quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Conselho Nacional do Desporto = ??

Um texto de José Pinto Correia que se agradece.
Quando foi criado o Conselho Nacional do Desporto e definidas as suas funções e composição escrevi de imediato que tinha as mais sérias dúvidas sobre a sua capacidade de pensar o desporto português em profundidade e de forma sistémica e que tivesse mesmo alguma possibilidade ou interesse em vir a introduzir com profundidade e documentalmente no nosso sistema desportivo e na governação do mesmo quaisquer contributos valiosos.

Escrevi isto por mais de uma vez à medida que os meses passavam e nada de muito significativo emergia como actividade do CND. Lamentei também que no sítio da Secretaria de Estado do Desporto, na área reservada ao dito Conselho, nada mais constasse do que as agendas das reuniões plenárias e a decomposição em comissões especializadas dos ditos membros do órgão.

Percebi muito cedo que o CND seria apenas uma entidade praticamente decorativa da Secretaria de Estado e que não teria capacidades e vontade de iniciativa própria para pensar os caminhos de desenvolvimento do desporto português.

Se hoje agora formos verificar o que mudou naquele panorama prospectivo que eu então traçava podemos facilmente constatar, compulsando o site da Secretaria de Estado, que o CND não produziu até agora um único documento sobre o desporto por sua iniciativa e que nada mais consta das actividades do CND na respectiva área do referido sítio governamental que não sejam as agendas das reuniões e as tais partições constitutivas das comissões especializadas.

Nem do pomposo anúncio feito há dias na televisão pelo Secretário de Estado sobre um novo modelo de financiamento das federações para vigorar para futuro se vê qualquer indício para que, extravasando as paredes dos corredores do poder ou das salas onde se reúnem os conselheiros, outros possam discutir e reflectir sobre o tal novíssimo modelo de financiamento que pretensamente resolverá muita coisa que o passado dos últimos seis nos foi incapaz de solucionar.

Dirão alguns que sempre existem as actas dos conclaves plenários do CND para validar a sua missão, funções e afazeres pelo nosso desporto nestes anos.

Direi eu que: para um país europeu, republicano laico, democrático, de cidadania activa, exigente, eficaz e eficiente, responsável e transparente, que tem necessidade de melhorar discutindo propostas e projectos, a presença do CND no nosso sistema desportivo e na governação tutelar é praticamente igual a zero!

Portanto, em conclusão, decorrendo do título desta opinião, o CND é igual a zero para o nosso desporto, desde logo para o Governo que o instituiu e acolhe no respectivo sítio electrónico com “reporte minoritário” e também para os agentes mais relevantes do movimento associativo desportivo que dele quase nada têm dito, exigem ou esperam.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

No dia seguinte

O mini conselho nacional de desporto que a SiC Notícias transmitiu em directo (20 Dez.) permitiu ao homem do leme do nosso desporto atirar-se às associações distritais de futebol. E mostrar que o resultado, das providências cautelares intentadas contra a suspensão de parte da UPD da FPF,para já, é-lhe favorável por 6 a O. Embora no intervalo-as acções principais vão ainda ser apreciadas - o grito já é de vitória. Fraca consolação. Uma tão grande cabazada ao intervalo não é suficiente para obrigar a FPF, que ficou queda e muda, a fazer o que diploma prevê: alterar os estatutos e conforma-los ao novo regime. E, neste caso, nem o princípio, de que quem paga manda, parece ter surtido o efeito desejado. O homem do leme mandou cortar os financiamentos às associações e o resultado foi o mesmo que antes. Segundo a imprensa alguns dos conselheiros do homem do leme reunidos em conclave no dia seguinte ao dia seguinte sugeriram-lhe medidas mais duras. O que cria um problema de difícil solução. Mais dureza das medidas podem atingir a parte da FPF aliada do nosso homem do leme . Pagará o justo pelo pecador.
O regime, que as associações distritais teimam em não cumprir, foi feito para o futebol. E para retirar o poder aqueles que o não querem ceder. Coisa de que ninguém gosta. Mas se não querem, paciência. Nenhuma lei do país os pode obrigar. Porque o país tem outras leis que os habilitam a funcionar como até data. Pelo que se não trata de desconformidade legal em absoluto. Mas apenas a um diploma em concreto. Resta a quem governa retirar à respectiva federação algum do reconhecimento que ainda tem em sede de utilidade pública desportiva. O país não acaba. E o futebol não desaparece. E pode sobreviver sem qualquer apoio financeiro do Estado. De resto, os resultados financeiros que a FPF apresenta e as disponibilidades financeiras de que dispõe, quase que tornam pornográfica a necessidade de continuar a receber apoios financeiros do Estado. Este bem podia poupar umas boas massas. E respirar para outras latitudes.
O governo, se estivesse para aí virado, também poderia aproveitar para reflectir. Mas o homem do leme do nosso desporto é como o professor Cavaco: nunca se engana. Mas devia pensar que as medidas legislativas que criou para “organizar”e distribuir o poder no seio das federações desportivas, mas feitas a pensar no futebol, não residem na natureza “boa” ou “má” das mesmas. Mas na incapacidade do governo - este ou qualquer outro - para entender que não é ele quem desenvolve o desporto nacional, mas sim os clubes, as federações desportivas e a iniciativa privada. Este erro, de resto, muito persistente no arco governativo do PS/PSD não resiste à evidência do bom senso: se um governo pudesse desenvolver o desporto através de medidas legislativas, não estaríamos no estado em que estamos. Bastaria decretar como o desporto se deveria comportar. E fiscalizar esse comportamento. Mas é precisamente o contrário. Se um qualquer governo quiser ajudar, o que tem a fazer não é andar a mexer na organização associativa e privada do desporto. Deve é retirar todos os entraves para que elas possam livremente operar no sistema. E estimular e apoiar as respectivas actividades desportivas desonerando custos e procedimentos.
Bem sei que dizer as coisas assim é uma verdadeira blasfémia. Operar livremente no sistema? Isso iria permitir que cada um fizesse o que bem lhe apetecia. Não é essa a questão. Mas a de alterar o foco de atenção do Estado. Deixar de estar focado nas condições prévias á produção dos resultados das organizações desportivas e centrar-se numa avaliação de produto desses resultados. O modo como se organizam só é relevante face aos resultados que alcançam. E seguramente que federações desportivas distintas terão tendência a ter formas de organização também distintas.
Tudo isto pode ser lido como provocatório. Sobretudo para quem apresenta como legado governativo um tão vasto rol de medidas legislativas. Mas o caminho seguido não é o único. E está por demonstrar que seja o melhor. Os resultados desportivos alcançados o confirmarão ou não.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A competitividade das competições

