segunda-feira, 30 de maio de 2011

Passagem de testemunho

De Pedro Marques Vidal (Professor de Educação Física e Gestor Desportivo) recebemos este texto que a Colectividade Desportiva agradece vivamente.

Olho para o estado actual do Desporto em Portugal e vejo uma prova de estafetas 4x100m, onde a equipa portuguesa falha o acesso ao pódio por dificuldades na passagem de testemunho. Triste sina a nossa de “morrer na praia” apenas por falha em pequenos detalhes. Amanhã vamos acordar e unidos na revolta vamos procurar encontrar culpados que justifiquem o infortúnio, ao invés de procurar encontrar soluções.
Na pista ao lado corre a Espanha (eterno rival lusitano), país este que teve em 1992, com a realização dos Jogos Olímpicos de Barcelona, uma oportunidade para ganhar, e adivinhe-se… agarrou-a.
O país vizinho reestruturou o seu sistema desportivo, criou e melhorou equipamentos desportivos, construi-os a pensar no futuro, rentabilizou-os, criou centros de formação, formou atletas, pensou a longo prazo, mas acima de tudo apostou no desenvolvimento do potencial humano. Formaram-se dirigentes, formaram-se gestores desportivos, formaram-se treinadores, formaram-se professores, educou-se cultural e desportivamente toda uma população, desenvolveu-se uma cultura de vitória.

Muito do que se fez na Espanha, também foi feito por cá, na memória tenho pistas de atletismo, piscinas, campos de futebol, uns ditos estádios de topo mundial hoje ao abandono, inúmeros projectos e programas de apoio.

A diferença entre fronteiras reside no facto dos espanhóis terem passado o testemunho. Deram oportunidade para que gente com formação, dinâmica, proactiva e com ideias inovadoras, tomasse o comando de clubes, associações, federações e demais instituições desportivas. Resultado desta passagem de testemunho: títulos, na Fórmula 1, no Ténis, no Ciclismo, no Atletismo, no Futebol, no Basquetebol, no Hóquei, entre outros. A par deste sucesso desportivo destaco ainda o contributo de politicas eficazes de combate ao sedentarismo e consequente contributo para a saúde de toda a população.

Portugal por outro lado estagnou, continuou a acreditar que o sucesso é sinónimo de sorte e que com as mesmas pessoas e as mesmas politicas os resultados de outrora voltariam a aparecer.
Está na hora de passar o testemunho, está na hora de inovar, fundamentalmente ao nível do dirigismo centrado no voluntarismo, do eu é que fiz, eu é que sei. O Futebol, por estranho que pareça, e por se tratar de um negócio, já o fez (ainda que limitado ao nível técnico), arriscou em técnicos jovens, ambiciosos, com mentalidades e metodologias diferentes e inovadoras. O Futebol saiu a ganhar.
Para atingirmos a excelência desportiva precisamos de lideres políticos, gestores e dirigentes que saibam escutar e questionar, saibam dialogar de uma forma construtiva, sejam reflexivos, dêem valor às pessoas e as incentivem a uma melhoria de desempenho, sejam mobilizadores, sejam capazes de reinventar procedimentos para rentabilizar instituições, sejam capazes de desenvolver processos de racionalização das despesas e incremento das receitas, que se actualizem e que não sejam adversos à mudança, que procurem desenvolver uma cultura de vitória.

Em época de eleições arrisco num apelo aos políticos e aos dirigentes desportivos – Passem o Testemunho, deixem-nos mostrar o nosso valor!

domingo, 29 de maio de 2011

Somente umas normas ou um sistema a revogar?

É já do conhecimento público o teor do Relatório e do Projecto de diploma elaborado pela Comissão para a Justiça Desportiva.
Esta comissão foi criada por Despacho conjunto do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto e do Secretário de Estado da Justiça (Despacho nº 14534/2010, publicado no Diário da República, II Série, de 20 de Setembro de 2010), tendo por mandato promover uma adequada conexão entre a justiça e o desporto, formulando propostas de diplomas legais no sentido de se alcançar uma justiça desportiva especializada, uniformizada e simultaneamente mais célere e segura».
A Comissão foi integrada, entre outros membros, por docentes universitários que, assim julgo, ninguém ousará colocar em crise a sua idoneidade técnica.
Pode-se não concordar com as suas propostas e respectiva sustentação. O que não se pode é diminuir a sua capacidade como docentes de Direito e, num aspecto particular, no universo jus científico do Direito Constitucional e do Direito Administrativo.

O texto vai ser objecto, assim se anseia, de leitura crítica e de debate.
Nós próprios tentaremos contribuir para a consolidação desse espaço.
Seja-me permitido, por ora, congratularmo-nos pelo acolhimento de duas nossas posições, de há muito sustentadas.

O projecto, na sua norma revogatória, presente no artigo 59º, estabelece o seguinte:

São revogados:
a) O artigo 18º da Lei nº 5/2007, de 16 de Janeiro;
b) O artigo 12º do Decreto-Lei nº 248-B/2008, de 31 de Dezembro;
c) Os nºs 2 a 5 do artigo 57º da Lei nº 27/2009, de 19 de Junho.


O artigo 18º (Justiça desportiva) da Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto (Lei nº 5/2007, de 16 de Janeiro) determina:

1. Os litígios emergentes dos actos e omissões dos órgãos das federações desportivas e das ligas profissionais, no âmbito do exercício dos poderes públicos, estão sujeitos às normas do contencioso administrativo, ficando sempre salvaguardados os efeitos desportivos entretanto validamente produzidos ao abrigo da última decisão da instância competente na ordem desportiva.
2.Não são susceptíveis de recurso fora das instâncias competentes na ordem desportiva as decisões e deliberações sobre questões estritamente desportivas.
3.São questões estritamente desportivas as que tenham por fundamento normas de natureza técnica ou de carácter disciplinar, enquanto questões emergentes da aplicação das leis do jogo, dos regulamentos e das regras de organização das respectivas competições.
4.Para efeitos do disposto no número anterior, as decisões e deliberações disciplinares relativas a infracções à ética desportiva, no âmbito da violência, da dopagem, da corrupção, do racismo e da xenofobia não são matérias estritamente desportivas.
5.Os litígios relativos a questões estritamente desportivas podem ser resolvidos por recurso à arbitragem ou mediação, dependendo de prévia existência de compromisso arbitral escrito ou sujeição a disposição estatutária ou regulamentar das associações desportivas.

