terça-feira, 7 de junho de 2011

Vamos finalmente trabalhar em equipa?

Nos últimos dias ouvimos diversas vezes apelar à capacidade de trabalharmos todos juntos, alinhados, com um objectivo comum e, concordando ou não, a 'remar' todos para o mesmo lado. Como uma equipa, certo? De acordo!

Mas porquê agora? Ou sempre foi e de alguma forma, essas palavras diluíram-se por interesses e objectivos individuais, desalinhados e sem qualquer estratégia de inclusão de todas as partes que devem estar envolvidas?

Observando com mais atenção, deparamo-nos com diversos tipos de organização:

- As que já trabalhavam, trabalham e querem continuar a trabalhar em equipa apesar de terem consciência que não é uma solução mas uma ferramenta, e como tudo, existem momentos em que os resultados não são os desejados e mesmo assim, não desistem de os alcançar em equipa;

- As que afirmam desejar trabalhar em equipa e por ‘ondas sociais’, consideram que em alguns momentos é bem aceite socialmente o apelar a trabalhar em equipa, alinhados, objectivos comuns, mas apenas nos momentos mais difíceis da sociedade, organizacional ou grupal;

- As que trabalhar em equipa vai contra tudo o que está institucionalizado individual e organizacionalmente, mas, quase obrigados, afirmam que trabalhar em equipa pode ser uma das receitas que já são utilizadas por outras, pelo sim pelo não, deixa cá ver o que dá isto!

O factor ‘trabalho de ou em equipa’ entrou claramente no nosso vocabulário. Associado a bons resultados empresariais e desportivos, o processo de trabalho em equipa está invariavelmente no nosso discurso quando desejamos premiar um conjunto de pessoas que conseguem atingir bons resultados. São vários os exemplos em discursos de motivação colectiva ou como factor crítico de (in)sucesso para determinados resultados ou o alcançar dos mesmos.

E para além de ter entrado no nosso dia-a-dia, criou-se a ideia de que em equipa tudo se torna mais fácil e por vezes, até de forma célere. Não direi que a ideia está 100 % correcta ou incorrecta, mas como poderá ser comprovado através de diversos exemplos, o processo de trabalho em equipa é dinâmico, desafiante, dependente de inúmeros variantes e exige o domínio de bastantes ferramentas. Não consigo dizer o que pesa mais na balança do trabalhar em equipa, se o querer ou o conseguir. Mas parece-me sinceramente que muito se fala, mas pouco se quer.

A actual situação social que inclui dificuldades no campo organizacional, empresarial e focado muito na 'crise' económica e de valores comportamentais e sociais que estamos a viver (provavelmente bem mais grave que a económica ou financeira), potencia ainda mais a temática das equipas como o ponto ‘salvador’ dos processos e de alavancar melhores resultados.

Porque queremos formar equipas? Na verdade, exige bastantes esforços para constituir uma equipa. Crescer de um aglomerado de pessoas ou de um grupo para uma verdadeira equipa, com tudo o que está inerente à dinamização e gestão de equipas. Esforços temporais e dedicação de recursos que naturalmente pesam nos bolsos de quem suporta a durabilidade dos processos de grupo. E claramente não vale a pena considerar essa hipótese se não soubermos o que de positivo a mesma pode proporcionar para o grupo de trabalho e para alcançar os objectivos propostos. E muito menos, por ‘modas sociais’.

E é nas vantagens das equipas que surge outra questão tão ou mais relevante: o que faz funcionar uma equipa? A liderança das mesmas? Os elementos que a perfazem? Competência? Respeito? Comunicação? Que processos de grupo a organização e o líder utilizam para potenciar os recursos, alinhar objectivos, comprometer as pessoas e alcançar o tão famigerado, mas sempre subjectivo, sucesso.

Lembrar-nos de copiar os bons exemplos ou boas práticas só quando as coisas correm mal é tipicamente português. Não raciocinarmos sobre a razão das coisas leva-nos a copiar sem compreender o conteúdo das práticas. O não raciocinar leva-nos a não ter capacidade de reflectir sobre as práticas, sejam elas correctas ou incorrectas.