Saiu ontem no jornal 'A Bola' um artigo do Prof. Doutor Pedro Mil Homens sobre competitividade (parte I, informa-se). Interessante o artigo, debatendo ideias que mesmo os menos afortunados academicamente, já lançaram para o debate. Há muito tempo, reforçamos!

Coloca ideias e factos passados noutros países que contribuem para uma maior competitividade em diversas modalidades, embora com enfoque no Futebol, e nos escalões mais jovens. A história de que mesmo nos escalões jovens, deve-se exigir rigor e competição em todas as situações dos torneios, competições e até ao final do jogo, competição, treino, etc, como factor que desequilibra para que alguns países apresentem hoje modelos mais consistentes e que são sustentados pela maior preocupação que as respectivas Federações nas mais diferentes modalidades apresentam.

Ideias de competitividade que devem ser transversais para outros modelos da sociedade. Discussão essa que já vai longa e sem grandes resultados, pois continua a não existir qualquer consenso entre os treinadores dos escalões mais jovens e das Federações. Modelos esse que não promove a competição ou a participação de todos ou desmoralizam os menos fortes ou não criam suficiente motivação para os mais fortes ou que não preenchem todo o ano competitivo ou muitos etcs. E aqui se insere um dos principais obstáculos para chegar a um qualquer consenso.

Ideias que foram lançadas quer por catedráticos quer por treinadores que até possuem pouca formação. É demais evidente que os modelos não funcionam e vão proporcionando poucas sinergias entre os vários segmentos que colaboram para um resultado final. Resultado final que vai proporcionando alguns talentos mais por ‘calorice’ de alguns agentes desportivos que propriamente o sistema competitivo.

No Futebol têm existido mais talentos. Mais por adesão de uma grande percentagem de ‘miúdos’ do que propriamente de uma filtragem de qualidade. Noutras modalidades colectivas os modelos vão sofrendo ainda mais dificuldades. Para não falar dos escalões jovens no género feminino!

Esperam-se alterações (para quando? E com a iniciativa de quem? Com a intervenção do IDP? Estado?). Com eleições previstas para a FPF, que prioridade terá a formação, competição jovem nestas guerrinhas que temos assistido?

Aproveitar para desejar a todos um Bom Natal e um Excelente 2011!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Desenvolvimento do desporto e financiamento das federações

Um texto de José Pinto Correia.
O Secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, foi ao “Dia Seguinte” da SIC há poucos dias. Para falar de desporto o “homem do leme” vai a um programa de televisão dedicado ao futebol. E durante mais de uma hora falou longamente sobre o seu desporto de eleição e dedicação, o futebol. Falou e falou de que existem/subsistem os tais problemas de poder de muitos anos na dita Federação Portuguesa de Futebol do Dr. Madaíl, razão para a mesma estar fora da lei e incapaz de dar a volta estatutária que a confirme como entidade de utilidade pública e merecedora das boas graças da FIFA e do Governo.

Mas lá bem quase ao fim de tanta peroração sobre os magníficos meandros, encantos e recantos do nosso futebol, o nosso Secretário de Estado soltou um anúncio luminoso. Qual seja o de que vai agora, ao fim de seis anos de governação, pensar e remediar o desenvolvimento desportivo nacional por via de um novo quadro de financiamento das federações desportivas.

Portanto, para que se resuma o que ali ficou dito pelo nosso governante do desporto:

1. O desenvolvimento do desporto tem a ver sobremaneira com o financiamento das federações sob um quadro de orientação novo a emergir proximamente;
2. O financiamento das federações feito até à data presente foi feito sem esse enquadramento estratégico;
3. O desenvolvimento desportivo em Portugal é sinónimo e medido através dos apoios financeiros às federações;
4. O Conselho Nacional do Desporto, entidade indispensável e valiosa, vai debruçar-se agora sobre esse desenvolvimento desportivo que o Governo lhe enviará.

Para nós nada disto é novidade. Numa Secretaria de Estado que durante seis anos foi incapaz de produzir um documento estratégico sobre o desporto; que se dedicou a legislar e a gerir os meandros do poder do sistema dirigente das federações; que aproveitou o QREN para realizar obras e obras para ficarem como apanágio de uma governação; mas que sobretudo foi incapaz de pensar o desporto para além do seu subsistema competitivo e de lhe dar um envolvimento interdepartamental que reunisse a educação, as autarquias e os movimentos locais de promoção das praticas desportivas.

Uma Secretaria de Estado do Desporto que agora, mais uma vez com este anúncio opíparo, limita o desenvolvimento desportivo nacional ao movimento federado e ao fim de seis anos, sem que tenha produzido qualquer enquadramento e visão global do desporto para o país, vai tentar arquitectar um qualquer algoritmo financeiro para repartir os parcos recursos disponíveis pelas federações, pensando que desta forma simplista e limitada pode originar um qualquer nível indefinido de desenvolvimento desportivo em Portugal.