Por seu turno, no artigo 12º (Justiça desportiva) do regime jurídico das federações desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva (Decreto-Lei nº 248-B/2008, de 31 de Dezembro), estabelece-se:

Os litígios emergentes dos actos e omissões dos órgãos das federações desportivas, no âmbito do exercício dos poderes públicos, estão sujeitos às normas do contencioso administrativo, ficando sempre salvaguardados os efeitos desportivos entretanto validamente produzidos ao abrigo da última decisão da instância competente na ordem desportiva.


Por último, os nºs 2 a 5 do artigo 57º (Aplicação de sanções disciplinares) da Lei nº 27/2009, de 19 de Junho (Estabelece o regime jurídico da luta contra a dopagem no desporto):


1. - A aplicação das sanções disciplinares previstas na presente lei compete à ADoP e encontra-se delegada nas federações desportivas titulares do estatuto de utilidade pública desportiva, a quem cabe igualmente a instrução dos processos disciplinares.
2 - As federações desportivas devem dispor de uma instância de recurso, para a qual o agente desportivo sancionado possa recorrer, sem efeito suspensivo, a qual deve ser uma entidade diversa e independente da que o sancionou em primeira instância.
3 - Entre a comunicação da infracção a uma norma antidopagem e a aplicação da correspondente sanção disciplinar não pode mediar um prazo superior a 60 dias.
4 - A ADoP pode, a todo o tempo, avocar a aplicação das sanções disciplinares, bem como alterar as decisões de arquivamento, absolvição ou condenação proferidas por órgão jurisdicional de uma federação desportiva, proferindo nova decisão.
5 - Da decisão proferida pela ADoP cabe recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto de Lausanne.


Com a revogação proposta para estas normas, adianta-se, como sempre defendemos, um conceito de questão estritamente desportiva que, a existir, afasta a impugnação junto dos tribunais.
A Comissão exclui da competência do Tribunal Arbitral (Artigo 6º, nº 5), a resolução de questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares directamente respeitantes à prática da própria competição desportiva.
E só destas.

E quanto à acção disciplinar em matéria da dopagem, a Comissão chega mesmo a referir expressamente que a regulamentação actual “é tudo menos juridicamente canónica”.

Se outra valia não teve o labor desta Comissão – e há que reconhecer que teve e bastante –, fica a leitura que deita por terra muitas posições peregrinas, normas inconstitucionais e um quero, posso e mando que em nada pode conferir qualidade e segurança à aplicação da justiça desportiva.




terça-feira, 24 de maio de 2011

Enigma

As propostas programáticas do PS e PSD para o desporto são menos do mesmo. E dos outros nem vale a pena falar. Não há uma novidade, uma proposta original ou um olhar diferente sobre o sector. É uma narrativa exausta. Tão pouco se aborda de modo concreto, e não vago, a incidência que o cenário macroeconómico e o controlo sobre a dívida pública vão colocar ao sistema desportivo. Aparentemente o desporto gozará, na perspectiva dos responsáveis políticos, de uma autonomia especial, que não carece de enquadramento específico. Ou então é irrelevante. E da parte das organizações desportivas não se conhece qualquer réplica. Tudo está bem, e ficará melhor, se o financiamento público do Estado não tiver reduções muito significativas.

O sistema desportivo vive, de há muito, sequestrado, desvitalizado e resignado perante as políticas públicas. Não tem pensamento, nem voz própria. Sofre de um tropismo sistémico incapaz de ver para além do aggiornamiento da agenda politica. O efeito das políticas de impacto positivo imediato incapacita-o de avaliar os efeitos marginais decrescentes que só o tempo traz, mas que consomem, e depois agravam, os efeitos positivos imediatos. O que se passou com os estádios do Euro passar-se-á com os centros de alto rendimento. Passa-se com o dinheiro público gasto em grandes eventos. Passa-se com muitas das infra-estruturas. Passa-se com a delegação de poderes públicos nas federações desportivas. Políticas públicas e associativas ignoram as variáveis externas que condicionam a produção de resultados desportivos. E deixaram de ter prospectiva. Não porque assim o desejem. Mas porque o modelo porque optaram a isso as conduz. A política desportiva baixou a uma técnica de gestão de factos desportivos. Umas vezes bem, outras assim-assim. Que ninguém sabe como ultrapassar. Nem como falar dos problemas. E um sistema desportivo sem questionamento caminha para a crescente perda de valor. Esta tendência não é exclusivamente nacional. A diferença está no que nos separa. Que tornam os efeitos das oscilações de conjuntura mais severas e com resultados mais difíceis de reverter.

O encarecimento dos bens e serviços desportivos e a redução do rendimento disponível das famílias faz prever uma retracção no consumo desportivo; uma parte significativa do tecido associativo terá acrescidas dificuldades por força da limitação dos financiamentos com ori gem na administração local; seria indispensável um plano de redução da despesa com o funcionamento da máquina do Estado central e local que libertasse alguns meios para o sector desportivo; eliminar o que são despesas desnecessárias, investimentos mal dirigidos, recursos pouco aproveitados, estímulos a uma culta desregrada de despesas.

Constitui para mim um enigma que pessoas informadas e cultas conhecedores dos processos de desenvolvimento desportivo optem pelo silêncio. Como compreender essa atitude? Aparentemente, poderes públicos e associativos, parecem estar mais preocupados em cuidar do modelo em que assenta o sistema desportivo que em apresentar soluções alternativas. Em mudar o menos possível. Parece que nada aconteceu no país. E que a ajuda externa que fomos obrigados a pedir não vai impor quaisquer restrições ao desporto nacional. Tudo se aceita e interioriza como um mal menor que não provoca qualquer reacção de mudança. Ou seja, é para continuar. É para resignar. Aceitando um sistema desportivo crescentemente mais administrativo, mais regulado, mais burocratizado e mais público. E, com tudo isso, mais pobre.

sábado, 21 de maio de 2011

Quem vier estará confortável

O contacto regular com a realidade europeia apura a percepção em relação ao modelo de desenvolvimento desportivo de Portugal com os dos nossos parceiros da UE. No follow-up do Livro Branco sobre o Desporto começam a surgir estudos e documentos que a Comissão disponibiliza ao público interessado com informação relevante até então circunscrita a círculos restritos.

Em traços gerais, torna-se assinalável uma tradição de forte intervenção do Estado - através de financiamento, regulação e infra-estruturação desportiva - com vista a conferir competitividade europeia ao sector, a qual, porém, não se traduz numa evolução - contínua, permanente e duradoura - dos indicadores disponíveis, quer no que respeita aos praticantes desportivos regulares, quer nos resultados de excelência alcançados.

