sábado, 28 de fevereiro de 2009

6+5 - baralhar e voltar a dar num velho jogo

Depois de Bosman e do “3+2” que caiu por terra com a decisão do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias há 14 anos.

Depois das posições da Comissão, do Parlamento Europeu, e até da UEFA, as quais, como se foi dando nota neste blogue, se afastaram – em diferentes amplitudes – em relação à regra “6+5” e aos argumentos de Blatter para preservar a identidade nacional em cada um dos campeonatos europeus através desse instrumento.

Apesar das inúmeras manifestações, políticas e jurídicas, condenando a discriminação de tal regra face aos pilares fundacionais da cidadania europeia, a FIFA não desiste dos seus intentos e após ter aprovado o “6+5”, por votação esmagadora, no seu último congresso em Maio, teima em não ceder.

Quinta-Feira foi apresentado, em conferência de imprensa no Parlamento Europeu, mais um trunfo da sua agenda. Desta feita, um estudo encomendado a 5 especialistas do Instituto de Assuntos Europeus considerou que “não existe conflito com as normas europeias”, uma vez que:

"The key aim of the 6+5 rule in the view of the experts is the creation and assurance of sporting competition. The 6+5 rule does not impinge on the core area of the right to freedom of movement. The rule is merely a rule of the game declared in the general interest of sport in order to improve the sporting balance between clubs and associations."

A Comissão já se apressou a reafirmar a sua oposição.

Neste braço de ferro, que a FIFA pretende não circunscrever ao mundo do futebol, joga-se a falência do desporto europeu e se manifesta a preocupação das autoridades desportivas internacionais em preservarem apenas o seu “negócio” num registo de “autonomia e independência” que cada vez mais se aproxima do autismo face às mudanças sociais e politicas no contexto europeu e aos novos desafios e exigências que se colocam à governança desportiva.

Repisando a ideia segundo a qual a matriz de identidade nacional é o fundamento para o equilibrio competitivo, valorização da formação de jovens praticantes e preservação dos laços afectivos com os clubes locais e as selecções nacionais, marginaliza-se uma efectiva regulação dos problemas prementes do futebol profissional na União Europeia, que se agravam na conjuntura actual.

Ao contrário de Blatter, Platini e outros lideres de organizações desportivas mais interventivos no cenário europeu, já se aperceberam destas tendências e procuram mudar o seu enfoque para problemas mais estruturantes que minam os princípios solidários do modelo europeu de desporto. Oportunamente, disso daremos conta.

13 comentários:

Anónimo disse...

A "guerra" entre a UEFA e a FIFA, é a guerra do autismo europeu contra o mundo.

Não se vislumbra nenhuma conflitualidade entre as restantes associações continentais e a FIFA.

O que é sintomático porque transporta a contumaz ideia de que a UEFA se configura como um condomínio fechado contra as "United Nations of Football" (UNF) como a FIFA se autodenomina.

Parece que ser Ocidental é pergaminho suficiente para não admitir qualquer diálogo, mas imposição de ideias.

Que do conflito entre o condominio fechado da Europa e o condomínio global fechado da FIFA, resulte um consenso lógico e racional.

Anónimo disse...

antes que as opiniões cresçam sem o fundamento dos factos, vejamos que

hoje um jornal, correio da manhã se não estou em erro, refere que haveria mais cento e tal portugueses a jogar na 1.ª liga se a regra 6+5 entrasse em vigor.

a ser verdade a regra de blatter será boa para o jogador de futebol português

fará sentido avaliar os factos aos juizos de valor e ao wishfull thinking

já o disse noutra ocasião neste blogue

a regra de blatter faz sentido

a inglaterra e portugal são os dois campeonatos da europa com mais de 50% de estrangeiros

O nosso campeonato beneficia bastante com o facto, como se verifica com a falencia dos clubes os que pura e simplesmente não pagam salários e os outros

as pessoas podem não gostar da uefa e da fifa

mas atentemos aos impactos em portugal dos seus regulamentos e do impacto objectivo dos seus principios

Anónimo disse...

A regra dos 6+5 não passa de uma etiqueta que a FIFA consagra para esconder a sua incapacidade para resolver o problema da introdução das novas tecnologias, exactamente como faz o ténis que, na dúvida se a bola bateu no risco, ou fora ou dentro, imediatamente apresenta o vídeo tira-dúvidas.

Parece mais importante a resolução desse problema que afecta o jogo e a credibilidade do árbitro que, só daquela forma, fica livre de agressões e suspeitas. E, por outro lado, impede a permanência dos árbitros corruptos que inventam faltas.

