quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Intelectualmente sério

“Desde sempre que nos perseguimos com veneno e brutalidade”
(Vasco Pulido Valente,in Público,14 de Julho de 2007)


“As actuais alterações legislativas são uma consequência de uma opção de modelo de desenvolvimento do desporto. Foi assim que começou o planeamento desta legislatura dois anos antes de 2005. Quando os então detentores do poder no IDP e no Governo de então exerciam a defendiam um modelo completamente diferente. Basta consultar os textos que publicaram, os relatórios que fizeram da sua acção, os estudos que mandaram pagar e a acção que fizeram. As leis que agora se mudam são uma consequência desse plano de desenvolvimento. O que dói ao Sr. José Constantino e ao PSD foi nem sequer ter imaginado que podia haver um outro modelo de desenvolvimento do desporto diferente do que defendiam e praticavam. Falharam no diagnóstico da realidade desportiva portuguesa e nas mudanças que estavam a ocorrer na Europa e no mundo do desporto. Foi por causa dessa falha que não tiveram soluções. E consequentemente não souberam dizer aos legisladores que leis deviam fazer. Sejam intelectualmente sérios.” (Anónimo, comentando o texto O debate)

Intelectualmente sério, para este habitual “anónimo”, é, continuamente, comentar sobre o que não dissemos ou escrevemos. Intelectualmente sério é acusar os outros (quais outros?) de o não serem e esconder-se atrás do anonimato. Intelectualmente sério não é contraditar uma opinião. É discorrer sobre intenções ou opiniões que supostamente ele entende que o autor tem ou defende. Intelectualmente sério é, perante qualquer opinião por nós expressa, e completamente a despropósito, louvar e beatificar o presente e denegrir o tempo em que desempenhámos funções na administração pública desportiva. Intelectualmente sério é defender um “plano de desenvolvimento” que é consequência de um “modelo”que eu e o PSD jamais imaginaríamos que existisse e que começou a ser preparado “dois anos antes de 2005”.Intelectualmente sério é esta anónima compulsão para acusar e ofender. A obsessão é tanta que o preclaro “anónimo” resvala para o reino do puro delírio solipsista. E o desvelo e zelo com que deliberadamente critica revelam que o país mais do que encalhado está “encanalhado”.
Miguel Real escreveu um livro intitulado a Morte de Portugal em que traça uma imagem desencantada de Portugal e dos portugueses. Aborda entre outras coisas aquilo que designa por “canibalismo cultural” em o que o debate de ideias se transformou. Uma máquina devoradora uns dos outros. Em que quem pensa diferente de nós é um alvo a abater. Na Inquisição queimava-se, no Estado Novo perseguia-se e prendia-se e no Portugal democrático denuncia-se e humilha-se. Desejavelmente de forma anónima. Não é um problema de governo e de quem o acolita. É uma idiossincrasia da governação que está para além da actual maioria e que se desenvolve em espaços de poder que não apenas os públicos, nem apenas à volta do Estado. O desporto não escapa a estes tempos. O facto de sermos, na generalidade dos casos, os mesmos há tempo demasiado agrava a situação. Se há uma crítica, disserta-se sobre as motivações mais profundas do autor. Insinua-se sobre os interesses que serve ou supostamente serviu. Aquilo que fez ou que disse. O poder ou a posição que supostamente ambiciona. Não se avalia e discute a opinião expressa, mas as suas supostas e malévolas intenções. Os seus inconfessáveis interesses e cabalas. Evita-se discutir a mensagem para se começar por atacar o mensageiro. Vale a pena discutir assim? Não são para levar muito a sério parte dos debates que ocorrem sobre os problemas desportivos. Parte deles são inócuos à realidade desportiva que continua a desenvolver-se á margem deste tipo de polémicas. O problema não é o de se contrastarem opiniões diferentes, o que seria, de resto, estimulante. É que muitos desses debates enformam de pessoalismos, de polémicas antigas, onde abundam, com frequência, pequenas invejas, ressabiamentos, agrados clientelares, ajustes de contas, perseguições, erros e disparates. O que se visa, em elevado número de casos, não é contraditar uma tese ou uma opinião, mas humilhar quem a defende ou a expressa. Aniquilar quem diz, para que melhor se destruir o que diz. Em nome de uma certa ideia de sociedade e de desporto? Dificilmente. Em nome de um exercício de cidadania? Não creio. Cumpre-se tão só o desígnio pessoano:”o nosso provincianismo consiste em estar, em viver, numa civilização, sem verdadeiramente fazer parte dela e do seu desenvolvimento”. O auto-convencimento de uma suposta superioridade conduz à arrogância e esta ao desprezo por opiniões diferentes. É curto o limite para o ataque soez. Nunca aprendemos. É azar. Apanhámos o comboio certo no tempo errado, diz Miguel Real. E assim, nunca mais lá chegamos.