Portugal - com períodos melhores do que outros - parece não descolar da cauda do pelotão europeu, ainda que o valor per capita investido no desporto não seja despiciendo. Outros há que com menos fazem mais.

Ora, a história corre à nossa frente e vai pondo a nu as debilidades de um modelo disfuncional e a premência de um novo ciclo de desenvolvimento que não passa apenas pela mudança dos protagonistas, mas por uma definição clara das atribuições e competências dos vários operadores - públicos, empresariais e associativos - do sistema desportivo, numa orientação estratégica projectada para um futuro sustentável com base num programa com objectivos e prioridades claras temporalmente definidas.

Esta é uma daquelas frases que caiem bem num artigo, mas pouco acrescentam ou avançam junto de quem procura estudar alternativas num contexto onde se torna clara a escassez de recursos para bens e consumos não essenciais como é o caso do desporto.

Observamos a canalização de recursos para o desporto federado e, dentro deste, para a componente de alto rendimento. Assistimos ao definhar do desporto escolar. Espantamo-nos com o endividamento de autarquias locais na construção de espaços desportivos monumentais com níveis residuais de utilização, ou no esforço financeiro que estas desenvolvem para suportar os centros de alto rendimento que o poder central inaugura com pompa. Criticamos uma fiscalidade mais elevada ao praticante do que ao espectador. Verberamos contra o débito regulador ineficiente.

No entanto, perante a expressão destas e de outras medidas nos indicadores débeis de difusão da prática desportiva - afinal o objectivo cimeiro que a Lei Fundamental estabelece e uma base importante para catapultar o país desportivo para outros patamares - somos incapazes - e aqui se incluem governos e autarquias, partidos políticos, mas também federações e instituições de ensino superior - de lograr reunir a capacidade, congregar esforços e a clarividência de um projecto para o futuro que rompa com o imediatismo e os interesses instalados da contingência do momento presente, que no fundo mais não fazem do que criticar o status quo, exigindo menos Estado e mais apoio público.

A pobreza de reflexão institucional sobre política desportiva em Portugal torna a opinião pública refém da opinião publicada, e esta navega de vela panda na espuma dos dias sobre os fait divers mediáticos. Neste cenário não espanta, pois, que um político com um pedigree de vários anos, como é o caso do actual titular da pasta do desporto, ao deslocar-se junto dos representantes eleitos pelos portugueses para prestar contas da sua governação se passeie perante as debilidades confrangedoras dos deputados na forma como o confrontam com a sua acção governativa; ou que, sem consequências políticas, se passe um pano sobre os objectivos com que o movimento olímpico se comprometeu com o Estado português.

Perante esta encruzilhada, quem quer que venha a assumir o poder continuará confortável para operar como uma empresa política que manobra para a agenda mediática em função de calculismos de custos de oportunidade e da correlação de forças dos interesses em jogo, numa área pouco problemática para a rodagem de quadros político-partidários.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Viva o desporto na Faculdade de Desporto da UP

Sexta-feira e sábado próximos realiza-se a I Convenção Internacional de Gestão do Desporto, na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

O programa sendo aliciante não é aquilo que, agora, se pretende enfatizar.
O que verdadeiramente é digno de registo – inclusive para outras escolas reflectirem sobre a iniciativa – é que a organização assenta, no fundamental, num grupo de alunos daquela escola.
Estudantes dos três ciclos de estudos compõem a Comissão Organizadora e os colaboradores mais directos também nesse universo têm a base do seu recrutamento.

Um evento desta grandeza, com este modelo de organização, só pode ser algo de muito positivo para os futuros gestores desportivos. Por isso e muito mais, a manifestação do nosso apoio e o envio dos nossos parabéns.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Alhos e bugalhos, Basquetebol e Futebol

Considero pessoalmente que a escrita nos jornais desportivos deu um enorme salto qualitativo, principalmente porque se deixou de ver alguns erros que eram algo usuais e denegriam a qualidade que os jornais apresentavam e apresentam.

Continuo a ser um habitual leitor dos jornais desportivos, hábito que muitas das vezes não proporciona grandes benefícios, mas a tradição em algumas vertente ainda se mantém. Numa das leituras li uma crónica do jornal 'A Bola' no dia 7 de Maio, que qualifica a posse de bola do futebol do Barcelona como falta de fair-play por parte do clube relativamente aos seus adversários.

Vai mais longe dizendo que o clube apenas a faz para que os adversários não tenham posse de bola e assim evitando que os adversários possam criar lances de perigo (pensava eu que era lógico que assim fosse). Afirma e compara os papéis da FIBA e da FIFA. A intervenção de uma e de outra entidade responsável a nível mundial pelas modalidades de Basquetebol e de Futebol/Futsal.

Por partes! Ao contrário do que escreve, a equipa do Barcelona troca muitas das vezes a bola no campo adversário quando não chega a ser quase provocatório quando o faz dentro da área dos adversários. A equipa cria oportunidades de perigo. Marca golos. Possui a bola mais tempo não só porque a possui mas também porque a recupera tão rápido que faz com que outro clube recheado de excelentes jogadores a tenha de pontapear para a frente tal a incapacidade de a reter. Não faz de uma equipa melhor que outra, apenas são estratégias diferentes.

Os resultados ditam na verdade as equipas. As equipas precisam de resultados. O Barcelona fica na história como um dos melhores 'futebóis' que se viu. Não porque esconde a bola dos adversários, mas porque a consegue manter durante os tais 70's % de tempo útil do jogo. E já agora, porque também tenho ganho títulos.

Quanto à comparação entre a FIBA e a FIFA, a primeira é provavelmente a Federação Internacional que melhor e de forma mais célere se adapta aos espectáculo e procura satisfazer o serviço e produto que oferece aos adeptos de Basquetebol. Umas vezes a reboque da NBA, mas o Basquetebol é provavelmente em todos os aspectos a modalidade colectiva mais completa. Por si só, considerar ou querer comparar o papel da FIFA ao pé da FIBA é...não tem comparação. A FIFA demora anos a alterar algo. A FIBA altera de uma época para outra.

A FIBA passa para os 30'' e depois 24'' porque quer mais ataques. Mas dar tempo de jogo limite às equipas de Futebol não significa que a mesma ataque. Porque não impede que a outra defenda. As estruturas e as dimensões e principalmente a cultura existente nas duas modalidades não 'deixam' que tal alguma vez possa vir a existir.

