segunda-feira, 24 de maio de 2010

Desporto em tempos de crise, de Mourinho e de futebol

Mais umcontriburo de Luís Leite para a Colectividade Desportiva.
Confrontados que estamos com vários anos ou décadas de brutal abaixamento do poder de compra e do nível de vida e, pior ainda, de aumento brutal do desemprego e a ameaça real de bancarrota, analisemos o que vale e poderá valer no futuro o Desporto Português:

O que vale:

1) Como é óbvio para todos, o Desporto Português, para a população em geral, é sinónimo de “clubite” e Futebol (o Soccer dos americanos); o resto são umas curiosidades pontuais;

2) Politicamente, o Desporto nunca foi levado pelos Governos (todos) muito a sério, sendo sempre a última das prioridades; pelo contrário, o Desporto revelou-se sempre muito interessante enquanto promotor de protagonismos, vaidades e negociatas;

3) Em termos de índices de prática desportiva, tanto federada como informal, estamos e estivemos sempre na cauda dos países europeus;

4) Os grandes sucessos do nosso Desporto foram sempre casos mais ou menos isolados, nas modalidades de maior ou menor expansão; no Atletismo, a regularidade e continuidade de grandes sucessos deve-se fundamentalmente a uma excelente e eficaz política de detecção e acompanhamento de jovens talentos, embora o desenvolvimento global seja relativamente fraco; no Futebol, a quantidade de praticantes federados não se reflecte em qualidade e os clubes, mesmo fazendo formação e estando falidos, preferem ir comprar ao estrangeiro, sobretudo à América do Sul;

5) Nas outras modalidades olímpicas colectivas com bola, apesar do esforço de uns tantos, estamos sempre entre os mais fracos da Europa, salvo raros momentos muito pontuais em que conseguimos atingir fases finais de campeonatos europeus, onde somos esmagados; nunca conseguimos estar presentes nuns Jogos Olímpicos, o que é revelador da nossa (in)capacidade;

6) Nas modalidades colectivas com bola não olímpicas (Râguebi e Hóquei em Patins), a grande diferença de valor entre os melhores e os outros e a expansão muito relativa das modalidades tem que ser tida em linha de conta;

7) Nos restantes desportos individuais, o Judo, a Vela, o Tiro (com Pistola e com Armas de Caça) e mais recentemente o Triatlo e a Canoagem, têm conseguido algumas classificações de topo e merecem elogios; nos restantes (Ténis, Natação, Ginástica, etc.), apesar de alguma evolução, estamos sempre demasiado longe do topo;

O que poderá valer:

Não se tendo alterado praticamente nada na estrutura do Desporto português durante o séc. XXI e apesar de um (pelo menos) aparente aumento dos índices de prática desportiva informal, as expectativas de sucesso desportivo mantêm-se iguais e se pensarmos no curto/médio prazo podemos vaticinar o seguinte:

1) Taça do Mundo de Futebol (África do Sul 2010): tendo em atenção o histórico de participações e a situação actual, a passagem aos oitavos de final já seria excelente;

2) Jogos Olímpicos (Londres 2012): tendo em atenção o histórico de participações e a situação actual, o número de medalhas deverá ficar pelo intervalo entre 0 e 3, sendo de duas o número mais provável; assim, seremos irremediavelmente ultrapassados no medalheiro histórico pelos novos estados europeus independentes que têm uma população muito inferior à nossa;

3) Em algumas modalidades individuais, manter-se-á a capacidade de obtenção de lugares de honra pontuais em competições de âmbito mundial ou europeu, com tendência para um decréscimo na quantidade; nas modalidades colectivas não se espera mesmo nada, como por exemplo uma participação numa fase final mundial ou europeia;

4) Manter-se-á a obsessão pela organização de mega-eventos mais ou menos populistas, que em nada contribuem para o desenvolvimento das respectivas modalidades;

5) Acentuar-se-á a ineficácia do COP e da CDP e a nível federativo os mesmo do costume continuarão agarrados ao poder;

6) Sem dinheiro, tudo se agravará
.

9 comentários:

joão boaventura disse...

Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

Mário Quintana

Luis Melo disse...

Já em diversas ocasiões tive oportunidade de criticar a inexistência de uma verdadeira política desportiva em Portugal. Neste país o desporto resume-se ao futebol, e é visto como um negócio. Em vez disso deveria ser visto como uma forma de a população se manter de boa saúde, ter uma vida saudável, e também de os jovens poderem crescer aprendendo os valores da exigência, do trabalho, do espírito de grupo e da competitividade.

Este artigo que deveria ser lido por todos, principalmente pelos responsáveis do governo, das federações e das associação desportivas.

Parabéns.

mdsol disse...

O Mourinho fugiu do texto ou fui eu que não entendi?

:))

Luís Leite disse...

Mdsol:

Obviamente Mourinho fugiu do texto.
Mas está implicitamente presente.
Pergunta-se:
Este José Mourinho (ex-Chelsea e ex- Inter) que tem ao seu dispor organizações desportivas estrangeiras, verbas estrangeiras e jogadores estrangeiros tem muito a ver com o Desporto Português?
Eu respondo: muito pouco, quase nada.
José Mourinho é português e é muito bom. Merece parabéns pelos títulos continentais que vai conquistando. Como português é João Ganço, treinador de um campeão olímpico e mundial português, utilizando exclusivamente recursos nacionais, numa modalidade da maior expansão e a nível mundial.

mdsol disse...

O desporto é uma linguagem universal. Não me parece que colocar a questão nos termos em que a coloca seja uma boa metodologia para chegar a algum lado, mesmo que seja um exercício de estilo interessante.

:)))

Luís Leite disse...

Porquê? Não pode explicar?
Um jornal desportivo português de grande tiragem ocupava, numa das suas últimas edições toda a sua 1ª página com a afirmação: "Mourinho, é o treinador mais bem pago do mundo."
Só que se "esquecia" de lembrar que isto se passa na modalidade Futebol (o Soccer dos americanos).
Na realidade, como é facilmente demonstrável, existem dezenas de treinadores, noutras modalidades, que têm salários de nível igual, superior ou muito superior.
Esta coisa do "Soccer" em Portugal será uma doença? Ou apenas um negócio cheio de mentiras que serve para alienar o povo?

Domingos Sousa disse...

Subscrevo parte da sua visão. O problema do insucesso desportivo em Portugal ultrapassa largamente as questões económicas e politicas. Existe um problema cultural profundo. A actividade desportiva nunca foi, nem será nas próximas gerações, encarada como uma profissão. No entanto o Sr. Meirim falou cedo demais e a Selecção Portuguesa de Voleibol acaba de se apurar para a final do Campeonato Europeu da modalidade a decorrer na Áustria e na Republica Checa em Setembro de 2011

Luís Leite disse...

Caro Domingos Sousa:

Não foi o Prof. J.M. Meirim que escreveu o post. Fui eu.
E mantenho tudo o que escrevi.
Se ler com atenção, a mensagem original, aquilo que escrevi no ponto 5) está plenamente de acordo com a pontual qualificação da selecção "luso-brasileira "de voleibol para o Europeu.
Onde de qualquer forma seremos sempre esmagados.

mdsol disse...

Luís Leite

Falamos de desporto, em particular de futebol ou falamos de imprensa, de jornais?

:)))