sábado, 17 de julho de 2010

Das questões eternas

Devo prevenir o leitor que hoje, por hoje, estou especialmente azedo e intratável. Para além de todas as muitas razões para que as minhas palavras não sejam levadas a débito do seu tempo existencial, o leitor tem hoje ainda mais uma. Deve, portanto, olhar para o lado. A partir de agora escrevo, pois, para mim.

Li na imprensa que o presidente do Comité Paralímpico de Portugal (CPP), em conformidade com o acordo ortográfico, denunciou a discriminação das bolsas a atletas paralímpicos e de alta competição, integrados nos projectos olímpicos para os Jogos de Londres 2012:

“Ouvido no grupo de trabalho do Desporto da Assembleia da República, assinalou que “há uma diferença de valores substancial” e deu como exemplo um atleta paralímpico de nível A, que tem “uma bolsa de 450 euros por mês”, enquanto um olímpico “recebe mais de mil euros/mês”. “Há uma discriminação e queremos inverter essa situação”, disse à agência Lusa, esclarecendo que as bolsas de preparação para os Jogos Olímpicos de Verão de Londres “têm sido pagas mensalmente até à data de hoje”. As bolsas são pagas a atletas paralímpicos depois do acordo - o primeiro - com o IDP (Instituto de Desporto de Portugal), que, no ciclo olímpico, disponibiliza um total de 1,9 milhões de euros. Uma verba que Humberto Santos reiterou estar “aquém das expetativas”, apesar de frisar o aumento de 50 por cento na dotação. O presidente do CPP aludiu ainda ao atraso da verba acordada com a secretaria de Estado da Reabilitação, no valor de 62 500 euros, para o funcionamento das federações, para o qual contribui a secretaria de Estado da Juventude e do Desporto com igual montante”.

Já não tenho pachorra para estas queixas e «aparentes» denúncias. Desde 1997 que acompanho, em bem diversificados moldes, toda esta matéria e o resultado é sempre o mesmo. Tudo está assim, então assim tudo fica.
E porquê?

Porque se assinam projectos e contratos com o Governo, embora não se concordem com os seus termos. O CPP no dia 25 de Setembro de 2009 firmou tudo com o IDP e com o Instituto Nacional para a Reabilitação.
Logo de seguida dava pública notícia, a todos os integrantes do movimento paralímpico nacional, de uma carta dirigida ao Governo, datada de 2 de Outubro, em que expressava o seu descontentamento pelo assinado. Duas ou três passagens:

“Pelo contrário, registamos aspectos em que claramente foram defraudadas as expectativas do Comité Paralímpico de Portugal, na medida em que ficámos muito aquém daquilo que entendemos serem os requisitos necessários para desenvolver um trabalho de qualidade que venha a possibilitar a consecução dos objectivos expressos, que tanto o movimento paralímpico como o país desejam e merecem.
[…]
- Assinámos o Contrato-Programa na medida em que, apesar do documento que lhe deu origem ter sido entregue na tutela há nove meses, não vislumbramos outra alternativa quando confrontados com a absoluta necessidade de ocorrer a diversos compromissos já assumidos a vários níveis relativamente a este ciclo olímpico que tem já um ano decorrido.
- Não menos significativo, é a necessidade de rapidamente estabilizar técnica e financeiramente o desenvolvimento do referido projecto, o qual irá constituir um acto inédito no movimento paralímpico em Portugal.
- Não obstante a não concordância com alguns aspectos referenciados nos documentos, os constrangimentos e as dificuldades que os mesmos são susceptíveis de introduzir no processo, ainda assim, foi entendimento, que a sua assinatura seria, no momento, a solução mais adequada ao interesse de todos os agentes desportivos (atletas, técnicos, federações e CPP)”.


Porque se aceita como uma inevitabilidade uma discriminação institucional.
Na verdade, sejamos verdadeiros, que sentido tem o desporto não financiar a 100% e, surgir a reabilitação ou algo similar a arcar com metade do “prejuízo”?
“Tadinhos” tem quer assim, pois de outra forma não era possível alcançar a discriminação a que chegamos.
De discriminação em discriminação, só se pode alcançar, no final, a discriminação.

Porque se vão expor situações às comissões parlamentares, buscando uma influência qualquer que nunca é eficaz.
Como se a Assembleia da República se interessasse pelo desporto para além dos votos de louvor elaborados depois do café e aprovados por unanimidade.

Porque a maioria dos integrantes do movimento paralímpico convivem com este estado de coisas.
Encontram-se viciados por este modo de agir e, ninguém ousa dar um murro (ou vários) em muitas mesas.

Eu avisei. Não estou mesmo bem disposto.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cuidado! O Meirim está mal disposto! E escreve sobre isso! Provavelmente convencido que isso interessa a alguém!

Na eterna comtemplação do seu umbigo, agora acha que que os seus estados de alma devem ser também cronicados!

Cuidado, ó gentes! O Meirim não consegue deixar de se levar "muito a sério"!!!!!!!!!!!

Luís Leite disse...

Este hipermedalhado pobre país é mesmo uma anedota.
Proponho:
Deixemos os atletas de alto rendimento (onde pouco progredimos) desenrascarem-se pelos próprios meios (se quiserem, se não passem bem) e investamos tudo nos Paralímpicos.
Afinal, pensando bem, somos ou não somos com país com muitas e variadíssimas deficiências?