São opiniões, umas vezes mais subjectivas outras mais objectivas.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O que cada um é,não são os outros que têm a culpa

Declaração prévia: não sou uma pessoa isenta na avaliação e nos comentários seguintes. Mas procuro não trazer mais achas para a fogueira. E sobretudo não prejudicar uma análise fria da situação com problemas e apreciações de índole pessoal. Limito-me, ou pelo menos tento, apreciar o que foi dito por um dirigente desportivo a propósito de um governante.
Pinto da Costa referiu-se ao homem do leme do nosso desporto em termos que são conhecidos. Aparentemente porque o governante terá publicamente referido que sendo do distrito de um dos competidores na final de Dublin preferiria que esse fosse o vencedor. O que disse é normal, razoável e a não justificar uma réplica à medida que recebeu. O facto de ser governante em nada belisca o poder exprimir uma simpatia pessoal por este ou aquele clube. E essa simpatia em nada prejudica a equidistância que no exercício das funções públicas deve ter para com todos os clubes. O da sua simpatia e os outros. É preferível que o assuma a que invoque uma falsa neutralidade. O que ouviu, e que o país conhece, só pode ser entendido à luz de um efeito conjugado de outros factores. Uns imagino quais sejam. Outros não. Nem é importante. O problema é outro.
Um governante deve dispor de uma dignidade institucional acima de apreciações que ferem elementares patamares de respeito pelas funções públicas que exerce. A pessoa e o político podem merecer a nossa desaprovação. A tendência para dar expressão pública a essa desaprovação pode ser grande. Mas a um dirigente de uma instituição de utilidade pública pede-se contenção e sentido de responsabilidade. Mesmo quando o criticado se coloca a jeito, não tanto pelo que é invocado, mas por um magistério de ausência de elementares regras de prudência, isenção e humildade no exercício das funções públicas. O caso “Carlos Queiroz”demonstra-o. Quando quem governa perde muitas vezes a noção do limite, os governados perdem-lhes o respeito.
As minudências do caso ficarão para os protagonistas. O que virá a seguir para os adeptos das telenovelas. Para já fica uma lamentável ocorrência. Alguém dizia, perante o caso, que quem semeia ventos colhe tempestades. Não sei se é assim. Há tempestade que aparecem sem ventos. E há muito vento semeado que não desencadeia tempestades. E não é primeira vez que alguém é censurado pelo mal que não fez. E inocentado pelo muito que tramou.
Para quem acompanha a vida desportiva nacional, porventura, o facto nem merece grande perda de tempo. Os adversários de hoje afinal foram os companheiros de ontem. E bem podem ser os aliados de amanhã. É a vida. E dela só receio que se perca a memória. De que amanhã nos esqueçamos do que hoje acontece. Que no futuro a historia seja reescrita. Não a partir dos factos. Mas de uma revisão e selecção de apenas alguns deles. É que, perante o futuro, poderemos sempre corrigir comportamentos e trajectórias. Mas não podemos mudar o passado. Ele persegue-nos sempre no presente. Mesmo quando aparentemente está ausente. E por isso se diz que levamos uma vida inteira para nos desfazer da criança que habita em nós. O que se passou naquela tarde na cidade do Porto confirma que mais importante do que querer dar nas vistas é saber dar ouvidos. Nunca é tarde para aprender. Mas por vezes já é demasiado tarde para se demonstrar que se aprendeu.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Efeito marginal?

O Presidente do Comité Olimpico de Portugal tem a expectativa de que nos Jogos Olímpicos de Londres os resultados dos atletas portugueses superem os de Pequim. E o homem do leme do nosso desporto entende que os anunciados cortes no financiamento às federações desportivas não vão colocar em causa os objectivos desportivos previstos. Oxalá acertem nos prognósticos. Mas se acertarem fica a descoberto um problema. E não é uma desgraça. Mas uma boa notícia: é possível obter melhores resultados com menos meios. E por isso as suas declarações merecem reflexão.
Vejamos a coisa assim: os meios financeiros disponibilizados às federações desportivas servem para a obtenção de objectivos. Que tendo uma expressão prática no grau de competitividade que alcançam nas respectivas modalidades se avaliam também pela consecução dos objectivos gerais de cada uma das federações desportivas. Se com menos meios financeiros disponíveis os objectivos são do mesmo modo alcançados isso significa que é possível, não prejudicando os resultados, reduzir os financiamentos. Parece simples. Continuemos então. Porventura houve situações em que o insucesso não podia ser explicado pela diminuição de meios. Mas foi. Então precisamos de virar o disco. E não tocar o mesmo. Se a redução de financiamento não é crítica para a obtenção de resultados de nível elevado, no caso da participação olímpica a expectativa é até de que sejam ultrapassados, isso é uma boa noticia para o desporto nacional. E para as finanças públicas. E obriga-nos a repensar todo o quadro mental dos factores limitativos de um aumento da capacidade competitiva do desporto nacional, muitas vezes atribuído à insuficiência do financiamento público. Temos, afinal, que nos virar para outros factores que explicarão essa limitação. Mas o mais prudente é aguardar. E fazer como o outro: prognósticos só no fim.
Os estudos de âmbito económico que nos permitam conhecer, com precisão, a relação dos resultados alcançados com os custos da produção desportiva ajudariam à compreensão das declarações inicialmente referidas. E perceber se de facto o nível da redução do financiamento é inócuo. Como dizem os economistas se tem um efeito marginal.
Um optimista escrupuloso pensaria duas vezes antes de afirmar o que, num quadro tão complexo e dependente de tantas variáveis é impossível de garantir: que o desporto não vai sofrer com a situação financeira do país. Algum saber e experiência de tempos passados aconselhariam, porventura, a uma outra prudência. Em condições de incerteza apontar para a melhoria dos resultados é pretender ter sobre o tempo futuro uma soberania que se pode sustentar num falso optimismo. Numa fanfarronice. Ou pior. Dar por adquirido que é possível manter/melhorar resultados desportivos com redução do financiamento às federações desportivas. Mas, em tese, a realidade pode vir a confirmar a prognose das duas destacadas figuras responsáveis pelo desporto nacional. Nada garante que a razão lhes não assista. E mesmo que os resultados sejam inferiores como justificá-los por cortes nos financiamentos? Por que não assacá-los à politicas e aos programas desportivos? E à preparação desportiva? E à qualidade e talento dos atletas? E um pouco a cada uma destas questões?
A qualificação de um sistema desportivo é o resultado de um conjunto de variáveis. O malogro da planificação determinista e da crítica ao financiamento público é, muitas vezes, não perceber o universo dessas variáveis. E o que nelas em cada momento é crítico. Significa isso que uma redução do financiamento não prejudica os resultados finais? Não. Significa apenas que a partir de determinado nível um aumento do financiamento não acrescenta necessariamente novo valor. Pelo que a sua redução também não tem que necessariamente ocasionar uma quebra nos resultados alcançados .Depende do limiar critico. Sei que é uma afirmação pouco simpática e tem baixa cotação no actual mercado das ideias, para quem está rotinado em ver no Estado (e nas politicas públicas) a origem de todos os males. Mas nas situações de elevada complexidade dinâmica, como o são os sistemas desportivas operando em ambiente de elevado grau de competitividade, é uma ilusão supor que tudo está dependente apenas de um dos lados: o do Estado.

