sexta-feira, 8 de abril de 2011

Futebol português ? (2)

A opinião de Luís Leite, que se agradece.


Grande noite, a de ontem para o futebol português, com os resultados obtidos pelas 3 equipas (SLB, FCP e SCB) na Liga Europa. Duas vitórias em casa e um empate fora, um total de 10 golos marcados e 3 sofridos. Analisemos apenas alguns pormenores sem importância: Nas 3 equipas “portuguesas”, num total de 42 jogadores utilizados, só 9 eram portugueses (21,4%) (alguns naturalizados), sendo 33 estrangeiros. Nas 3 equipas estrangeiras, num total de 38 jogadores utilizados, 19 eram nacionais dos respectivos países (50%), sendo outro tanto estrangeiros. Dos 10 golos marcados, só 1 foi marcado por um jogador nacional. Será “isto” um sucesso do futebol português? Ou os clubes de futebol já nada têm a ver com o valor dos jogadores nacionais, porque os intérpretes são quase todos estrangeiros? E quando calhar em sorteio a uma equipa portuguesa uma estrangeira com mais portugueses que a “nossa”? Dá que pensar

14 comentários:

Ana Santos disse...

Valia a pena alargar essa estatística aos clubes contra quem jogaram as equipas portuguesas para, depois, fazer a estatística das nacionalidades dos jogadores nesta competição ; )

Armando Inocentes disse...

Caro Luís Leite:

Na realidade dá que pensar. Mas neste momento o futebol é uma profissão e, como tal, a entidade patronal pode contratar os «operários» que bem entender...

Quando Figo se mudou do Barça para Madrid até nomes chamaram à sua mãe e à sua esposa - quando o futebol era a profissão do homem... Ora, já vimos chamar nomes a alguém que se passa da TVI para a SIC? Ou a alguém que se mude da IBM para a Microsoft? Ou da Wall Street para Tóquio?

A entrada da economia no desporto e a profissionalização dos jogadores dá azo a isto. Nós é que ainda continuamos a pensar no "amor à camisola"... A nossa estrutura mental ainda não se adaptou totalmente a este facto!

E se calhar em sorteio a uma equipa portuguesa uma estrangeira com mais portugueses que a “nossa” encontraremos mais um, dos já muitos existentes, paradoxo do desporto.

Um abraço!

Kaiser Soze disse...

Sim, foi um sucesso do futebol português, por mais que não fosse porque os 3 clubes têm sede em Portugal e porque os 3 treinadores são portugueses.

Mais um episódio de "samaritano vs world" (mundo, em estrangeiro).

Luís Leite disse...

Caros amigos:

Na minha opinião, em situações de natureza desportiva, as questões não são meramente empresariais.

Existem clubes, como existem selecções nacionais, que têm uma identidade nacional, coma a qual os adeptos se identificam.

Não é indiferente a nacionalidade de jogadores ou atletas. Sob pena de essa identidade ser completamente subvertida e, como diz Armando Inocentes, se tornar um paradoxo.

Numa situação hipotética e que nem precisa de ser improvável, quando uma equipa de um clube português treinada por um espanhol, em que jogam cinco sul-americanos e seis espanhóis (todos internacionais) jogar contra uma equipa de um clube espanhol treinada por um português, em que jogam cinco sul-americanos e seis portugueses (todos internacionais), por qual delas vai o público torcer?

E os comentadores televisivos, sempre tão "imparciais", por qual delas vão ser tendenciosos?

O que vai prevalecer? O "clubismo" abstracto ou o "nacionalismo" concreto?

Isto pode muito bem acontecer nos próximos tempos!

E se a situação fosse ainda mais radical, embora menos provável, de todos (treinador e jogadores) os intervenientes de ambos os clubes serem da nacionalidade rigorosamente oposta e todos internacionais do seu país? Uma espécie de Portugal-Espanha com os clubes trocados?

Gostava de ver a reacção dos interessados...

joão boaventura disse...

Caro Luís Leite

Não se pode desligar da realidade social e económica em que o desporto se move porque dela não se pode divorciar, como Armando Inocentes vinculou.

Reconheço a sua boa vontade de apuramento daquilo que existe, senão como convenção, e se dá pelo nome de “portugueses” que funciona apenas como uma etiqueta ou código, mas longe de consagrar uma etnia pura.

Não se desconhece que os milhentos cruzamentos começaram no casamento, da filha do rei de Castela, com um nobre francês, de que resultou o pressuposto primeiro português, um melanizado chamado Afonso Henriques. Nem se desconhece que o primeiro rei de Portugal andou a conquistar terras aos mouros e que os deixou cá viverem, os que quiseram, e se foram povoando com outras gentes.

