sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Face oculta

Com facilidade se associam alguns estádios de futebol, construídos para o Euro 2004,a buracos financeiros. Mas tal relação pode funcionar como um mecanismo que oculta mais do que revela. A verdade é que não estamos perante um problema localizado. Ou de duas ou três situações mais chocantes. O exemplo pode ser replicado. Se no lugar de estádios de futebol elencarmos outra tipologia de equipamentos. Que tanto podem ser piscinas, pavilhões desportivos, multiusos, pistas de atletismo ou centros de estagio.Com uma característica comum: são equipamentos desportivos públicos que vivem, na generalidade dos casos, situações difíceis no plano da gestão financeira. E em alguns casos em claro subaproveitamento desportivo. O que se gasta é muito para pouco o que se aproveita.
As causas do problema são conhecidas. As soluções também. Mas como se trata na esmagadora maioria de equipamentos construídos com financiamento público a regra tem sido primeiro construir, a seguir fazer a festa e depois colocar os contribuintes a pagar.
Como explicar a contínua incapacidade para reconhecer erros cometidos? Como explicar as resistências ao exame crítico das decisões passadas e que contribuem para que os mesmos erros venham a ocorrer em decisões futuras?
Um velódromo como o de Sangalhos para a prática de uma disciplina que o país não pratica ainda que com valências para outras modalidades não ultrapassa o limiar do risco prudente e aceitável?
Alguns dos novos centros de alto rendimento que custos de manutenção e de funcionamento têm associados? E quem os suporta?
O facto de se atender a expectativas e a necessidades do desenvolvimento desportivo em matéria de equipamentos é meritório. Mas à necessidade deve estiver associada a sustentabilidade desportiva e financeira.
O grau de intervencionismo político, por via do financiamento público, tem sido elevado. Mas também errático, não estabelecendo linhas de orientação consistentes. Em muitos casos a satisfação de expectativas criou contextos de dependência financeira, particularmente no poder local, em que são aqueles que não utilizam os equipamentos que têm de financiar o seu uso. Em algumas autarquias a ocultação dos erros com a construção de complexos desportivos sobredimensionados tem tido a cumplicidade de interesses desportivos instalados que se recusam a interpretar os indicadores de colapso financeiro.
É dos livros e da experiência da vida: nem todo o investimento público gera progresso. O pais ainda se não deu conta que vai chegar um momento em que é preciso parar este desvario. E que não chega responsabilizar os governos por financiarem projectos de viabilidade duvidosa. A muitos deles estão associadas decisões autárquicas de quem tem mais olhos que barriga e interesses desportivos de entidades para quem os fundos públicos são inesgotáveis.
Numa matéria tão sensível e de importância estratégica para o alargamento, desenvolvimento e qualificação da prática desportiva, correr o risco de decisões que delapidam recursos e, a prazo, hipotecam a possibilidade de responder às necessidades de prática desportiva dos cidadãos não é um caminho aconselhável.
A avaliação analítica dos resultados de gestão dos equipamentos desportivos construídos é indispensável. Essa avaliação é essencial para passar de um politica de “palavras” e de “intenções” para uma política de racionalidade nas escolhas públicas.

20 comentários:

Luís Leite disse...

