segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
A limitação de mandatos
publicado por josé manuel constantino às 13:07 7 comments Labels: Dirigentes desportivos, Federações desportivas, Ligas profissionais
Phil O'Donnell
A morte do jogador escocês Phil O'Donnell foi a mais recente tragédia durante um jogo de futebol.
Não é tempo de retórica. Apenas ficam os sentimentos, também expressos no site do seu clube, e uma reflexão sobre a forma como levamos os nossos dias, gerimos o tempo, projectamos o futuro e experiênciamos a nossa existência.
publicado por João Almeida às 04:55 2 comments Labels: Prática desportiva
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
A metáfora dos 180 dias - Legisle-se primeiro, discuta-se depois...
Alguns desses problemas foram reconhecidos na proposta de trabalho sobre competições desportivas profissionais no sistema desportivo português, preparada pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto e apresentada na 1.ª reunião do Conselho Nacional do Desporto.
Em relação ao passado cumpre sublinhar a publicidade dada a estes documentos, o que possibilita uma discussão mais alargada e um acompanhamento atento pelos cidadãos interessados no labor deste órgão consultivo. Deseja-se que seja uma estratégia para continuar.
Se aqui houve um passo em frente em relação ao envolvimento do cidadão na actividade dos poderes públicos desportivos, tentando uma transição para o 2.º pilar da tríade informação/consulta/participação, o mesmo não se poderá dizer do processo de regulação pública desportiva.
No final daquela proposta de trabalho são levantadas questões pertinentes citadas de seguida:
"Que Ligas queremos em Portugal? Com que conformação? Em que
modalidades desportivas? Segundo que critérios? Que forma de articulação
devem necessariamente ter com as Federações respectivas?
Como assegurar que as Federações não encarem as Ligas como uma “outra
entidade” no seu seio, mas como um tipo de organização federativa
específico para o desporto profissional?
Como salvaguardar os interesses económicos dos clubes, a todos os níveis,
que, nas diversas modalidades desportivas, actuam numa lógica empresarial?
Como assegurar que realidades que reúnem um vasto conjunto de
características profissionais mantenham e assegurem essa vertente, não
assumindo o modelo de Liga?"
Lendo este documento não se deixa de questionar qual o propósito do debate lançado pelo Congresso do Desporto no que se refere ao desporto profissional. Não se extrairam conclusões e consensos a integrar na actual lei de bases? Ou os consensos limitaram-se ao que está vertido nos artigos 22.º a 24.º?
As questões apresentadas são questões estruturantes para o desporto profissional neste país. Supostamente quando se constrói uma política pública parte-se de um diagnóstico da situação desportiva para a identificação dos objectivos e definição de uma estratégia resultante de uma avaliação de custos, benefícios e impactos, a qual procura mobilizar apoios políticos e sociais junto dos actores desportivos.
Com efeito, uma lei de bases representa um instrumento jurídico onde se define uma orientação política e estratégica para um domínio social. Um quadro de referência legislativa.
As questões aqui levantadas, porque são questões estruturantes num sub-sistema desportivo, teriam de ser reflectidas, discutidas, avaliadas e posteriormente vertidas na actual lei de bases num conjunto de linhas mestras do modelo de desporto profissional que se deseja para o país.
Optar-se por uma solução inversa representa, no mínimo, uma metodologia errada na racionalidade que suporta uma política pública e na instrumentalidade da lei que a ela se deve ancorar.
Mais representa uma construção do edifício legislativo desportivo com pouca sustentabilidade, legitimadora de soluções erráticas e arbitrárias, sem uma orientação clara para a sua regulamentação. Talvez assim se compreenda o atraso deste processo.
Nada disto seria relevante se não se pensasse que a resolução dos problemas levantados pelo documento se faz por maior produção legislativa e regulamentar.
publicado por João Almeida às 01:11 7 comments Labels: Administração Pública Desportiva, Lei e desporto, Política desportiva
Das ineficiências e disfuncionalidades do desporto profissional têm sido dados neste espaço diversos exemplos.
Alguns desses problemas foram reconhecidos na proposta de trabalho sobre competições desportivas profissionais no sistema desportivo português, preparado pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto e apresentado na 1.ª reunião do conselho Nacional do Desporto.
Em relação ao passado cumpre sublinhar a publicidade dada a estes documentos, o que possibilita, pelo menos, uma discussão mais alargada e um acompanhamento pelos cidadãos interessados no labor deste órgão consultivo. Deseja-se que seja uma estratégia para continuar.
Se aqui houve um passo em frente em relação ao envolvimento do cidadão na actividade dos poderes públicos desportivos, tentando uma transição para o 2.º pilar da tríade classica de informação/consulta/participação, o mesmo não se poderá dizer do processo de regulação pública desportiva.
No final daquela proposta de trabalho são levantadas questões pertinentes que cito de seguida:
"Que Ligas queremos em Portugal? Com que conformação? Em que
modalidades desportivas? Segundo que critérios? Que forma de articulação
devem necessariamente ter com as Federações respectivas?
Como assegurar que as Federações não encarem as Ligas como uma “outra
entidade” no seu seio, mas como um tipo de organização federativa
específico para o desporto profissional?
Como salvaguardar os interesses económicos dos clubes, a todos os níveis,
que, nas diversas modalidades desportivas, actuam numa lógica empresarial?
Como assegurar que realidades que reúnem um vasto conjunto de
características profissionais mantenham e assegurem essa vertente, não
assumindo o modelo de Liga?"
Ora estas são questões estruturantes para o desporto profissional neste país. Supostamente quando se constrói uma política pública parte-se de um diagnóstico da situação desportiva para a identificação dos objectivos e definição de uma estratégia resultante de uma avaliação de custos, beneficios e impactos, a qual procura mobilizar apoios políticos e sociais junto dos actores desportivos.
Com efeito uma lei de bases representa um instrumento jurídico de orientação política e estratégica para um dominio social.
As questões aqui levantadas, porque são questões estrturantes num sub-sistema desportivo teriam de ser reflectidas, pensadas, discutidas e avaliadas antes da nova lei de bases.
Optar-se por uma solução inversa representa, no minimo, uma metodologia errada na racionalidade que suporta uma política pública.
Mais representa uma construção do edíficio legislativo desportivo com pouca sustentabilidade.
Nada disto seria relevante se não tivessemos a realidade desportiva que temos, ou se abundasse dinheiro para dispormos de uma inflação legislativa reprodutora de custos
publicado por João Almeida às 00:03 0 comments Labels: Desporto profissional, Lei e desporto, Política desportiva
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
Ginásios: legislação personalizada
Alertada pelo meu colega João Almeida, fui ver o tão aguardado diploma para a regulamentação dos ginásios.
A primeira sensação geral com que fiquei é que, mais uma vez, não se aprendeu com os erros. A segunda, é que se anda a embrulhar os conceitos da actividade física e desporto para “personalizar” esta legislação a uma visão particular e descontextualizada da realidade do sector.
Não se aprendeu, porque continuamos a escrever coisas que não dizem nada, e nem se sabe para que servem (ou melhor sabemos que servem para não serem claras e permitir maior margem de interpretação…). Dois exemplos:
Artigo 1º - Objecto - O presente diploma regula a construção, instalação e funcionamento dos ginásios abertos ao público ou a uma categoria determinada de utentes. (o que é uma categoria determinanda de utentes e que é diferente de público??)