Afonso de Albuquerque obrigava as tripulações a casarem com as indianas para evitar os abusos. Depois vieram as Áfricas, os Brasis e os Orientes…

Desconhece-se em que sistema seria possível evitar estes e múltiplos cruzamentos em que os portugueses, por força da natureza, tanto se empenharam.

Com o aparecimento dos Estados-Nações criou-se outra etiqueta “nacionalismo”, e o “nacionalismo” gerou o “patriotismo”. Não sei se está a ver que cada “nacionalista” e cada “patriota”, começava a entrar em confronto com outros “nacionalistas”, outros “patriotas”, de que resultou os conflitos entre os Estados-Nações.

E o desporto olímpico, nascido como o apaziguador dos conflitos, em vez de aproximar os países, cantando a ode à alegria, aumentou-lhes os confrontos quando impôs o içar das bandeiras dos países vencedores, e o hino do país ganhador.

Bem se entendia que as fronteiras não estavam definidas, que havia territórios uns que eram de cá e não de lá, mas a boa vontade olímpica involuntariamente reacendia e invocava os “nacionalismos” e os “patriotismos”.

Para se ajuizar desse problema basta olhar ainda hoje para os problemas dos países africanos, nascidos segundo critérios territoriais dos colonizadores ocidentais, marginalizando as etnias; ou para a Rússia com cem grupos étnicos, ou a extinta Jugoslávia, dando vida às antigas etnias.

Explica-se assim o “nacionalismo” e o “patriotismo” como formas anímicas de etnias, não por serem puras, mas porque a memória territorial as dominava.

(continua)

joão boaventura disse...

(continuação final)

Nem na vizinha Espanha se vive em sossego porque o artifício da nacionalidade, a espanhola, não étnica, definida apenas territorialmente, sofre os pesadelos de estar formada à custa da centralização.

O pluralismo para os espanhóis não consiste na existência da diversidade cultural ou étnica, representa apenas uma metáfora da mudança política, o que é dizer, democracia. E com a democracia obnubila-se a base em que assenta, i.é, as etnias basca, valenciana, catalã, galega, andaluza. Com o que se conclui que a centralização só acentua a aspiração dos nacionalismos étnicos, com as respectivos idiomas: galego, basco, catalão, castelhano (espanhol), e vários dialectos.

Entre nós, o panorama tem alguma similitude com as suas etnias originais detectadas (lusitanos, calaicos, cónios, portugueses, semitas, germanos, mistos) e que podem ser visionados neste mapa, e onde os “portugueses” aparecem como uma etnia minoritária, ao lado das maioritárias lusitanos, calaicos e cónios.

São conhecidos os Viriatos e Sertórios deste país como habitantes da Lusitânia (actuais Beiras, nos Montes Hermínios, ou Montes de Hermes (deus dos pastores), a actual Serra da Estrela, de alto da qual, eram lançadas grandes bolas de neves pela encosta abaixo para escorraçar os romanos, no Inverno, ou touros com os chifres em chamas, no verão.

E pelo insucesso Júlio César converteu-o na fórmula de que “os lusitanos não se governam nem se deixam governar”, quando devia ter dito apenas “não nos deixam governar”.

Chegados aqui, à Lusitânia, fica explicada a existência da Confederação da União Lusitana, que merece a pena conhecer, bem como consultar a sua evolução, através dos Mapas e principais dados relativos da Lusitânia, que a referida instituição nos proporciona.

Meu caro Luís Leite

Não se pretende com este longo relambório pesar a opinião que tem tecido sobre a matéria dos jogadores portugueses e não portugueses em selecções nacionais, mas apenas acrescentar matéria que nos possa conduzir a um considerando iluminado, e que não contenda com o futuro profissional dos artistas da bola, como era o caso.

Cordialmente

Luís Leite disse...

Então e a identificação dos tugas com o Eusébio, o Figo, o Mourinho e o Cristiano Ronaldo?
A que se deve?

Luís Leite disse...

Caro João Boaventura,

Eu li e tenho os livros do Dr. Leite de Vasconcellos.
E portanto, também conheço razoavelmente as origens étnicas da Nação portuguesa.

Mas posso garantir-lhe que quando se representa Portugal numa Selecção Nacional, todos são só portugueses, independentemente das origens étnicas, mais ou menos remotas.

Por experiência própria, posso garantir-lhe que o mesmo se passa com os espanhóis ou com qualquer outro país do mundo.

Nos Jogos Olímpicos ou em Campeonatos do Mundo ou da Europa, os desportistas, mesmo com origens étnicas diversas, dão tudo pelo seu país, cantam o seu hino e não se sente qualquer regionalismo. Sejam espanhóis ou turcos, britânicos ou islandeses, sul-africanos ou congoleses.