Concordo integralmente com José Manuel Constantino.
Já agora, chamo a atenção para a comunicação que enviei para o Congresso do Desporto, no início de 2006, em que chamava a atenção para o caso particular do Atletismo.
Se não leram na altura, leiam agora. Talvez valha a pena...
Está disponível em qualquer motor de busca em "Congresso do Desporto", "Contributos", 3 -"Equipamentos Desportivos e o Território", "C) Contributos - Luís Leite".
Ali encontram aquilo que era o meu diagnóstico da situação há quase 4 anos. Infelizmente, a legislação e os processos de aprovação e licenciamento só sofreram alterações nas minudências politicamente correctas.
Continua-se a construir para o fogo de vista das inaugurações, com sérias responsabilidades para os promotores locais (autarquias), para o IDP e para o QCA/CREN Desporto.
No caso do atletismo, o que temos hoje? Várias dezenas de pistas de 400m pagas pelos nossos impostos, abandonadas e degradadas. Muitas sem qualquer apetrechamento e com graves erros de concepção, impossíveis de homologar e muito ventosas. Sem programas integrados de animação. Tudo isto apesar das constantes chamadas de atenção da Federação, sempre ou quase sempre ignorada nas suas recomendações programáticas.
Ao longo dos últimos anos, esbanjaram-se dezenas de milhões de euros a construir aberrações sem qualquer sentido, em que o mais importante era a implantação da relva sintética, incompatível com os lançamentos, em estádios sobre-dimensionados, a pensar no Futebol e no Râguebi (porque seria?...). Investigue-se!
Actualmente são muito poucas as instalações em que se pode treinar com um mínimo de condições ou organizar Campeonatos Nacionais.
Uma vergonha!
E atenção: há responsáveis (uns mais que outros)e "eles" estão por aí!

Anónimo disse...

Diz LUÍS LEITE:

Ao longo dos últimos anos, esbanjaram-se dezenas de milhões de euros a construir aberrações sem qualquer sentido, em que o mais importante era a implantação da relva sintética, incompatível com os lançamentos, em estádios sobre-dimensionados, a pensar no Futebol e no Râguebi (porque seria?...). Investigue-se!

E quem é que pagaria os custos de manutenção, se os relvados não fossem sintéticos? A Federação Portuguesa de Atletismo ou os "lançadores" desta modalidade?!!!

Anónimo disse...

Bem prega Frei Tomás...

Luís Leite disse...

Aprecio muito os "especialistas" anónimos, como é sabido...
Então, passo a explicar:
E se eu lhes disser que os relvados sintéticos ficam mais caros que os relvados naturais (custo inicial + manutenção)tendo em atenção o tempo médio de vida? É que enquanto os relvados naturais podem durar décadas, os relvados artificiais, em função da quantidade do uso e da qualidade da manutenção, duram entre 5 e 15 anos. Depois, venha um novo. E a manutenção também é cara (rega, granulado, etc.).
Saibam os preços e façam as contas!
A única vantagem é poderem ter, teoricamente, mais uso diário, mas na maior parte dos estádios, o tempo de uso diário é igual ou pouco superior ao dos relvados naturais. Portanto, os relvados artificiais são aceitáveis em recintos anexos aos estádios, para fazer formação de jovens futebolistas e nem precisam de ter as dimensões oficiais.
Quanto ao atletismo, pede, há muito, pistas simplificadas adequadas às características da implantação desportiva de cada concelho, junto de escolas.
Pistas com relvado sintético no interior apenas servem para decorar, já que treinar na pista com bolas a atravessarem-na constantemente não dá... Não têm utilização e nem sequer compram apetrechamento. Mas ficam lindas nas inaugurações dos novos relvados sintéticos.
Quanto aos lançamentos, deviam fazer-se mais recintos adequados, com custos iniciais e manutenção reduzidos (ervados), em todos os distritos. Sob pena de os lançamentos não poderem ser praticados.
Mas tudo isto pouco interessa a quem decide.

Anónimo disse...

Insiste LUÍS LEITE

E se eu lhes disser que os relvados sintéticos ficam mais caros que os relvados naturais (custo inicial + manutenção)tendo em atenção o tempo médio de vida? É que enquanto os relvados naturais podem durar décadas, os relvados artificiais, em função da quantidade do uso e da qualidade da manutenção, duram entre 5 e 15 anos. Depois, venha um novo. E a manutenção também é cara (rega, granulado, etc.).
Saibam os preços e façam as contas!


Vá lá: fale-nos dos preços e dos custos de manutenção dos relvados sintéticos e dos relvados naturais!...

Não convide os outros a "estudar". Demonstre que V. - que puxou o assunto - o estudou.