domingo, 8 de maio de 2011

Só faltava serem os médicos a prescrever exercício físico!

Do Professor Rui Garganta, da Faculdade do Desporto da Universidade do Porto, recebemos o seguinte texto para publicação.



A Colectividade Desportiva muito agradece.


Confesso que fiquei chocado com o artigo do Jornal Expresso do Professor e colega de profissão Luís Sardinha, de 9 de Abril de 2011, com o título “Mexa-se mais: foi o médico que receitou”.
Numa altura em que o nosso país está a importar médicos para fazer face às exigências do Sistema Nacional de Saúde, e nos confrontamos com um excesso de profissionais de Desporto, só um “político deste gabarito” se poderia lembrar de implementar uma estratégia que vai dar mais trabalho e/ou responsabilidade aos médicos, que já não têm tempo para exercer a medicina convencional e tirar, o pouco que existe, aos seus colegas de profissão.
Porventura, o colega já nem se lembra que se licenciou em Educação Física!



Quando li o título do artigo pensei que os políticos tiveram o bom senso de entender que o “exercício é saúde” e iam voltar a baixar o IVA. Achei, no entanto, estranha a fotografia do Colega Luís Sardinha, de fato e gravata em cima de um tapete rolante. Eu sei que o fez no “seu laboratório” e talvez nunca tenha, porventura, subido para nenhum, porque isso de fazer exercício físico tem os dias contados. Pelos vistos, o que para si interessa é “Mexer”, nem que seja de fato e gravata em cima de um tapete rolante. Já agora: o colega fez alguma pós-graduação em culinária?



Mexer o quê? E a foto que vem no artigo é para gozar com os profissionais que trabalham nos ginásios? Diz que a actividade física é saúde, vai retirá-la da competência exclusiva dos profissionais do Desporto e tem o desplante de se fazer fotografar em cima de um tapete rolante? É indigno o que pretende fazer aos seus colegas de profissão, porque como responsável do Instituto de Desporto de Portugal (IDP) saberá que o fitness é, atualmente, a principal saída profissional! Caro colega e político da nossa praça, espero que os profissionais de fitness tenham consciência do mal que lhes está a fazer e tomem as medidas que entendam mais adequadas!


Num contexto de crise geral e dos estabelecimentos de fitness em particular, apoquentados que estão com a decisão, obviamente injusta, do aumento do IVA de 6 para 23%, o programa que o colega Luís Sardinha vai importar para Portugal, para além de desconsiderar o que se faz nos ginásios, permite que os médicos substituam os seus colegas de profissão na prescrição de exercício físico. Neste ponto, até o jornalista do Expresso refere: “Surpresa, o ginásio fica de fora”.
Diz no artigo que o programa é importado dos Estados Unidos da América (EUA) onde está a ser aplicado desde 2007. Refira-se, a propósito, que a taxa de obesidade nos EUA de 2007 (3 estados com mais de 30% de obesos), triplicou em 2010 (9 estados com mais de 30% de obesos): Pelo visto, o programa que vai importar já está a dar resultado! E a taxa de Diabéticos que continua a aumentar de forma exponencial?! Será efeito do referido programa? Não queremos com isto dizer que o programa não tenha os seus méritos, mas, como se sabe, a aplicação transcultural de qualquer tipo de programa sem a respetiva apreciação e adaptação é sobretudo “para Inglês ver”, ou, neste caso, para os seus amigos americanos verem!


O mais grave é que o seu discurso tem um registo igual ao dos médicos, que não fazem ideia do que é o exercício físico e encontram nos standards ou naquilo que ouvem dizer, formas de prescrição que dão para tudo e todos, do tipo medicamento “genérico” que tudo cura! Mas se aos médicos, embora não tolerável pelo facto de não terem formação para tal, ainda se desculpa a prescrição com base no “MEXA-SE”, a si é incompreensível. O que o colega quer é pôr os médicos a prescrever atividade física e não exercício físico. Para quem não sabe, para fazer atividade física basta “mexer para aumentar o metabolismo de repouso”. Até comer, que mexe os músculos da face e dos braços é atividade física. Para ser considerado exercício físico há que mexer-se de modo a melhorar a aptidão física.
Grande parte da atividade física, do tal “mexer”, não é eficaz: sabe que andar a 4 km por hora não tem repercussão cardiovascular significativa? Quer o artigo? Sabe que muita da atividade física, do tal MEXA-SE, quando realizada de forma desregulada e sem suporte muscular suficiente é prejudicial? Veja o exemplo das doenças articulares provocadas pelas tarefas domésticas, pelo andar em demasia, etc.


É óbvio que o colega conhecerá qual a importância do exercício físico e de como a atividade física pode apenas ser um bom complemento, porque sabe que uma das características do exercício físico é ser dose-dependente, tal como o medicamento. Por exemplo, a Aspirina, o fármaco mais vendido e mais antigo da indústria farmacêutica, doseada até 250 mg tem efeito anti-trombótico, enquanto a 500 mg tem efeito analgésico e a 1000 mg tem também efeito anti-inflamatório! Ou seja, o efeito depende da quantidade ou dose. No exercício físico passa-se o mesmo, ou seja, andar a 4 km/h, correr a 10 km/h ou a 15 km/h produz efeitos claramente diferentes. Tal como nos exercícios de força muscular, a carga (em kg) determina, em grande parte, o efeito ou resultado.
Ou seja, não chega mexer, isso resulta para o “leite creme” não ganhar grumos, é essencial fazer exercício físico!
Uma vez mais, recorrendo à analogia da aspirina, poderia dizer que ela é aconselhada para “dores, febres gripes e constipações” (mas não dá para todas as dores) e, como diz a bula do medicamento, se os sinais e sintomas persistirem, consulte o seu médico. Relativamente à atividade física, o bom senso, para quem o tem, poderia sugerir algo idêntico. Se não tem objetivos, não tem qualquer risco cardiovascular nem qualquer tipo de dor ou doença,
MEXA-SE. Se tem objetivos ou pretende fazer algo pela sua saúde, consulte um profissional de exercício físico e Desporto.


