quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pensar alto

Em grande parte, a alavanca de uma politica de promoção do desporto está “fora do desporto”: está na política escolar, na política de juventude, na política de saúde, na política autárquica, na política de emprego. O que está em causa não é passar a outros sectores o que é da responsabilidade das políticas públicas desportivas. É agir com uma perspectiva global à altura dos desafios actuais. Implica que se olhe para a política desportiva numa perspectiva simultaneamente global e transversal. A política desportiva não pode “respirar” sozinha ou viver sem o contributo de outras politicas sectoriais. Por mais bem elaboradas que fossem as “politicas desportivas”estas ficariam sempre prejudicadas se não articulassem perspectivas, incentivos e não ganhassem sinergias com uma lógica de sentido único. Mesmo políticas sectoriais carecem de lógicas globais. Não é possível mexer seriamente na educação física escolar e no desporto da escola se não se mexer na organização dos currículos escolares, dos tempos escolares e na formação de professores. O incentivo à prática associativa carece do aumento do tempo livre e da desburocratização fiscal e administrativa sobre o tecido associativo. O alto rendimento precisa de um redefinição de prioridades à luz das capacidades competitivas do país no plano externo e das diferentes “economias “ das modalidades. Continuar a pensar que o apoio financeiro do Estado se deve dispersar por modalidades sem qualquer capacidade competitiva externa e de custos elevados é delapidar recursos ao os não concentrar onde existem possibilidades de ganhos de competitividade. As políticas desportivas autárquicas carecem de ser reavaliadas à luz do aumento dos indicadores de prática desportiva. Não basta que a autarquia preste “atenção” ao desporto. Importa monitorizar e avaliar o que se faz na base de critérios de crescimento e não de politicas de “acontecimentos” que pouco valores acrescentam à sustentabilidade das práticas desportivas locais. A discussão sobre o financiamento público não pode centrar-se nos “ valores”mas nas prioridades de investimento e de despesa. A montante de todas medidas “desportivas” está ainda a mobilização do país em torno do desenvolvimento do desporto e da melhoria da qualidade da prática e do desempenho dos seus representantes. Não se trata de elevar o desporto a uma prioridade politica. Mas já se trata de elencar o contributo do desporto a outras prioridades politicas sejam no domínio da inclusão social, da educação, da saúde, do emprego ou da economia. Para tanto é necessário que o desporto tenha uma a imagem atractiva do valor, necessidades e benefícios que representa para o país e para os cidadãos. Se constitua como um “facto social conspícuo”. O que passa entre outras coisas por saber “como entrar” nas restantes politicas. E construir uma dimensão mediática que está para além do “fogo-fátuo” de aparecer a dizer umas banalidades.
A ambição política não passará de um voluntarismo generoso, mas inconsequente, se não abrir portas ás restantes politicas sectoriais. E se não se constituir como um processo mobilizador. A retórica encantatória do desporto como ponto de partida e de chegada das políticas públicas é curto. Serve para um “desportozinho”. Dificilmente permitirá superar os indicadores da situação desportiva e que tanto nos penalizam. A tarefa de novos desígnios para o desporto tem de ser responsavelmente partilhada pelo Estado e pelas organizações do sistema desportivo. É ainda a esperança que resta.

6 comentários:

Anónimo disse...

concordo genericamente com o seu artigo
os erros desportivos nacionais cabem por razão de conhecimento ao desporto e não aos restantes sectores
cabe também áqueles que sabendo da existência dos défices os possam apontar
eventualmente uma e outra vez e tantas vezes até resultarem em acções de sentido positivo em relação ao défice prevalecente.
naturalmente os agentes autores dos resultados actuais terão dificuldade em aceitar visões alternativas

Anónimo disse...

A entrevista de Maria José Morgado ontem na RTP1 é importante a vários títulos
Na parte final quando refere a nobreza da discussão se Portugal quer juízes com medo dos poderes instituidos ou decididos a cumprir a lei é uma matéria transversal à administração pública
Há comportamentos que se fecham na ignorância, para tresler as obrigações. Mais tarde emenda-se a mão e faz-se o que se devia ter feito inicialmente, com ganhos de tempo e eficácia política
Por vezes passa-se toda a legislatura sem um sobressalto ou um emendar de mão por olimpicos que sejam os desastres
Como sugere MJM o cumprimento das obrigações fundamentais é um acto nobre face aos objectivos momentâneos e particulares que preenchem legislaturas

Anónimo disse...

Procurando dar o nome às coisas, existem vários aspectos da realidade desportiva nacional que são inaceitáveis como termos ou não cerca de 30% da população que praticam desporto, 25% dos jovens em idade escolar com uma actividade desportiva regular no desporto escolar ou nas federações ou nos ginásios e termos duas ou três medalhas em jogos olímpicos.
Os três factos estão correlacionados e para sair de um os outros devem apresentar resultados coincidentes.
A sociedade e a economia portuguesas são o pulmão e o capital para a saída.
Os estrangulamentos são por exemplo a incapacidade do desporto concordar com a sociedade de que os resultados são socialmente úteis e mostrar qual as vias para para um percurso comum.
no fundo o que o José Constantino refere tem de ser passado ao papel e transformado em compromnisso transversal à sociedade e por todos assinado. Como o COP e o Governo fizeram para Pequim.
Agora a questão é a de saber se quem vai assinar pelo desporto é o Governo ou se existe uma organização desportiva líder do desporto e que a sociedade e a economia reconheçam essa liderança, responsabilidade e risco de ser o fiel depositário dos milhões e da confiança social.

Anónimo disse...

