terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Observadores (de topo?)

De vez em quando é levantada a questão dos observadores de árbitros no Futebol. O tema vem a lume, normalmente, quando há uma arbitragem polémica e se sabe posteriormente qual a nota atribuída pelo observador.
Na verdade esta questão, como normalmente acontece no tema arbitragem, tem muitas vertentes.
Por norma, as opiniões e principalmente as críticas são feitas sem conhecimento de causa. Aliás, muitas vezes nem se quer ter conhecimento de causa precisamente para se poder criticar sem problemas de consciência. Se se fizer um pequeno questionário sobre Leis de Jogo, quer a treinadores, jogadores ou dirigentes, provavelmente os resultados seriam de fazer corar os mesmos. Por diversas vezes, a nível regional, se tentaram fazer sessões de esclarecimento com capitães de equipa e treinadores. Invariavelmente a assistência era quase nula. Poder-se–à dizer que eles não têm obrigação de as saber, mas então também não deviam ter moral para algumas críticas que fazem.
Mas voltando ao tema em epígrafe, a crítica mais vezes apontada aos observadores, principalmente de 1ª categoria, prende-se com o facto de os mesmos não terem sido árbitros de topo.
A primeira consideração que tal facto me merece, é que felizmente não é a sua competência técnica que é criticada. Aliás, pelo contrário, as provas que os mesmos fazem apontam claramente em sentido inverso, isto é, são muito competentes tecnicamente.
Depois, aquele argumento é claramente descabido, em minha opinião, por diversos factores.
Em primeiro lugar, porque não acredito que o facto de ter sido um excelente árbitro, seja condição prévia para ser um bom observador. Poderá de facto ser uma boa ajuda, mas também poderá ser um factor limitador. Isto é, dependendo da personalidade pessoal de cada um, a sua experiência tanto poderá ser uma mais valia no sentido de perceber quais as dificuldades e motivações do árbitro, como poderá ser um entrave a uma análise justa, pois poderá levar esse observador a querer moldar todos os árbitros à sua imagem. Temos muitos exemplos disso em diversas actividades.
Por outro lado, não haverá número suficiente de ex-árbitros de topo para preencher as necessidades. Para além de serem poucos, uns têm outras actividades bem mais rentáveis sob o ponto de vista monetário, pois trabalham com a comunicação social e sendo isso obviamente incompatível, com certeza não trocariam de funções. Outros há que já colaboram com a estrutura do futebol, seja na Federação seja na Liga.
Assim, eventualmente a questão que se poderá colocar é a da melhor ou pior aceitação dos actuais árbitros face a observadores que não tenham atingido a sua categoria. Mas aí a questão não é da categoria dos Observadores, mas antes da humildade de alguns dos actuais árbitros.
Uma coisa é certa, julgo que ninguém questionou o José Mourinho pelas suas opções enquanto treinador, pelo facto de não ter sido jogador de top!!! Pelo contrário temos vários jogadores de Top que apenas são medianos treinadores…..
Outros argumentos facilmente se poderiam aduzir neste tema.
Seja a base de recrutamento dos referidos observadores, em que já houve o tempo em que não havia uma carreira e eram convidados por um qualquer motivo, seja pela falta de competências ao nível da escrita ou da conversação. Mas isso passará, por exemplo, pela formação que os mesmos poderão ter.
Resumindo, poderão eventualmente os actuais observadores de 1ª categoria ter muitas lacunas em termos de competências necessárias ao bom desempenho da sua função, mas apontar-lhes o facto de não terem sido árbitros de topo, julgo não ser relevante.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não se esqueça que essa área da arbitragem vive em regime de amadorismo e foi enxertada em meio profissional.

Os observadores são arregimentados entre os amigos simpáticos e não precisam de saber regras de futebol, nem terem jogado futebol, nem nunca terem arbitrado, mas terem inclinações clubísticas para ajudar os clubes necessitados de ir à final, ou ajudar os árbitros amigos a subirem na escala social.

Os observadores constituem uma espécie de associação de solidariedade clubístico-arbitral.

Provas? Os relatórios que parecem escritos por quem não esteve lá, nem precisava, porque vivemos num país onde a liberdade de expressão, perdão, liberdade de relatar, está salvaguardada.

Já agora para aligeirar.
Assisti a um jogo de futebol onde vi, no meio do jogo, um jogador dar um sopapo no adversário (como o Zidane deu no italiano, lembra-se?). Foi expulso e o treinador perguntou o que se tinha passado. Que o adversário lhe chamou filho daquela senhora e ele tinha que lhe dar o troco. Aí, o treinador aproveitou para informar o plantel, em pleno balneário, o que todos já deviam saber.

Que todos nós temos duas mães, uma, a nossa que está em casa ou a tomar chá com as amigas, e a outra que é para ser usada nos campos de futebol, e essa está imune a todos os tipos de vexames.

Anónimo disse...

Li algures, noutro blog que já esqueci, esta história passada na Fede. Int. Equestre.

Havendo necessidade de eleger o no presidente, e tendo-se proposto um hípico reconhecido como useiro e vezeiro em dar voltas aos textos para justificar as suas tomadas de posição, protestaram os restantes contra a sua entrada na concorrência à presidência.

Alguém sugeriu que o melhor guarda florestal seria aquele que tivesse sido um excelente caçador furtivo.
Que era o caso, porque conhecia todos os meandros da leis e regulamentos.

E o hípico concorreu e ganhou.

Quando o Nuno me diz que não é relevante ter sido árbitro de topo para ser um bom árbitro, tem razão.

Sabe porquê? Porque isso não chega. Além de ter sido um bom árbitro, é exigível também que tenha sido um bom jogador.

Um bom jogador para conhecer as manhas dos jogadores, e um bom árbitro que tenha sido futebolista.

Aí, temos o Observador ideal.

Nuno Parreira Castro disse...

Ao anónimo das 23:32
Já não é bem assim, neste momento exite já uma carreira de observadores, tal como a dos árbitros. Embora possa haver algum que ainda venha desses tempos, hoje os candidatos a observador têm que entrar pelo distrital e serem calssificados anualmente para poder ascender de categoria. Quanto ao conteúdo dos relatórios, existem regras de preenchimento às quais têm de obedecer e isso nem sempre será facilmente perceptível a quem não conhece as tais directrizes.

Ao anónimo 15:33
Na verdade ambas as condições, ter sido bom jogador e bom árbitro, são condições que poderiam ajudar à função, mas depois de se fazer uma carreira como jogador, dificilmente haverá tempo para se ter uma carreira como árbitro.....

Anónimo disse...

Agradeço os esclarecimentos que me deu / sou o anónimo dos dois tempos / e aproveito para corrigir este período truncado:

Quando o Nuno me diz que não é relevante ter sido árbitro de topo para ser um bom árbitro, tem razão.

O que quis dizer foi

Quando o Nuno me diz que não é relevante ter sido árbitro de topo para ser um bom Observador, tem razão.

Relativamente às "regras de preenchimento" que desconheço certamente que equivalem a normas a respeitar, mas o problema é que continuamos a assistir a relatórios que citam inverdades ou omitem verdades.

Evidentemente que o caminho é longo e dificilmente se alcançará a excelência, pelo que todos os instrumentos a utilizar serão sempre parcos.

Eu sou por natureza céptico porque o futebol desperta paixões, e as paixões obnubilam o entendimento, a razão e a equidade.

Mas agradeço o seu contraponto.