A FIFA lança o conflito com a UEFA e com a UE, para distrair e divagar.

O 6+5 é uma falácia. Quem tem a fábrica de jogadores continua a produzi-los, e quem não os tem, continua a importá-los.

A FIFA está obcecada com a ideia de que é uma instituição onde o sol nunca se põe, como o Império de Carlos V, e nessa fixação pretende mostrar que tem poderes para enfrentar a fixação da Europa.

É uma luta inglória e inútil porque na guerra ninguém ganha... todos perdem.

Ou melhor quem perde é o futebol.

Anónimo disse...

ao anónimo a seguir ao meu comentário

você tem de responder à questão que eu levantei, a do benefício para Portugal da regra 6+5

o joão almeida também não vê benefícios e oportunamente apresentará a sua posição

agora, dá-me ideia que você não é contra os benefícios de portugal

confunde-o um pouco as acções da fifa, certamente que não está só

sendo objectivo, a regra beneficia portugal, são mais cento e vinte e tal jogadores portugueses, que actualmente não jogam nas ligas profissionais

a fifa são uns malandros mas todas as regras que fizer que beneficiem o futebol português serão bem-vindas

a outra hipótese é você gostar da situação actual e de ter estrangeiros a mais no futebol português

isso você não confessa

fala das tecnologias, dos árbitros e das divergências fifa uefa, para concluir que todos perdem com a guerra, ou seja, o futebol

respondo-lhe porque as ideias quanto mais claras forem melhor benefício haverá para o desporto

intervenções como a sua, destruindo tudo e todos, é uma virtude a que nos damos com demasiada frequência em portugal

tratemos apenas de um ponto: a regra 6+5 beneficia ou não a I e II ligas portuguesas de futebol profissional

Anónimo disse...

Não perfilho a ideia de que a nova etiqueta "6+5" inventada por Blatter venha beneficiar Portugal.

A Inglaterra tem um ror de campos de futebol destinados a "fabricar" futebolistas, mas mesmo assim importa jogadores.

Porquê?

Primeiro porque o ensino e o treino de futebol não faz talentos nem génios. Se são portadores de ADN-futebol então sim, as escolas aproveitam o "diamante" para o lapidar e explorar as capacidades inatas. Mas, se não o têm, perdem-se pelo caminho, e o sonho de ser futebolista e ganhar rios de dinheiro morrem ali.

Segundo. Porque o futebol do séc. XXI já não é o futebol dos séc. XIX e XX, em que se teciam batalhas para que os futebolistas fossem amadores e não quebrassem essa regra, regra instituída pela aristocracia como forma de impedir o povo de jogar com o capital social económico positivo.

E com base nesse critério, os operários e os sargentos, porque tinham que "trabalhar" para ganhar a vida, eram classificados de "profissionais", isto é, tinham uma profissão.

No romance de Jane Austen, "Orgulho e preconceito", um homem pergunta a outro o que é que determinada personagem fazia na vida, embora endinheirado:
- Nada, diz um
- Ah! Então é um gentleman..., respondeu o outro.

O futebol de outrora era de ócio e lazer, e o de hoje já nada tem a ver com o passado. Pertence ao mercado do espectáculo que pretende lucros para poder pagar aos melhores jogadores do mundo e encher os estádios.

Veja o que aconteceria se nos espectáculos de circo houvesse uma etiqueta "6+5". Ia à falência.

A indústria do espectáculo que enche os cofres da FIFA e da UEFA, não pode pactuar com o "6+5", sob pena de estar a subverter o capital que aufere e permite dar emprego a milhares de pessoas ligadas ao futebol.

Blatter é do século passado e continua a pensar à século XX.
Espero que Blatter não leia o Correio da Manhã, nem por ele se deixe influenciar, já que está apostado em ajudar Portugal.
Ajudas dessas também os espanhóis me fazem, e mais não me conhecem.

Estes são os meus fundamentos.

Anónimo disse...

o futebol é desporto e não é circo, embora seja um espectáculo

nós não temos campeonatos de circos para acompanharmos na televisão e nas rádios

a regra 6+5 faz sentido no desporto moderno

o futebol cria esta regra porque é a maior modalidade e é sobre ele que recaiem as maiores pressões económicas e sociais

devemos defender o produto português no desporto e fora dele

sendo o jogador português mais valorizado o lucro dos empresários deixa de se fazer com os estrageiros e passa-se para os jogadores nacionais

talvez seja esta a preocupação do anónimo, como anónimo não se sabe se é empresário ou simples amador

Anónimo disse...