Quem pode continuar a acreditar nesta fraude, que limita o desporto e o seu desenvolvimento ao que se passa nas federações desportivas? Quando chega aqui o conhecimento e os modelos de desenvolvimento desportivo que estão em vigor nos países do Norte da Europa ou no Reino Unido? Se ainda hoje são desconhecidos na Secretaria de Estado, então que esta os estude com a necessária profundidade e empenho para que possamos ter modelos de desenvolvimento desportivo comparáveis com os desses países europeus!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Vitooória!!!!!

Uma pobre ave está a caminho de se transformar na grande transferência da época de Inverno do futebol luso. Tudo porque o seu dono aprendeu depressa a arte do negócio futeboleiro. E quis acompanhar os tempos de globalização e não ficar preso ao solo pátrio. Apostou na internacionalização do voo do bicho. E para isso criou um conceito e uma marca. E franchizou-a.
O que deveria ser objecto de incentivo das instâncias nacionais apostadas no aumento das exportações – dado tratar-se de um caso de sucesso -corre o risco de ser, uma vez mais, uma oportunidade perdida. No próprio dia dos acontecimentos o director de comunicação do clube com aquela voz grave e ponderada que lhe vem dos tempos em que assessorava o Dr.Sampaio deu explicações ao país. A entidade patronal - empresa cotada na bolsa de Lisboa -emitiu já uma comunicado. Á data que escrevemos não se conhece ainda a reacção dos mercados. E qual a influência na cotação das acções e no comportamento do PSI20.Mas é de prever a resposta à situação de crise que apanhou todos desprevenidos. Entretanto o advogado do trabalhador e dono do bicho prepara uma resposta. No meio contam-se agressões embora as versões sejam desencontradas. Como na questão do ovo e da galinha há dúvidas sobre quem começou. E a síndrome do túnel não parece afastar-se daquelas paragens.
O que já não parece haver dúvidas é que o trabalhador e dono do bicho ganha um balúrdio. E que Teixeira dos Santos lhe não tinha previsto qualquer redução salarial. O que se compreende. Podia ser acusado de facciosismo. E,por outro lado, apesar de só actuar em público de quinze em quinze dias e em média três a cinco minutos tem de treinar, provavelmente treinos bidiários, e o bicho tem de se alimentar. E para fazer aqueles voos não é a comer alface e cenouras.
O problema é de tal gravidade que há mesmo quem pense em apresentar queixa às autoridades europeias. Parece que é intenção pedir uma audiência à deputada Ana Gomes atendendo à sua experiência na matéria de queixas por aquelas bandas. Embora a sua especialidade seja a de navegar debaixo de água e da ave seja a de voar nos céus, à partida não parece haver problemas. A presença de presidente do clube numa sessão de um dos candidatos à presidência da república faz supor que tenha aproveitado a circunstância para dar um palavrinha ao candidato sobre o assunto. E a forma alegre como foi descoberto pelas câmaras da televisão, presentes no local, leva a admitir que o seu propósito tenha tido acolhimento. Não espantaria, de resto, que ao assunto fosse tema da campanha presidencial.
A imprensa especula que o clube procura já no mercado uma alternativa. Ignora-se se com ou sem a ajuda do conhecido Jorge Mendes. O clube está no entanto em pressas e quer comprar pelo seguro.Experiências passadas assim o aconselham. Neste caso a concorrência habitual não parece constituir qualquer perigo. O facto de no passado um Falcão ter sido desviado para o Porto não parece repetir-se dado tratar-se de uma outra espécie avícola. O problema principal está sobretudo na valorização futura do activo: uma águia jovem mas como boa margem de progressão ou uma águia adulta. Algo que certamente a imprensa de fim-de-semana não deixará de equacionar avaliando os diferentes cenários.
O que parece estar fora das cogitações do bicho e respectivo dono é um pedido de audiência com carácter de urgência ao homem do leme do nosso desporto.Ele bem gosta de se meter em tudo.Mas o assunto é mais do âmbito zoológico e não parece caber nas matérias recorríveis para o Tribunal Arbitral de Desporto. Mas nunca se sabe. Somos um país de surpresas.E Natal e sempre que um homem quer!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Questionar preconceitos

A história do desporto moderno encontra-se inevitavelmente marcada pela instrumentalização do seu potencial de mobilização social e activismo político. Ao serviço de ideologias totalitaristas ou nacionalismos extremados, no combate à discriminação racial ou na promoção da paz e do desenvolvimento, o desporto é um catalisador para a acção em torno desses objectivos políticos.

Nem sempre explorada com o rigor científico que lhe é devido a geopolítica desportiva é um tema na ordem do dia. No que respeita à integração do desporto nas políticas para o desenvolvimento e para a paz, procurou-se anteriormente neste espaço apresentar, em traços gerais, a estratégia e o labor das organizações internacionais neste domínio, em particular no seio do denominado sistema das Nações Unidas (NU), tendo em atenção que se tratam de acções humanitárias e cívicas implementadas através de inúmeros projectos apoiados e desenvolvidos pelas diversas organizações das NU nos locais mais remotos do planeta longe de dos holofotes mediáticos.

No entanto, a realização do Campeonato do Mundo de Futebol este ano, pela primeira vez num país em desenvolvimento, constituiu uma oportunidade única para a comunidade internacional explorar o acontecimento em favor do desenvolvimento do continente africano. O recente relatório do Secretário-geral reporta a estratégia das Nações Unidas implementada antes, durante e após o evento, clarificando, por um lado, o quadro institucional criado no seio das NU para uma abordagem concertada sobre o desporto ao serviço do desenvolvimento e da paz no reforço da cooperação e coordenação entre os organismos das NU, com os Estados Membros, as federações e organizações desportivas, bem como as organizações governamentais e não governamentais, mas também, por outro lado, na elaboração de políticas, mobilização de recursos e avaliação do seu impacto ao serviço do desenvolvimento e da paz, de acordo com o Plano de acção trienal estabelecido em 2006 aproveitando o ímpeto gerado no âmbito do Ano Internacional do Desporto e da Educação Física, e do seu relatório intercalar.

