sexta-feira, 1 de abril de 2011

Souto de Moura

Na qualidade de português fico sempre orgulhoso quando um compatriota vence uma competição ou ganha um prémio de prestígio e mérito internacional, seja no desporto ou em outra área qualquer. A semana que passou trouxe-nos a notícia que o arquitecto Souto de Moura foi distinguido com o Prémio Pritzker 2011, o mesmo que já tinha sido alcançado anteriormente por outro português, o arquitecto Siza Vieira.


Considerado como o “galardão” mais importante da arquitectura a nível mundial é de facto um orgulho para Portugal ter cidadãos que se destacam ao mais alto nível internacional na sua profissão. O conceituadíssimo Júri Internacional deste prémio considerou que a “arquitectura de Souto de Moura não é óbvia, frívola ou pitoresca”, referenciando obras que vão desde a escala doméstica à urbana, apontando os exemplos da Casa nº 2 do Bom Jesus e do incontornável Estádio de Braga inaugurado em 2003. De facto, poderemos considerar que o Arquitecto Souto de Moura, para além de excepcional, desenvolve ainda um trabalho de “banda larga”.


Mas um trabalho de banda larga em arquitectura não pode resumir-se única e exclusivamente a um produto acabado do ponto de vista estético. Seja de uso privado ou comunitário, uma edificação tem que estar preparada para responder a determinados objectivos e finalidades. No caso do Estádio de Futebol de Braga, não se discutindo a sua qualidade e inovação estética, deveria este, ter sido melhor planeado e executado para a funcionalidade que um equipamento colectivo deste género deve possuir.


O Estádio de Braga, uma instalação vocacionada fundamentalmente para o espectáculo desportivo, tem do ponto de vista funcional muitos pontos negativos, dos quais se destacam entre outros: a difícil acessibilidade ao local a pé ou em veículo; a distribuição e locais de estacionamento; as bancadas com acesso ou inferior ou superior e que exigem uma grande deslocação por parte de quem quer chegar ao seu lugar; poucos elevadores para as pessoas de mobilidade reduzida ou idosos; espaço muito frio devido à sua localização; e áreas administrativas sem luz natural ou inadequada. Quando o estado da arte sobre localização, construção e funcionalidade de Estádios de Futebol está tão desenvolvido e divulgado há mais de três décadas, é de certa forma inconcebível cometerem-se alguns destes erros básicos, facilmente detectados por todos os destinatários finais deste “produto”, nomeadamente os adeptos de Futebol.


É claro que os arquitectos, embora sejam pessoas tradicionalmente “difíceis” quando se trata de Instalações Desportivas, não são os únicos responsáveis por este tipo de situações. Os donos e promotores das obras têm também o dever de garantir um bom planeamento dos objectivos e do tipo de equipamento desportivo que se pretende. Isto torna-se ainda mais importante quanto mais elevado é o custo da obra e quando é o Estado a pagar.


Quando Souto de Moura receber pela mão do presidente norte-americano, Barack Obama, no próximo dia 2 de Junho, em Washington, esse tão prestigiado Prémio Pritzker, que seja também uma oportunidade para reconhecer o Estado Português, enquanto grande criador de oportunidades para que os arquitectos mostrem a sua obra e se afirmem como prodígios internacionais na sua profissão. Que este momento seja também importante para se reflectir que a glória e o reconhecimento internacional, nomeadamente por parte dos seus pares é importante, mas que é fundamental colocar a genialidade e ética profissional ao serviço da comunidade, assegurando-se desta forma, funcionalidade, sustentabilidade e justificação social para que determinadas obras se edifiquem, principalmente quando é o Estado e o cidadão a pagar.

2 comentários:

Fernando Tenreiro disse...

Gostei do seu poste porque acrescenta matéria ao celebrado estádio do Braga.

De facto os estádios são o ponto contraditório do Euro 2004.

Numa palavra o que falhou foi a concepção da modernização dos estádios de futebol.

Este é uma característica do modelo de desenvolvimento desportivo nacional.

Investiram-se milhões de euros com demasiada liberdade dos promotores, com afinal pouca informação sobre as dimensões técnicas do elevado investimento e sem informação do realizado.

Há infra-estruturas que mal são feitas apresentam problemas, há as questões que refere, há os conhecidos problemas de localização e de dimensão dos espaços de desporto.

Estes erros têm duas consequências:
1 - O investimento é excessivo para as necessidades locais.
2 - Os custos acrescidos para a menutenção futura das infra-estruturas que comportam os erros do investimento.

Diga-se que na nova orgânica há alguns anos da administração pública o governo da altura decidiu retirar o departamento das infra-estruturas da administração central.

Há desde há décadas erros na concepção das políticas de investimentos em infraestruturas desportivas.

Luís Leite disse...

Se querem arquitectos famosos para obras de regime, não podem exigir funcionalidade total.
Os arquitectos famosos são artistas muito bem pagos, que dão maior importância à estética que à funcionalidade.
E normalmente não se preocupam muito com o custo por metro quadrado.
Frank Gehry, Norman Foster, Renzo Piano, Santiago Calatrava, e mesmo Álvaro Siza (no seu minimalismo sem limites) e Souto de Moura, são bons exemplos.
O msmo acontece com o grande Design.