protecção da confiança, a norma do artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro, na redacção dada pelo artigo 46.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 272/2009, de 1 de Outubro, quando interpretada no sentido de exigir a estudante abrangido por este regime que obtenha as classificações mínimas fixadas pelos estabelecimentos de ensino superior para as provas de ingresso e para nota de candidatura no âmbito do regime geral de acesso, quando parte dessas provas foi realizada antes da mencionada alteração legislativa.
3. Eis a história. Uma atleta gozava do estatuto de praticante desportivo no percurso de alta competição. Nessa qualidade beneficiava de regime especial de acesso ao ensino superior. Esse regime foi, no entanto, substancialmente alterado pelo Decreto-Lei n.º 272/2009. Estes atletas passaram a ter obrigações semelhantes a todos os outros estudantes, que pretendam aceder ao ensino superior.
5. O TC afirma que quando “o estudante se apresentou aos exames nacionais do 11.º ano, realizados no ano lectivo anterior (2009-2010), não lhe era possível estabelecer metas e estratégias conformes e adequadas ao cumprimento de uma exigência de classi? cações mínimas que, à data, não lhe era aplicável. Pelo contrário, a lei então vigente não incentivava um especial cuidado com tais provas, uma vez que apenas exigia aos atletas de alta competição a aprovação nas disciplinas do ensino secundário correspondentes às provas de ingresso. Uma gestão do tempo (e a sua repartição na preparação dessas disciplinas e no treino desportivo) que tenha procurado tirar proveito desse regime mostrasse razoável e justificada”. “E o interessado não tinha qualquer razão para se precaver contra a possibilidade de o regime em vigor deixar, quanto a este ponto específico, de o beneficiar, por força da aplicação retrospectiva de um outro, tanto mais que esse regime se encontrava estabilizado por uma vigência normativa de largos anos”, acrescenta.
publicado por José Manuel Meirim às 22:20 0 comments Labels: Direitos fundamentais, Lei e desporto, Prática desportiva
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Fisiologismo,despesismo e ilegalismo
O fisiologismo é algo bem diferente do despesismo. Este carateriza-se pela realização de despesas para a prestação de serviço público que seriam evitáveis ou que não se encontram no essencial da órbita da missão de serviço público. E se o despesismo é criticável no plano da deficiente utilização de recursos públicos não é necessariamente equivalente a um ilegalismo. Nem toda a má despesa é ilegal. Contrariamente, há muita despesa pública necessária que pode cair na órbita do ilegalismo apenas porque os seus procedimentos não foram formalmente corretos.
O facto de no exercício público se contraírem despesas que se traduzem em aquisição de bens ou de prestação de serviços, mas que não obedecem aos procedimentos normativos a que estão obrigados, é normalmente motivo de muito escândalo e aproveitamento político. O mesmo ocorre com o fisiologismo quando deixa de ser apenas do conhecimento restrito de alguns, como a prática continuada da utilização indevida de bens e propriedade pública, cujo beneficiário é o próprio utilizador/infrator. São contudo coisas bem distintas. Se o fisiologismo é de âmbito pessoal o despesismo tem caraterísticas institucionais.
A par desta situação há uma prática de ilegalismo, sobretudo em períodos de mudança de ciclo governativo, que se traduz na assunção de certo tipo de compromissos financeiros, sem adequada cabimentação e que passam para a governação seguinte. São atos que não respeitam as sucessivas fases de realização da despesa pública. Esta prática é, infelizmente, muito comum. Só uma repentina perda de memória ou desconhecimento, pode explicar o facto da Assembleia da República ter participado no caso das chamadas faturas do IDP, como se a assunção de compromissos sem inscrição orçamental fosse caso virgem ou um pecado exclusivo do anterior Presidente do IDP. Isso naturalmente que não as legítima, nem as desculpa. No entanto, para quem o conhecimento da realidade se não confina ao que é soprado para os meios de comunicação social, pode sempre perguntar se aqueles que montaram a operação têm a consciência tranquila, no plano político e profissional, face ao passado. É que não há esquecimento que sempre perdure.