O internacionalismo, nunca prevaleceu a não ser pela força (URSS).
As nacionalidades regressaram naturalmente.
Podem até, nalguns casos, ser algo artificiais. Mas têm força. E essa força não é má.

Nos Jogos Olímpicos, as nacionalidades são uma mais-valia essencial. Nada têm de perverso, como sabe quem já os viveu do lado de dentro.

No caso do Futebol, o clubismo está a ser substituído pela clubite.
Com a clubite só prevalece a irracionalidade.
Deixa de haver identificação e sentido de pertença, quando os jogadores são estrangeiros e estão sempre a mudar de clube.
Criam-se situações paradoxais.
Devia haver uma percentagem limite para o número de estrangeiros.

Kaiser Soze disse...

Se não falarmos de Futebol, nas outras modalidades (a nível da selecção nacional e não de clubes) há quanto tempo se utilizam estrangeiros sem qualquer escarcel? Passando pelo Obikwelu à armada estrangeira na selecção de rugby, por exemplo.
Nada disto parece causar constrangimento.

O resto é a livre circulação de trabalhadores, onde se incluem, naturalmente, os desportistas profissionais.
É por estarmos constantemente a ser as virgens do Mundo que isto não desenvolve. Prezamos apenas o que devia ser e não o que é.

Luís Leite disse...

A questão que eu coloco não é sequer a da naturalização de estrangeiros, desde que eles queiram mesmo ser portugueses e reúnam condições para isso.

No caso das Selecções Nacionais, em várias modalidades, nunca se atingiu uma maioria de estrangeiros naturalizados, nem nada que se pareça.
Seria ridículo e paradoxal.

A questão que coloco tem a ver com a representação de clubes portugueses quase exclusivamente por jogadores estrangeiros e a inerente perda crescente da identidade nacional ao nível desses clubes.
E a falsidade de pretender considerar os resultados obtidos como sucessos do "futebol português".

Armando Inocentes disse...

Luís Leite colocou mais uma vez o dedo na ferida!

Estamos a tratar de Clubes!

Se eu tivesse dinheiro, ou bons patrocinadores, contratava o Aghayev (campeão de mundo de Karaté na prova de Kumite - "combate") e a Wakai (campeã do mundo na prova de Kata - "forma técnica"), o meu clube ganhava os campeonatos nacionais todos, os europeus e os mundiais.

E eu nem os precisava de treinar, porque disso até parcebem mais eles do que eu!

Mas seria um sucesso meu? Do meu clube? Seria um sucesso do Karaté nacional?

Certeza era que para as estatísticas ou para os discursos empolados dos políticos iria contar...

Luís Leite disse...

Mais uma vez, nos jornais desportivos (e não só) de hoje, a passagem de 3 clubes (FCP, SLB e SCB) às meias-finais da Liga Europa de Futebol é considerada um sucesso do Futebol português. Mais: o Futebol português é apontado por vários comentadores futebolísticos com responsabilidades como exemplo para as as outras áreas de actividade e para como sair da crise.
Intencionalmente, é esquecido o facto de quase todos os verdadeiros intérpretes (os jogadores) serem estrangeiros.
Ridículo.
Insisto: Futebol português?

Armando Inocentes disse...

Caro Luís Leite:

Não percebo como é que o o Futebol português pode ser apontado como exemplo para as as outras áreas de actividade e para como sair da crise com as divídas que possuem (olhó totonegócio!) e com os exemplos que dão os clubes.

Ou então vamos todos para futebolistas...

Esses senhores são mesmo «comentadores», pois a única coisa que sabem fazer é comentar, pois de análise, de dissecação, de reflexão fundamentada, de propostas NADA!

Como já temos politólogos, só falta que lhes comecem a chamar desportólogos! Dava um outro ar...

Um abraço

Luís Leite disse...

Intencionalmente, os comentadores futebolísticos confundem clubes portugueses com equipas portuguesas.
Dá mais jeito escrever ou falar em "equipas" portuguesas do que em "clubes" portugueses.
Eu não sei exactamente se os 3 clubes referidos ainda são portugueses, ou seja, se os donos são portugueses.
Penso que sim, apesar dos passivos astronómicos.
O Chelsea, por exemplo, não é inglês, já que pertence a um russo.
Mas tenho uma certeza: as "equipas" não são portuguesas, mas sim multinacionais; e maioritariamente sul-americanas.
Dos 15 golos marcados nestes quartos-de-final da Liga Europa, só 2 foram marcados por jogadores portugueses!
Será que as pessoas gostam de ser enganadas?