Artigo 2º - Definição de ginásio - Para efeitos do presente diploma são considerados ginásios os estabelecimentos abertos ao público ou a uma categoria determinada de utentes, que integram uma ou mais salas destinadas à prática de actividades físicas e desportivas (cá está o embrulho …) e respectivas instalações de apoio, podendo ainda comportar instalações complementares e equipamentos específicos, designadamente saunas e outros dispositivos de hidroterapia (e cabeleireiros, e massagens e então? vão fazer parte da responsabilidade técnica?) que se destinam à prática individual ou colectiva de actividades físicas ou desportivas (o embrulho novamente…), em regime supervisionado ou livre, e dirigidas para a manutenção ou desenvolvimento da aptidão física, da saúde, da qualidade de vida ou treino das qualidades físicas. (mas isto não é tudo mais ou menos a mesma coisa??)
Não se aprendeu, porque se continua a misturar instalações com actividades: já se devia ter percebido do fiasco do Decreto-Lei 385/99, que responsabilidade técnica por uma instalação não é igual à responsabilidade técnica de actividades. Mais uma vez, não se definiram as responsabilidades objectivas do RT do ginásio com a agravante de ter sido esquecida a formação necessária para este cargo.
E claro, continua a faltar a coragem para o que é difícil assumir: a definição objectiva dos perfis de formação e competências para os técnicos envolvidos directamente nas actividades. Sim, porque a tentativa de enquadrar a “Qualificação dos recursos humanos”, através do artigo 11º é, no mínimo, esquisita e nebulosa:
Artigo 11º - (Qualificação dos recursos humanos)
1 – Os recursos humanos que desempenhem funções de aconselhamento, acompanhamento ou prescrição das actividades físicas e/ou desportivas (sim, o embrulho continua) dos utentes ou praticantes,(um utente se calhar não pratica...) assim como dos que os coadjuvam, devem dispor de formação mínima do 1.º Ciclo de Bolonha adquirida em estabelecimento de ensino superior (vulgo licenciados) na área das Ciências do Desporto.
2 – Os cursos de formação necessários para o desempenho do exercício das funções referidas no n.º 1 serão definidos por portaria do membro do Governo responsável pela área do desporto. (fiquei confundida...)
Acho interessante a elaboração encontrada para a palavra licenciatura : “1º Ciclo de Bolonha” (será porque esta é uma questão polémica?). Depois a aparição de “cursos de formação para o exercício das funções referidas no nº 1”. Mas então não era a licenciatura a formação mínima? E que cursos são estes? Habilitam a quê? Quem os vai dar? Quem os certifica? Quais os requisitos para o seu acesso? Vamos ter nas “salas destinadas à prática de actividades físicas e desportivas” só licenciados independentemente do tipo de actividade praticada?
Gostava de saber a opinião de entidades “pouco” representativas do sector como a AGAP, a MANZ, o CEFAD… E também a opinião de algumas que apanham por tabela como as Federações (sim, porque “salas destinadas à prática de actividades físicas e desportivas”, “nas quais se desenvolvam actividades físicas ou desportivas promovidas, regulamentadas ou dirigidas por federações desportivas”…)
Enfim, irei voltar a este tema. A existência de demasiadas disposições “infiscalizáveis” e o controlo antidopagem nos termos do Decreto – Lei n.º 183/97 aos utentes e praticantes desportivos que frequentem os ginásios tem ainda muito que se lhe diga…
publicado por Carla Gil Ribeiro às 18:09 1 comments Labels: Infra-estruturas desportivas, Lei e desporto
Ginásios: legislação personalizada
Alertada pelo meu colega João Almeida, fui ver o tão aguardado diploma para a regulamentação dos ginásios.
A primeira sensação geral com que fiquei é que, mais uma vez, não se aprendeu com os erros. A segunda, é que se anda a embrulhar os conceitos da actividade física e desporto para “personalizar” esta legislação a uma visão particular e descontextualizada da realidade do sector.
Não se aprendeu, porque continuamos a escrever coisas que não dizem nada, e nem sabe para que servem (ou melhor sabemos que servem para não serem claras e permitir maior margem de interpretação…). Dois exemplos:
Artigo 1º - Objecto - O presente diploma regula a construção, instalação e funcionamento dos ginásios abertos ao público ou a uma categoria determinada de utentes. (o que é uma categoria de utentes que seja diferente de público??)
Artigo 2º - Definição de ginásio - Para efeitos do presente diploma são considerados ginásios os estabelecimentos abertos ao público ou a uma categoria determinada de utentes, que integram uma ou mais salas destinadas à prática de actividades físicas e desportivas (cá está o embrulho …) e respectivas instalações de apoio, podendo ainda comportar instalações complementares e equipamentos específicos, designadamente saunas e outros dispositivos de hidroterapia (mas integram e vão estar a cargo do responsável técnico?) , que se destinam à prática individual ou colectiva de actividades físicas ou desportivas (embrulho novamente…), em regime supervisionado ou livre, e dirigidas para a manutenção ou desenvolvimento da aptidão física, da saúde, da qualidade de vida ou treino das qualidades físicas. (mas isto não é tudo a mesma coisa??)
Não se aprendeu, porque se continua a misturar instalações com actividades: já se devia ter percebido do fiasco do Decreto-Lei 385/99 que responsabilidade técnica por uma instalação não é igual à responsabilidade técnica de actividades. Mais uma vez não se definiram as responsabilidades objectivas do RT do ginásio com a agravante de ter sido esquecida a formação necessária para este cargo.
E claro, continua a faltar a coragem para o que é difícil assumir: a definição objectiva dos perfis de formação e competências para os técnicos envolvidos directamente nas actividades. Sim, porque a tentativa de enquadrar a “Qualificação dos recursos humanos”, através do artigo 11 é, no mínimo, esquisita e nebulosa:
Artigo 11º - (Qualificação dos recursos humanos)
1 – Os recursos humanos que desempenhem funções de aconselhamento,acompanhamento ou prescrição das actividades físicas e/ou desportivas dos utentes ou praticantes, assim como dos que os coadjuvam, devem dispor de formação mínima do 1.º Ciclo de Bolonha adquirida em estabelecimento de ensino superior na área das Ciências do Desporto.
2 – Os cursos de formação necessários para o desempenho do exercício das funções referidas no n.º 1 serão definidos por portaria do membro do Governo responsável pela área do desporto.
Acho interessante a elaboração encontrada para a palavra licenciatura : “1º Ciclo de Bolonha” (será porque esta é uma questão polémica?). Depois a aparição de “cursos de formação para o exercício das funções referidas no nº 1”. Mas então não era a licenciatura a formação mínima? E que cursos são estes? Habilitam a quê? Quem os vai dar? Quem os certifica? Quais os requisitos para o seu acesso? É só para os detentores de “formação do 1º Ciclo de Bolonha”, vulgo licenciados?
Vamos ter nas “salas destinadas à prática de actividades físicas e desportivas” só licenciados independentemente do tipo de actividade praticada?