A leitura serena deste documento, que fecha o plano de acção sobre o desporto ao serviço do desenvolvimento e da paz, permite aquilatar, com maior acuidade, o trabalho implementado em vários continentes, o roteiro institucional no seio das NU e os programas nacionais desenvolvidos em torno do desporto para consolidar objectivos de saúde pública, educação, resolução de conflitos e manutenção da paz - o desporto é uma linguagem universal para mediar o acesso a comunidades em conflito -, mas também os obstáculos encontrados na sua prossecução e sustentabilidade no seio dos programas das Nações Unidas e suas orientações estratégicas e políticas.

Aliás, como em tudo na cena política internacional, o despertar de consciências nos últimos tempos para o reforço deste valor do desporto no âmbito das políticas de desenvolvimento, tem uma agenda política iniludível que se prende com os Objectivos do Milénio, cujas metas para 2015 parecem, neste momento, de difícil alcance. Com efeito, o relatório em apreço é submetido à Assembleia Geral nos termos da Resolução 63/135, a qual reconhecia “a necessidade de maximizar o potencial do desporto para contribuir para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas”.

Assim, sem surpresas, o movimento olímpico - com um novo estatuto político de maior relevo reconhecido no seio das NU - e o Secretário-Geral das NU correm atrás do tempo perdido, e exortam ao dinamismo de projectos desportivos locais ao serviço da agenda do desenvolvimento e dos oito objectivos - políticos - do milénio, como se comprova da resolução saída da Assembleia Geral de Novembro cujo principal desígnio visa, no compromisso de acelerar o cumprimento daqueles objectivos, reforçar o peso político do desporto no seio do sistema das NU, através dos eixos estratégicos delineados no quadro de acção ao longo dos últimos três anos.

Contudo, apesar do potencial reconhecido ao desporto em integrar minorias étnicas, emigrantes e populações específicas esbatendo focos de discriminação estrutural, pode ser, paradoxalmente, um veículo privilegiado para a sua replicação e reprodução de manifestações de discriminação directa e indirecta.

As visões apriorísticas do desporto como indutor - por geração espontânea (?) - de resultados sociais positivos que por aí medram no discurso político-desportivo são meio caminho andado para se alcançarem efeitos em sentido oposto, bem graves em momentos de maior agitação social como se prevêem.

Que a análise dos resultados ao nível dos países desenvolvidos da UE possa servir de exemplo para, pelo menos, questionar preconceitos e reflectir sobre as interdependências entre políticas sociais, educativas e desportivas, não só em países em desenvolvimento.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O Natal de 2010 e o Desporto

Publicamos e agradecemos mais um texto da autoria do Fernando Tenreiro


O milagre dos resultados desportivos é algo que os portugueses não devem esperar.

A investigação económica, que fiz recentemente para a Faculdade de Desporto do Porto, permitiu-me identificar três funções de produção que se interligam em cadeia para produzir desporto de acordo com os princípios de política da União Europeia. O modelo económico que construí, desenvolvendo os contributos de Stefan Kesenne, de Chris Gratton e Peter Taylor e de Paul Downward, pode ser quantificado com dados preliminares da União Europeia e com os dados nacionais.


O Eurobarómetro é o primeiro instrumento com resultados da prática desportiva das populações que comummente são a prática desportiva informal que está na base da pirâmide. A distância de Portugal à média europeia mede-se em 19 pontos percentuais correspondendo a 1,9 milhões de praticantes desportivos.

As duas funções de produção seguintes são a recreação e o alto rendimento que constituem a prática formal identificada com a actividade das federações desportivas. Quanto à recreação o défice de Portugal é de 12 pontos percentuais ou 1,2 milhões de praticantes segundo dados genéricos das federações. Se os valores do alto rendimento forem de 3% para a Europa e de 1% para Portugal, cerca de 5 mil praticantes, porque estes números ainda são incertos, o nosso défice de alto rendimento será de 2 pontos percentuais. O valor percentual de défice é o mais baixo e corresponde ao valor mais longínquo de se atingir. O valor corresponde a multiplicar por três os actuais níveis de intensidade do capital humano desportivo nacional e que é o mais sofisticado em todas as dimensões.

O desporto de Portugal não está preparado para a crise económica e orçamental, para resolver estes três défices desportivos porque lhe falta o conhecimento, a capacidade de debate, as estruturas de literacia científica e técnica avançada que os países europeus possuem quando se apresentam nas competições globais. As faltas organizativas, institucionais e de comportamento e debate científico e técnico das universidades aos campos de treino são as metas a definir e a trabalhar para que os défices que agora são visíveis sejam trabalhados e desapareçam.

No curto prazo resta-nos um milagre e, mesmo assim, seria aconselhável esperar sentados mesmo que trabalhando afincadamente em todos os níveis.



Bom Natal a Todos.
Fernando Tenreiro

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Um compromisso de todos?

Não sei se é ter receio de compromissos ou não, mas gostamos pouco de estar comprometidos com o quer que seja: pessoas, resultados, objectivos, etc. Por outro lado, devemos ter a noção que apenas comprometendo as pessoas com outras pessoas (mesmo abordando apenas a questão profissional) podemos alcançar resultados, objectivos, fins! Existe um equilibrio entre não querer estar e querer estar comprometido. Os perigos de não comprometermos as pessoas com os nossos objectivos, resultados, ambientes é bem superior ao comprometer.

Comprometendo, existe uma percentagem mais elevada dos meus passarem a ser meus e deles. Nossos! Quem não sabe o que se passa, a razão para que estão a trabalhar ou esforça faz com que não seja prioritário, crie desinteresse, não dê o extra-mile e coloque outros factores à frente dessas funções que atribuem. Para além…de não saber, especular.

