quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dar a volta ao nó

Há uns anos chegou uma moda que virou obrigação: os treinadores da liga de basquetebol tinham de usar casaco e gravata quando em competições oficiais. Que me recordo dos treinadores abrangidos só um resistiu a essa normatividade estética. E creio que foi castigado por isso. Pelos menos foi censurado pela sua teimosia. E a censura veio dos próprios colegas e da respectiva associação. Na altura debati esse tema com pessoas ligadas à modalidade. Interrogava sobre qual a razão porque a respectiva associação de treinadores não ficava pela recomendação de uma apresentação cuidada e ia ao extremo de impor uma vestimenta tipo. Parece que se podia optar pelo fato de treino. Porque conduzir uma equipa num pavilhão, a grande maioria sem tratamento climático, de fato e gravata deveria causar um enorme desconforto. Por outro lado, alguns dos treinadores não tendo o casaco e a gravata como vestuário habitual tão pouco sabiam fazer o nó da gravata ou tinham sensibilidade para combinar a cor da gravata com o resto do vestuário. E colarinhos de camisas que sempre estiveram abertos passaram a ficar abotoados. Nem sempre o resultado era esteticamente agradável. Tudo aquilo era estranho. E tudo partia de um pressuposto, a meu ver errado, que era ( e é) que estar bem vestido e bem apresentado é usar fato e gravata. Responderam-me que essa era uma forma de dar dignidade ao acto de comando desportivo. E que era uma prática comum nos restantes campeonatos europeus e americanos da modalidade. A cópia é sempre argumento demolidor. Sobretudo se vem de fora!
Anos mais tarde a moda chegou às delegações desportivas do futebol sobretudo em deslocações internacionais num sentido de homogeneização e identificação dos clubes. Casos houve em que se contrataram estilistas conhecidos e integrantes do círculo da “beautiful people” da moda. Que criaram soluções que procuravam aliar a roupa com a elegância e a boa apresentação. O resultado foi (é) curioso. Se reparamos nos jogadores do Manchester United ou no Barcelona, por exemplo, usam fato completo e respeitam a normalidade desse uso. Não há camisa de fora das calças ou nó de gravata descaído e a adornar o peito. Ou adereços de som pelos ouvidos. Ou penteados esquisitos. Mas nas equipas portuguesas e na selecção nacional de futebol para muitos deles o nó da gravata é às três pancadas, normalmente desapertado, o colarinho desabotoado e um estilo de deixa andar. Toda aquela roupa diz pouco com o modo como cada um a veste e usa. Dir-se-á que este é um pormenor sem importância. Que abordar este assunto é uma mera superficialidade. Não estou certo que o seja. E creio estarmos perante um traço de comportamento que revela a falta de responsabilidade e a ligeireza com que se assuma a representação de um emblema ou de um país. Não sei se alguém explica, dirigentes e/ou treinadores, qual é a importância que o clube ou a selecção dão àqueles que o representam. É que para fazerem aquelas tristes figuras melhor fora então que se optasse por vestuário informal. Ou apenas por vestuário desportivo. A opção do fato e da gravata só faz sentido se for para usar e não para caricaturar.

3 comentários:

Rui Lança disse...

A velha questão 'portuga' de contornar as regras ou leis, cultura vs (des)responsabilização?

Cumprimentos,

Anónimo disse...

Cícero disse...

O tempora! O mores !

Anónimo disse...

Caro Constantino

O que o berço dá a tumba o leva.