Gostava de saber a opinião de entidades “pouco” representativas do sector como a AGAP, a MANZ, o CEFAD… E também a opinião de algumas que apanham por tabela como as Federações (sim, porque “salas destinadas à prática de actividades físicas e desportivas”, “nas quais se desenvolvam actividades físicas ou desportivas promovidas, regulamentadas ou dirigidas por federações desportivas”…)
Enfim, irei voltar a este tema. A existência de demasiadas disposições “infiscalizáveis” e o controlo antidopagem nos termos do Decreto – Lei n.º 183/97 aos utentes e praticantes desportivos que frequentem os ginásios tem ainda muito que se lhe diga…
publicado por gestor blog às 17:55 0 comments Labels: Infra-estruturas desportivas, Lei e desporto
Dois meses depois
publicado por José Manuel Meirim às 10:29 3 comments Labels: Vária
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Sempre os mesmos
publicado por josé manuel constantino às 12:34 7 comments Labels: Política desportiva, Vária
Os ginásios
Compreende-se a intenção de congregar, no mesmo diploma, um conjunto de normas a ter em atenção no funcionamento desta tipologia de instalações, em particular o seguro de acidentes pessoais, o controlo antidopagem e o livro de reclamações; no entanto replicam-se obrigações já existentes nestes domínios, não acrescentando nada de novo.
A excepção sucede no articulado do n.º 1 do artigo 18.º o qual prevê a possibilidade de todos os utentes dos ginásios se submeterem ao controlo antidopagem nos termos da legislação em vigor. Uma solução de legalidade duvidosa, merecedora de profunda análise jurídica, mas claramente violadora da privacidade dos utentes informais não integrados em qualquer quadro desportivo competitivo, pelo que a utilização do argumento da preservação da saúde pública se afigura desproporcionada. Será interessante uma brigada da ASAE chegar a um ginásio e começar a efectuar controlos antidopagem arbitrariamente. De facto o bom senso não se legisla...
Aplaudem-se os avanços sobre as qualificações dos responsáveis técnicos e a introdução de requisitos mínimos específicos para o licenciamento das instalações, de acordo com normas técnicas vigentes, nomeadamente da IAKS e dos organismos que regulam este sector (IHRSA e EHFA), de forma a disciplinar o sector e impôr padrões minimos de qualidade do serviço.
Num diploma que procura respigar, e repisar, várias normas de outros quadros jurídicos não se compreende, porém, a ausência de menção à legislação sobre eliminação de barreiras arquitectónicas e recomendação sobre a utilização de energias alternativas.
A revogação dos Decretos-Lei n.º 317/97 e 385/99, no que dispõem sobre estas instalações desportivas, configura uma estratégia de inflação legislativa numa área de enorme dispersão normativa, carente de sistematização e clarificação.
Por este andar, quando se regulamentar o funcionamento de outras tipologias de espaços desportivos de uso público, com um diploma para cada qual, esvazia-se o sentido dos dois decretos-lei citados, para além de se repetirem obrigações comuns, como é o caso da elaboração de seguro, inscrição de responsável técnico ou afixação de regulamento de utilização.
Em 2003 foi elaborada, pelo então IND, uma proposta de regulamento das condições técnicas gerais e de segurança das infra-estruturas desportivas artificiais, visando regulamentar o art. 7.º do Decreto-Lei n.º 317/97, de 25 de Novembro; a mesma foi submetida a parecer dos municípios, mas não chegou a ser aprovada pelo Governo. Aquela proposta incluía, num único documento, os requisitos mínimos de instalações, para um conjunto de infra-estruturas desportivas, entre os quais aqueles que o artigo 6.º da presente proposta reproduz praticamente na integra.
Mas no reino da incontinência legislativa, onde a frequência de débito é a principal garantia de política estruturada e estratégia reformista, a clareza do discurso jurídico e do edificio normativo como elementos facilitadores e esclarecedores dos agentes no terreno fica para depois.
Supõe-se que a presente proposta tenha sido debatida nas reuniões noticiadas entre o IDP e a AGAP – Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal e procure dar resposta ao incumprimento legislativo e falta de fiscalização nestes espaços.
No seguimento de uma lei de bases, cujas bases periclitantes ficaram para o legislador ordinário tratar de reforçar, ou até criar ex-novo, na regulamentação de uma enormidade de artigos (cujos 180 dias previstos já passaram no calendário gregoriano), mas que em todo o caso se intitula da actividade física, a AGAP não seria merecedora de ter um representante no Conselho Nacional do Desporto? Talvez o legislador ao elaborar o diploma que instituiu as competências deste concelho não tenha considerado a associação, com mais de 300 associados, realmente representativa de um sector. Ou talvez este sector não seja suficientemente importante num órgão consultivo sobre as políticas desportivas e... da actividade física.
publicado por João Almeida às 01:02 4 comments Labels: Administração Pública Desportiva, Infra-estruturas desportivas, Lei e desporto
domingo, 23 de dezembro de 2007
Bom Natal!
de qualquer parte do globo,
votos de um Bom Natal!!!
Mas atenção aos excessos, ou então depois
redobre a prática desportiva, não vá
acontecer-lhe o mesmo que ao Pai Natal....
publicado por Maria José Carvalho às 18:10 0 comments Labels: Vária
sábado, 22 de dezembro de 2007
Paulo Bento: liberdade de expressão e disciplina
Muitas dessas organizações desportivas usam e abusam das infracções disciplinares no âmbito da livre crítica dos seus órgãos directivos, quer no momento da previsão do tipo disciplinar, quer no momento da sua aplicação em concreto.
publicado por José Manuel Meirim às 13:11 2 comments Labels: Direitos fundamentais, Organizações desportivas
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Dos juristas
publicado por José Manuel Meirim às 09:57 2 comments Labels: Lei e desporto
Cidadania desportiva
Ao contrário dos demais agentes desportivos cujo desempenho é acompanhado por todos no terreno de jogo, os dirigentes desportivos não são avaliados, porque não vão a jogo e não se dão ao jogo. O terreno de jogo dos dirigentes desportivos só pode ser a arena da ética democrática, da prestação de contas e da responsabilização pela execução dos princípios de boa gestão de dinheiros públicos
Mas se tal ocorre a responsabilidade não é apenas sua. Considero que se limitam a gerir de acordo com a lógica de governabilidade instituída no desporto federado, por eles, mas também pelo poder político e fundamentalmente pela omissão de uma cidadania desportiva na nossa sociedade.
A interdependência destes elementos legitima a situação presente, reproduzindo arbitrariedades, ineficiências e deseconomias. Não gera valor para o cidadão e para os dinheiros públicos.
Genericamente, com honrosas excepções, assiste-se a:
Falta de democraticidade no funcionamento das federações desportivas;
Concentração de poderes (estabelecem as regras, aplicam as regras, fiscalizam o seu cumprimento e sancionam a sua violação);
Excesso de presidencialismo e aversão à descentralização;
Concentração de recursos nos quadros competitivos de topo;
Gestão mais centrada no cumprimento da lei e dos procedimentos do que na responsabilização pelos resultados, instrumentalizando o quadro jurídico como legitimador dessa lógica;
Estruturas organizacionais mecânicas e processos de gestão burocráticos que dificultam a adaptação a novos hábitos desportivos e o seu desenvolvimento;
Carência de competências técnicas em domínios científicos associados ao desporto;
Gestão financeira rudimentar e contabilidade “martelada” que obstaculizam a construção de indicadores de desempenho económico e desportivo fidedignos, bem como uma boa fiscalização pela Administração;
Prestação de contas aos políticos, e não aos cidadãos, sem incidir sobre critérios de eficiência e a eficácia;
Funcionamento numa lógica de clientela, olvidando que a racionalidade de uma federação desportiva não se esgota na prossecução de interesses próprios, mas tem associada uma missão de serviço público na promoção de uma modalidade desportiva junto dos cidadãos;
Aqui chegado considero importante que a discussão se coloque acima dos casos individuais, numa perspectiva de análise crítica e compreensiva sobre a formulação, participação, implementação e avaliação de políticas desportivas.