13 comentários:

Anónimo disse...

Na resposta ao Anónimo, em vez de ter feitto este longo texto inócuo, teria gasto menos palavras respondendo tim-tim por tim-tim.

Assim ficámos a saber o que o Anónimo disse, mas não os argumentos contraditórios do JMC, que se perdeu por outros campos.

Eu não sou o Anónimo que escreveu aquela prosa, mas apenas um espectador atento ao debate entre os dois (Anónimo e JMC), à espera de saber de que lado está a razão.

E eu sei que o JMC é capaz.

josé manuel constantino disse...

Agradeço sensibilizado a prova de confiança nas minhas capacidades,mas receio não estar à altura do desafio e produzir mais um texto inócuo.Falar tem o seu tempo e estar calado também.

Anónimo disse...

Estou com o anónimo anterior
O debate político deve efectivar-se e este blogue é o único possível no desporto português

Mas a resposta sobre os princípios é importante. A não resposta do anónimo após 24 horas fortalece a opção de José Constantino

Pontos a assinalar:
• Havia um segredo que estava escondido: o trabalho clandestino de 2003. Anonimamente o escrito saltou-lhe do peito. Provocando: apoiará o partido o anónimo?

• Provocando de novo: Este anonimato veio do PC de antes do 1975 e a matriz molda actos que 33 anos depois pensam inovadores

• Constatando: a contaminação anónima faz mal ao desporto

• O texto do anónimo prefere a actuação de política desportiva via legislação pela assembleia não pelo governo: "não souberam dizer aos legisladores que leis deviam fazer"

• Dá o modelo vigente de cada governo como instrumento único. O modelo é o último dos critérios porque dentro de um governo é possível ter mais do que um modelo para um sector. É naturalíssimo que um governo diferente tenha um modelo diferente. O argumento do modelo não é decisivo.

Anónimo disse...

ver o artigo "Partidos e paredes de vidro" de João Cardoso Rosas, onde diz
"O PS e o PSD foram perdendo a sua capacidade de mobilização social porque também não foram capazes de renovação interna."
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1089477.html

Anónimo disse...

A quem dar os parabéns do Sport Lisboa e Benfica (glorioso) (SLB) entrar no clube dos menos ricos?
Madail, Cavaco, Sócrates, Evangelista, Hermínio, Laurentino, Sardinha, Camacho, Costa (Rui), Constantino, Anónimo (o do Constantino)?

Anónimo disse...

Ao anónimo das 10.49

Como é que o silêncio do Anónimo fortalece a posição do JMC se o texto deste foge às questões postas por Aquele?

O referido Anónimo, como eu, cdertamente esperava que JMC respondesse às questões postas.

A não resposta do JMC foi uma fuga ao debate, o que eu não esperava, porque ele, ou sabe mais do que disse e não o fez, ou não sabe e esquivou-se ancorado em princípios e suposições.

Anónimo disse...

Refere-se ao das 10,59 que sou eu

Esperaria uma resposta às questões do Sr. José Constantino, mesmo que por linhas tortas

Que a conversa não é por linhas direitas, estamos entendidos
A regra da resposta às questões é do Sr. José Constantino

24 horas é curto!
Esperemos então pela resposta

João Almeida disse...

"O debate político deve efectivar-se e este blogue é o único possível no desporto português"

Muito bem.
Com quem debater? O anónimo das 15:59? O anónimo das 10:59? Ou o das 14:41? Talvez o das 16:00?

Nesta surrealidade ainda há anónimos a pugnarem por seriadade intelectual.
Assim vai o debate no desporto português...

Anónimo disse...

Eu sou o comentador das 16.00.

O que eu quis dizer foi que JMC, ao apresentar um texto foi contraditado pelo Anónimo, já que, quando o apresenta, parte do princípio de que as suas ideias podem ser criticadas., facto que ele corrobora em alguns textos. Que deve haver diálogo que ele apregoa, e bem.

Por isso fiquei admirado quando JMC optou por um discurso lateral, pondo-se ao lado dos comentadores que, não participando no debate JMC-Anónimo, se limitam a assistir ao mesmo.

Ora JMC não é nem pode ser, neste caso, comentador do discurso do Anónimo, mas, e tão só, argumentador da tese contrária.

E só assim seria possível, pesados os argumentos de ambos, que os comentadores espectadores passassem a argumentadores das duas teses.

Posto isto, caro João Almeida, o debate não é entre os anónimos. Sê-lo-á quando o diálogo JMC-Anónimo chegar ao seu termo. De contrário entraríamos num diálogo multiplicado entre todos, então sim, surrealista, descontextualizado, sem princípio, meio e fim.

Quando da minha primeira intervenção JMC respondeu que "falar tem o seu tempo e estar calado também", deveria ter aplicado o seu aforismo antes de escrever o post que suscitou a réplica do Anónimo.

