Nassim Nicholas Taleb dedicou-se à investigação das questões da sorte, da incerteza e da probabilidade. Criou o conceito de cisne negro. Um acontecimento altamente improvável que reúne três características principais: é imprevisível; produz um enorme impacto; e, após a sua ocorrência, é arquitectada uma explicação que o faz parecer menos aleatório e mais previsível do que aquilo que é na realidade. Parte dos êxitos desportivos nacionais em contexto internacional cabem bem nesta categoria. Coisa que poucos acreditam. E têm para isso as suas teorias. Difícil, como o é qualquer boa teoria que se preze, mas teoria. Ciclicamente – sobretudo quando ocorrem competições desportivas que de algum modo permitem comparar em termos internacionais o valor da expressão competitiva do pais, como é o caso dos Jogos Olímpicos - fala-se de política desportiva .Mas é sol de pouca dura. Fala-se com a mesma intensidade e profundidade com que, de repente, se deixa de falar. E enquanto se fala repetem-se os habituais lugares-comuns. Não vem grande mal ao mundo. Mas é sintoma de um problema profundo. Esse sim, a poder merecer alguma reflexão: o de existir um pensamento político pouco estruturado em matéria de política desportiva. Se existe não tem expressão orgânica ou funcional. É como se não existisse. Na generalidade dos casos os dirigentes políticos e desportivos vivem bem com o desporto que têm. Quero dizer: não vivem suficientemente mal para o pretenderem alterar. Mudar a “organização desportiva” é tarefa muito aborrecida. Mais do que aborrecida é um incómodo. Não se sabe onde levaria. Num certo sentido poderia levar a mudar os protagonistas (políticos e desportivos). Levar a concluir que o problema dos resultados, quando não aparecem “cisnes negros”, é, em certa medida, um reflexo das “políticas organizativas “. E que estas são inseparáveis de quem as protagoniza ou por elas é responsável. É preferível deixar as coisas como estão. As pessoas ao fim e ao resto gostam deste “sistema”, mesmo quando o criticam. Não é um defeito da espécie, mas antes uma das suas características. Existem momentos menos felizes é certo, mas que apesar de tudo são compensados por algum poder/visibilidade que não ocorreria em outras actividades. Os dirigentes políticos e desportivos não desejam rupturas. E não apreciam os que as propõem. Detestam idealismos rebeldes. E radicalismos. Gostam do que têm. Se possível com mais “apoios”. Aqui reside tudo: mais apoios. Uns dizem que faltam. Outros dizem que nunca houve tantos como agora. Mas uns e outros unidos sobre a magna/magia questão dos apoios. Garantidos que sejam até admitem uns luxos teóricos. Porque o “glamour” pelas reformas é um devaneio que não resiste ao impacto das primeiras medidas. Esta debilidade no pensamento político/desportivo não pode deixar de ter consequências nas “ políticas”. O que explica, por exemplo, uma clara desconformidade entre as “políticas”-o “que se faz”- e a matriz ideológica que supostamente as inspiraria. Não é um problema actual ou deste ou daquele governo. Os governos, em parte, são aquilo que as oposições e os governados condicionam. Estão para alem da conjuntura. Basta recensear as temáticas e a qualidade dos debates parlamentares. Ou a agenda do “movimento associativo”. É um problema que se prolonga no tempo se excluirmos o período imediatamente a seguir ao 25 de Abril por razões naturais. É isso também que explica os sobressaltos (e os saltos…) de inquietação política. Numa determinada altura situam-se no âmbito do desporto na escola, passam para os problemas do sedentarismo, migram para a saúde,para o desporto para todos, para a formação dos técnicos ou para as infra-estruturas. Há para todos gostos e épocas. Cada governo tem o seu “mini-cluster”e o seu “factor crítico” para o sucesso. Abraçados com a mesma intensidade com que passado algum tempo são, depois, abandonados. Somos, de facto, como diz o insuspeito homem do leme da governação desportiva,“10 milhões de habitantes, uma economia débil, uma formação técnica débil, poucos técnicos qualificados, poucos jovens na prática desportiva e somos um país pequeno na Europa, a que pertencemos”.E, acrescento, com governantes que não são excepção ao nível descrito. O problema não é esse. É saber se atingimos os limites que essa situação permite. Ou se pelo contrário e apesar dessa realidade estamos longe, em matéria de indicadores desportivos, de ter atingido o chamado “efeito de tecto”.E aqui há uma “questãozinha”: há países que têm níveis de desenvolvimento económico, demográfico e social equivalentes ou inferiores aos nossos mas apresentam resultados e indicadores desportivos superiores. E das duas, uma: ou investem verbas superiores nas políticas públicas desportivas, o que em alguns casos não ocorre; ou têm níveis superiores de organização e qualidade desportivas o que lhes permite maximizar os recursos disponíveis. Vale a pena pensar nisto ou vamos aguardar pelos “dias de maior sorte”segundo o apelo do homem do leme??? Como diz uma amiga minha nos governantes há qualquer coisa de mágico que não está ao alcance do comum dos mortais. Será isso?