Mas por outro lado, na conjuntura apresentada, cumpre ao cidadão denunciar e alertar, como fez a Maria José Carvalho, os casos concretos de má gestão desportiva, como instrumento privilegiado, num estado de direito democrático, para suscitar essa mesma discussão junto dos responsáveis políticos e abri-la ao espaço público desportivo, caso contrário ela mantem-se em circulos restritos bem longe dos problemas efectivos da realidade desportiva, continuando a reproduzir instrumentos de intervenção política, particularmente abundantes normas legais, que só contribuirão para agravar a situação actual e afastar o desporto do cidadão.
publicado por João Almeida às 05:48 2 comments Labels: Dirigentes desportivos, Organizações desportivas, Política desportiva
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Novas oportunidades, velhas hipocrisias
Nestas cerimónias públicas, os governantes revelaram-se muito preocupados com o pós-carreira dos futebolistas. Infelizmente, o problema da reinserção profissional, equacionado como uma das medidas de apoio específicas aos atletas de alto rendimento em 1990 pela Lei de Bases do Sistema Desportivo, nunca foi assumido por qualquer dos nossos governos constitucionais.
Ao longo dos tempos, os atletas têm sido fantásticos aquando dos seus êxitos para as fotos, filmagens e “colagens” políticas, mas quando terminam a sua actividade, o Estado, que investiu recursos de vária ordem na sua preparação, não capitaliza as experiências anteriores, não as reinveste, olvida-as por completo. Enquanto assistimos em diversos países a políticas públicas de criação de emprego em vários sectores da administração pública, assim como através de parcerias com entidades privadas com vista à reinserção profissional dos melhores atletas nacionais, em Portugal presenciamos situações como as relatadas no último ano com os atletas Carlos Lopes, Aurora Cunha e António Leitão.
Confrange-nos, de facto, a omissão, a hipocrisia e a contradição existentes entre as palavras e os actos dos nossos governantes. O mesmo governo que declara a sua preocupação com o pós-carreira e propagandeia as novas oportunidades para os atletas, rescinde o contrato de prestação de serviços com os seus/nossos campeões. Apesar de estarem no desemprego, estes atletas continuam a deslocar-se a escolas e clubes com a missão de promoverem o desporto, acreditando na palavra de quem lhes prometeu encontrar uma solução para dar continuidade à sua actividade profissional. Até quando?
publicado por Maria José Carvalho às 12:42 14 comments Labels: Política desportiva, Prática desportiva
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Será verdade ou ouvi mal?
Quero começar por referir que nada me move contra o Municipio de Sintra ou outro qualquer.
Mas no decorrer da ultima assembleia geral da Associação de Basquetebol de Lisboa contaram-me ter sido mostrado um oficio daquele municipio a disponibilizar uma verba de 100 mil euros à associação para comparticipar os clubes do Concelho de Sintra que participaram em competições europeias de basquetebol o ano passado.
Por curisosidade relembre-se que o único clube que cumpriu aquele critério foi o Queluz, participando na ULEB Cup, o qual está impedido de receber auxilios públicos devido à situação de incumprimento fiscal em que se encontra.
Os comentários sobre a legalidade e legitimidade desta situação deixo para os interessados.
Apenas gostaria de saber se é verdade a informação que circula sobre a busca da Policia Judiciária às instalações da associação e se existe um processo de investigação a correr sobre isto?
publicado por João Almeida às 16:04 0 comments Labels: Associativismo desportivo, Desporto autárquico, Financiamento do desporto
O mito da modernização legislativa
publicado por josé manuel constantino às 09:42 15 comments Labels: Lei e desporto, Política desportiva
domingo, 16 de dezembro de 2007
FAP: 20 anos sem planeamento
Em 1988, participei pela selecção nacional de andebol no Mundial C, em Dreux, (época em que ainda se disputavam os mundiais em 3 níveis – A, B, C). O objectivo de França, segundo o que os seus dirigentes de então me transmitiram, era ascender ao Mundial A e participar nos Jogos Olímpicos. Com idênticas pretensões também os nossos dirigentes nos fizeram sonhar…
Em 1999, França classificava-se no 2.º lugar do Mundial (já apenas num único nível competitivo) e em 2003 sagrava-se Campeã do Mundo. Em 2006, 3.ª classificada no Campeonato da Europa e nos Jogos Olímpicos de 2004 atingia o 4.º lugar. Hoje, termina mais um campeonato do mundo organizado em França e para o ano de 2008 já se anuncia neste país uma competição feminina profissional organizada pela Liga.
Portugal, evidentemente, de sonho em sonho, de projecto em projecto, apenas “vendia e continua a vender ilusões”. Nunca existiu qualquer planeamento estratégico para o desenvolvimento da modalidade no sector feminino, quer ao nível da prática desportiva em si, quer ao nível da formação sustentada de treinadores/as e dirigentes. E, na verdade, a escassez de recursos financeiros nem seria a desculpa, já que ao longo dos anos têm sido desbaratados milhões de euros com sucessivas apostas frustradas de alcançar o top internacional no sector masculino.
Claro está que a selecção feminina absoluta de andebol nunca participou nem nos Mundiais, nem nos Europeus, nem nos Jogos Olímpicos. E, incrivelmente, vivem-se tempos de euforia na selecção feminina por ter sido apurada para a fase de play-off de acesso ao próximo Europeu.
Em suma, em 20 anos, a FAP, presidida continuamente pelo mesmo dirigente, gerou e aplicou dinheiros públicos sucessivamente, sem ser avaliada pelo trabalho desenvolvido. Para quê o planeamento estratégico, para quê melhorar as competências e a produtividade quando a gestão corrente e doméstica chega para preservar o poder?
publicado por Maria José Carvalho às 23:21 4 comments Labels: Federações desportivas, Mulheres e Desporto
Aos costumes disse nada
"As claques existem porque são apoiadas pelos clubes. E são apoiadas para apoiar, não insultar, ofender ou agredir"
Foram estas as palavras do presidente do Sporting na passada sexta-feira.
Se dúvidas houvesse sobre a instrumentalização de claques de futebol, já abordadas neste blog, estas palavras vêm dissipá-las.
No entanto, por vezes, o feitiço vira-se contra o feiticeiro, como tem ocorrido nos ultimos tempos com as claques dos três grandes.
Os desenvolvimentos sobre as investigações das mortes de seguranças de casas de diversão nocturna no Porto e a eventual ligação a elementos dos Super Dragões são um bom exemplo do envolvimento em fortes redes de influência e criminalidade criadas em torno de elementos das claques, que utilizam o futebol como uma fonte de negócio.
Recentemente tive oportunidade, num jogo grande, de assistir dentro do estádio à venda e tráfico de haxixe, de uma forma descarada, por elementos de uma claque, acompanhada por lançamentos de petardos e very lights para o relvado, com a polícia a assistir impávida áqueles actos.
