segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

No dia seguinte

O mini conselho nacional de desporto que a SiC Notícias transmitiu em directo (20 Dez.) permitiu ao homem do leme do nosso desporto atirar-se às associações distritais de futebol. E mostrar que o resultado, das providências cautelares intentadas contra a suspensão de parte da UPD da FPF,para já, é-lhe favorável por 6 a O. Embora no intervalo-as acções principais vão ainda ser apreciadas - o grito já é de vitória. Fraca consolação. Uma tão grande cabazada ao intervalo não é suficiente para obrigar a FPF, que ficou queda e muda, a fazer o que diploma prevê: alterar os estatutos e conforma-los ao novo regime. E, neste caso, nem o princípio, de que quem paga manda, parece ter surtido o efeito desejado. O homem do leme mandou cortar os financiamentos às associações e o resultado foi o mesmo que antes. Segundo a imprensa alguns dos conselheiros do homem do leme reunidos em conclave no dia seguinte ao dia seguinte sugeriram-lhe medidas mais duras. O que cria um problema de difícil solução. Mais dureza das medidas podem atingir a parte da FPF aliada do nosso homem do leme . Pagará o justo pelo pecador.
O regime, que as associações distritais teimam em não cumprir, foi feito para o futebol. E para retirar o poder aqueles que o não querem ceder. Coisa de que ninguém gosta. Mas se não querem, paciência. Nenhuma lei do país os pode obrigar. Porque o país tem outras leis que os habilitam a funcionar como até data. Pelo que se não trata de desconformidade legal em absoluto. Mas apenas a um diploma em concreto. Resta a quem governa retirar à respectiva federação algum do reconhecimento que ainda tem em sede de utilidade pública desportiva. O país não acaba. E o futebol não desaparece. E pode sobreviver sem qualquer apoio financeiro do Estado. De resto, os resultados financeiros que a FPF apresenta e as disponibilidades financeiras de que dispõe, quase que tornam pornográfica a necessidade de continuar a receber apoios financeiros do Estado. Este bem podia poupar umas boas massas. E respirar para outras latitudes.
O governo, se estivesse para aí virado, também poderia aproveitar para reflectir. Mas o homem do leme do nosso desporto é como o professor Cavaco: nunca se engana. Mas devia pensar que as medidas legislativas que criou para “organizar”e distribuir o poder no seio das federações desportivas, mas feitas a pensar no futebol, não residem na natureza “boa” ou “má” das mesmas. Mas na incapacidade do governo - este ou qualquer outro - para entender que não é ele quem desenvolve o desporto nacional, mas sim os clubes, as federações desportivas e a iniciativa privada. Este erro, de resto, muito persistente no arco governativo do PS/PSD não resiste à evidência do bom senso: se um governo pudesse desenvolver o desporto através de medidas legislativas, não estaríamos no estado em que estamos. Bastaria decretar como o desporto se deveria comportar. E fiscalizar esse comportamento. Mas é precisamente o contrário. Se um qualquer governo quiser ajudar, o que tem a fazer não é andar a mexer na organização associativa e privada do desporto. Deve é retirar todos os entraves para que elas possam livremente operar no sistema. E estimular e apoiar as respectivas actividades desportivas desonerando custos e procedimentos.
Bem sei que dizer as coisas assim é uma verdadeira blasfémia. Operar livremente no sistema? Isso iria permitir que cada um fizesse o que bem lhe apetecia. Não é essa a questão. Mas a de alterar o foco de atenção do Estado. Deixar de estar focado nas condições prévias á produção dos resultados das organizações desportivas e centrar-se numa avaliação de produto desses resultados. O modo como se organizam só é relevante face aos resultados que alcançam. E seguramente que federações desportivas distintas terão tendência a ter formas de organização também distintas.
Tudo isto pode ser lido como provocatório. Sobretudo para quem apresenta como legado governativo um tão vasto rol de medidas legislativas. Mas o caminho seguido não é o único. E está por demonstrar que seja o melhor. Os resultados desportivos alcançados o confirmarão ou não.

10 comentários:

Fernando Tenreiro disse...

José Constantino

A sua conclusão é correcta de acordo com os princípios e a ciência.

Governa-se para melhorar a vida dos portugueses e no acto de governar usam-se muitos instrumentos.

Uns falham e outros permitem que os portugueses vivam melhor e no nosso caso consumam mais desporto, tenham melhor saúde e produtividade recebam melhores remunerações e sejam mais felizes, nem sempre por esta ordem.

