Texto publicado no Público de 6 de Janeiro de 2013.
1.No último dia do ano passado o Diário da
República deu à luz um novo Conselho Nacional do Desporto, fruto das normas do Decreto-Lei nº 266-A/2012.
Segundo o Governo, a configuração de 2007,
reajustada em 2009, exigia reforma uma vez que se constatou “a necessidade de
dotar tal órgão de mecanismos que o tornem mais ágil e funcional”.
Por outro lado, adianta-se que em “face das
mutações que se têm verificado no tecido desportivo”, “foi-se progressivamente
sentindo a necessidade de [...] possibilitar que a composição do CND seja a mais
ampla e representativa possível”.
2. Laurentino Dias, em 2007, criou um monstro
inoperacional, composto por 29 membros, marcadamente “futeboleiro”, atingindo a
proeza de replicar o programa Dia Seguinte, somente com a ausência do
jornalista.
O mesmo autor, em 2009, alargou a
composição para 34 membros.
Agora, o Secretário de Estado mestre
Picanço, em nome da agilidade e funcionalidade e das mutações (?) ocorridas
entretanto (de 2009 para 2102?), transforma esse número em 43.
3. O monstro cresce e não são as novas
regras que vão tornar eficaz o Conselho Nacional do Desporto, fundamentalmente
na vertente executiva – porque a tem – da sua missão.
A composição da sua Comissão Permanente,
por si só, não terá capacidade de resposta e, parece ser certo, recorrerá a
membros do plenário, na constituição
de grupos de trabalho.
4. Adiante-se algo, numa primeira leitura, sobre
os novos membros chamados ao plenário – e um deles, inclusive, à Comissão Permanente.
Dir-se-á, preliminarmente, que estes
monstros organizacionais, uma vez atingido um dado patamar de representação,
como que não admitem retrocesso. Os Governos não têm a coragem de colocar em
crise o que outros anteriores criaram e a alternativa parece radicar somente em
reparar erros do passado com o “crescimento” deste tipo de órgãos. É que estar
ou não representado no Conselho Nacional do Desporto, tem o seu próprio valor
para as organizações em causa, independentemente da mais-valia em que se possa
traduzir a sua participação.
Nesta lógica, que não é a nossa,
concede-se, todavia, que o actual Governo tinha uma pesada herança.
5. Dito isto, aplaude-se algo que já
tínhamos colocado em cima da mesa em 2007, ao criticarmos a constituição dessa
época: a “subida de escalão” da Confederação Portuguesa das Coletividades de
Cultura, Recreio e Desporto.
Contudo, para não ir mais longe,
dificilmente se entende a representação da Associação de Jogadores de Futebol
Não Profissional Com efeito, fica no ar a ausência de representação dos
praticantes de todas as outras modalidades.
Verdadeiramente criticável é a presença do
Presidente da Academia Olímpica de Portugal. E a diversos títulos. Em primeiro
lugar, por se tratar, usando expressão do próprio Secretário de Estado, de uma
“organização satélite” do Comité Olímpico de Portugal (que já lá está). E em
segundo lugar por se tratar de uma entidade com a qual o atual membro do
Governo tem, há muito, especiais ligações, chegando a ter sido um dos vogais do
seu Conselho Diretivo.
É certo que, conhecendo a sua ambição, um
dia destes, no futuro, será ele o presidente da AOP e, desse modo, fica
garantida a sua presença no CND que, em devido tempo, recriou.