À dimensão do nosso país, as claques de futebol dos maiores clubes são perigosos centros de lavagem de dinheiro, tráfico e contrabando. Escrevo-o com conhecimento de causa.
Não oiço dirigentes a pronunciarem-se sobre isto ou sobre a pilhagem de estações de serviço, destruição de autocarros e comboios, agressões a civis ou atitudes de propaganda política e ideológica de cariz xenófobo.
Lembro-me agora que nunca mais se ouviu falar das conclusões do inquérito à agressão ao àrbitro Tozé Coelho no 6.º jogo do playoff de basquetebol entre o Porto e a Ovarense...
Mas se uma claque boicota uma assembleia geral, não apoia a equipa ou devolve uma camisola a demonstrar o legitimo descontentamento e indignação sobre o desempenho dos seus jogadores... Cai o Carmo e a Trindade.
Em Itália onde esta pelicula já chegou a outros capitulos também "aos costumes disse nada" e nem o simbólico CONI escapou...
publicado por João Almeida às 12:10 1 comments Labels: Ética desportiva
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
Do Desporto ao Direito e de volta ao Desporto (acompanhada pelo Direito)
Numa recente ida à Faculdade de Motricidade Humana constatei que alguns alunos visitam este espaço e dele retiram utilidade.
Daí que dedique este texto aos alunos das escolas superiores de desporto.
Ente 1978 e 1981 praticou voleibol; entre 1977 e 1993, também praticou andebol; foi internacional A em mais de 90 jogos; foi treinadora e seleccionadora de andebol de várias selecções femininas a nível regional; foi treinadora de crianças; foi dirigente desportiva.
Licenciou-se em Educação Física, na Universidade do Porto, em 1988; licenciou-se em Direito em 1997; alcançou o grau de mestre em Gestão desportiva com classificação final de Muito Bom, no ano de 2001; “tirou” uma pós-graduação em Direito do Desporto, em 2002; foi docente de educação física em escolas secundárias; foi monitora no ISEF da UP, foi assistente convidada do ISMAI; foi advogada; foi docente de mestrados na Faculdade de Desporto da UP; é casada; tem um filho.
No passado dia 13, no dia da assinatura do Tratado de Lisboa, tenha lá o valor que tenha para as nossas (vossas) vidas, concluiu com êxito as provas de doutoramento em Ciências do Desporto (Gestão Desportiva), na sua Faculdade.
Foi e é assim a Maria José Carvalho.
E o princípio que a norteou encontra-se bem retratado num tema de um grupo para muitos de vós desconhecido – bem como para ela –, os Sparks.
How do I get to Carnegie Hall?
Practice, man, practice
Lil’ Beethoven
An album by Sparks
2002
publicado por José Manuel Meirim às 22:48 6 comments Labels: Escolas do Desporto, Lei e desporto, Mulheres e Desporto
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Sustentabilidade
A recente legislação sobre eficiência energética nos edifícios, pouco veio acrescentar à forma como se planeia a gestão e se projectam espaços desportivos, apesar do estádio do Dragão ter recentemente recebido um prémio de certificação ambiental.
Na maior parte das instalações desportivas de uso público predomina um aproveitamento reduzido ou nulo da luz solar e um isolamento térmico e acústico deficitário, à margem dos recentes critérios legais. Se a isto associarmos sistemas de águas quentes sanitárias com caldeiras (a fuel, gasóleo, ou gás natural) com potência nominal bastante superior às exigências dos edifícios, bem como a insensibilidade de gestores, funcionários e utentes para estas questões, o custo/hora das instalações dispara de uma forma galopante.
Depois, considerando os argumentos invocados de inicio e atendendo às condições climatéricas priveligiadas do país, não se compreende a ausência de uma aposta efectiva em energias renováveis, cujos incentivos públicos até são consideráveis, nomeadamente no que respeita à biomassa, ao painéis fotovoltaicos ou aos painéis solares térmicos.
Actualmente a microcogeração procura integrar estas soluções e surge como um novo paradigma de sustentabilidade ambiental e energética, onde o consumidor produz a sua própria energia e vende a remanescente à rede e assim obtem dividendos do seu investimento inicial, com uma diminuição superior a 50% dos custos energéticos das instalações, prevendo-se uma descida dos preços de instalação com a consolidação deste sistema no mercado.
Os meus parabéns ao Município de Ilhavo que percebeu a importância da eficiência na gestão de dinheiros públicos e no desenvolvimento económico local, neste caso através de uma piscina municipal pioneira em microcogeração.
É bom que os nossos autarcas tenham em mente que o financiamento comunitário cada vez menos se dirige para soluções infra-estruturais, como nos anteriores quadros comunitários de apoio, e quando o faz privilegia soluções tecnologicamente inovadoras e sustentáveis.
Infelizmente pululam neste país “elefantes brancos” e algumas patologias do síndrome da obra feita, onde os encargos de gestão e manutenção são matérias acessórias e deixados para depois.
A este propósito mão amiga fez-me chegar o exemplo de um ginásio em Hong Kong onde os aparelhos de exercício estão interligados com o sistema eléctrico central.
A energia mecânica produzida pelos utilizadores nos aparelhos é convertida em energia eléctrica através de dínamos! E armazenada através de baterias!
“Cada pessoa em exercício moderado pode produzir cerca de 50 W de energia/hora. Se uma pessoa passar uma hora a correr numa máquina, ao fim de um ano terá gerado cerca 18200kWh e evitado a libertação de 4300 litros de CO2 para a atmosfera”
“No pain, no power”
publicado por João Almeida às 00:16 5 comments Labels: Desporto autárquico, Desporto na escola, Infra-estruturas desportivas
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
O mito do financiamento público
publicado por josé manuel constantino às 18:28 13 comments Labels: Administração Pública Desportiva, Associativismo desportivo, Financiamento do desporto
Os insultos da Juventude
publicado por José Manuel Meirim às 11:24 2 comments Labels: Ética desportiva
domingo, 9 de dezembro de 2007
História do Futebol na URSS
Peço desculpa por este tempo de antena mas a emissão segue já dentro de momentos. Quero apenas anunciar que na próxima quinta-feira, dia 13 de Dezembro, decorrerá no ISCTE uma conferência do Professor James Riordan, um dos mais reputados historiadores do desporto, autor de várias obras sobre a história do desporto nos regimes comunistas e no contexto da história do movimento operário. James Riordan foi além do mais um efémero jogador de futebol do Spartak de Moscovo. Aliás, a conferência da próxima 5ª, organizada pelo CEHCP-ISCTE, tem como tema "A História do Futebol na URSS". Às 17h30 no Auditório B203 do Edifício II do ISCTE, ali para os lados de Entrecampos-CidadeUniversitária.
publicado por Zé Neves às 23:19 0 comments Labels: História do desporto, Modalidades desportivas
sábado, 8 de dezembro de 2007
Quem tem ideias,tem inimigos
publicado por josé manuel constantino às 21:39 0 comments Labels: Gestão desportiva
Tavira
publicado por José Manuel Meirim às 17:16 2 comments Labels: Desporto autárquico, Gestão desportiva
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
José Maria Noronha Feio:in memoriam
Essa dimensão histórica resulta da circunstância de, sendo reconhecidamente um homem que tinha do desporto uma visão profundamente cultural, - entender as práticas despotivas numa perspectiva de raiz humanista, em que o desporto só tinha razão de ser enquanto forma, modelo e conteúdo ao serviço dos homens e das sociedades - procurou mercê dos lugares que ocupou na administração pública, introduzir o discurso cultural do desporto . Umas vezes com total sucesso; em outras circunstâncias sem que o tenha conseguido.
