sexta-feira, 24 de junho de 2011

Poupar

Há os que saem. E os que se preparam para entrar. Quem sai, sabe o que deixa. Quem entra, sabe o que vai encontrar? Como o primeiro-ministro declarou que a regra é a de não encontrar desculpas com o passado, só resta, a quem entra, governar. E fazê-lo bem.
Pode-se perguntar se quem entra já sabe o que vai fazer. Se tem alguma noção do quadro da realidade do sector. Se tem uma opinião sobre o trabalho político realizado pelo anterior executivo. Vamos acreditar que a resposta é afirmativa. E que sabe o que fazer. E por onde começar.
A generalidade dos comentadores considera que a margem do governo é escassa. Tudo quanto tem a fazer está definido nos acordos com a troika. Mas como esses acordos incidem sobretudo no controle das contas públicas e nos sectores que para esse efeito mais concorrem há, ainda, um vasto conjunto de áreas que estão para além dessa definição de políticas. É o caso do desporto. E a pergunta a colocar é esta: qual é o efeito sobre o desporto das políticas a que o país se vai sujeitar.
A resposta é bem mais importante do que discutir onde organicamente o desporto fica colocado. Boas políticas e uma estratégia, que é a questão substantiva, sobrelevam sobre a formal, que é o modo como no aparelho de estado se articula a relação entre o decisor político e o executor. Não é irrelevante, mas também não é a questão critica fundamental.
O critério político sobre modos de garantir a governação pública do sector vai viver com problemas que se conectam: crise das finanças publicas, recessão económica e sustentabilidade. O erro será pensar que o risco de sustentabilidade é consequência directa das outras. Agrava-a, mas é-lhe anterior. Pelo que o mais avisado será o de não esperar que o equilíbrio das contas públicas e a retoma económica disponibilizem mais meios para o desenvolvimento do desporto. Enquanto isso não ocorre será necessário reformar/alterar modos de funcionamento em que assenta o sistema desportivo. Falamos intencionalmente em modos de funcionamento e não em mudanças de modelo, porque não há, nos decisores políticos ou nos actores desportivos, qualquer sinal de que percebam o equívoco em que caminha a Europa e o impropriamente designado modelo europeu do desporto.
O que é possível mudar ainda é muito e todos devem ser chamados: Estado, Autarquias, federações e demais organizações desportivas. E mais do que grandes alterações normativas o que se pede é uma outra forma de governance pública e associativa do desporto. Com uma regra a que não há como fugir: poupar,gastar menos. E deve ser o Estado a dar o exemplo. Sendo transparente no modo como gere os dinheiros públicos.E não gastando onde não acrescenta qualquer valor. Três exemplos.
As políticas sectoriais da juventude e dos tempos livres dos trabalhadores (Inatel) não podem continuar configuradas em lógicas de administração autónomas (Instituto público e fundação) replicando politicas sectoriais que bem cabem em outros segmentos da administração pública. É um puro desperdício de meios e de desregulação de politicas que haja três instâncias públicas a definir politicas desportivas. È perfeitamente possível uma economia de custos de funcionamento com o Estado através de uma redefinição de toda a administração pública desportiva acolhendo as competências de outras instâncias cuja extinção é possível com evidentes ganhos de eficiência
É desejável, sem prejuízo da respectiva missão, deixar de ser o Estado central a gerir equipamentos desportivos, centros de estágio e de alto rendimento. Não pode o Estado continuar a pagar deslocações às regiões autónomas de atletas e equipas, que não competindo formalmente em quadros profissionais, na realidade outra coisa não são.
As estruturas orgânicas das autarquias devem caminhar rapidamente no sentido da sua redução e leveza administrativa. E deverão repensar todo o quadro do sistema empresarial local e só manter as empresas que obtém ganhos de economicidade em comparação com os resultados alcançados caso o objecto da sua acção estivesse integrado nos serviços camarários.
Nas circunstâncias actuais, a tarefa é muito exigente. E com um direito administrativo público cheio de armadilhas e alçapões, mais do que exigente, comporta um elevado grau de risco. Mas não há como o evitar.

2 comentários:

joão boaventura disse...

Caro José

Para se saber o que espera este governo troycano aconselharia a visualização e leitura, durante uma hora e um quarto, tempo que me parece plausível em fim de semana, deste video.

Um abraço

Luís Leite disse...

O nível desportivo de qualquer país mede-se e compara-se pela qualidade dos resultados internacionais nas diversas modalidades, tendo em atenção o número de habitantes.
O Desporto português, praticado por portugueses, salvo raras e isoladas proezas individuais, ao longo das últimas décadas e em poucas modalidades, nunca teve relevância internacional.
A questão do gastar ou poupar é menos importante que a evolução sócio-cultural da população e a forma como esta, maioritariamente olha para o Desporto.
O nosso problema é de natureza formativa, educacional, da população em geral.
E de falta de conhecimento específico e profissionalismo da classe dirigente.
E de excesso de clubite, chico-espertice, demagogia e corrupção.
O valor do Desporto de um país não se mede pelas conquistas e presenças em finais de taças europeias de futebol com equipas quase só compostas por estrangeiros, nem pela quantidade ou qualidade de "reforços" futebolísticos estrangeiros, nem pelo número de campos de Golfe, nem pelos quilómetros quadrados de relvados sintéticos, nem pela qualidade dos treinadores de Futebol, nem pelas caminhadas institucionais populistas e demagógicas, nem pelo mexa-se.
Mede-se pelo sucesso desportivo comparado, ao mais alto nível.
E aí, a verdade é que somos insignificantes e cada vez mais insignificantes.
E em Londres 2012, infelizmente, vamos provar mais do mesmo.
Em breve, quando faltar um ano para o início dos Jogos Olímpicos, farei os meus prognósticos, baseados no número de medalháveis e partindo do princípio estatístico de que para cada 3 medalháveis, será conquistada uma medalha.
O dinheiro disponível pelo Estado para o Desporto só seria relevante se fosse multiplicado, no mínimo, por 10.
Mais 25% ou menos 25% não alteram o triste panorama do nosso pobre Desporto.