Será, pelo menos, um exercício original e sem paralelo: "demonstrar" que os relvados sintéticos custam o mesmo ou até mais (!) do que os relvados naturais...

E já agora, explique lá: porque é que apodou logo de "especialista" (entre aspas), alguém que apenas duvidou do que V. disse? Não me diga que V. é que é ESPECIALISTA (sem aspas)???

Luís Leite disse...

Caro anónimo:

Aqui vão os meus valores, com base no contacto com diversos responsáveis por alguns estádios, para recintos com 110mx73m:

Relvados naturais:

Custo inicial: 100.000 euros;
Manutenção anual:48.000 euros;
Despesa em 10 anos: 580.000 euros.

Relvados sintéticos:
Custo inicial: 650.000 euros;
Manutenção anual: 15.000 euros;
Despesa em 10 anos: 800.000 euros.

Nota: enquanto os relvados naturais, com manutenção adequada duram várias décadas, os artificiais nunca duram mais de 15 anos.

É preciso mais explicações?

Anónimo disse...

Não discordando em absoluto com o Dr José Manuel Constantino (e do arquitecto Luís Leite), passo a elencar uma série de perguntas que não vejo esclarecidas pela sua própria prosa.

a) Quantos pavilhões, piscinas e pistas de atletismo foram construídas no seu mandato pelas câmaras municipais, que na altura, como é sabido, dispensavam visto prévio do SEJD e quantas promessas desse tipo foram comprometidas pelo secretário de estado Hermínio Loureiro?

b) Alguma vez o IDP, no seu mandato, se preocupou com a concepção de uma carta desportiva -que apontaria as necessidades mais prementes e negaria aquelas que apenas resultavam da política desportiva de gabinete?

c)Nos últimos quatro anos quantos pavilhões, piscinas e pistas de atletismo foram construídos com autorização e financiamento da SEJD?

d) Quantos campos desportivos foram construídos com fundos comunitários em concelhos que não tinham um único campo de jogos?

e)Qual o valor dos projectos comunitários apresentados na SEJD, no ãmbito do próximo quadro comunitário, e qual o valor final de comparticipação?

f) Quais as fontes que lhe permitem garantir que a construção dos centros de alto rendimento não obedece a critérios racionais de financiamento e qual o valor dos fundos comunitários investidos no Jamor quado o quadro comunitário ainda poderia aplicar-se na Região de Lisboa e Vale do Tejo?

G) Qual o número de equipamentos de proximidade, mais baratos e menos bombásticos, que foram construídos nos últimos quatro anos e qual a comparação com os anteriores anos de gestão desportiva em Portugal?

Quanto ao arquitecto Luís Leite, sem malícia, apenas depreendo que, depois de ser um acérrimo defensor dos centros de alto rendimento e da construção de pistas de atletismo em Portugal, se tornou um opositor do mesmo tipo de equipamentos. Mesmo que saiba, como sabe, que no caso do Car Atletismo, a sua antiga menina dos olhos, vai ter um relvado relvado e não um sintético sintético.

Sem mais assunto, envio os meus melhores cumprimentos aos dois.

Luís Leite disse...

Como é óbvio, limito-me a replicar aos comentários (sem malícia) do "Anónimo", que me dizem respeito:

1) Portugal "descobriu" os Centros de Alto Rendimento para as diversas modalidades 30 anos depois da Espanha, para não ir mais longe;

2) Continuo a ser um acérrimo defensor dos Centros de Ato Rendimento, pelo menos para todas as modalidades olímpicas; a qualidade futura das nossas representações olímpicas dependem muito da sua construção e rentabilização;

3) Como se pode ser nos documentos que fui produzindo ao longo dos anos em que estive na FPA, Portugal é alta e ridiculamente deficitário em pistas de atletismo em termos europeus, mas o que é verdadeiramente grave é que se foram construindo pistas sem qualquer critério de racionalidade no que respeita a localização, tipologia e ao que fazer com elas no dia seguinte à inauguração; salvo raras excepções, os conselhos da FPA foram geralmente caindo em saco roto.