A luta contra o fisiologismo, o despesismo e o ilegalismo requer o afastamento de tais práticas e de aqueles que assim procedem. Não é possível restaurar a legalidade e a autoridade com um histórico de situações como as descritas. É preciso suprimir as despesas que não tendo cobertura legal são feitas em nome do Estado para claro favorecimento pessoal. E as outras, as que sendo necessárias, para que não caiam na órbita do ilegalismo precisam de cumprir os procedimentos a que estão obrigadas em matéria de despesa pública. Esse é um desafio que se coloca ao novel Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ). Que não retém apenas o que foi o sucesso alcançado pelas organizações que agora se fundem. Retém o sucesso e o insucesso.
O IPDJ resulta da reestruturação dos setores da administração pública do desporto e da juventude e pretende reduzir a despesa com o funcionamento do setor. Nestas matérias as contas fazem-se lá mais para a frente. Agora ainda é cedo. Se conseguir atingir esses objetivos sem quebra do cumprimento das missões de serviço público que lhe compete só pode aplaudir-se a decisão do governo. E se o atingir, sabendo combater o fisiologismo e travar o despesismo, que o histórico dos organismos fundidos transporta, melhor ainda. Não prescreve o passado, mas significa que se aprendeu com ele. Não há mais dinheiro público a pagar a formação dos titulares dos cargos, idas em grupo ao estrangeiro para assistir ao futebol ou turismo ao Oriente por conta do erário público.
publicado por josé manuel constantino às 09:37 5 comments Labels: Política desportiva
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Desporto e competitividade territorial
"Sendo verdade que o poder só é verdadeiramente democrático se for local, não é menos verdade que só é verdadeiramente local se for democrático. (...) E, ao afastar-se da sociedade local, por mais forte que seja o Poder Local, será forte enquanto poder, mas será fraco enquanto local"
Boaventura Sousa Santos
Tem vindo recentemente a lume na comunicação social e na blogosfera uma acesa troca de artigos de opinião sobre o papel das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional - CCDR’s na gestão dos fundos comunitários e no processo de desenvolvimento regional.
Não se ignora a agenda política que sustem as posições dos protagonistas neste debate, o qual, invariavelmente, termina reduzindo a política regional à regionalização, com grave prejuízo para o aprofundamento dos problemas em torno do desenvolvimento regional do país.
Fernando Ruivo, continuando um trabalho de décadas sobre esta matéria, volta a apresentar resultados de um vasto inquérito aos municípios portugueses, sobre as debilidades do Poder Local na gestão de fundos comunitários e imbricação nos processos de desenvolvimento regional, os quais colocam em crise fundamentos para um eventual esvaziamento do papel das CCDR’s, traduzindo numa análise histórica e sociológica da nossa cultura político-administrativa, bem como na gestão dos fundos de coesão, os obstáculos que se impõem e impuseram na rentabilização de financiamentos externos potenciadores da transição de uma cultura de plano para uma cultura de planeamento promotora de efectivo desenvolvimento e correcção de assimetrias. Dito de outro modo, de um plano-produto para um plano processo.
Exemplo desta incapacidade de transição do plano técnico-racional para o planeamento estratégico e colaborativo tem sido a conceptualização da Carta das Instalações Desportivas Artificiais e a programação do parque desportivo nacional ou local. Desde a sua planificação, ao financiamento, passando pela gestão e manutenção, as ineficiências reproduzem-se, independentemente do nível da administração em que o promotor se situa, conforme já se deu conta em vários escritos e comentários neste e noutros fóruns.
Ora, no contexto actual paga-se cara a factura de investimentos improdutivos em infraestruturas desportivas, em particular à medida que estas envelhecem e se reconfiguram os tipos de procura e consumos de actividades de desporto e exercício.