A regra "6+5" não faz sentido no desporto moderno nem no desporto português.

Trata-se de um nacionalismo serôdio que imperou no período entre as duas grandes guerras, período conhecido por período das ditaduras, e que constituiu uma bandeira dos ditadores para arregimentarem,dominarem e domesticarem a população.

Nas ditaduras eram mais nacionalistas. No art.º 60.º do decreto n.º 32946, de 3.8.1943, data em que o amadorismo imperava, a tabela blatteriana pautava-se pela superlativa 8+3, porque a lei estipulava que os estrangeiros não podiam ultrapassar 1/3 do total.
A Federação de Futebol fez as contas, dividiu 11 por 3 e dava 3,6666, e quis arredondar para 4 estrangeiros. No ofício de 5.3.1949, a DGD foi peremptória: 1/3 de 11 é 3 e não 4, "visto que nesse caso seria excedido o limite permitido pela lei."

Ora Blatter, deve estar recordado dessas brilhantes matemáticas e resolveu o problema passando do 1/3 para 1/2. Ora 1/2 de 11 jogadores dá uma conta sibilina 5,555. A instituir-se tal blasfémia, vamos assistir ao mesmo problema: "Sr. Blatter, 1/2 dá 6 por arredondamento. Pode ser 5+6?."

Lá virá a mesma resposta, tirada do decreto de 3.8.19463. Blatter responderá:"1/2 de 11 é 5 e não 6, "visto que nesse caso seria excedido o limite permitido pela lei FIFIANA."

Nas nossas universidades há doutores e licenciados estrangeiros a leccionarem, e ninguém fala em 6+5. E nos hospitais estão a entrar médicos e enfermeiros de outros países, e ninguém fala de 6+5, nem de nacionalismos ofendidos.

Se, de facto "o futebol cria esta regra porque é a maior modalidade e é sobre ele que recaem as maiores pressões económicas e sociais", então Blatter, apesar de ser Bacharel em Administração e Economia, é contraditório, porque estipular o 6+5 é diminuir a maior modalidade, e acabar com as maiores pressões económicas e sociais, isto é, reduzir o potencial económico que constitui a seiva do futebol-profissional-espectáculo.

Por isso ele é profissional, e por isso ele é espectacular.

Em termos sociais o 6+5 vai alimentar um nacionalismo doentio e desnecessário, fora do tempo, descontextualizado, e combater o poder económico que o mantém vivo.

As pessoas estão a tornarem-se cada vez mais homens do mundo, e os jogadores... também.

Não parece oportuno levantar muros a um mundo em mudança, e muito menos obrigá-lo a recuar.

Anónimo disse...

Caro anónimo
Só lhe posso dizer que o desporto é uma actividade que os economistas dizem ter peculiaridades.
Essas peculiaridades da actividade desportiva, justificam regras económicas distintas, que não é o caso do que quer aplicar.
Digo-lhe que é isso que se passa na economia e que em termos económicos a regra 6+5 é racional e incrementará os benefícios do futebol nacional e mundial.
Isto passa-se em economia.
Alicersado na sua disciplina científica você tem posição contrária.
Tenho que reconhecer que não consegui ver qual é a ciência que aplica nos seus postes.

Anónimo disse...

Tenho que reconhecer que não consegui ver qual é a ciência que aplica nos seus postes.

Idem, aspas

Anónimo disse...

O professor Tenreiro tem razão...lógicamente que esta regra benificia o futebol português.
Comparar o futebol português e o inglês é um execicio futil..pois são duas realidades completamente distintas.

A federação portuguesa de futebol tinha em 2004 perto de 140 mil federados a inglesa tinha perto de 2 milhoes de federados.
O que é que existe em comum nestas duas realidades?Nada!

Comparar a 1ª liga inglesa e a portuguesa é perder tempo...como diz Queiroz: "os clubes aqui são clubes de produto final"...(eles podem basicamente adquirir quem quiserem pois tem dinheiro para isso).

Os clubes portugueses podem adquirir os atletas que querem?? Não me parece!Tem que se limitar ao que outros deixam. o que faz com que o nosso futebol seja mediocre.

Por isso só tem uma solução para melhorar: formar atletas.
visto isto a regra do 6 + 5 é benéfica.

PS: Gostei da parte do "ADN-Futebol"....teve piada!!dá logo para ver que quem fala assim nada perce do assunto!lol

Anónimo disse...