Estas consequências do desporto fazem-se com boas medidas de política e boas instituições.

Há sinais que as instituições do desporto falham de se ater ao plano dos princípios como sugere Adriano Moreira em relação ao país.

É o plano dos princípios que obriga a que a análise do produto por si sugerido seja uma obrigação da aferição do produto nacional e do benchmark desporto europeu de Portugal.

O José Pinto Correia falava aqui, em 22 de Dezembro, do programa de desenvolvimento e do dinheiro das federações.

O que analisava deve ser observado com atenção para compreender o enlear das situações que complexificam os problemas e os desafios sem os resolver e defrontar.

As pessoas estão aflitas umas porque confiaram e vêem a situação a piorar e temem queixar-se, outras porque arrastaram os pés, hostilizaram quem lhes chamava a atenção e agora as suas apostas falham e têm de apresentar soluções fora do quadro legislativo em que apostaram a maior parte do tempo.

As primeiras pessoas vão ficar ainda pior se as segundas continuarem porque o panorama geral está muito difícil.

Mesmo se estas saírem e outras pessoas vierem as primeiras, do associativismo desportivo, vão aceitar sacrifícios para ajudarem a emendar a mão de quem saiu.

2011 será difícil para aqueles organismos desportivos de quem se fala mais e para quem mais se legisla sem se compreender que o 'processo legislativo em curso', um PLEC, é um desafio que necessita de princípios que casados com os resultados produzidos dêem aos portugueses o desporto a que aspiram como europeus de corpo inteiro.

Fã do FCP disse...

Escreve José Manuel Constantino

Resta a quem governa retirar à respectiva federação algum do reconhecimento que ainda tem em sede de utilidade pública desportiva. O país não acaba. E o futebol não desaparece

O eventual cancelamento do estatuto de utilidade pública desportiva da Federação Portuguesa de Futebol acarretaria, para além de outras consequências:

- o cancelamento imediato do "Plano Mateus", com a consequente exigibilidade, aos clubes dele beneficiários (e à FPF e Liga, que se corresponsabilizaram pelo pagamento), da verba em dívida para com o Estado (uns modestos 50 milhões de euros);

- a imediata suspensão da comparticipação nas viagens dos clubes entre as regiões Autónomas e o Continente;

- o cancelamento das verbas para financiar o policiamento de espectáculos desportivos.

Estando os clubes fortemente endividados, a ponto de muitos nem pagarem atempadamente os salários aos jogadores, tem o José Manuel Constantino a certeza de que nada aconteceria ao futebol e que tal cancelamento apenas teria consequências meramente "estéticas"?!!!

Carmo disse...

O Futebol profissional talvez não fosse sofrer, mas o futebol regional iria certamente e por consequência o futebol juvenil.
Esta máscara de "independência financeira" que o futebol tem é pura ilusão...

Anónimo disse...

...de onde se conclui que o Estado e o governo estão de pés e mãos atadas às lógicas do futebol!


Fã do Fã de Algés

Fernando Tenreiro disse...

O anónimo 'fã do FCP' distraiu-se:

1 - Suscita a hipótese do Estado ser conivente com a acção dos dirigentes e a falência do futebol.

2 - Sugere que os clubes e o campeonato estão falidos e o Estado mantém subsídios para além da bancarrota através do estatuto de utilidade pública desportiva.

Se isto for verdade, a hipótese de JMConstantino tem crédito para um debate público objectivo sobre se, tal como nos bancos, as federações podem ir à falência.

É evidente que a decisão cabe a quem cabe.

O debate público é possível e seria útil a situações que parece estarem apenas no conhecimento de pessoas que com esse conhecimento prejudicam o desporto por não resolverem os desafios e facilitarem a vida aos possíveis faltosos retirando os recursos áqueles que muito cumprem.

O debate sobre a viabilidade das federações e do sistema desportivo nacional foi aberto pelo José Manuel Constantino com o valioso contributo do anónimo 'fã do FCP'.

Carmo disse...

Escreveu o Anónimo das 9h36

...de onde se conclui que o Estado e o governo estão de pés e mãos atadas às lógicas do futebol!

Esta é tão profunda que, confesso, não percebi!

"Pés e mãos atados" porquê?!!!

josé manuel constantino disse...