Para terminar deixo uma definição de equipa, não porque seja muito melhor que outras, mas porque possui uma característica que nos falta, a capacidade de reconhecer: «Uma equipa não é um conjunto de pessoas com vários títulos ou descritivos funcionais. É uma congregação de individualidades, na qual cada uma tem de assumir um papel que é reconhecido pelas outras.» A frase é de Raymond Meredith Belbin em «Team Roles at Work».

Por último, Ken Blanchard faz uma relação das razões porque falham as equipas:
- Mau ou inexistência de planeamento;
- Poucos incentivos no que diz respeito à criatividade, superação e na excelência dos resultados;
- Inexistência de responsabilização, alinhamento e envolvimento de todas as partes no processo;
- Escassos recursos e má definição de prioridades na identificação da necessidade desses mesmos recursos (tempo, financeiros, espaços, etc.);
- A não aposta em formação para os elementos da equipa;
- Má gestão emocional e de conflitos;
- Inexistência de responsabilização e distinção por falta de acompanhamento e apoio de quem lidera perante quem operacionaliza;
- Estilos de liderança desadequados do ambiente e contexto e incapacidade de liderança situacional;
- Má definição de objectivos e tudo o que engloba os mesmos serem concretizados;
- Má ou inexistente definição das tarefas de todos os elementos da equipa, o porquê das mesmas e o que se pretende que as mesmas contribuam para uma acção colectiva.

10 comentários:

Luís Leite disse...

Caro Rui Lança,

O trabalho em equipa tanto pode ser moral e eticamente bom como perverso.
O trabalho em equipa (organização que persegue objectivos bem definidos), a funcionar bem, pode ser meio caminho andado para o sucesso.
Mas há sucessos perversos, maus.
O terceiro Reich nazi era uma organização quase perfeita, mas moralmente perversa.
Estes últimos governos PS trabalharam muito em equipa. Até de forma excessiva, fechada e unida, com um líder incontestado. E deu no que deu...
O trabalho em equipa, só por si, não dá garantias de nada e depende muito das características intrínsecas da liderança.

Anónimo disse...

Escreve o Luís Leite

E deu no que deu...
O trabalho em equipa, só por si, não dá garantias de nada e depende muito das características intrínsecas da liderança


Deu no que deu, diz o LL...

Já o Nelson Évora - esse "ignorante" e "subsídio-dependente" - afirmava ontem no Telejornal que "este Governo fez coisas espectaculares pelo atletismo"! Será a isto que se refere o "deu o que deu" do LL?!

Luís Leite disse...

É no mínimo curioso que o nosso anónimo preferido tenha ido buscar declarações do nosso único campeão olímpico da última década.
Também é curioso que a única coisa de especial que este Governo fez no Atletismo foi construir, embora com atrasos significativos, um Centro de Alto Rendimento minimamente digno, após o próprio Nelson Évora e a Naide Gomes terem ameaçado juntar-se a Francis Obikwelu em Madrid, para poder treinar no Inverno e evitar lesões graves.
Centro de Alto Rendimento do Atletismo no Jamor que foi, curiosamente, idealizado por mim, após longos anos de insistências sem sucesso.
Como roí a corda, nem convidado fui para a inauguração.
Para além disso, o que este Governo fez foi demagogia política eleitoralista e esbanjamento de recursos financeiros em quilómetros quadrados de relva sintética, toneladas de legislação inconsequente e muito "mexa-se".

Anónimo disse...

Diz o LL

Também é curioso que a única coisa de especial que este Governo fez no Atletismo foi construir, embora com atrasos significativos, um Centro de Alto Rendimento minimamente digno (...)

Era o que eu já suspeitava: o Nelson Évora não sabia nada do que falava!!! E o que o Governo fez de bom, ao LL o deve!! Isto é lindo!!!!!!!!

Luís Leite disse...

O Nelson Évora é um atleta profissional de eleição que, como o nosso anónimo favorito deve saber, eu conheço muito, muito bem.
Não ouvi o que ele disse, mas certamente não mentiu.
Terá apresentado o seu ponto de vista, ao verificar que aquilo por que ele também lutou foi concretizado.
E defende os seus interesses. É natural.
Ponto final.

Quanto ao Centro de Alto Rendimento do Jamor, uma vez que foi idealizado por mim e eu pago os meus impostos, deve-se à minha insistência, corroborada por Fernando Mota e ao medo da SEJD de que o Nelson e a Naide fugissem para Madrid.