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
9 comentários:
Caro Dr.Jose manuel Constantino
Brilhante texto de reflexão sobre o moemnto ddos Jogos olimpicos e as percipitadas afirmações dos responsaveis do nosso Desporto com promessas de medalhas com tanta fartura que eu como desportista, treinador e com alguns conhecimentos desta materia dizia cá para mim " estão tolos" é só medalhas e tudo parece fácil... vamso ver mas os nossos atletas merecem todo o nosso respeito e respectivos treinadores e clubes que os envolvem toda uam vida e não só durante 15 dias com muito de oportunismos e a comunicação Social a entrar no jogo fictício das medalhas.
Querem falar a sério do desporto, então comecem por resolver o desporto na "Escola dos pisos de alcatrão" pouco apelativo para os jovens jogarem porque as lesões são mais que muitas, não andem a fazer propaganda de Pavilhões porque o desporto nunca passará por ai, o desporto de massas é praticado ao ar livre e com o nosso clima, até DOI!!!
Exigência sobre a conduta e falta de profissionalismo dos nosso Professores de Educação Fisica e Desporto, que não têm objectivos mínimos a atingir, enquanto responsaveis pela Educação física nas escolas.
Não pode existir Desporto Escolar ,sem primeiro existir Desporto na Escola, palavras sábias do meu antigo Prof. do INEF-Lisboa Prof. Mirandela da Costa.
Parabéns caro Dr. josé Manuel Constantino pelo excelente trabalho realizado no IDP e o programa Olimpico e apoio orçamental está publicado no Diário da Republica II Serie de 11 de Abril de 2005, Deliberação nº 510/2005 entre a Tutela do Desporto e o comité Olímpico de Portugal.
AC
"O Secreto ar e o Cisne Negro"
O nosso Secretário Laurentino é um autêntico prestidigitador.
Hoje tira da cartola, em entrevista à Lusa (ver Expresso Online),umas imensidões de governação desportiva que só são perceptíveis pelos verdadeiros dominadores dos segredos de Taleb ou dos oráculos governamentais que inspiram tão insigne figura no "pensamento positivo" que o faz almejar grandes feitos desportivos num País inopinadamente declarado pelo próprio como minúsculo e pobre.
Mas os factos inopinados e impactantes são assim mesmo imperceptíveis para os comuns governados.
Ainda os Jogos da Grande Muralha farão jus devido à prospectiva sapientíssima do Secretário (Laurentino dixit).
Porque isso é digno de "o segredo", só alcançável pelo dominador Secretário (diga-se daquele que domina Taleb e o segredo, aquilo que é secreto e próprio do Secretário, portanto...!).
Os atletas e dirigentes que propalam desvios à norma são, assim mesmo, e tão só, "uns destemperados2.
"Nunca em tempo algum houve tanto apoio e preparação Olímpica e de competição" (sic).
O País miserando vai ter, já tem no papel onde se fazem as projecções do futuro que independem do cumprimento efectivo, "os melhores centros de preparação para o alto rendimento desportivo" (sic).
Puxa que obra imensa. Até cansa!
Enquanto isso os problemazitos da justiça desportiva, da lei de bases em stand-by, do desporto escolar, da formação de agentes desportivos, do IDP faz-de-conta, da definição de orientações de desenvolvimento devidamente publicitadas e assumidas, da preparação de uma estratégia para Londres 2012, onde estão para que sejam devidamente escrutinados e discutidos por académicos, dirigentes, quadros da administração, e outros interessados?
Vai sendo tempo de prestar contas das políticas e para isso é preciso sair deste improviso Talebiano que só os Cisnes Negros dominam e os sound-bytes alimentam...!