Uma simples alteração na abordagem modifica quase exponencialmente a atitude e comportamento do outro. Para melhor. Sabermos para onde se dirige ou queremos que se dirija o barco é mais do que suficiente para: criar trocas de ideias e quem sabe criação de mais valor, mesmo que exista discórdia existe por algo em concreto e não do desconhecido, existe um mapa e bússola, existe um reconhecimento com algo. Algo mais do que suficiente para altera a abordagem de quem quer alcançar um objectivo e necessita de outros para os alcançar.

Afirma-se que a cultura está a mudar de uma economia Keynesiana, (top-down) em que o Estado "toma conta" de nós para uma economia Schumpeteriana, (bottom-up) assente na inovação produzida pela pessoa incluindo outras nos seus objectivos e projectos. Não sei onde encaixar a estratégia do sistema desportivo em Portugal, mas poucos sabem se existe e qual é a estratégia em prática para o desporto, bem como o que se pretende e onde queremos estar daqui a uns anos. Para quem anda em micro e macro sistemas desportivos, não consegue com a necessária certeza saber se o que faz se insere ou não num objectivo global. Ou consegue-se?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

In memoriam,Albino Maria

A Escola Superior de Desporto de Rio Maior assinalou no passado dia 7 de Dezembro o 13º aniversário. E aproveitou a cerimónia evocativa para atribuir o prémio de investigação sobre gestão desportiva designado Prémio Albino Maria. Uma iniciativa a que se juntaram as Câmaras Municipais de Santarém e Rio Maior e a família. O júri distinguiu o trabalho apresentado por Carlos Januário que estuda as linhas orientadoras das políticas desportivas dos municípios da área metropolitana do Porto.
Homenageou-se alguém que a vida prematuramente levou e que marcou de modo indelével aqueles que com ele tiveram oportunidade de privar ao longo de uma vida profissional dedicada ao desporto e à causa pública.
O Albino Maria foi um exemplo pouco vulgar nos tempos que correm. Um homem simples mas de elevada probidade intelectual, de honestidade profissional e de integridade moral. Apesar de nascidos na mesma terra e termos idênticos percursos académicos a diferença de idades fez com que só o conhecesse por motivos profissionais. E apesar de nos tratarmos por tu, ele fazia questão de se me dirigir de um modo excessivamente formal sempre que estávamos fora do circulo de amigos. Julgo que o fazia por um questão de formação e de respeito. Acompanhei à distância a sua vida como atleta, como dirigente desportivo e como autarca. Soube da importância que teve para Silvino Sequeira no trabalho de infra-estruturação desportiva de Rio Maior e na Associação Nacional de Municípios. Mas foi quando tive oportunidade de com ele trabalhar directamente que avaliei a sua dimensão humana e o sentido de missão de serviço pública que praticava. A forma, por vezes febril, como se envolvia nos projectos e como procurava ultrapassar as dificuldades fazia dele um resistente. E um trabalhador incansável. Discreto, mas eficaz. O modo como se entregou à gestão e direcção do Complexo Desportivo do Jamor, o legado que recebeu, as condições em que teve de trabalhar e a insuficiência de recursos que com que foi confrontado nunca o esmoreceram. Testemunhei-o em muitos momentos e lamentei, mais tarde, as condições em que o levaram a renunciar ao seu labor e a regressar à actividade em Rio Maior. A cidade ficou a ganhar. Receio bem que administração pública desportiva não possa dizer o mesmo. Gente como o Albino Maria que servia sem se servir; que dava sem nada esperar para além do reconhecimento do trabalho realizado; que vivia com enorme intensidade, profissionalismo e dedicação as suas obrigações públicas não são muitos comuns. E o que é um bem escasso deve ser aproveitado. Infelizmente as curvas da vida nem sempre permitem reconhecer e valorizar em vida o mérito de quem dele é merecedor.
Mesmo perante a doença galopante não deitou a toalha ao chão. Ia sabendo notícias através do Alfredo Silva. Imaginava-o débil. Mas foi um Albino Maria confiante que reencontrei num almoço em Santarém e que juntou vários amigos dos tempos do IDP. Soube tempos depois que a doença lhe não dava tranquilidade. E que fazia constantes deslocações à Alemanha. E sempre temi um reencontro. Sobretudo a partir do momento em que os nossos percursos já não eram só profissionais. Avaliava o drama dele através da minha própria situação de vida. Mas reencontrei-o. Em Tavira apoiado na sua companheira e mãe dos seus filhos.Com o mesmo entusiasmo de sempre. Embora o corpo, ele que sempre foi um homem bonito e elegante, já desse sinal de fraqueza. Mas não desistia. Mais tarde em Ansião, onde então o corpo da doença já não era apenas a doença escondida algures numa parte do corpo, lá estava ele, de canadianas, com um braço quebrado, amparado, pelo Manuel Mendes, única forma de se poder deslocar. E aí chorámos os dois. Mas a esperança ainda o não tinha abandonado. Tinha medo. Mas uma vez mais resistia. E contava-me que se iria deslocar novamente à Alemanha para fazer análises. Ele fez a sua comunicação. Eu não consegui assistir. Meti-me no carro e regressei a casa. Nesse dia a imagem que dele retive nunca mais me abandonou. E as suas palavras não mais as vou esquecer.
Um grande profissional mas acima de tudo um bom homem. De quem tenho imensa saudade. Da sua fraternidade. Da sua amizade. Do seu companheirismo. Da sua simplicidade. E de quem sou devedor de inúmeras manifestações de estima. E de apoio. Se amigos são aqueles que ficam quando todos os outros se vão embora o Albino Maria foi um dos que sempre ficou.
Um morto amado nunca acaba por morrer, escreveu um dia Mia Couto. E é bem certo. Sobretudo enquanto houver alguém vivo que se lembre. A sua memória e o seu exemplo continuarão entre nós. Até um dia, Albino!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A dimensão do desporto profissional americano

Um texto de Luís Leite.

