quarta-feira, 6 de maio de 2009

Palavras para quê? Pela boca morre o peixe…

No jornal Público de hoje (p. 23), numa peça intitulada “Petição contra a discriminação de género” é levantado um pouco de parte do véu de certos problemas apontados no texto anterior, designadamente os que ressaltam da falta de políticas desportivas direccionadas para o “desporto para todos” e da consequente “iliteracia desportiva” da população, bem visíveis na viagem que fazemos à realidade concreta dos 2.os Jogos da Lusofonia e dos seus responsáveis políticos e organizativos.
Num exercício de livre e sadia cidadania um conjunto de pessoas indignou-se por tais Jogos não integrarem, nem no futebol nem no futsal, as selecções femininas e fizeram uso de um mecanismo constitucionalmente consagrado (art.º 52 da CRP) endereçando uma Petição à Assembleia da República contra a discriminação de género na organização da 2.ª edição dos Jogos da Lusofonia.
“Um disparate” na opinião do Presidente do Comité Olímpico de Portugal.
Inacreditáveis, qualifico eu, os argumentos deste último:
- "os Jogos têm um perfil e condicionantes específicas";
- "E por que não há natação? Por que não participam as selecções de hóquei em patins, em que Portugal tem grandes tradições, por exemplo? Por que havia de estar o futebol feminino?"
- "Os Jogos já custam à volta de três milhões de euros. Se crescerem muito, ninguém vai querer realizá-los e a sua continuação torna-se insustentável".

De facto! Pergunto eu, mas porque é que foi feita a mulher a partir da costela (imperfeita, claro está) de Adão? Para quê a existência destes seres menores que ainda por cima também se apaixonaram pelo desporto?

É que não bastando os custos para a humanidade com as jóias, as cosméticas, as lipoaspirações ou os implantes destes prescindíveis e ignóbeis seres, na mentalidade dos organizadores há que atender às limitações financeiras e logísticas à expansão das modalidades. Pois então, interditem a participação feminina em todas as modalidades que participam nestes Jogos. Afinal de contas tal medida até nem seria original, basta retroagir à misoginia e discriminação dos tempos de Pierre de Coubertain.

Para quê o interesse público, a paridade, a igualdade de oportunidades, a distribuição equitativa de recursos financeiros públicos? Enfim, para quê a justiça e a felicidade de metade da população quando a outra metade já a conquistou?

Nota: Não tive qualquer intervenção na criação da Petição em causa, mas naturalmente aplaudo a sagaz iniciativa, acessível em http://www.petitiononline.com/igualfut/petition.html

3 comentários:

José Manuel Meirim disse...

Relembre-se, sempre como não quer a coisa, o bonito enunciado da Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, plasmado no seu artigo
2º, nº2: a actividade física e o desporto devem contribuir para a promoção de uma situação equilibrada e não discriminatória entre homens e mulheres.
Mas estas palavras só aparentemente são normas neste infeliz país.
José Manuel Meirim

ftenreiro disse...

o sr. comandante já teve melhores dias
construir a sede do COP foi uma excelente realização

enquanto todos pensarmos que betão e atletas são objectivos equivalentes vamos andando assim

a explicação mais simples é que as disponibilidades dos países menos desenvolvidos apenas permite algumas modalidades e não outras

aliás as competições deveriam fazer-se segundo as necessidades de desenvolvimento destes, eventualmente as mulheres são uma actividade desportiva fundamental para todos

a questão económica também é relevante se bem que deva ser contextualizada de acordo com objectivos programáticos que pelas palavras ditas, parecem não existir

por fim era útil que houvesse diálogo com o lóbi das mulheres

está activo e atiradiço e é melhor evitar problemas para aqueles lados

Esperemos todos, que as palavras ditas não prenunciem que para Portugal, Londres 2012 já era

Anónimo disse...

O grau de ignorância sobre o assunto revelado pelo artigo e pelos comentários é assustador sobretudo quando sabemos do perfil público dos seus autores. Um sério revés na sua credibilidade como muito em breve todos perceberemos.