4) Em Espanha, por exemplo, todos os Ayuntamientos possuem, pelo menos, uma pista funcional e devidamente apetrechada e não há pistas abandonadas ou em ruínas como por cá: mais de 600 pistas de 400m homologadas e operacionais em Espanha contra cerca de 70 em Portugal, estando cerca de 50 inutilizadas, sem apetrechamento, manutenção e uso. Duas capitais de Distrito não têm uma única instalação para o Atletismo: Évora e Santarém; o distrito de Coimbra tem apenas uma, que foi parcialmente destruída por um concerto e perdeu a homologação. E a situação irá piorar drasticamente nos próximos anos a nível regional e local, dado o desmazelo e a ignorância com estes assuntos são tratados pelos promotores e financiadores.

Anónimo disse...

Como disse na minha prosa inicial, não discordo de tudo o que foi dito nas várias intervenções anteriores.
Sem prejuízo desta constatação, o arquitecto Luís Leite terá de concordar que nos últimos quatro anos o estado central não financiou um único equipamento deste tipo que não obedecesse a critérios exigentes do ponto de vista fianceiro e do ponto de vista técnico. E também terá de concordar que a carta desportiva, que está em vias de ser finalizada, é o único instrumento de racionalidade que o Estado pode utilizar contra a megalomania autárquica. E também terá de concordar que o actual Governo, mesmo dando de barato que apanhou o comboio atrasado, fez, em quatro anos, mais pela criação de uma rede de Centros de Alto rendimento do que os outros governos todos juntos.

Sem malícia, subscrevo-me atentamente

Luís Leite disse...

Caro anónimo:

Também concordo que este Secretário de Estado foi o primeiro a preocupar-se a sério com a criação de verdadeiros CAR, embora as prioridades sejam contestáveis (velódromo para ciclismo de pista num país que não o pratica?). Mas o arrelvamento sintético do chão nacional e o exagero de máquinas da sala de musculação das Piscinas do EN são da responsabilidade de quem?
Não sendo claro até que ponto o responsável pelos QCA/CREN Desporto é ou não dependente da tutela nacional, aí sim, contesto fortemente o modo como foram sendo atribuídos os fundos comunitários. Foi o "quero, posso e faço como me apetece"...

Anónimo disse...

Caro Arquitecto Luís Leite,

Olhe que não, olhe que não...

Luís Leite disse...

Olhe que não, olhe que não é a célebre frase que o Dr. Cunhal proferiu em frente-a-frente eleitoral com o Dr. Soares quando, perante a realidade dos factos, se lhe esgotaram os argumentos.
Para mim já chega. Ponto final.

Anónimo disse...

Ponto um: o anterior quadro comunitário de apoio tinha uma unidade que tinha autonomia total para decidir e acompanhar os projectos aos quais as câmaras se candidatavam directamente. Estes projectos dispensavam, agora já não dispensam, o parecer favorável da SEJD. De qualquer forma, e para que fique bem informado não tenho conhecimento de nenhum campo sintético que custe tanto como o Luís Leite diz que custa nem de nenhum relvado que custe tão pouco quanto o Luís Leite diz que custa. Por outro lado, basta ver a utilização intensiva dos relvados sintéticos do programa primeiro relvado para descobrir que eles são um sucesso. Quer o Luís Leite queira quer não queira.
Ponto dois: as infraestruturas desportivas de que tanto fala eram, na sua esmagadora maioria, construídas pelas câmaras com fundos próprios e dispensando qualquer aval governativo (se quiser mais informações pode consultar a constituição da república e as competências do poder local).
Ponto 3: como devia saber, o novo quadro comunitário de apoio tem uma verba irrisória para construção desses equipamentos desportivos. Posso-lhe dizer, aliás, que o volume das candidaturas das autarquias corresponde a mais de dez vezes as verbas à disposição e que essas mesmas candidaturas agora já não dispensam o parecer governamental.
Ponto 4: o Luís Leite pensa que por mandar umas bocas mal-informadas elas se tornam verdade mas não tornam. O equipamento de ginásio do IDP que anda, como a pasta medicinal couto, na boca de toda a gente foi um óptimo investimento sobre todos os pontos de vista. Serviu para equipar um ginásio que é frequentado por todos os atletas de alta competição que estão no jamor; serviu para abrir um ginásio dedicado ao desporto informal com preços muito apelativos e vai servir para equipar o novo mega-ginásio que se vai construir no Car-Rugby. Mas que já que está tão chocado porque é que não se choca com os milhões de euros em candidaturas nunca apresentadas durante anos no Jamor e que serviriam para ter ajudas comunitárias na construção dos 4 cars (RUGBY, GOLF, ATLETISMO, TÉNIS) que ali ficarão residentes?