Tanto mais assim é quanto se persistir em políticas - corrijo, decisões (porque é disso que se trata) casuísticas e profundamente arbitrárias - à margem de uma concepção planificadora do território – entendido não apenas como uma realidade física estática, mas fundamentalmente como uma construção social dinâmica -, sem envolver a participação da sociedade local que usufrui e assimila estes espaços, nomeadamente quando os poderes públicos canibalizam a oferta de serviços desportivos prestada em condições de menor eficiência para a comunidade do que quando esta se organiza através da iniciativa privada empresarial ou associativa.
Resta, deste modo, na ausência de políticas públicas sustentadas e de separação entre a esfera politica e a esfera administrativa, os efémeros fogachos de happenings mediáticos e de projectos escolhidos “à la carte” à medida que alguém bate à porta de um gabinete a vender uma ideia ao sabor de oportunidades políticas, as quais orientam o labor da máquina administrativa e dos seus dirigentes, sem se conseguir carrear acções numa cadeia de valor acrescentado para o munícipe e para o desenvolvimento desportivo local.
Perante tal conjuntura, e num quadro em que o Estado orienta prioridades para níveis desportivos de topo, pouco ou nada se lega, para além da “obra feita” que outros tomarão em mãos quando o ciclo político findar, encarando, surpresos, uma “pesada herança”, no sempiterno oportuno alibi para justificar atrasos na implementação de projectos anunciados quando novos inquilinos ocupam o poder.
Não deverá, pois, constituir surpresa para ninguém os indicadores de prática desportiva deste país à escala europeia, em particular quando é o Poder Local, ainda assim, quem suporta as enormes dificuldades de subsistência nos níveis desportivos mais elementares e a oferta não competitiva para os segmentos que crescem fora do domínio federado.
Independentemente de todas as críticas que lhe possam apontar - e aqui volto aos dados de Ruivo – não existe, para já, potencial para dinamização de uma economia municipal sem a mediação do expertise das CCDR’s, como alvitra, em entrevista, o coordenador do grupo de trabalho responsável pela definição da metodologia de elaboração da Carta Desportiva Nacional. Não só porque não existe um arranjo de escala para a distribuição das competências e correspondente afectação de meios pelos vários níveis de administração do território mais eficientes para a sua gestão numa optica de subsidiariedade, mas também porque as debilidades da sociedade civil, acentuadas por uma cultura politica centralista, não permitem romper com o sistema clientelar instalado, invariavelmente mediado pelo Estado, em particular quando se almejam linhas de financiamento europeu.
Reverter tal tropismo anquilosado por gerações passa, incontornavelmente, por co-responsabilizar os agentes da comunidade na consolidação de políticas públicas, desde logo a partir da sua fase de planeamento, tornando os instrumentos disponíveis, como devem ser as Cartas Desportivas, muito mais do que um mero cadastro ou inventário do edificado desportivo que se apresenta como um produto acabado numa qualquer cerimónia oficial.
Cruzando outras dimensões de diagnóstico económico, social e desportivo, constitui a pedra angular para a progressiva edificação de um programa coerente e ajustado ao território, ao vincular os seus actores, mas também os seus eleitos, neste trajecto de aprendizagem politica e cidadã que confira garantias para uma boa gestão dos recursos públicos em prol do interesse geral, em especial nos períodos de maior exigência e rigor neste exercício como aquele que hoje se atravessa.
No fundo, trata-se de passar além da retórica e capacitar os actores territoriais no efectivo papel de parceiros, sem os reduzir ao de simples executante, alargando progressivamente também a escala do localismo para corrigir as debilidades que careçam de abordagem intermunicipal 1.