Na esteira de outros grandes homens da educação física e do desporto nacional, casos de Serradas Duarte, José Esteves e Mário Lemos, colegas que insistentemente recordava, Noronha Feio teve sobre eles a possibilidade de exercer um apostolado de pedagogia desportiva a diferentes níveis da administração esforçando-se por romper com a visão artesanal que habitualmente presidia à análise do fenómeno desportivo, O seu “discurso desportivo” servido por uma sólida cultura geral era reconhecidamente factor de imediata respeitabilidade e uma referência sempre recordada pelas centenas de alunos que tiveram o privilégio de o ter como professor. Um professor com quem dava prazer conversar, porque cada conversa era uma forma de com ele aprendermos.
A valorização do homem e da sociedade, a relação íntima entre as práticas corporais e a sociedade eram temas caros a Noronha Feio. Nunca procurou esconder a sua origem profissional e assumindo-se em todas as circunstâncias como um homem da educação física, defendeu sempre uma escola que permitisse que os jovens praticassem desporto, mas simultaneamente lhes proporcionasse possibilidades de apropriação e fruição de outras expressões da cultura moderna: a leitura, o teatro, o cinema, as artes plásticas.
Como homem do desporto, colocava permanentes interrogações sobre que prática cultural queríamos desenvolver. Viveu e sofreu por isso, por vezes dolorosamente, um dos paradoxos do tempo presente. Um tempo em que parece não haver tempo, nem lugar, para a problematização e conceptualização dos fenómenos culturais e desportivos, atitudes consideradas supérfluas e longe das realidades. O paradoxo no facto do que, à complexificação crescente de problemas e soluções desportivas, parece querer corresponder um suspeito pragmatismo que as mais das vezes, esconde apenas, a ausência de conteúdo e capacidades culturais para avaliar e discutir, em suma, para intervir.
Noronha Feio, era um homem da emoção e da paixão, mesmo quando o tribunal do tempo, lhe indicava que nem tudo fica resolvido com a pura paixão por muito sincera que ela seja sentida. Era um homem que precisava de viver com a ilusão. Aquilo a que outros designam como o sonho ou a utopia. Agradava e encantava os que o escutavam, naquele seu ar aristocrático, que escondia uma personalidade tímida, meiga e profundamente afectuosa.
Longas conversas mantivemos a propósito do futuro da educação física e do desporto do nosso País e do papel que nele pode desempenhar o poder local. Com ele compartilhamos a leitura global da situação: um país pequeno, pouco desenvolvido, culturalmente fraco. Com ele vivemos a dificuldade de articular estratégias de longo prazo com o desenvolvimento desportivo.Com ele aprendemos que países como Portugal não têm escolha possível, pois as únicas estratégias viáveis são as de longo prazo, porque só estas conduzem a resultados visíveis e palpáveis. Contudo aqui residia o insuperável: as estratégias de longo prazo não são sedutoras. E por isso, Noronha Feio, insistentemente dizia a alguns dos seus colaboradores que contrariamente ao que muitos afirmavam, em Portugal, o difícil não era começar um trabalho: era continuá-lo. Hoje, dezassete anos depois, os seus amigos lembraram-no numa cerimónia em Queijas no pavilhão desportivo que tem o seu nome. Obrigado Professor!
publicado por josé manuel constantino às 12:09 0 comments Labels: Agentes desportivos, História do desporto
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Actor ou figurante?
Permita-me, José Manuel Constantino, acrescentar neste espaço algo ao que escreveu…
Em Portugal o empreendorismo não é realmente apoiado porque a nossa sociedade não valoriza o risco e valorizar o risco começa por saber apoiar e dar condições para arriscar de novo e aprender com o insucesso. Por isso temos patrões não temos empresários.
Valorizar o risco começa por um ethos que reconheça a competência e o esforço dos que se aventuram em projectos inovadores e procuram criar e romper com as rotinas e reproduções mecânicas do “one best way”que se fazia há 20 anos, como se a sociedade uma realidade estática.
Fundamentalmente começa por não rotular como “falhados” a maior parte daqueles poucos que arriscam passar das palavras aos actos e dar-lhes condições para começar de novo. Começa por perceber que o desejável se atinge pela soma de vários possíveis. O desporto é sobre isto uma boa escola, constantemente citada pelos que se debruçam sobre estudo do empreendorismo.
Infelizmente a realidade não é uma folha em branco onde se apliquem os modelos transmitidos nos bancos da escola. A complexidade e interdependência dos problemas existentes, a escassez de recursos, a institucionalização das pessoas e a cristalização de interesses vários obstaculizam a inovação e viabilizam, quanto muito, o fazer de novo e assim se opta também mais pelo falar do que pelo fazer, ou pelo siciliano “fazer algo para que tudo fique na mesma”.
As reformas, quando se fazem, fazem-se na forma, mexendo pouco na substância. Já aqui se falou do excesso de regulamentação e da escassez de regulação…
É sabido pelas teorias da escolha pública que a racionalidade dos políticos é diferente da dos cidadãos, mas isso não explica tudo.
Tenho dificuldade em encontrar uma reforma que corrija as enormes falhas de mercado que existem neste nosso sector do “take it from the poor and give it to the rich” onde pouco mais de 20% da população pratica desporto, mas já não tenho essa dificuldade em encontrar ideias, planos e projectos, ainda que conceda que o estudo técnico-cientifico do desporto seja escasso.
Se a isso juntarmos, particularmente no caso do desporto, a falta de liderança, transparência, competência, eficiência e rigor na gestão de muitas organizações desportivas torna-se ainda mais difícil passar das palavras aos actos e aceitar (valorizar é pedir demais) aqueles que se dispõem a “sujar as mãos” na gestão pública, como bem disse outrora.
Não sei se é uma perspectiva de pessimismo ou desencantamento, mas “as pegadas na areia do tempo não são deixadas por pessoas sentadas”. No entanto, neste percurso de alguns anos pela areia desportiva, muitas vezes me pergunto se é preferível ser actor ou figurante. Andar ou ficar sentado na areia?
O seu contributo avivou essa questão...
publicado por João Almeida às 20:29 0 comments Labels: Gestão desportiva, Política desportiva
Falar e fazer
publicado por josé manuel constantino às 13:47 9 comments Labels: Política desportiva
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
A parcimónia no doping
A situação resume-se com parcimónia.
Dois atletas federados na Federação Portuguesa de Atletismo viram os seus procedimentos disciplinares arquivados pelo Conselho Disciplinar daquela federação desportiva.
Com parcimónia se dirá que tal arquivamento se ficou a dever ao entendimento que as notificações efectuadas aos atletas, pelo CNAD, foram ineficazes, não tendo sido validamente efectuadas.
O CNAD recorreu para o Conselho Jurisdicional da Federação Portuguesa de Atletismo.
““Por questão de parcimónia, entendeu-se não revelar as razões objectivas pelas quais o recurso foi interposto, já que é matéria constituinte do processo. Tudo foi analisado com bastante detalhe”, disse, à Lusa, Luís Sardinha.