E agora é que se acabaram os meus argumentos e as minhas atenções,

Com os meus melhores cumprimentos, subscrevo-me atentamente

Luís Leite disse...

Lá vou ter que retirar, contra a minha vontade, o "ponto final":

Quanto ao ponto 1:
Confirma o que eu afirmei sobre o que se passava nos anteriores QCA: Quero, posso (não consulto as Federações) e faço. Desconheço se o parecer favorável da SEJD terá efectivamente mudado alguma coisa. Se sim, ainda bem...
Quanto aos relvados, mesmo que os valores não fossem rigorosamente os que dei (não vejo onde estão os seus "verdadeiros", para comparar), a verdade é que se trata sempre de um logro, um péssimo investimento, embora esses negócios, enquanto tal, sejam legítimos...

Quanto ao ponto dois:
Não é verdade que a maioria dos equipamentos fossem construídos pelas Câmaras com fundos próprios. Vivi por dentro esses anos e sei bem do que estou a falar. O IDP financiava a maioria parcialmente, sem consultar as Federações interessadas e emitindo pareceres ocos, por desconhecimento específico. Era a influência política dos autarcas que tinha (ou não), efectivamente, peso.
Conheço, obviamente bem, o caso do Atletismo, mas também o de algumas outras modalidades olímpicas, com cujos responsáveis discuti estes assuntos.

Ponto 3:
O mal, agora, já está feito. Quanto à eficácia do visto da SEJD, nos últimos meses, a análise só pode ser feita daqui a uns anos. Mas não sou necessariamente pessimista.

Ponto 4:
Se pensa que estou mal-informado desengane-se. Mantenho a mesma opinião. Basta consultar os DTN das Federações e os principais atletas e seus treinadores, por exemplo, para apurar se faz algum sentido misturar atletas de Alto Rendimento com desporto informal num mesmo espaço de musculação. A ideia era bater o recorde do mundo de máquinas por metro quadrado? E já agora, quanto custou aquela megalómana brincadeira? E, por comparação, quantos novos CAR esses sim, absolutamente necessários estão concluídos e sem atrasos?
Quanto a candidaturas nunca apresentadas conheço algumas dessas virtualidades. Os responsáveis que respondam.

Para terminar, gostava de saber como é que é possível um anónimo subscrever-se. É, no mínimo, um paradoxo!...

Cumprimentos (sem malícia)!

Anónimo disse...

Escreveu Luís Leite:

Nota: enquanto os relvados naturais, com manutenção adequada duram várias décadas, os artificiais nunca duram mais de 15 anos.

É preciso mais explicações?


Sim, são precisas muitas mais explicações.

Então os relvados naturais "duram várias décadas"?! Sem substituição?! Alguma vez V. geriu algum?? E que utilização poderia ter um relvado natural para "durar várias décadas"?! Meia hora mensal, não?!

Nunca ouviu falar do aumento exponencial dos custos de manutenção dos relvados naturais a partir do 6º ou 7º anos?! Isto não conta?!

Nunca ouviu falar da utilização média de um relvado natural ser da ordem das 8h mensais, ao passo que um relvado sintético suporta 8h de utilização diárias?! Isto também não conta?!!!