Almejar semelhante desiderato - começando por pequenos projectos, step by step - no espectro sub-regional, onde se opera em rotina administrativa e a acudir necessidades imediatas (por vezes nem urgentes, nem prioritárias) criadas precisamente por ausência de tempo e recursos disponíveis para tarefas de planeamento e por total desarticulação entre municípios contíguos, parece um ensejo mais exequível para construir territórios competitivos no espaço europeu com efectiva autonomia e capacidade de mobilização directa junto das instituições da UE e organismos supranacionais, do que construir a casa pelo topo transferindo atribuições de instâncias da administração desconcentrada do Estado, por mais problemas ou bloqueios que estas possam criar.
Aliás, o conceito de governança em rede e multi-nível da União possibilita e incentiva, desde as suas origens, uma participação não-hierarquizada dos intervenientes na política regional. Com excepção das regiões ultraperiféricas, o Poder Local, sem a interlocução do Estado, tem o mesmo papel fora do território municipal, em particular na UE, que os actores locais têm tido na esfera municipal. Ou seja, mero executante de determinações externas, quando muito. Dúvidas houvesse basta estar atento às candidaturas autónomas a programas comunitários que não carecem de especial mediação das CCDR's. Por exemplo, relacionado com o desporto e exercício, o envolvimento nacional de entidades públicas locais em projectos no âmbito do presente Ano Europeu do Envelhecimento Activo
Neste quadro alguém acredita que a simples descentralização de competências rompe com a auto-reprodução do posicionamento marginal e clientelar das instâncias infra-nacionais? Contribui para o reforço da sua autonomia face ao Estado? Reforço do poder de iniciativa, inovação e mobilização das forças endógenas para potenciar territórios globalmente competitivos e passarem de executores a criadores de políticas?
Por vezes convém descer à terra…
1
A propósito de instalações desportivas, procurou-se, em tempos, com os dados então disponíveis na Administração Pública Desportiva desmistificar preconceitos adquiridos sobre a suficiência de espaços desportivos nas diversas NUT’s do país através da aplicação de instrumentos de análise regional, cujo relatório e ficheiros de análise estão disponíveis no Forum Olímpico
publicado por João Almeida às 03:35 1 comments Labels: Desporto autárquico, Política desportiva
domingo, 8 de abril de 2012
O futebol vai fechar?
2. Primeiro foram alguns clubes, a 17 de Março. Defendendo o alargamento – sobre o qual não nos pronunciamos –, adiantou-se: “Nós não temos formas de luta. Temos é atitudes para ultrapassar dificuldades para que as possamos vir a ter. Elas já estão estudadas. Vamos encetar contactos para promover reuniões, não apenas relativamente ao alargamento, mas também sobre o Totonegócio, as equipas B e as transmissões televisivas. Se, por acaso, verificarmos que não há uma resposta positiva para chegarmos a um consenso, não temos pejo algum em tomar atitude. Os clubes de futebol não fazem greve, mas podem parar os campeonatos, o que é diferente.”
3. A 27 de Março vieram os árbitros. “Os árbitros comprometeram-se a apitar a próxima jornada”, afirmou Fernando Gomes. O presidente da FPF sublinhou, porém, que se os ataques à dignidade e honorabilidade dos árbitros continuarem, a paralisação do futebol português é um cenário em cima da mesa. Segundo o noticiado, à entrada do encontro, vários árbitros internacionais e uma delegação da Associação de Árbitros de Futebol Profissional (APAF) manifestaram a intenção de se mostrarem indisponíveis para participar nos jogos, face ao clima de instabilidade e intranquilidade criado nos últimos tempos, agravado pela divulgação pública de dados pessoais relativos aos árbitros.
4. Ora, exactamente por não serem greves, a ocorrer qualquer tipo de “paralisação”, de clubes ou de árbitros, tais atitudes caem no âmbito de aplicação das normas reguladoras das competições e da disciplina federativa. Aí há – sempre haverá – sanções para tais actos, sejam concertados ou individuais. É preciso não esquecer este “pequeno” elemento.