J. Manageiro da Costa
(14 de Agosto de 2008)
O rapaz Manageiro tem vindo num crescendo de má criação contra Laurentino Dias.
Provavelmente porque sente que a sua argumentação ganharia com arroubos de grosseria contra um alvo de que não está manifestamente certo de conseguir atingir.
O Cunhal, nos seus bons tempos do PREC, teve que ser advertido por Mário Sares contra a linguagem que tentava usar nos debates parlamentares e cujo único propósito era o de desqualificar a Instituição Parlamentar e a Democracia.
Pelos vistos, deixou escola.
"Desejo-vos boa sorte, porque é a única coisa que todos vós necessitam para serem bem sucedidos no Jogos Olímpicos de Pequim". Comentário de Laurentino Dias antes da partida dos atletas para os J.O.
Por sugestão do J. Manageiro da Costa fui ler as declarações do Sr. Secretário de Estado do Desporto. De todo o texto saltou-me aos olhos esta frase : “Portugal vai ter das melhores condições da Europa e do Mundo para treinar alto rendimento em qualquer modalidade". Tenho acompanhado o desenvolvimento deste dossier , posso dizê-lo quase diariamente, para perceber um bocadinho o que vai na cabeça do Sr. Secretário de Estado. Confesso, que “há qualquer coisa de mágico que não está ao meu alcance”.
Não consigo alcançar a definição de Centro de Alto Rendimento Desportivo para o Sr. Secretário do desporto.
Não consigo alcançar esta coisa de plantar cogumelos de CARD em qualquer terra do nosso pequeno país. Ele é ténis de mesa em Mirandela; ele é voleibol em Resende; ele é surf em Vila de bispo; ele é remo e canoagem em Montemor-o-Velho; ele é remo também em Foz Côa; ele é Ciclismo em Anadia
Não consigo alcançar esta obsessão pela desconcentração em vez da concentração. Também não consigo perceber esta coisa de “negociar” com os Sr. (s) Presidentes de Câmara o sítio e as modalidades dos CARD. Será que é para agradar os Sr. (s) Presidentes de Câmara?
Não consigo alcançar o facto de estes locais estarem longe de uma Universidade de Desporto ou de qualquer outra Universidade que o atleta possa continuar os estudos.
Infelizmente o “pensamento político” é “pouco estruturado” nesta matéria. Depois do dia 24 teremos outra matéria resta saber qual.
Voltamos ao mesmo e andamos à volta da nora.
Devemos pensar como o liberal progressista que afiançava que a salvação estava no movimento lento do próprio dado do problema que acabava por se resolver por si mesmo à custa de esperar pela solução.
Isto tem um nome dado pelo Adam Smith: A mão invisível.
É a chamada arma invisível que não se vê e vai actuando e solucionando, enquanto as pessoas vão congeminando soluções.
O anónimo das 17,47 deveria saber que o respeito conquista-se pelas obras
O rapaz laurentino ainda não demonstrou a que é que se ficou a dever o mérito da sua nomeação pelo seu compadre sócrates
Como todos os outros nomeados são filhos, primos e enteados incapazes de obrar a nomeação inicial é mais dificil de justificar
Sem obra que se dê ao respeito lá se vai a dignidade da instituição
A comparação de Laurentino Dias com Mário Soares é curiosa e deixa sem respiração o mais avisado, enquanto outros nem se aperceberão
Os problemas de politica desportiva estão para além do Laurentino Dias.Mas é claro que com a equipa que escolheu e com o sede de protagonismo que dá provas e o desleixo organizativo com que pactua não se pode queixar que as criticas surjam.E aí não há amanuense que o safe.
Caro António,
Este meu post não era para comentar resultados alcançados pelos atletas nacionais nos Jogos de Pequim.Mas a esse propósito aqui deixo o que sobre o assunto escrevi num outro blogue:"Até ao levar dos cestos ainda é vindima. Qualquer avaliação que se pretenda fazer à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos é prematura. Bons resultados podem ainda surgir. Mesmo sabendo-se que dificilmente os objectivos desportivos contratualizados com o Estado (5 classificações de pódio/medalhas; 12 classificações correspondentes a diplomas (8ºlugar);e dezoito modalidades desportivas presentes nos J.O.) dificilmente serão alcançados. Tudo o resto do comportamento dos atletas ,aos critérios de selecção /preparação, aos apoios concedidos o rigor é inimigo da precipitação. E o rigor pede tempo e distanciamento."
Enviar um comentário