Esta é uma discussão bem portuguesa

nos blogues ou na Assembleia da República não se consegue chegar a um consenso

antes do fecho da escrita e da continuação do desnorte da conversa

a questão do 6+5 é que se ela for benéfica para os países europeus será possível convencer a Comissão Europeia em restringir o direito de circulação dos jogadores introduzido pelo Caso Bosman

Da parte de quem não percebe nada o adn do jogador de futebol português está em crise com o resultado de 12-1 da eliminatória sporting-bayern porque o sporting é o clube que mais jogadores nacionais tem

porquê a regra 6+5 se o efeito é 12-1?

por estranho que pareça, a opinão de quem não percebe nada é que a regra 6+5 com o resultado do sporting faz mais sentido

Nos países de todo o mundo que produzem campeões e conquistam troféus e medalhas acima dos valores conseguidos por portugal, fala-se de escolas, referi adn, como podia falar de escola de futebol português

a regra 6+5 ainda agora vai no principio

Anónimo disse...

Caro Director Desportivo

Se os ingleses têm dois milhões de futebolistas, e mesmo assim importam jogadores (porque têm dinheiro para isso), pergunto:

- Se têm dois milhões, é porque têm muitas escolas de jogadores;
- Se têm dois milhões, para quê comprar jogadores estrangeiros? Só porque têm muito dinheiro? É essa a justificação?

Tenreiro diz que a cabala "6+5" favorece o futebol português e inglês, igualando-os, o que contraria a tese do Director Desportivo para quem ambos não se podem comparar. Portanto Tenreiro perdeu tempo na comparação.

Durante o regime da ditadura, tivemos o "8+3", muito melhor que o "6+5", e Salazar até proibiu a "venda" de Eusébio. Não havia escolas de jogadores, mas havia nomes sonantes, e conseguiu-se um 3.º lugar no Mundial de 1966.

Posto isto, e de acordo com a sua tese, então, se o futebol vai melhorar com o "6+5", por ter fé nesta soma, certamente melhoraria muito mais se a soma passar a "11".
Seria um pleno.

Mas isso não vai acontecer porque o mercado não deixa, e porque a imobilidade não favorece nenhuma indústria, nem a do futebol.

E se o "6+3" favorece Portugal, então a fórmula matemática só deve ser aplicada aos países do 3.º mundo.

Não esqueçamos que a idílica UE tem a etiqueta da livre circulação dos profissionais de futebol, sem fórmulas matemáticas condicionantes, nem as permite.

E Blatter acha que ninguém pode mexer no seu domínio. Daí o confronto.

Se me explicar melhor, sem ser por ter fé, que não tenho razão, então darei a mão à palmatória...

Anónimo disse...

Caríssimos
neste domínio digital as questões têm de ser curtas sob pena de perderem o interesse

avançarei com fundamentos económicos de apoio à restrição de circulação de jogadores presente na 6+5:

existe uma falha de mercado com a liberdade de circulação de jogadores

porque falha o mercado de jogadores profissionais com a liberdade de circulação?

falha porque existem produtores mais eficientes, africanos e sul-americanos, que colocam ou jogadores jovens sem direitos básicos, e que muitas vezes são abandonados à sua sorte, ou então jogadores mais velhos com maior qualidade e menor preço do que os produzidos nos clubes amadores europeus

em consequencia os clubes amadores europeus desinteressam-se de formar jogadores jovens e isso tem consequências para a modalidade na escassez de produção de jogadores nacionais da mais alta qualidade

Face a esta falha de mercado quem deve intervir?
Os Estados nacionais, a Comissão Europeia e outras instituições públicas
As instituições do futebol: FIFA UEFA, FIFPRO, e outras instituições associativas

Qual o sentido da intervenção?
incentivar os produtores europeus, clubes amadores, a produzirem jogadores nacionais de qualidade e a restringir os clubes profissionais europeus de contratarem jogadores não-europeus

em conclusão:
A comissão aceita limites à liberdade de circulação de jogadores e de organizações, por exemplo: nas selecções nacionais e nos clubes

as selecções são apenas de jogadores nacionais
o FCPorto não pode competir com o Real Madrid por muito que lhe desse jeito ganhar mais uns cobres numa primeira divisão ibérica

a minha perspectiva, baseado em que a Comissão Europeia vai reconhecer o que é melhor para o mercado do desporto europeu, é que ela deverá decidir pela regra 6+5 ou algum seu sucedâneo