terça-feira, 5 de maio de 2009

Desporto e Defesa Nacional


Este texto é da autoria de Fernando Tenreiro e foi publicado no jornal Público na edição de 4 de Maio de 2009.

Agradecendo aos 'donos' do Colectividade Desportiva a publicação do artigo realço a relação 'Desporto e Defesa Nacional'. O conceito de Adriano Moreira de Estado 'exíguo' dá a necessidade de investimento para a população defrontar o impacto da globalização referido por António Telo. Sugiro que o investimento em desporto é vital para a população portuguesa como um instrumento de 'Defesa Nacional' num mundo em transformação e cada vez mais complexo

O desporto moderno é um dos melting point’s da humanidade. Nele o multiculturalismo da idade global da humanidade tem o seu ponto de encontro em igualdade e em competição desportiva directa de aferição de capacidades de acordo com regras de jogo estabelecidas e respeitadas globalmente. O desporto moderno é uno através das suas federações mundiais e é no futebol que os povos do mundo querem ver apreciadas as suas vitórias.
A Europa para isso contribuiu criando consumidores de desporto exigentes e que, em todos os seus segmentos, estão predispostos a comprar a excelência, mesmo que, a preços de luxo.
Adriano Moreira ensinou-nos o conceito de Estado Exíguo como aquele que não garante aos seus cidadãos as necessidades básicas da vida.
É essa a situação do desporto português. Apesar do Euro2004 e do Cristiano Ronaldo somos os últimos da Europa em consumo desportivo.
A explicação é simples. Entre nós as políticas desportivas encerram erros de concepção que não permitem à sociedade beneficiar tanto quanto o fazem as europeias mais desenvolvidas e em crise o nosso desporto vai mais fundo do que os demais. Enquanto a Europa investe para produzir um ‘desporto para todos’ abundante entre a respectiva população e apura mecanismos de escassez na alta competição para aumentar os preços e os lucros da indústria, Portugal investe dinheiros públicos na alta competição e no desporto profissional, os quais assentam sobre os pés de barro de uma população sem literacia desportiva. O Estado desportivo em Portugal é exíguo porque não prepara a sua população para as necessidades básicas como as da Defesa Nacional.
Segundo António Telo, olhando para o mundo verifica-se, por um lado, que este se transformou radicalmente em 2008[1] nas relações internacionais, no modelo de crescimento e na mudança climática e, por outro, os conflitos internacionais irão assumir novos contornos e aumentar de importância mexendo com todos sem que se compreenda de momento “dos caminhos da sua evolução”[2].
Ao associativismo desportivo caberia, há muito, ter compreendido o Modelo Europeu de Desporto e capturado para a população portuguesa os recursos necessários para que o seu consumo desportivo estivesse em consonância com os desafios maiores da actualidade.
Colocados os ovos na alta competição e no desporto profissional são os sectores carenciados da população, sejam jovens, adultos ou idosos que ficam impedidos do usufruto das modernas características da prática desportiva. Nem os resultados na alta competição acabarão por aparecer como se viu em Pequim em 2008, nem a indústria do desporto profissional sobrevive com populações sem literacia à altura da competitividade do desporto profissional.
Existe desperdício de capital desportivo, humano e social em Portugal porque temos talentos para ir a todos os topos a que os nossos jovens se candidatarem, a nossa população necessita
de praticar desporto para defrontar os desafios de um mundo em mudança e temos percentagens esmagadoras de população que precisa de desporto para bem da sua saúde e das suas relações sociais e faltam-lhes saber e meios para as suas necessidades básicas.
Afinal as mudanças globais estarão na nossa própria maneira de fazer, o que temos de fazer, se queremos competir em igualdade com os mais capazes.

Fernando Tenreiro

[1] António Telo, ‘Um mundo que mudou’, disponível no site http://www.idn.gov.pt/.
2 António Telo, ‘A sempre instável equação – conflitos de transformação da defesa’, no mesmo site.

2 comentários:

Anónimo disse...

Publicado por José Manuel Constantino

não

Publicado por Colectividade Desportiva

sim

O blog é de um grupo que aprovou o artigo.

Posto como está, induz que os outros não concordaram, e apenas José Manuel Constantino terá tido a coragem de inserir o belíssimo artigo de Fernando Tenreiro.

fernando tenreiro disse...

Obrigado pela Vossa atenção e disponibilidade.

Escrever sobre a defesa nacional e o Desporto é um desafio que se coloca de longa data.

O Instituto de Defesa Nacional é um Think Tank financiado pelo Estado para promover toda a área das Forças Armadas e beneficiar o futuro nacional. Os grandes pensadores nacionais vão ao IDN debater o futuro nacional. O IDN também forma e atribui certificados de auditores de defesa nacional aos elementos que participarem nos cursos, alargando o leque e a compreensão dos conceitos de defesa nacional. (Não tenho conhecimento exacto destas matérias e escrevo por ouvir dizer e ler esporadimente)

O Turismo, por outro lado, tem articulistas que ao longo das décadas e semanalmente divulgam as posições do Turismo nos principais jornais nacionais.

Outras áreas também actuam da forma semelhante, como os bancos e a energia, por exemplo.

O desporto pode explicar a cada um destes sectores que lhes oferece mais benefícios sem os prejudicar.

Os financiamento que necessita darão mais bem-estar e contribuirão para um estilo de vida activos à população portuguesa de todos beneficiarão.

É possível demonstrar que todos estes grandes sectores nacionais têm sido prejudicados pela forma como o desporto tem sido tratado.