Por acaso o colega conhece a pirâmide da atividade física? Eu sei que a conhece e que também sabe que ela foi proposta por profissionais de saúde. Deu conta que nela é sugerido o “treino de força muscular” pelo menos duas vezes por semana? Sabe porquê? Para evitar a “SARCOPENIA”, que é uma doença provocada pela perda acentuada de massa muscular. Sim, é uma doença. Mas, curiosamente, grande parte dos profissionais de saúde não ouviu falar
dela, sabe porquê? Não há medicamentos para a prevenir nem para a curar! Há alguns anos, pensava-se que era apenas apanágio de pessoas mais velhas mas, como se sabe atualmente, inicia-se antes dos 30 anos em pessoas que não têm uma solicitação muscular suficiente e regular! Talvez convenha esclarecer as pessoas que a sarcopenia é um fator de risco para a osteoporose e que a única forma de a prevenir é através do treino de força muscular. O colega sabe que a marcha não a previne, porque aquela doença resulta da alteração das fibras musculares responsáveis pela força muscular e não pela resistência muscular solicitada pela marcha!
O problema é que a necessidade de mostrar serviço, leia-se “protagonismo”, fala mais alto!
Pois é, andamos há anos a debater-nos com a falta de bom senso dos médicos que prescrevem exercício físico inadvertidamente, desde a natação para quem não sabe nadar ou para quem tem osteoporose, ao estilo de “bruços” para quem tem o “peito em quilha” ou “costas” para todos os problemas de coluna, até à marcha para pessoas obesas e com graves dificuldade de locomoção! E agora vem o colega conferir-lhes o “salvo conduto” para fazerem algo que não sabem nem estão preparados para fazer!


Sabe que incitar as pessoas para que se “mexam” é semelhante ao nutricionista aconselhar alguém a “comer” ou a um médico dizer ao doente para “tomar pastilhas”.
O colega devia era de se “MEXER” do cargo em que está, criar um IDM (Instituto Nacional do Mexe-te) e dar lugar a alguém que, pelo menos, não prejudique deste modo o campo de intervenção dos seus colegas de profissão.
É claro que o colega pode vestir a pele de cordeiro e dizer que se trata de uma medida altruísta, para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, blá, blá, blá…
Esteja, pelo menos, ciente do mal que está a fazer a tanta gente: aos cidadãos porque os médicos não têm formação para proceder à adequada prescrição de exercício, aos profissionais de exercício e desporto que já se debatem com falta de trabalho e com prescrições inconsistentes ou inconscientes de médicos, e à própria classe médica que vai beneficiar de um “poder” sem bases de conhecimento suficiente para o exercer. A minha esperança é que, no meio deste equívoco, a classe médica tenha o bom senso de não prescrever exercício físico.


Repare que quando entrou para o IDP, prometeu moralizar a nossa classe profissional e legislou de forma a que apenas os licenciados em Educação física pudessem exercer a profissão nos centros de fitness. Agora vai trazer umas regras gerais para os médicos receitarem exercício físico? Sabe que nas farmácias também já se receita exercício físico? Isto é uma festa! Como não temos uma “Ordem” que nos defenda, estamos à mercê dos “espertos”. Só falta proibir os profissionais de Desporto de prescrever exercício físico? Não será uma medida para o próximo governo?


Caro colega, quer protagonismo? Já pensou em trazer um franchising que permita aos profissionais de Desporto receitar medicamentos? Nem que seja dos lights, daqueles que nem fazem bem nem fazem mal – do tipo “MEXETE”.
A nossa profissão está em crise e os médicos estão com trabalho em excesso. Para além disso, a bula de um medicamento ou o simposium terapêutico, que é atualizado todos os anos, tem mais informação sobre cada medicamento do que qualquer linha de orientação que pretende trazer para os médicos estimularem os portugueses para se mexerem. Acho que esta seria uma medida política original, embora talvez não à medida da sua necessidade de protagonismo!
Quem diria que o colega é diretor do Instituto de Desporto de Portugal!


Resta-me dizer que “o Desporto com amigos destes não precisa de ter inimigos”.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Clubes, SADs e equipas: o equívoco português

Um novo contributo de Luís Leite, que a Colectividade agradece.


Nos últimos anos o futebol português tem sido invadido por milhares de jogadores estrangeiros, quase todos sul-americanos, sendo a maioria brasileiros.
Portugal gasta anualmente muitas dezenas de milhões de euros na aquisição de futebolistas estrangeiros.
Curiosamente, tanto a comunicação social como todos os que escrevem ou falam sobre o futebol português, promovem um equívoco que, objectivamente, dá muito jeito.
Confundem-se os conceitos de Clube, SAD e Equipa.

Se meditarmos um pouco concluiremos, naturalmente, o seguinte:
Um “Clube” é uma instituição desportiva formada por sócios pagantes, na quase totalidade portugueses. Tem emblema português e foi fundado em território português. Podemos dizer que os clubes em Portugal que satisfazem estas condições são “clubes portugueses”.
Uma “SAD” (Sociedade Anónima Desportiva) é uma empresa com um determinado capital, materializado em acções, por vezes com cotação na Bolsa. Quem manda numa SAD é quem tem a maioria do capital. Podem ser pessoas, bancos, empresas, etc., portugueses ou estrangeiros. Há SADs como a do Chelsea (de um russo) ou a da A.S. Roma (de americanos) que não estão na mão de nacionais do país a que pertence o Clube. Uma SAD pode não ser propriedade de entidades do mesmo país que o respectivo Clube.
Uma “Equipa” é um conjunto de jogadores (11 mais os suplentes), que entram em campo para disputar um determinado jogo, utilizando um equipamento representativo do Clube, que ostenta o respectivo emblema no peito. Após a Lei Bosman, existe livre circulação de jogadores profissionais de futebol, desde que contratados de acordo com a legislação e regulamentação em vigor. Esses jogadores tanto podem ser do mesmo país do Clube, como podem ser estrangeiros, total ou parcialmente.