Também nunca ouviu falar da substituição integral dos relvados naturais ou dos clubes que os substituem de dois em dois anos?!

Que diabo de contas são as suas?!!!

Anónimo disse...

Mas quem é este sr. Luís Leite, "especialista", de quem nunca se ouviu falar? Que pistas, que relvados (sintéticos ou outros), que pavilhões, piscinas ou instalações desportivas, programou, projectou ou construiu este "arquitecto"? Como se atreve a botar postas de pescada sem fundamentar as suas "análises"? Os seus "conselhos" constam de algum manual? porque será que, como se queixa afinal, nunca lhe deram ouvidos? Sem dúvida,... mais um genial incompreendido ...

Luís Leite disse...

Mais explicações:

Os custos de manutenção indicados por mim para os relvados naturais incluem a reposição parcial de partes através de transplante de viveiros próprios ou externos (transporte e colocação em rolo).
Os relvados naturais duram várias ou muitas décadas, como é sabido da história dos estádios portugueses.

Como disse, os relvados artificiais só se justificam para escolas de futebol com muito movimento diário e em recintos com dimensões reduzidas, dada a enormidade do investimento inicial.

Ao râguebi português, foram-lhe impostos relvados sintéticos, contra a vontade da própria Federação, já que é sabido que a relva sintética é abrasiva e queima a pele dos jogadores (perguntem-lhes a opinião).
Quanto ao Atletismo, somos o único país que coloca relva sintética, incompatível com os lançamentos, no interior das pistas (um disparate!).

Os relvados sintéticos, com 8 horas de utilização diária, não aguentam mais de 6 a 8 anos e têm que ser substituídos integralmente (mais 500 a 650 mil euros), já que o desgaste é brutal, o betuminoso abate e a manutenção e rega passam para 2º plano.

O único caso que conheço em Portugal de substituição integral de relvados naturais ao fim de pouco tempo é o do Alvalade séc. XXI, devido à repetição/conjugação de experiências tipológicas mal-sucedidas em Espanha e Itália com características arquitectónicas especiais de um estádio muito fechado, o que dificulta a ventilação e a insolação da relva.

Finalmente e voltando às contas, os relvados sintéticos custam, a curto, médio ou longo prazo, como provei anteriormente e não vi rebatido, muitíssimo mais caros que os relvados naturais.

Nos principais estádios de futebol da Europa a hipótese relva sintética, tão desejada há 3 ou 4 anos pelas próprias UEFA e FIFA, tem sido posta de parte, voltando a investir-se unicamente na relva natural, cuja produção em rolo permite, a custos cada vez mais controlados, muito melhores resultados, seja qual for o ponto de vista.
A concepção arquitectónica dos estádios mais recentes passou a ter em consideração o efeito ventilação/insolação sobre o relvado.

O logro do fenómeno "relva sintética" resultou da conjugação dos factores "marketing", "novidade" e "falta de experiência de uso".

Nada tenho contra ou a favor destes negócios, desde que o dinheiro mal gasto não saia (também) dos nossos impostos.

Anónimo disse...

Depois de ler o Luís Leite, concluí que Goethe estava cheio de razão: nada há de mais assustador do que a ignorância em acção...

Anónimo disse...

Melhores cumprimentos,
Apraz-me tecer alguns comentários a algumas afirmações feitas acerca dos relvados sintéticos sem se ter qualquer conhecimento do que se fala.
Então cá vai!
Comprovadamente os relvados sintéticos conseguem ter um custo exponencialmente inferior aos relvados naturais ao fim de um curto espaço de tempo. Claro que temos que perceber que as horas de utilização são incomparavelmente superiores nos sintéticos e em condições bastante melhores durante todo o ano.
Luís leite dixit;
"Aqui vão os meus valores, com base no contacto com diversos responsáveis por alguns estádios, para recintos com 110mx73m:
Relvados naturais:
Custo inicial: 100.000 euros;
Manutenção anual:48.000 euros;
Despesa em 10 anos: 580.000 euros.
Relvados sintéticos:
Custo inicial: 650.000 euros;
Manutenção anual: 15.000 euros;
Despesa em 10 anos: 800.000 euros.
Nota: enquanto os relvados naturais, com manutenção adequada duram várias décadas, os artificiais nunca duram mais de 15 anos.
É preciso mais explicações?"
Claro que é. E se possível com números correctos. Aqui vão os meus que são concretos e reais.
Custo de Instalação
Relva Natural
Saneamento e Drenagem €30.000
Sistema de Rega €35.000
Suporte e Semear €210.00
TOTAL €275.000

