quinta-feira, 28 de abril de 2011

Formação desportiva - A versão do Ministério da Educação II

Em tempos deu-se nota neste espaço de duas portarias do Ministério da Educação relativas à criação dos cursos profissionais de técnico de gestão desportiva e monitor de actividades desportivas.

À época esta iniciativa veio a ser abortada, dados os protestos de vários organismos representantes dos profissionais de educação física e desporto, atendendo ao perfil de competências, claramente desajustado para uma qualificação de nível 3 que estes dois cursos ofereciam, e também em relação aos requisitos de formação superior existentes em vários diplomas legais vigentes na altura.


Mirando o seu plano de estudos este é em tudo igual ao anterior curso profissional de gestão desportiva entretanto abortado, com a diferença que atribui a certificação de nível 4 aos alunos que o concluírem com aproveitamento.

Se perspectivarmos a mais recente produção normativa no que respeita às qualificações profissionais exigidas para a gestão de instalações desportivas de uso público e direcção técnica das suas actividades é perceptível a intenção, pelo menos numa primeira instância, de:

a) Qualificar o sector com melhores níveis de formação visando a segurança das actividades físicas e desportivas;
b) Integrar os profissionais que, comprovadamente, certifiquem a sua experiência técnica no exercício da actividade;
c) Valorizar as qualificações obtidas no âmbito do sistema nacional de qualificações através da via técnico-profissional, incorporando no desporto as orientações do Quadro Europeu de Qualificações.

Procura-se, por esta via, disciplinar o sector, certificar os seus agentes técnicos e conhecer em maior profundidade a sua composição.


Num período em que é tentador cair-se na demagogia e critica gratuita é mister salientar que a formação desportiva é uma das áreas da Administração Pública Desportiva onde foi feito um esforço assinalável e um labor, ao longo de décadas, com orientação estratégica e programática para o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento. Por certo nem sempre com os melhores resultados.

Caso se pretenda de facto atingir tais objectivos e, com isso, valorizar o mercado desportivo, nos seus diversos segmentos de oferta, através de maiores exigências na qualificação e formação para o exercício profissional no âmbito das actividades de educação física e treino desportivo ou da gestão das instalações nas quais estas se realizam, convém, aos primeiros escolhos que surjem, não ceder ao facilitismo e delapidar um trabalho técnico relevante através de meras qualificações administrativas de cursos cujo quadro de competências validadas é claramente desfasado em relação ao plano de estudos proposto, prestando assim um mau serviço ao desporto e ao ensino profissional, num afã de trabalhar apenas para as estatísticas da educação.

Uma ultima palavra para as entidades representantes do sector. Encontram nestas circunstâncias vários fundamentos para a sua acção e legitimidade da sua existência.

3 comentários:

josé manuel constantino disse...

Independentemente da apreciação ao mérito e oportunidade da medida tenho sérias reservas de que o uso desta competência legislativa,traduzida na criação de um novo curso profissional,caia nas competências de um governo de gestão.

Armando Inocentes disse...

"técnico de apoio à gestão desportiva" quando temos licenciados e mestrados em Gestão do Desporto?

O que vem a seguir? O curso profissional de coaching ao técnico de apoio à gestão desportiva?

Agostinho disse...

Se bem entendi as preocupações apresentadas, parece-me que estamos a confundir pertinência com qualidade.
A pertinência parece-me óbvia, pois não estaremos a pensar que este curso aborde os mesmos conteúdos e a mesma profundidade dos mesmos de uma licenciatura ou um mestrado da área.
No entanto, preocupa-me mais que estas medidas legislativas não sejam acompanhadas de orientações metodológicas e programáticas desde o primeiro dia.
A boa formação nunca fez mal a ninguém.