Será que é correcto dizer ou escrever que as equipas do SLB (que joga em média com 1 ou 2 portugueses), do FCP (que joga em média com 2 ou 3 portugueses) e do SCB (que joga em média com 2 ou 3 portugueses) são “equipas portuguesas”? Ou serão mais sul-americanas?
Será correcto falar-se em grande sucesso das “equipas portuguesas” e do “futebol português” nas competições europeias, quando estas 3 equipas jogam com 75% a 90% de jogadores estrangeiros, maioritariamente sul-americanos?

Clubes portugueses, equipas maioritariamente estrangeiras, futebol multinacional.
Por muito mérito que tenham os Clubes e respectivas SADs, os seus dirigentes, assessores, técnicos, equipa médica, etc., aquelas equipas actualmente não são portuguesas. Ainda poderia admitir essa designação se mais de metade dos jogadores fossem portugueses. Assim, só estamos a enganar-nos e a prejudicar o verdadeiro futebol português, aquele que é jogado por portugueses.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Potencial Turístico

Já há algum tempo tinha introduzido a vertente do turismo e desporto no blog. Não aprofundando muito, até porque as próprias terminologias do desporto e aventura, ou desporto na natureza ou até mesmo turismo activo possuem (todas elas) fronteiras e limites de acção e organizações dúbias quanto às suas áreas de actividade.

Na altura decidi abordar a temática pela considerável importância e contributo que o fenómeno desportivo podia e pode dar na potencialização dos recursos que o 'nosso' turismo possui. Não apenas das potencialidades e recursos naturais, mas também dos recursos humanos que nos conduzem a um local constituído por um povo simpático.

Decido voltar ao assunto, porque me encontro em Inhambane a dar formação sobre temáticas relacionadas com as anteriormente abordadas e ao ir aos locais, a falar com os técnicos da vertente desportiva e/ou turística, e recordo-me de erros que continuam a ser realizados no nosso País.

Um dos casos que nos pode dar uma 'ajudinha' é a recente controvérsia sobre a praia da Ericeira, que se tornou na primeira reserva mundial de surf da Europa, embora desde de 2007 já fosse reconhecida mas informalmente. Recentemente os mesmos surfistas colocaram uma providência cautelar contra a Câmara. Não estamos a par de toda a informação, mas estranha-se que em tão pouco tempo rapidamente os interesses de um ou ambos os lados possam interferir com a organização de todo um território que em muito tem em ganhar com esta 'distinção'. Destaca-se que o ganhar não se resume a receita financeira, mas notoriedade e criação de valor social.


Território esse que é um privilégio em termos de localização, quer devido à situação quase perfeita para a prática de uma modalidade desportiva, quer porque se encontra a uma distância relativamente próxima do maior aeroporto nacional, que pode servir para angariar mais pessoas, mais turistas, mais receita, mais reconhecimento.

À falta de uma estratégia na área do desporto aventura, desporto na natureza ou turismo activo, onde a vertente desportiva - com menor ou maior peso - não é potencializada ou colocada de parte perante outros interesses, também neste campo de acção da prática desportiva, a mesma não é organizada e por isso, desalinhada com qualquer macroestratégia que existe (?) para o desporto nacional.

Ao que se sabe, e as fontes de informação não são muitas é verdade - e aqui fica a questão se por desorganização propriamente dita ou por interesse que não seja disponibilizada essa informação - não há um sector que possa reunir a vertente desportiva no turismo e vice-versa. Isto apenas acontece quando somos confrontados com a organização de um evento de enormes dimensões. Decidindo apostar tudo em eventos rentáveis em vez de apostarmos na sustentabilidade social, económica e da actividade em si.

Estratégia essa que ao não existir, ao não merecer preocupações e uma maior dedicação, gere mal os recursos escassos que possam existir, não potencia os existentes, cria eventos com valor esporádico que aparece e desaparece tal como alguns foguetes, em que a luz dos mesmos deixa-se de ver em pouco. Curiosamente, como em alguns lançamentos de foguetes, ficam os restos, o cheiro, o lixo, etc. Também a não existência de uma estratégia desportiva e turística em alguns eventos, deixa preocupações para quem vier e o esgotar de alguma margem que ainda possamos ter.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Registe-se a persistência,censure-se a falta de vergonha

A compra de dois campos de futebol por parte de uma autarquia (Matosinhos) retoma uma tendência, nunca ultrapassada, de usar dinheiro público para procurar resolver problemas de clubes desportivos com processos de falência associados ao futebol.
O problema do descalabro financeiro destes clubes e o papel que neles assume o futebol como depredador de recursos é uma matéria que não vale a pena perder muito tempo. Está estudada, é conhecida e sabe-se, de há muito, que quem gere o futebol está pouco disponível para mudar. Federação, Liga e Sindicato não têm problemas de salários em atraso, remuneram bem e convivem com a crise dos outros. Cá dentro e lá fora. Pois que passem bem.
O problema merece ser abordado, não para discorrer sobre a indústria do futebol, mas porque, uma vez mais, se colocam recursos públicos para resolver desmandos privados. E aqui, o caso, para além de socialmente censurável é chocante num momento em que o país pede emprestado para conseguir pagar o que não consegue gerar cá dentro.
A operação financeira que a comunicação social divulgou, a ser verdade, carece de aprovação das autoridades de controlo financeiro das finanças públicas, que vão ter de explicar em nome de que interesse público se afectam vários milhões de euros para comprar equipamentos antiquados que escapam à função e missão da entidade pública compradora. E que beneficio retirarão os respectivos munícipes de parte do seus recursos serem utilizados no destino anunciado. E como se torna possível com o enquadramento legislativo existente uma entidade pública operar um negócio comercial com uma entidade privada com vários processos de solvência pendentes. A criatividade jurídica opera milagres. E estamos em Maio que é um mês propenso a esse tipo de manifestações.
Mas o tema vale também para uma outra reflexão: o que se aprendeu com experiências anteriores de colocar dinheiros públicos para resolver negócios do futebol. Em que se perdeu o dinheiro. E não se resolveu o problema. A resposta é que nada se aprendeu. Se acaso se pedir uma explicação politica para esta operação ela virá com um facilidade espantosa. Sempre a mesma: a defesa do interesse público. E embora o mais comum dos mortais saiba que esse é o argumento que serve para todas as tropelias não há qualquer limite em, uma vez mais, o usar. Registe-se a persistência, mas censure-se a falta de vergonha.
Na operação financeira o município alienará acções que possui na SAD de um dos clubes. Dinheiros públicos colocados onde nunca o deveriam ter sido e agora utilizados para pagamento de um dos imóveis. Não é dinheiro que pertença a quem decide do seu destino. É dinheiro dos outros. Colocado e utilizado sem mandato dos representados. A que disposição da lei das competências das autarquias está acomodada a possibilidade de colocar recursos públicos em sociedades anónimas desportivas? Tanta inspecção, tanto tribunal de contas, tanta auditoria, tanta comissão disto e daquilo e ninguém tem coragem de colocar um ponto final neste regabofe.
Insistentemente se diz que precisamos de mudar de vida. De poupar mais e gastar menos. Mas o propósito entra por um ouvido e sai por outro. Diariamente se anunciam novos projectos públicos, novas despesas. Ou o que andam a dizer não passa de retórica, ou muitos decisores políticos ensandeceram. Resta a possibilidade, sempre provável, de considerarem que há mais vida para além do FMI! O que é verdade. Mas em regime de vida assistida. De hemodiálise. Se desligam a máquina,puff…o país para! Por vezes ficamos com a sensação que já faltou mais!!!!