Caro Fernando Tenreiro

O que teria interesse discutir é como é possível uma federação desportiva ter resultados financeiros, aplicação de capitais e uma politica de remunerações tão elevadas resultantes da gestão de um negócio em que as entidades produtoras dos bens e serviços que compõem esse negócio (os clubes) estão fortemente endividados e em alguns casos tecnicamente falidos!!!E face a esta constatação que posicionamento deve ter o Estado.

Fernando Tenreiro disse...

José Constantino acrescente que os ditos falidos elegem a federação e projectos como o mundial.

Há algumas coisas que são pacíficas em todo o mundo do desporto, excepto em Portugal:

A estrutura de produção associativa é aquela que produz com mais qualidade e menores custos a actividade desportiva e está na base do sucesso global do desporto moderno.

Se esta frase é universalmente consensual porque é que a estrutura de produção desportiva portuguesa é a que piores resultados produz a nível europeu?

Acrescente-se um outro dado inquestionável:

O Estado é o agente que permite através da sua política de regulação pública uma produção desportiva superior em todos os países europeus.

Temos, portanto, dois agentes:
o primeiro assumindo o risco da sua acção e produzindo o melhor produto de desporto em todos os países do mundo e, o segundo, promovendo os factores positivos e corrigindo os factores nefastos para que o produto de cada país seja ainda maior.

Aqui chegados aproximo-me da sua questão para explicar o distanciamento do que é correcto no resto do mundo:

É possível que a falência de alguns em Portugal subsista com a riqueza de outros.

Seguir o rasto do dinheiro sobre o produto desportivo ajuda a explicar porque é que o produto desportivo, que referia no seu poste, é subavaliado e a lei e as instituições valorizam factores diversos de ineficiência há muito comprovada.

Veja que a perda acumulada de produto desportivo é muito grande e existem problemas que ainda não se compreende bem porque é que o modelo português de desporto falha em relação ao europeu.

A necessidade de debate é fulcral, não é a urgência de fazer este ou aquele programa, plano ou lei fundamental, despacho milagroso ou anúncio relevante à comunicação social.

O debate mesmo que sofrido deste blogue tem permitido ao desporto reconhecer publicamente, repito publicamente, realidades que de outra forma ou não surgiriam ou se perderiam.

O Estado, a universidade e o associativismo desportivo têm um longo caminho a percorrer à sua frente.

Enquanto esse caminho não for percorrido as perdas do produto desportivo serão catastróficas para a população portuguesa.

São eles que interessam, não são?

Ainda mais fã do FCP disse...

Escreveu Tenreiro

O anónimo 'fã do FCP' distraiu-se:

1 - Suscita a hipótese do Estado ser conivente com a acção dos dirigentes e a falência do futebol.

2 - Sugere que os clubes e o campeonato estão falidos e o Estado mantém subsídios para além da bancarrota através do estatuto de utilidade pública desportiva.


Esta é uma postura sistemática do Tenreiro. Deturpa o que se escreveu, distorce o que se disse, e depois entretém-se a esgrimir contra os fantasmas que ele próprio criou. Provavelmente, farto de ter como único único "contraditor" o inevitável Luís Leite...

Só que o nosso post pretendeu, apenas e singelamente, demonstrar que a minimização das consequências do cancelamento da upd, a que JMC tinha procedido, era, no mínimo, questionável. Apenas isto.

A "distracção" do autor do post, a "conivência" do Estado, a "falência" do futebol, a reiterada "manutenção" de subsídios, a "bancarrota", e outros tremendismos em que Tenreiro é profícuo e sempre muito criativo, devem-se apenas à teoria da conspiração universal de que Tenreiro é ofegante partidário e não foram afirmados, sugeridos ou sustentados pelo post que escrevemos.

Fernando Tenreiro disse...

Fã do FCP

Do ponto de vista económico as suas três consequências, plano mateus, viagens para as ilhas e policiamento, afectam de facto o futebol profissional e algum(?) alto rendimento e esses seriam os dados da decisão, para um comportamento célere do prevaricador.

Depois você é que acrescenta que os clubes do futebol estão falidos.

Quem foi tremendista nas consequências da proposta de JMC parece-me que foi você.

Quanto às palavras tremendas: quem está no mercado local e suporta pressões grandes (tremendas?) para ter as actividades desportivas a correr diariamente são os líderes das organizações associativas.

Falência e fracasso são termos comuns da literatura económica e que pela sua clareza devem ser usados.

Pelo menos enquanto os resultados desportivos médios de Portugal se encontrarem no último lugar europeu.