Relva Sintética
Saneamento e Drenagem €20.000
Sistema de Rega €25.000
Infra-estruturas €125.000
Relva Sintética €170.000
TOTAL €340.000

Custo de Manutenção
Relva Natural
Manutenção de custo €36.000/ano
Disponibilidade 12h/semana
Durante 46 sem./ano
Aos 6 anos do Relvado Natural
Horas de Utilização em 6 anos - 12*46*6 = 3.312h
Custo Total aos 6 Anos €491.000
Custo por hora (€275.000 + (€36.000) * 6 )/ 3.312 = 148.25 €/h
Relva Sintética
Manutenção de custo €4.000/ano
Disponibilidade 50h/semana
Durante 46 sem. /ano
Aos 6 anos do Relvado Sintético
Horas de Utilização em 6 anos – 50*46*6 = 13.800h
Custo Total aos 6 Anos €340.000
Custo por hora (€340.000 + (€4.000) * 6) / 13.800h = 26,37 €/h
A relva sintética, além de proporcionar um uso mais intensivo, é uma aposta mais rentável a partir dos 5 anos de utilização.
Nestas tabelas não incluímos a possibilidade de rentabilizar o relvado sintético mediante o seu aluguer à hora, coisa que é impossível de se fazer num relvado natural, pois tem um limite de carga horária de utilização (12 horas semanais).
Poderíamos falar das condições da superfície técnica de jogo que se mantém em perfeito estado durante o ano inteiro ao contrário da relva natural que no Inverno, em maior parte dos campos, se torna impraticável.
650.000 por um relvado sintético?. Desafio-o a dizer que campo, e apenas falamos de infra-estruturas directamente ligadas à superfície de jogo, é que custou esse valor. Não estou a falar de bancadas, balneários, etc.
Os sintéticos não aguentam 6 anos com 8 horas de utilização se não forem convenientemente mantidos. Diria mais. Mesmo sem manutenção aguentam seguramente mais do que seis anos. Claro que estou a falar de relvas com qualidade comprovada.
E mais havia para dizer….

Renovando os meus melhores cumprimentos

Atenciosamente

João Pinto

Luís Leite disse...

Quanto ao primeiro anónimo, não sei a que "ignorância" se refere e de quem, já que não explica. De qualquer modo, não percebo o que é que Goethe tem a ver com relvados. Quem cita Goethe saberá a diferença entre "ignorância" e "desconhecimento"? Se num blog como este nos pusessemos a fazer citações a toda a hora, isto transformava-se numa pseudo-universidade bacoca e não, como supostamente é, num respeitável espaço de troca de opiniões de "não ignorantes".

Quanto ao segundo anónimo, que afinal não é anónimo, ficam as opiniões e os números, que são, obviamente, diferentes dos meus.
No meu caso, o conhecimento é fruto da experiência vivida e da observação do que se passa em todo o país e nos vários países da Europa cujos estádios (muitos) fui visitando ao longo dos anos, no âmbito das minhas funções na FPA, com particular interesse e atenção. Sem ter qualquer interesse pessoal no negócio e sendo totalmente independente.
No caso do anónimo que não é anónimo e que eu não conheço, ficam os seus números, embora fosse interessante uma declaração de interesses.

Mantenho, obviamente, tudo o que disse e não chamei ignorante a ninguém.

Vivam os anónimos e os anónimos que não são anónimos. Cumprimentos a todos.
Ponto final.
Parágrafo.