domingo, 1 de maio de 2011

Levantar o véu: Karaté, nem arte marcial nem desporto de combate... (II)

De Armando Inocentes nova colaboração, que se agradece.

As artes marciais, ao longo dos tempos, não deixaram de ser modificadas. Leis, textos jurídicos, decretos e novas técnicas determinaram de cada vez o aparecimento de novas práticas (Braunstein, 1999). Enquanto no Japão elas evoluiram temporalmente segundo contextos históricos e culturais, ao serem importadas para o ocidente sofreram uma aculturação ao deslocarem-se geograficamente. E esta “ difusão, ou seja, o transporte de realidades culturais de uma para outra cultura, não é um acto, mas sim um processo cujo mecanismo muito se assemelha ao de qualquer processo evolutivo” (Malinowski, 1997). E como tal, há acomodações e assimilações, há interpenetrações e interdependências, há progressos mas também degradações e degenerações, há ganhos mas também perdas.

A transição progressiva de técnicas guerreiras a desporto (jogo) processa-se através de tempos e de lugares, assim como através de um processo histórico influenciado por mudanças e movimentações.A passagem do Karaté de arte marcial a desporto de combate não é uma mutação repentina, mas um processo gradual (com diversas fases em diferentes contextos históricos) inserido em modificações socio-culturais e pela aculturação de uma realidade oriental na cultura ocidental. Todo este processo originou aquisições e reinterpretações mas também degenerações, até porque as condições históricas criaram situações objectivas de desigualdade.

Num avanço temporal e social numa mesma comunidade, assim como numa deslocação geográfica e cultural, há toda a transferência de rituais que perdem os seus significados originais e ganham outros similares ou diferentes.
Johnson (1986) diz que “a atitude ocidental é principalmente orientada para objectivos, pragmática e reducionista, apontando para a consideração do produto mais do que do processo, dos fins mais do que dos meios, e dos objectivos mais do que das experiências pelo seu próprio mérito. Em contraste, os orientais vêem as oposições como relação e fundamentalmente harmoniosas. Eles reconhecem uma não-divisão entre produto e processo, fins e meios, ou objectivos e experiências”.
Exércitos e forças paramilitares podem, actualmente, praticar Karaté como arte marcial. Mas ninguém pratica Karaté, como modalidade desportiva institucionalizada, para «ir à guerra», assim como ninguém pratica Karaté para «combater» (no sentido literal do termo, dado que no combate não há regras, a morte é real) com o adversário, pois este não é o inimigo. Huizinga (2003) toca no assunto ao distinguir «combate» de «luta» e afirma que em todas as lutas em que há regras a respeitar assumem as características formais de um jogo em consequência dessa limitação.

Reportando-nos a Yonnet (2004), verificamos que “não é a natureza material duma actividade que decide o seu carácter extremo, é o uso feito desse material no quadro de uma actividade possível”. E aqui é que parece estar o cerne da questão...
Parece-nos que, de facto, não é aquilo que a modalidade desportiva é em si, ou o que representa e simboliza que importa, mas sim o que fazemos com ela e através dela.
Não podemos pois classificar o Karaté «civil» actual, federativo, como uma «arte marcial» nem como um «desporto de combate», pois “é o uso do utensílio que faz a classificação da actividade, não o utensílio por si próprio” (Yonnet, id.).
Sendo o corpo do outro objecto e objectivo da acção, é atingindo ou manipulando directamente o corpo do outro que se ganham pontos e jogos. A intencionalidade verifica-se através de uma técnica – comportamento observável – que pretende acertar com controle (princípio do sundome) num alvo devendo obedecer a certos critérios. No Karaté o contacto corporal é intencional, directo e um fim em si.

Seria mais correcto falar num e de um «desporto de contacto corporal directo» (intencional e objectivo), à semelhança do Judo, do Taekwon-do, do Kung-Fu e do Boxe, em alternativa à Esgrima, ao Jogo do Pau Portguês ou ao Kendo, desportos de contacto corporal indirecto.
Por que continuam os praticantes de Karaté a insistir em que praticam uma «arte marcial» ou um «desporto de combate»? Baudrillard (1992) dá-nos a resposta: “quando as coisas, os signos, as acções são libertadas de sua ideia, de seu conceito, de sua essência, de seu valor, da sua referência, de sua origem e de sua finalidade, entram então numa auto-reprodução ao infinito. As coisas continuam a funcionar ao passo que a ideia delas já desapareceu há muito. Continuam a funcionar numa indiferença total a seu próprio conteúdo. E o paradoxo é que elas funcionam melhor ainda”. Por que aceitam os praticantes de Karaté praticar «desporto» enquanto fazem competição e após abandonarem esta afirmam praticar uma «arte marcial»? O mesmo Baudrillard (id.) volta a responder-nos: “se o indivíduo já não se confronta com o outro, defronta-se consigo mesmo”. É o desejo da superação de si próprio – pode ser «arte», pode ser transcedência, pode ser rumo ao sublime, mas de «marcial» nada tem...

Assim, o Karaté não deve ser classificado taxonomicamente nem como arte marcial nem como desporto de combate, mas sim como um desporto de contacto corporal directo...
Se o quiserem continuar a denominar «arte marcial», continuem, mas não o é! Se quiserem continuar a clasificá-lo como «desporto de combate» podem fazê-lo, mas não é o mais correcto!...