Em Portugal criou-se há muito a ideia de que o futebol é a modalidade com mais interesse a nível mundial e que movimenta mais dinheiro.
Uma pesquisa na Internet levou-me à descoberta dos jogadores mais bem pagos do mundo nas modalidades colectivas em 2010.
Trata-se aqui apenas de vencimentos, não estando incluídos prémios ou contratos publicitários.
Cristiano Ronaldo, o futebolista mais bem pago do mundo, é apenas o 33º da lista, que diz respeito, unicamente, a modalidades colectivas.

(valores em USD)
1 Alex Rodriguez 33.000.000 Baseball
2 Philip Rivers 25.556.630 American Football
3 Kobe Bryant 24.806.250 Basketball
4 CC Sabathia 24.300.000 Baseball
5 Derek Jeter 22.600.000 Baseball
6 Jay Cutler 22.044.090 American Football
7 Mark Teixeira 20.600.000 Baseball
8 Rashard Lewis 20.514.000 Basketball
9 Eli Manning 20.500.000 American Football
10 Johan Santana 20.144.708 Baseball
11 Miguel Cabrera 20.000.000 Baseball
12 Carlos Beltran 19.401.571 Baseball
13 Kurt Warner 19.004.680 American Football
14 Alfonso Soriano 19.000.000 Baseball
15 Carlos Lee 19.000.000 Baseball
16 Ryan Howard 19.000.000 Baseball
17 Carlos Zambrano 18.875.000 Baseball
18 Ichiro Suzuki 18.000.000 Baseball
19 Kevin Garnett 18.800.000 Basketball
20 Tim Duncan 18.700.000 Basketball
21 John Lackey 18.700.000 Baseball
22 Manny Ramirez 18.695.007 Baseball
23 Barry Zito 18.500.000 Baseball
24 Torii Hunter 18.500.000 Baseball
25 Michael Redd 18.300.000 Basketball
26 Magglio Ordonez 17.825.976 Baseball
27 Pau Gasol 17.822.187 Basketball
28 Andrei Kirilenko 17.822.187 Basketball
29 Todd Helton 17.775.000 Baseball
30 Gilbert Arenas 17.730.694 Basketball
31 Yao Ming 17.686.100 Basketball
32 Kelvin Hayden 17.480.000 American Football
33 Cristiano Ronaldo 17.420.000 Futebol

O clube que paga mais em ordenados de jogadores é, a grande distância, os New York Yankees (Baseball) com 206.333.339 USD (153.718.337,56 Euros).
A MLB (Liga profissional americana de Baseball), com 30 clubes, paga este ano 2.730.601.585 USD (2.047.951.188,75 Euros) só em ordenados de jogadores.
A NBA (Liga profissional americana de Basquetebol), com 30 clubes, paga este ano 2.010.189.550 USD (1.497.591.214,75 Euros) também só em ordenados de jogadores, mas não passa da 3ª Liga que mais gasta em vencimentos, atrás da NFL (Futebol Americano), com 32 clubes, cujo valor exacto não foi possível apurar, por várias razões, mas anda à volta dos 2.500.000.000 USD.
Nos Estados Unidos estes valores são mesmo reais e não há hipótese de fuga aos impostos.
Quanto ao futebol, os dados não estão disponíveis na Internet, por razões óbvias.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A melhor e sem custos

O milagre podia ter acontecido na passada quinta feira. Bastaria que a candidatura ibérica, a melhor de todas segundo o homem do leme do nosso desporto, tivesse logrado a organização do mundial de futebol. Mas Putin não deixou. E parece que jogou forte. Como escreveu José Lello: quem paga, ganha. O homem do leme do nosso desporto já tinha garantido que o país não ia gastar um euro. Ou seja não pagava. Supõe – se, de resto, que as viagens, deslocações e estadias que entretanto realizou para apresentação da candidatura tenham sido suportadas por outro bolso que não os cofres públicos E embora para o final já admitisse que tinha de pagar os custos de segurança, ainda não estimados, a coisa era dinheiro em caixa. E mais emprego. E camas ocupadas. E mais turismo. E transportes. E os inevitáveis reflexos para a boa imagem do país.
De repente o país político transfigurava-se. A crise tinha abalado. Havia uns patuscos que achavam que a nossa parcela (leia-se número de jogos em solo pátrio) era pequena comparada com Espanha. Quanto ao resto tudo bem. E no mar de dificuldades em que vivemos o centrão político deu um ar da sua graça. O governo cumpriu os mínimos. Sem grandes euforias. A surpresa veio do lado dos PSD´s do futebol e afins. A defender algo inédito: o investimento está feito e o retorno é imediato. Sem risco. Cavaquistas desembainharam os argumentos e esqueceram por momentos as palavras do dito a propósito do evento. Todos a defenderem a causa .E a demonstrarem que o tempo em que o PCP tinha o monopólio das cassettes já passou. A imprensa desportiva fez o óbvio: render o peixe que a ajuda a sobreviver. E para que a coisa tivesse ainda maior rigor científico houve até um estudo académico a demonstrar “a+b” que era dinheiro em caixa. Parece que havia o compromisso do TGV, de que falou Zapatero, mas por cá a coisa passou não fosse transtornar as relações com o parceiro de orçamento. Nem se falou do assunto. O estudo dizia que era preciso gastar uns milhões. Mas se o mesmo estudo previa que o número de milhões a entrar era bem maior o assunto estava arrumado. E havia ainda o valor da marca “Portugal”. E o contributo para o PIB. Tudo, como sempre, boas causas.
E, por isso, foi um futebol politicamente unido que fez frente à poderosa FIFA. O homem do leme do nosso desporto, o patrão do futebol e o representante dos trabalhadores fardaram-me a rigor. Colocaram a mesma gravata. E demonstraram que, afinal, os estatutos da federação não são motivo impeditivo para todos estarem irmanados pelas grandes causas futebolísticas nacionais. Sentido de honra? Defesa de princípios? A parte ilegal da federação cedeu o seu lugar à realpolitik .O governo legitimou. O governo esqueceu a parte ilegal da federação. Esta agradeceu. Para quê complicar?
É dos livros. Sempre que Portugal se candidata a organizar qualquer coisa, a “coisa” paga-se a si mesma. E ainda dá lucro. Foi assim com a Expo. E com o Euro 2004.E com estudos para um candidatura aos jogos olímpicos. É o espírito scut. O problema é quando se enceram as contas. As previsões saem falhadas. O que talvez ajude a explicar que tão lucrativos projectos não consigam arrancar sem o chamado apoio político. Que trocado por miúdos quer dizer dinheiros públicos.
Com excepção de Barcelona, e respectivos Jogos Olímpicos, está para surgir o primeiro grande evento desportivo internacional, tipo europeu/mundial de futebol ou jogos olímpicos, que não seja um descalabro financeiro para o pais ou a cidade que os acolhe. E o oposto: um lucrativo resultado para a entidade que os organiza (UEFA/FIFA ou COI).
A literatura é abundante a demonstrar que a organização de um mundial de futebol cria valor. Ganha-se muito dinheiro. Mas também se perde. O que é mais lucrativo - direitos televisivos e contratos de sponsorização - ficam na Suiça. Limpos e isentos de impostos. O resto se verá. O resultado final é conhecido. Bom para a FIFA (ou UEFA). Bom para a federação nacional e negócios que na sua orbita prosperam. Mau para as finanças públicas dos países que acolhem. Se estamos enganados que surjam os bons exemplos.
É preciso rever muita coisa na organização do futebol, dizia consternado Gilberto Madail. Compreendo-o. Quem o convenceu que uma candidatura que não constrói uma dezena de novos estádios tem vantagens comparativas face uma outra que se propõe fazê-lo?
Quando - agora na FIFA, no passado no COI- os senhores do mundo se plantam frente a uns vetustos decisores desportivos a pedirem uma decisão favorável aos seus projectos, o que tem de ser repensado não é a organização do futebol(ou do desporto). É a relação da política com os negócios do futebol (e do desporto).