“Uma longa viagem começa com um pequeno passo”
(provérbio chinês)

E a sucessão de pequenos passos, mas seguros é que dão sustentabilidade às grandes viagens.... Mas não basta só a cadência dos membros inferiores, importa articular com os membros superiores, sob pena de um abandono precoce ou de uma recta final em suplício e em manifesto atraso.
Nas coisas do Desporto, também é de pequenos passos e movimentos articulados entre si que depende o mais longe que se pretenda chegar.

A crónica do Professor é clara na importância desses passos e movimentos e da articulação entre si.
Um dos exemplos, o da política escolar que dá, refere a importância de se agir seriamente na educação física escolar e no desporto da escola mexendo na organização dos currículos escolares, dos tempos escolares e na formação de professores.
É sabido que a Educação Física Escolar enferma da falta de condições quer em instalações quer em material (para os que não sofrem de memória curta recuando aos governos do Prof. Cavaco e Silva sabe-se que à data as Escolas mandadas construir de raiz não contemplavam Pavilhões Desportivos). Na generalidade temos um Parque Desportivo Escolar pobre.

Como se já não fosse grave, a Educação Física Escolar padece de uma outra patologia que se agravou nos últimos anos ao contrário do que se esperava e que ninguém se atreve a denunciar. Falo, no meu entender, de uma grande parte dos Professores de Educação Física que não detém a competência para exercer a sua profissão. Ninguém se atreve a dizer que "O REI VAI NÚ" e quando digo ninguém, refiro-me à classe profissional que se tem acomodado, aos sindicatos, às associações de pais e aos políticos e governantes. E se uns se demitiram, se outros perderam a coragem, outros “estarão escondidos como o gato com o rabo de fora”.
O problema desta falta de competência, na minha perspectiva, tem origem nas Escolas de Formação de Professores, com grande incidência no Politécnico e nas Escolas Privadas. Sei que isto que acabei de escrever não é politicamente correcto, que é polémico e fere sensibilidades e interesses. Assumo até que posso estar errado na minha opinião, podendo não estar a fazer uma leitura correcta, mas é assim que a decifro.
E como exemplos para justificar a minha opinião, começo com o ensino da Educação Física no Ensino Básico do 2º ciclo, que a partir de despacho ministerial do Sr. Marçalo Grilo esse espaço profissional ficou delimitado aos professores formados pelo Ensino Politécnico. Não será por acaso que cada vez mais verificamos que os alunos chegados ao 3º ciclo não detêm competências motoras básicas, como por exemplo um simples rolamento à frente, para não falar à retaguarda, ou um apoio facial invertido.
Por outro lado verificamos também que nos últimos anos no ingresso da Escola Pública a maior parte dos professores de Educação Física são oriundos de Escolas Privadas, não sendo o critério de Selecção o da competência, mas o das notas atribuídas nos diplomas. E é do conhecimento geral que na avaliação realizada ao ensino superior as melhores escolas de professores são as escolas das Universidades Públicas e que vêem os seus alunos a ficar no desemprego. Entendo assim que ninguém fala e denuncia porque, se por um lado é politicamente incorrecto, por outro há pessoas instaladas ou a reboque dos interesses económicos, sejam eles destacados pelas federações e a dar aulas nessas escolas, ou em outras situações de acumulação sejam professores nas Escolas Públicas ou quadros superiores da administração pública.

Por outro lado, o estado doentio da Educação Física Escolar e do Desporto em Portugal é também devido à classe política, que nesta matéria se tem mostrado incompetente e se encontra ainda nos tempos do Estado Novo. Para estes políticos o importante é que haja uma medalha. Tal como nos outros tempos, e como dizia o Prof. Melo de Carvalho, para o regime do antes do 25 de Abril os campeões nascem e não se fazem. Assim foi nestes JO, em que o Nelson e a Vanessa salvaram esta política reaccionária dos sucessivos governos e que deixa de fora uma grande parte da juventude portuguesa.

É pois sobre estes pequenos passos que é fundamental agir, não bastam programas de quatro anos para ganhar medalhas, sendo que o que está em causa na caminhada é muito mais que umas medalhas. Para isso é necessário que as organizações nacionais do fenómeno desportivo e que recebem fatias importantes do orçamento do estado, as classes profissionais, e o movimento associativo, se unam como um todo e se articulem nesta caminhada.

Anónimo disse...

Herbert Spencer disse que

"Todos os que compõem a organização governamental e administrante unem-se entre eles e separam-se dos outros".

Legenda:
Dos outros = Cop, CDP, Feds, Ass., Clubs, Atletas...

Anónimo disse...

No prós e contras de ontem houve acordo quanto à oportunidade de debate fundamental em portugal para competir no quadro global.
O desporto perdeu o pé a este momento e ao falhar elementos essenciais da prática desportiva em cada um dos seus níveis afasta o país de objectivos europeus e globais.
Creio que faz sentido um esforço de debate do todo que é o desporto.
Há muito que fazer no desporto escolar, o governo estabeleceu um conjunto de novas regras que devem ser interpretadas e ver até que ponto funcionam para o desporto no respeitante às necessidades dos jovens e da sua vida associativa desportiva.
A desburocratização associativa de que fala JM Constantino ppoderá ser obtida de várias formas, uma regulamentares, outras usando o mercado para gerar comportamentos eficientes.
A função de regulação pública é em portugal muito importante pelas carcterísticas do seu comportamento tradicional.
É desaconselhável num sistema baseado em subsídios retirá-los de um momento para o outro e ainda por cima quando parte significativa da população é pobre e com níveis de educação baixos.
Existe de facto uma corresponsabilização pública e privada e o esforço do debate mais profundo que dê sentido ao todo e potencie as partes.