Esta situação conduz-nos ao passado aquando da alteração do diploma sobre o doping, o Decreto-Lei nº. 183/97 de 26 de Julho, efectivada pelo Decreto-Lei nº 192/2002, de 25 de Setembro, que veio a conferir legitimidade ao CNAD para interpor recurso das decisões dos órgãos disciplinares das federações desportivas, para os respectivos conselhos jurisdicionais.
Peço desculpa pela citação legal, que compreende o novo (e aditado) nº2:
Artigo 12.º
Instância de recurso
1- As federações desportivas devem dispor de uma instância de recurso para a qual o agente desportivo arguido como responsável pela dopagem detectada possa recorrer, a qual deverá ser uma entidade diversa e independente da que o sancionou em 1.ª instância.
2- Sem prejuízo da legitimidade conferida a outras pessoas ou entidades, é sempre admissível recurso por parte do Conselho Nacional Antidopagem de todas as decisões de arquivamento, absolvição ou condenação proferidas pelo órgão jurisdicional de primeira instância.
Bem cedo criticámos esta posição do legislador, na altura motivada por “divergências” entre o Instituto Nacional do Desporto e a Federação Portuguesa de Futebol, sobre os casos de doping que foram detectados no seio do futebol e o subsequente arquivamento de alguns processos disciplinares.
E, entre outras, a nossa discordância fundamental, localiza-se no facto de o CNAD, órgão máximo em termos de política e acção antidopagem, como que ficar «nas mãos» de um órgão federativo.
Mas o governante de então (?), Senhor Hermínio Loureiro, desejava uma solução que satisfizesse «ambas as partes», como se o Governo devesse arbitrar um diferendo entre um organismo dele dependente e uma federação desportiva. Como se o Governo não fosse parte.
Mas, acima de tudo, devemos agir com parcimónia, principalmente quando toda a matéria do combate à dopagem se apresenta num crescendo de complexas questões jurídicas. Sempre o Direito, como é natural, a perturbar a tranquilidade desportiva.
E, com elevadas doses de parcimónia, tem andado este Governo, do Dr. Laurentino Dias.
Parcimónia na aprovação da Convenção da UNESCO contra a dopagem no Desporto, ao ponto de, para se subtrair à Assembleia da República, ter incorrido em manifesta inconstitucionalidade.
Parcimónia no inquérito determinado (?) à Federação Portuguesa de Futebol na sequência do “Caso Assis” e da homologação do parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República. E, aqui, a parcimónia é mesmo sinónimo, se não de omissão, pelo menos de um prolongado e bem condenável silêncio, por parte do IDP.
Parcimónia no cumprimento da promessa de nova legislação sobre o combate ao doping.
Parcimónia, por fim (?), na também bastas vezes prometida criação da Autoridade Antidopagem de Portugal.
publicado por José Manuel Meirim às 12:06 5 comments Labels: Administração Pública Desportiva, Ética desportiva, Lei e desporto
Nada de novo!
Tendo ainda como referência o apoio do Município de Sintra ao basquetebol profissional do Queluz, com lugar de assento a um elemento da autarquia na comissão de gestão do clube, a Câmara Municipal de Sintra volta a inovar nas suas políticas desportivas.
Desta feita, foi aprovada por unanimidade em reunião de câmara a compra dos terrenos ocupados pelo campo de futebol do Ginásio Clube 1º de Maio de Agualva por 310 mil euros, e entretanto penhorados às Finanças, como forma de regularizar as dívidas ao fisco do clube.
Segundo o vereador do pelouro do desporto "A câmara não vai resolver o problema fiscal do clube, mas comprar um terreno que permitirá desenvolver um projecto integrado sem prejudicar os interesses desportivos do Agualva".
A forma como alguns autarcas lêem as suas competências no desenvolvimento desportivo local ao optar por dar a mão a clubes falidos e premiar a má gestão desportiva, muitas vezes com uma discricionariedade absoluta nos critérios de apoio ao movimento associativo e contornando normas legais que comandam a acção da Administração começa a ser prática comum...
Nesta conjuntura o respeito e o labor em torno das reais e pungentes carências desportivas da generalidade dos cidadãos (eleitores e contribuintes) toma o lugar de excepção. A implementação de projectos de fomento da prática desportiva para a população, realmente geradores de valor desportivo local, promotores de desenvolvimento e com impacto nos hábitos de sedentarismo e nos índices vergonhosos de desportofobia deste país não são, em muitos casos, prioritários ou até importantes.
Continua-se a reproduzir os erros do passado e a construir a casa pelo topo. Continua-se a não prestar contas pelas opções políticas tomadas, ou quando se prestam não se procede de modo a serem realmente escrutinadas por quem as financia - os cidadãos. Tudo isto não é nada de novo.
Entretanto na Madeira tudo vai bem. Nada de novo! O Governo Regional deliberou a transferência gratuita e a título definitivo do Estádio dos Barreiros e terrenos anexos para a Sociedade Desportiva Marítimo, dados os relevantes fins de interesse público "sobejamente fundamentados, quer pelo facto de a própria Região Autónoma deter quarenta por cento do património desta sociedade, quer pelos seus pressupostos jurídicos"!!!!. Pena é que não sejam do conhecimento público as condições e encargos a que fica sujeita a cessão, conforme estabelece o artigo 2.º, n.º 3 do Decreto Legislativo Regional n.º 42/2006/M.
Eu gostava que isto fosse um pesadelo, mas não é!
No Portugal do monopólio da via legislativa, produzida em relação inversa à sua aplicação, fiscalização e supervisão (veja-se o caso, neste dia especial, da legislação sobre eliminação de barreiras arquitectónicas, onde se "chutou para canto" o diploma de 97). No monopólio do doce conforto da regulamentação obscura e hermética ao comum dos mortais, onde há sempre uma omissão ou uma excepção oportuna e conveninente. Onde ainda há pouco tempo se tinha de pagar e escrever num papel timbrado para o Estado se dignar a responder-nos após um labiríntico percurso procedimental (valha-nos a obrigatoriedade de 10 dias que o CPA prevê nunca ter sido levada a sério), cidadão e Administração continuam, como no passado, de costas voltadas, salvo honrosas excepções onde o desporto não se inclui. Para exigir respeito é preciso dar-se ao respeito.
Nada de novo!
publicado por João Almeida às 01:29 1 comments Labels: Desporto autárquico, Desporto profissional, Financiamento do desporto
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Dia Internacional das Pessoas com Deficiência
Todos temos a convicção que não se trata de mera retórica associativa, por isso num enquadramento social das pessoas com deficiência envolto em tamanhas dificuldades, o desporto tem marcado pontos e muitos mais ainda poderá marcar, no sentido de contribuir para a felicidade de muitas delas.
Hoje, destaco uma das muitas lições de vida que recebemos das pessoas portadoras de deficiência e abro neste espaço esta temática para ulteriores reflexões. Por isso:
- Quando tiver dias em que o acordar seja difícil;
Veja e recomende este vídeo, por favor!
publicado por Maria José Carvalho às 13:19 5 comments Labels: Cidadãos com deficiência, Mulheres e Desporto
domingo, 2 de dezembro de 2007
Em cima do acontecimento
publicado por josé manuel constantino às 19:33 0 comments Labels: Ética desportiva
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
O Nacionalismo Oval
Depois de mais um sorteio para mais uma fase de apuramento para mais uma grande competição internacional, logo surgiram vozes - o televisivo Rui Santos, por exemplo - a reclamarem a criação de duas divisões europeias que separassem o "trigo" do "joio", a fim de assim se evitar que as selecções de maior nomeada tivessem que realizar jogos cansativos que só servirão para cumprir calendário. Assim, a selecção de Portugal não deveria ter que jogar com os seleccionados da Albânia e de Malta.