5. Outros, porém, preferem pegar no carro e rumar a Algés. Foi o caso do Sporting (queixas de arbitragem, à última hora camufladas em algo mais abrangente para ingénuos verem). Há sempre um membro do Governo disponível para os receber, de preferência da mesma cor clubista ou um grupo parlamentar de deputados. E que dizer da atenção dada a este assunto do angelical Laurentino Dias, o qual, para não ir mais longe, até acompanhou um corredor de F1 em competição?
6. E já que falámos nesse balcão especial para receber o futebol, não podemos deixar de recomendar a leitura do texto de João Querido Manha (Os Incompetentes, Record, 27 de Março) e de José Manuel Constantino, no blogue Colectividade Desportiva (O futebol e a arte de governar, 27 de Março). E, se estiver mesmo interessado naquilo que pensa e faz (?) Alexandre Mestre Picanço, bem como na sua opinião sobre o Fado, o Futebol e Fátima, não pode perder o texto de Carlos Almeida (Diz-me o que pensas, dir-te-ei quem és, Correio do Minho, ainda e sempre de 27 de Março passado).
7. Por que razão a Secretaria de Estado não fecha, à semelhança da sua página na Internet?
publicado por José Manuel Meirim às 21:29 0 comments Labels: Federações desportivas, Lei e desporto, Política desportiva
segunda-feira, 2 de abril de 2012
As críticas aos árbitros
É verdade que muitas das criticas aos árbitros são excessivas. Outras injustas. Como o são para outras categorias de pessoas e entidades. Que, por vezes, as críticas escondem erros dos criticantes. O que é verdade para os árbitros como para outros criticados. Que a tarefa de arbitrar é complexa e os meios de que os árbitros dispõem nem sempre permitem ajuizar com competência e rigor. Mas também nisso não são exceção. E a solução não esta em eliminar ou censurar as criticas. Está em melhorar o exercício da arbitragem.
Quem escolhe ser árbitro deve, à partida, conhecer o contexto e o ambiente em que vai exercer a sua ação. E em modalidades como o futebol é certo e sabido que o exercício da arbitragem será sempre objeto de muita controvérsia. Por bons e mau motivos.Com razão e sem ela. O que se não pode esperar é que os árbitros, como qualquer outro protagonista do espetáculo, sejam isentos de uma apreciação crítica. E se os termos dessa crítica ferem a honorabilidade das pessoas em causa, há sempre a possibilidade, como em qualquer outra situação, de recurso judicial.
O que se não pode pedir é uma espécie de regime excecionado, de zona protegida, em que a crítica ao trabalho dos árbitros não seja permitida. Ou em que se limita o que pode ser criticado e o que não pode. Razão pela qual, movimentações recentes de uma certa aristocracia da arbitragem do futebol em torno deste problema, parecem revelar uma indisfarçável incomodidade com um dos fatores intrínsecos ao seu trabalho que é o de ver o seu desempenho criticado. Qualquer árbitro deve saber com o que conta. E conta seguramente com uma crítica permanentemente mediatizada. Umas vezes com razão. Outras sem ela.
A publicação na internet de uma lista de árbitros contendo elementos de ordem pessoal e privada é um ato infame. Sê-lo-ia sempre, fossem árbitros ou não. É um caso de polícia. Não é esse facto, a todos os títulos condenável, que requer uma diferente apreciação do problema.
O agendamento de uma reunião por parte de um governante para um clube e ir apresentar queixas da arbitragem é um ato patético e depreciador da ação política e governamental. Mas é o que temos.
O modo como muitos treinadores/dirigentes comentam atos de arbitragem esconde, muitas vezes, as suas próprias incompetências. O que também não é novidade para ninguém.
A solução não está em fazer queixinhas sobre as críticas ou em ameaçar parar as arbitragens se elas persistirem. Superar esta situação requer melhor formação, dos públicos e dos agentes desportivos, e a aquisição de valores para um exercício distinto das nossas vidas e das relações com o desporto.Enquanto isso não ocorrer não podemos esperar milagres.
publicado por josé manuel constantino às 10:23 18 comments Labels: Política desportiva