Já agora, o Prof. Sardinha e os seus Directores de Serviço tudo fizeram para impedir que a Nave Coberta fosse construída.
Todos os argumentos foram utilizados para que a Nave não fosse construída, desde a estimativa de custo (provou-se que eu tinha razão) até ao péssimo enquadramento paisagístico (o resultado está à vista).
Prevaleceu a "vontade política" do Dr. Laurentino Dias, sob pressão da Federação (esta pouco relevante) e dos atletas (muito relevante, por medo do escândalo).

Anónimo disse...

Ainda bem que o Centro de Alto Rendimento do Atletismo "idealizado" pelo LL não foi para a frente.

Caso contrário, o Nelson Évora lá teria mesmo que ir treinar para Madrid. É que faltavam 2 metros ao corredor para treinar a corrida de balanço do Nelson...O LL entendeu que não faziam falta alguma!!

Luís Leite disse...

Ó anónimo preferido,

Não fale de assuntos de que você claramente não percebe nada.
Quando digo que idealizei é mesmo verdade.
Defini a localização da nave e fiz o Programa-Base. Também defini as alterações à pista sintética, círculos de lançamentos e gaiola do Disco/Martelo.
Infelizmente, não me foi permitido participar no processo para além do estudo prévio de arquitectura, de que ainda emiti parecer.
Nunca me foi dada a possibilidade de colaborar nem no projecto de execução nem na execução da obra, que apenas visitei à socapa duas vezes.
Tenho testemunhas.
Quanto à corrida de balanço do Nelson Évora, posso dizer-lhe que a conheço muito bem, já que quando ele foi campeão mundial em Osaka 2007 e campeão olímpico em 2008 e em muitas (quase todas) as grandes conquistas do Nelson eu estava lá, muito perto.
É muito longa (a mais longa de todos os grandes triplo-saltadores actuais) e vai para além daquilo que está estipulado no Manual da IAAF para as corridas de balanço, o que levanta problemas em todas as pistas, tendo que ser colocado um prolongamento em cima da outra caixa de queda.
Acompanho a carreira dele desde os 12 anos e fui Team Leader de quase todas as competições em que ganhou medalhas.
O seu treinador, João Ganço, antigo saltador em altura do Benfica como eu e o 2º português a passar os 2,00m em 1972, é meu amigo há mais de 40 anos.
Não caia no ridículo de reproduzir umas bocas que ouviu, sem estar minimamente informado.

Kaiser Soze disse...

Não consigo deixar de achar graça a esta coisa portuguesa de que todos temos de ter o paizinho estado a prover por nós, caso contrário, fazemos birrinha.

É esta história dos atletas ameaçarem ir embora (que eu saiba o obikwelu foi mesmo para Madrid e continuou a representar Portugal), é a Maria João Pires que foi para o Brasil porque aqui não a subsidiavam, o Saramago que, incompreendido, foi para Espanha.
Seria óptimo que um país com tantos casos mais urgentes fosse equipa suficiente para mandar todos dar uma curva.

Ps.tb acho graça ao one man show que se assite por aqui.

Luís Leite disse...

Kaiser Soze,

Discordo totalmente de si.
Defendo e promovo a meritocracia e combato com todas as minhas forças o nivelamento por baixo.

Quem é muito, muito bom, seja no que for, merece ser reconhecido e apoiado pelos seus conterrâneos.

O Francis foi para Madrid porque lá existiam condições para treino de Inverno inexistentes em Lisboa.
As lesões que ele teve, tais como as de Naide e Nelson seriam menos prováveis se não tivessem que treinar à chuva, com vento e com frio.

Portugal não merece os grandes nomes da cultura, da Ciência e do Desporto que tem.
São desprezados e desconhecidos, com excepção dos ligados ao Futebol.
Quase todos emigraram para se poderem afirmar.

Saramago não se foi para Lanzarote por questões de subsídios, de que já não precisava, mas por razões políticas e relacionais.
Maria João Pires foi para o Brasil porque se sentiu desprezada pelos seus governantes incultos, que só estão disponíveis para investir na bola, em rotundas e mega-construções pagas pelos nossos impostos.
As excepções só confirmam a regra.

Quanto ao "one man show" sou pouco esperto para compreender a quem se refere.

F. Canha disse...

Este narcisismo bacoco!
Enfim...