Não vou discutir os méritos e os deméritos destas propostas. Mas vale assinalar que elas acompanham uma certa "sensibilidade geopolítica", sensibilidade que se mostra cada vez mais irritada com toda a conflituosidade política associada aos nacionalismos de leste e que começa agora a deixar para trás a euforia celebratória que antes brindara o estilhaçamento nacionalista da URSS e da Jugoslávia. (O mesmo, embora com contornos diferentes, sucede a respeito de Timor). Resta saber se estas propostas que defendem uma competição a "duas velocidades" têm cabimento no quadro das actuais tendências da economia mundial do futebol profissional, tendências marcadas pela lógica de expansão capitalista do jogo.
Acrescento, no entanto, um argumento que os patriotas lusitanos podem brandir a favor das "duas velocidades" e da tese da separação do "trigo" do "joio": é que assim sempre evitavam os empates entre o trigo e o joio, como aquele 1-1 obtido por Portugal na Arménia. Por outro lado, convém não menosprezarmos as vantagens das teses das "duas velocidades": seguindo estas teses, teríamos sido poupados, por exemplo, aos inúmeros elogios feitos à selecção portuguesa de rugby no recente mundial da modalidade.
Ressalvo, por fim, que nada me move contra o rugby. Pelo contrário. É porque a modalidade me interessa que ademais critico a onda nacionalista que sobre ela se abateu no Verão passado. Isto porque quer-me parecer que a forma como alguns jogadores e muitos propagandistas e marketeiros do rugby comentaram a performance da selecção portuguesa se limitou a reproduzir os estereótipos mais simplistas que pairam sobre uma modalidade complexa: a ênfase colocada em virtudes como a "honra", a "coragem" e a "bravura", cristalizadas no episódio da berraria do hino nacional, acabou por reduzir, uma e outra vez, a complexidade de um jogo inteligente à imagem primária da força bruta.
O cunho aristocrata da modalidade - sublinhado aqui e ali nos elogios ao amadorismo de grande parte dos jogadores - parece aliás dar-se bem com estas virtudes guerreiras. Assim é em Portugal mas também noutras paragens: pelas ruas de Buenos Aires, podia-se ver recentemente um outdoor da VolksWagen (que julgo também ter apoiado a selecção de rugby portuguesa) no qual se legendava a equipa de rugby argentina com um slogan que, mais coisa menos coisa, rezava assim: "animais que se comportam como cavalheiros".
publicado por Zé Neves às 15:03 2 comments Labels: Modalidades desportivas, Nação desportiva
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
17 anos depois, Justiça!
Desta vez, e a evidenciar que estes problemas não são, claro está, exclusivamente internos, um clube espanhol, o Obradoiro Club de Amigos do Baloncesto, viu ao fim de 17 anos as suas pretensões atendidas num contencioso com origens na eliminatória de subida à competição da Asociación de Clubs de Baloncesto (ACB) na época desportiva de 1989-1990.
Para além da leitura jurídica da sentença do Tribunal Supremo relativo ao “Caso Obradoiro”, que ditou a readmissão deste clube na competição da ACB nas mesmas condições de 1990, será sobretudo interessante acompanhar o desfecho desportivo em concreto, ou seja verificar se existirá ou não, e em que moldes, a reintegração do Obradoiro naquela competição.
Situação que o presidente do clube já adiantou que passará por aquilo que a cidade de Santiago quiser. Veremos se não estamos no início de um novo processo de venda de direitos desportivos tal como no caso bem recente do Granada 74.
publicado por Maria José Carvalho às 22:05 3 comments Labels: Desporto profissional, Lei e desporto, Modalidades desportivas
Como é que isto ainda funciona?!
Já aqui se abordou por várias vezes a definição (ou falta dela) de politicas públicas para o desporto.
A definição de políticas, no desporto ou em qualquer outro sector, parte do diagnóstico dos problemas existentes, para a hierarquização de prioridades e alocação de recursos em torno de medidas que visam atingir determinados objectivos e desencadear impactos geradores de desenvolvimento para suprir as carências diagnosticadas e criar valor social.
A regulação, ou melhor, a regulamentação (conceitos diferentes) é apenas um dos instrumentos de políticas públicas que o Estado tem usado em abundância para o desporto, olvidando todos os demais.
Numa época em que a escassez de recursos, incertezas e dinâmicas sociais que “aceleram o tempo e deslocalizam o espaço” as soluções do passado requerem um reequacionamento. Aqui, as funções do Estado assumem lugar de destaque. O Estado, como profetizou Bell, é demasiado pequeno para os grandes problemas da vida e demasiado grande para os pequenos problemas da vida.
Parece evidente, como afirma José Manuel Constantino, que o ideário socialista de sociedades mecanicistas centralizadas e planeadas pelo Estado está, há muito ultrapassado, particularmente em domínios sociais que nasceram à margem dos poderes públicos, como é o caso do desporto.
Ora, isto não significa que não se defina, na construção e implementação de politicas desportivas, um fio condutor para, “step by step”, se passar da situação desportiva actual, à situação possível ou desejável, seja ela qual for.
Para isso urge passar da ideologia do plano como produto, típica do catecismo do planeamento clássico - sectorial, normativo, rígido e orientado pela oferta, para o planeamento como processo, de cariz estratégico, evolutivo, prospectivo, participativo, flexível, responsabilizador e orientado pela procura.
Quando ainda se pergunta quanto custa o Estado e se esquece de perguntar quanto vale o Estado vemos que o caminho a percorrer é longo. Quando se ambiciona em ter o modelo do CONI em Portugal...
Se a isso juntarmos uma contabilidade pública baseada em inputs e despesas de caixa, tornando impossível uma contabilidade analítica eficaz de cariz patrimonial que permita identificar claramente o valor criado para o financiamento público no desporto (value for money)...
Seria interessante perceber porque motivo, no meio de tantas reformas do Estado, não se aborde em profundidade a reforma do processo orçamental, que permita distinguir a boa gestão de dinheiros públicos. Tema essencial e transversal a todas as politicas públicas.
Hoje quando se olha para um qualquer plano ou relatório de actividades de um organismo público, tudo está “em curso”, em “fase de desenvolvimento” e “implementação”. Só quando as direcções estão para sair as coisas assumem outra tonalidade.
Hoje em dia o Estado é cada vez maior, independentemente de ter um carácter mais interventivo ou regulador, uma administração mais directa ou indirecta, mais burocrática ou empresarial. O Estado acolhe cada vez mais necessidades dos cidadãos.
O desporto é uma área onde o Estado tem e terá responsabilidades. Cabe-lhe ser eficiente no cumprimento das suas atribuições, não esquecendo a diferença entre cidadão e cliente nas políticas que concretiza e no serviço público desportivo que promove.
É dos livros que o Estado é um reflexo da sociedade. Enquanto pensarmos que o Estado são “eles” vamo-nos apenas espantando, como diria voz amiga: “Como é que isto ainda funciona?!”
publicado por João Almeida às 19:02 10 comments Labels: Financiamento do desporto, Política desportiva