domingo, 5 de dezembro de 2010

Um despacho para além do transitório?

Dê-se conhecimento, para quem da matéria esteja inteirado – o que não é seguramente o meu caso –, do alcance de recente despacho do Presidente do IDP sobre os profissionais responsáveis pela orientação e condução do exercício de actividades físicas e desportivas.

Como é sabido o Decreto-Lei n.º 271/2009, de 1 de Outubro, veio definir o regime jurídico da responsabilidade técnica pela direcção das actividades físicas e desportivas desenvolvidas nas instalações desportivas que prestam serviços desportivos na área da manutenção da condição física (fitness), designadamente aos ginásios, academias ou clubes de saúde (healthclubs), independentemente da designação adoptada e forma de exploração, bem como determinadas regras sobre o seu funcionamento (artigo 1º).

Dois aspectos importantes do diploma respeitam à qualificação dos directores técnicos e dos profissionais responsáveis pela orientação e condução do exercício de actividades físicas e desportivas.
Para o director técnico, entre outros requisitos, exige-se o grau de licenciado na área do Desporto ou da Educação Física (artigo 7º, nº 1).

O mesmo grau é exigido para os restantes profissionais (artigo 13º, nº 1).


Contudo, o artigo 27º do diploma vem estabelecer um regime transitório.
Para o que agora interessa reter, os nºs 3 e 4 deste preceito, dispõe do seguinte modo:

1. Os profissionais responsáveis pela orientação e condução do exercício de actividades físicas e desportivas que não fossem licenciados, nas áreas indicadas, dispunham de 90 dias, após a entrada em vigor, para requerer junto do IDP, I. P. o reconhecimento das suas competências actuais obtidas através de:
a) Qualificação, na área do desporto, no âmbito do sistema nacional de qualificações;
b) Experiência profissional na orientação e condução do exercício de actividades físicas e desportivas;
c) Reconhecimento de títulos adquiridos noutros países.

2. Para os profissionais que venham a ser titulares de qualificação, na área do desporto, no âmbito do sistema nacional de qualificações podem, igualmente, no prazo de dois anos contados da data de publicação do presente decreto-lei, requerer junto do IDP, I. P., o reconhecimento das competências entretanto adquiridas.


Como é bom de ver, dois regimes transitórios: um dirigido ao passado e outro visando acautelar situações futuras, como dá bem conta, aliás, o texto preambular do decreto-lei.

Vejamos, agora, o que afirma o Despacho nº 16766/2010, de 25 de Outubro e publicado no passado dia 5 de Novembro:

“1 — Considerando que:
a) O Decreto-Lei n.º 271/2009, de 1 de Outubro, define o regime jurídico da responsabilidade técnica pela direcção das actividades físicas e desportivas desenvolvidas nas instalações desportivas que prestam serviços desportivos na área da manutenção da condição física (fitness), designadamente aos ginásios, academias ou clubes de saúde (healthclubs);
b) Um dos objectivos do regime transitório estabelecido por este diploma, conforme atesta o próprio preâmbulo, é possibilitar a todos os profissionais que não preencham os requisitos nele previstos, durante o período transitório, o reconhecimento das suas competências;
c) Ao longo das últimas décadas foram aceites pelo mercado, de forma a dar sustentabilidade ao mesmo, um conjunto de cursos de formação profissional, realizados por entidades de reconhecida credibilidade no sector e reconhecidas pela Direcção -Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT);
d) Por outro lado, a partir da data de entrada em vigor deste diploma, o exercício de funções dos profissionais nesta área é certificado através de cédula, estabelecendo o n.º 5 do artigo 27.º que a obtenção da cédula é conferida através de despacho do presidente do IDP, I. P., ouvidas as associações socioprofissionais do sector.
2 — Nestes termos, determina -se
a) Para efeitos do disposto no artigo 27.º do Decreto-Lei n.º 271/2009, de 1 de Outubro, as qualificações conferidas pelas entidades que, à data de entrada em vigor do referido diploma, estivessem certificadas pela DGERT e que preencham os requisitos do número seguinte, são consideradas como suficientes para obtenção da referida cédula;
b) Para efeitos do disposto no número anterior, são considerados os cursos de formação inicial ministrados por aquelas entidades, desde que os mesmos tenham uma carga horária igual ou superior a 100 horas;
c) Para efeitos do presente despacho, as entidades que queiram ver os seus cursos reconhecidos, deverão enviar ao IDP, I. P., comprovativo da carga horária, as datas de início e de fim, e a listagem nominal dos formandos que obtiveram aproveitamento nos mesmos;
d) A medida referida na alínea anterior produz efeitos a partir da data de publicação do Decreto-Lei n.º 271/2009, de 1 de Outubro”.

