sexta-feira, 6 de maio de 2011

Clubes, SADs e equipas: o equívoco português

Um novo contributo de Luís Leite, que a Colectividade agradece.


Nos últimos anos o futebol português tem sido invadido por milhares de jogadores estrangeiros, quase todos sul-americanos, sendo a maioria brasileiros.
Portugal gasta anualmente muitas dezenas de milhões de euros na aquisição de futebolistas estrangeiros.
Curiosamente, tanto a comunicação social como todos os que escrevem ou falam sobre o futebol português, promovem um equívoco que, objectivamente, dá muito jeito.
Confundem-se os conceitos de Clube, SAD e Equipa.

Se meditarmos um pouco concluiremos, naturalmente, o seguinte:
Um “Clube” é uma instituição desportiva formada por sócios pagantes, na quase totalidade portugueses. Tem emblema português e foi fundado em território português. Podemos dizer que os clubes em Portugal que satisfazem estas condições são “clubes portugueses”.
Uma “SAD” (Sociedade Anónima Desportiva) é uma empresa com um determinado capital, materializado em acções, por vezes com cotação na Bolsa. Quem manda numa SAD é quem tem a maioria do capital. Podem ser pessoas, bancos, empresas, etc., portugueses ou estrangeiros. Há SADs como a do Chelsea (de um russo) ou a da A.S. Roma (de americanos) que não estão na mão de nacionais do país a que pertence o Clube. Uma SAD pode não ser propriedade de entidades do mesmo país que o respectivo Clube.
Uma “Equipa” é um conjunto de jogadores (11 mais os suplentes), que entram em campo para disputar um determinado jogo, utilizando um equipamento representativo do Clube, que ostenta o respectivo emblema no peito. Após a Lei Bosman, existe livre circulação de jogadores profissionais de futebol, desde que contratados de acordo com a legislação e regulamentação em vigor. Esses jogadores tanto podem ser do mesmo país do Clube, como podem ser estrangeiros, total ou parcialmente.

Será que é correcto dizer ou escrever que as equipas do SLB (que joga em média com 1 ou 2 portugueses), do FCP (que joga em média com 2 ou 3 portugueses) e do SCB (que joga em média com 2 ou 3 portugueses) são “equipas portuguesas”? Ou serão mais sul-americanas?
Será correcto falar-se em grande sucesso das “equipas portuguesas” e do “futebol português” nas competições europeias, quando estas 3 equipas jogam com 75% a 90% de jogadores estrangeiros, maioritariamente sul-americanos?

Clubes portugueses, equipas maioritariamente estrangeiras, futebol multinacional.
Por muito mérito que tenham os Clubes e respectivas SADs, os seus dirigentes, assessores, técnicos, equipa médica, etc., aquelas equipas actualmente não são portuguesas. Ainda poderia admitir essa designação se mais de metade dos jogadores fossem portugueses. Assim, só estamos a enganar-nos e a prejudicar o verdadeiro futebol português, aquele que é jogado por portugueses.

9 comentários:

Armando Inocentes disse...

Chama-se a isto actualmente "danos colaterais" como consequência da globalização...

Um abraço

Luís Leite disse...

Danos colaterais com esta dimensão só em Portugal.
Mesmo em Inglaterra, Espanha e Itália, são raros os casos em que mais de metade dos jogadores em campo são estrangeiros.
Falar em final portuguesa em Dublin é ridículo.
Dos 27/28 jogadores que vão estar em campo, só 6 ou 7 serão portugueses.
O futebol jogado não será português nem sequer europeu.
Será sul-americano.

Kaiser Soze disse...

A referência a campeonatos como o inglês, espanhol ou italiano é apenas falacioso (apesar de não corresponder à verdade que são raros os casos de muitos estrangeiros em campo, especialmente olhando para os clubes de top desses mesmos campeonatos).
Se não temos capacidade para segurar os nossos internacionais (é olhar para a selecção e ver onde andam) e nem mesmo os de gama média-alta, a solução era jogar com juniores.

A definição de provincianismo é tentar agarrarmos uma realidade que, pura e simplesmente, já não existe.

Luís Leite disse...

Se ser provinciano é não nos conformarmos com realidades e interpretações de realidades completamente idiotas, eu sou provinciano (apesar de ter nascido em Lisboa e ter vivido sempre em Lisboa).
Chamar futebol português às equipas do SLB, do FCP e do SCB é, e os argumentos que apresento provam-no, completamente idiota.
Desculpem, mas eu cá faço os possíveis por pensar pela minha cabeça, não pela dos outros.

Kaiser Soze disse...

Provincianismo é um estado de espírito e não, necessariamente, uma condição geográfica.
Em termos meramente informativos, será de realçar que os Velhos do Restelo não são todos (a maioria absoluta, na verdade) do Restelo.

Ps. etimologicamente, um idiota é aquele que tem muitas ideias; parvo, ainda etimologicamente, é aquele que é pequeno.

Luís Leite disse...

Em vez de argumentos relativos ao assunto apresentado, observações laterais.
Está bem...

JCN disse...

E se uma empresa nacional tiver a trabalhar mais estrangeiros que portugueses? deixa de pagar impostos em Portugal?

Luís Leite disse...

O que eu disse nada tem a ver com o pagamento de impostos, nem é isso que torna uma pessoa ou entidade portuguesa.
O que eu disse e escrevi é que, sendo os clubes portugueses, as equipas são quase exclusivamente estrangeiras, sul-americanas.
Portanto, não se pode nem deve falar em "Futebol Português".
É uma aldrabice!

Luís Leite disse...

Eu posso contratar as duas melhores jogadoras de ténis-de- mesa (chinesas) do mundo e o meu clube é campeão europeu de ténis-de-mesa.
Isso é ténis-de-mesa português?