Considerei esse aforismo como tardio, e como uma segunda fuga.

Espero que reconsidere para então regularmos a tese de um e outro e darmos a nossa contribuição... realista

Anónimo disse...

Sou um frequentador recente deste blog e foi com alguma curiosidade de segui este "debate"
Que lindo o discurso de JMC, que bem escreve mas com muito pouco "sumo", (como laranjas secas).

Um dos problemas que actualmente nos deparamos é com o gasto de tempo e energia para coisas que não necessárias, essenciais, objectivas - tipo o tempo que estou a gastar neste comentário (não vale a pena).

Um outro problemas dos tempos modernos (e do desporto em particular) é a obsessão pela vitória, é o queremos ficar sempre por cima.
É aquilo que se verifica com este debate.

Que lindo que toda a gente visse o desporto não com a obsessão, o fanatismo da vitória de alguns mas com a importância da participação de todos.

Anónimo disse...

Esse é o estilo do JMC
Utiliza-o desde sempre e tem-no aperfeiçoado
O sucesso que granjeia incentiva-o a permanecer nele

Questioná-lo sobre uma das suas características é o facto novo!

Ó se o anónimo amigo vem a saber disto!

Anónimo disse...

Ao anónimo das 11,23
As suas palavras são bonitas
Aguardamos todos as suas substanciais intervenções

Anónimo disse...

Eu sou o tal Anónimo que foi citado. E só agora tive oportunidade de vir ao blogue.Peço desculpa.
Em resposta coloco outra afirmação sobre o que distingue o "anterior" do "actual", em termos da política desportiva.
No anterior modelo e na anterior acção política a sintonia entre o IDP e o Governo de então era uma realidade indesmentível. Embora se tente agora vir a dizer que não.
Na anterior acção do IDP e do XV e XVI Governos o "associativismo de base", feito por quem realmente faz o Desporto, isto é, por quem se esforça nas pistas, nos estádios, nos pavilhões ou ao ar livre, foi posto de lado e menosprezado perante os interesses do "associativismo de cúpula". Veja-se a retórica do "mexa-se" face à sua efectiva inoperância e falta de impacto no país e na realidade desportiva. E veja-se para onde foi o "responsável político de então". Exactamente para o futebol profissional...
No actual modelo a opção é exactamente a aposta no "associativismo de base" e em federações desportivas fortes.
Repare-se, para o comprovar, que na Lei de Bases e no Regime Jurídico das Federações que agora se irá aprovar quem vai estar representado nas assembleias-gerais, e não estava, são exactamente os atletas, os treinadores, os árbitros e os clubes de base e de proximidade. Porque razão o "associativismo de cúpula" não permitia que quem faz o desporto estivesse representado por si próprio nas federações, na organização e nas decisões sobre o desporto? este facto mostra bem a diferença.
Será porque esse "associativismo de base" não tem dinheiro para pagar "pareceres e opiniões" aos juristas? Ou para pagar mordomias e viagens ao estrangeiro dos dirigentes de cúpula, retirando esse dinheiro aos que fazem desporto?
Ou será porque esse "associativismo de cúpula" vende sistematicamente o valor do desporto às multinacionais para ele ser um mero pretexto para fazerem lucros que não distribuem para o desporto de base?
Quem lucra, e a quem efectivamente interessa que os atletas, treinadores, árbitros e clubes de base não tenham palavra nas assembleias-gerais das Federações? Quem está do lado da defesa do de qual associativismo desportivo?
Já não bastará a vergonha que se está a passar com a utilização mercantil do desporto por parte do Comité Olímpico e da FIFA? Sem pudor em utilizar crianças; e perfeitamente conluiado com os interesses políticos de afirmação das "grandes potências" e os interesses do lucro das "grandes marcas".
Quem defende que associativismo?
Quanto paga o COP de ordenados e mordomias aos seus assessores? Não é uma vergonha face às necessidades do "associativismo de base"?
Portanto o que aqui está em causa são dois modelos. Um em que o COP e os outros "associativismos de cúpula" querem que as Federações sejam fracas para poderem canalizar o dinheiro do Estado apenas para os jogos olímpicos hipotecando o desenvolvimento do desporto para a generalidade dos cidadãos.
Do outro lado está um modelo que aposta em Federações fortes, que não se deixem vergar aos interesses mercantis e restritivos do COP/COI, ou da FIFA, obrigando-os a reinvestir parte dos lucros no desenvolvimento do "associativismo desportivo de base".
É isto que está em causa no RJFD. É esta a questão que está em jogo com esta opção política que substituiu a anterior.
E daí o desespero do Presidente do COP, e a raiva com que tenta atacar o actual Governo, na ilusão de que o RJFD não seja aprovado antes de Agosto de 2008.
Portanto, em suma, uma orientação política que sabe dizer aos legisladores e às leis qual o caminho e a opção.