Estar-se-á mesmo a cumprir o determinado na lei?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Londres 2012: Uma competição sem importância

Um texto de Luís Leite.


Este país está cada vez mais futebolizado.
A cultura desportiva, em vez de crescer e melhorar, é cada vez mais frágil.
O interesse da população em geral no que respeita ao desporto, ao que parece, limita-se à vida de José Mourinho, Cristiano Ronaldo, e ao momento dos 3 grandes (FCP, SLB e SCP), a que se juntaram agora os vários clubes estrangeiros em que militam jogadores portugueses.
O resto, praticamente não tem qualquer relevância.
O Comité Olímpico de Portugal limita-se a distribuir bolsas de preparação olímpica aos atletas que vão sendo integrados.
Entretanto, o recém-nomeado Chefe de Missão Olímpica, declarou, um mês depois da sua nomeação, que já tem definido o perfil do seu adjunto. Bravo!
A pouco mais de ano e meio dos Jogos de Londres, a preparação da Missão Olímpica está no ponto de partida.
É o desinteresse total.
Dos Jogos só se falará, nos Órgãos de Comunicação Social, nas vésperas da partida para Londres.
Para onde enviarão, outra vez, jornalistas completamente ignorantes sobre aquelas estranhas modalidades.
Vicente Moura agora já não arrisca previsões.
O Governo não revela a menor preocupação. O que tinha interessado mesmo era a organização do Mundial de Futebol.
Eu arrisco uma previsão:
Dado o estado actual do Desporto Português, em plano inclinado, arriscamo-nos a sair de Londres sem qualquer medalha.
O que nos colocará, definitivamente, no grupo dos mais atrasados da Europa, com a companhia exclusiva dos micro-estados.
Com a população que temos, deveríamos apontar para 5 a 7 medalhas, o que significaria ter 15 a 21 medalháveis.
Mas ninguém se importa.
Pois se podemos ter dezenas de medalhas nos Paralímpicos…
O que interessa, para já, são os eventuais reforços futebolísticos de Inverno.
Em Agosto de 2012, após os Jogos, alguém irá culpar a crise financeira pelos maus resultados olímpicos.
De que se falará durante uma semana, no máximo, em simultâneo com os eventuais “reforços” dos 3 grandes para 2012/2013, que continuarão a encher as capas dos jornais desportivos, diariamente, com nomes de jogadores sul-americanos desconhecidos.
E o Benfica e o Porto deixarão de jogar com 9/10 estrangeiros. Passarão a jogar com 11.
É a paixão pelo Futebol…

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O individual e o colectivo

Algumas modalidades desportivas, pelas suas características e 'catalogação' de modalidade individual, vivem o treino com o desafio de - isoladamente, quando os há - inserir objectivos de equipa na modalidade em que a prática é quase sempre individual na competição.

Atletas que são treinados e 'formatados' a valores individuais e de um momento para o outro, a obtenção do objectivo passa a incluir uma equipa, um conjunto de colegas durante a competição propriamente dita. A tal questão de correr unicamente só ou estar numa competição onde se inserem também valores e comportamentos relacionados com uma equipa que apenas existe durante a competição e depois volta à 'normalidade'.

Poderíamos saltar quantas vezes as necessárias para a analogia entre o exemplo anterior e o mundo das organizações, onde damos preferência a valores organizacionais e profissionais relacionados com os aspectos individuais e depois, como fosse simples, mudar-se o chip para algo colectivo e em grupo.

Os treinadores trabalham atletas de forma a que os mesmos sejam fortes mental, física e tecnicamente e a conquistarem os seus objectivos de forma quase 'só' quando estão em competição. Em outras situações a confrontarem-se com um problema de alinhamento quando tentam explicar aos mesmos atletas que nesta competição, para a vencerem terão de trabalhar em equipa, puxar uns pelos outros.

Não se trata de nenhuma crítica ao nível competitivo das modalidades, antes, uma reflexão sobre a dificuldade do próprio treinador alterar o seu discurso e alinhar as formas metodológicas e processuais para conseguir aumentar o rendimento dos atletas, quer quando competem de forma individual, quer quando a sua modalidade 'oferece' a via colectiva.

Ao nível das organizações, mesmo as desportivas, essa necessidade de alinhamento é tudo menos empática. Não existe qualquer sentimento e preocupação relacionada com o ajustar do discurso e das mensagens a um melhor resultado final colectivo.

As dinâmicas geralmente são sempre as mesmas, apenas condicionadas se são comunicadas para uma pessoa só ou a um conjunto. No desporto, apesar de existir a dificuldade, a empatia e necessidade criam nos treinadores uma tentativa e esforço de mesmo em pouco tempo fazer com que os seus atletas entendam que o seu resultado individual depende sempre de um colectivo.

O desporto, que tem muita a ensinar às organizações, independentemente das suas dimensões, podia começar a catalogar os ensinamentos às organizações. Este era um deles.