Um lento declínio das federações desportivas e do seu organismo representativo enquanto sede de poderes próprios e inalienáveis conheceu nos últimos tempos uma significativa aceleração. O declínio só pode ser, por culpa própria. São as federações desportivas que dão espaço à sua menorização perante o Estado e que ajudam a diminuir os poderes de representação que têm. Esse declínio corre o risco de ser ainda mais acentuado no futuro.
Os factores que contribuem para que isso ocorra são de dois tipos: a progressiva administrativização e burocratização na relação das políticas públicas com as federações desportivas como extensão do chamado regime de utilidade pública desportiva; o acentuar da crise financeira com reflexo em toda a economia das federações e a não apenas no âmbito do financiamento público. O silêncio tem sido o preço a pagar pelas organizações perante o receio de que, em qualquer momento, o apoio recebido possa ser condicionado por um posicionamento crítico.
Estes são fenómenos que à superfície dos factos se podem elencar, e que são, em parte, determinados pela conjuntura. Passível de alteração se houver mudanças de estratégia e modos de liderar. Mas por baixo de todos deles está um outro bem mais complexo e importante: o modelo de funcionamento.
O modelo que existe está concebido para uma procura em torno dos jovens e do desporto de rendimento e tem sentido muita dificuldade em se adaptar a uma outra procura, mais diversificada e segmentada, com forte incidência da população adulta e sénior, assente em outros motivos para a prática do desporto.
O Estado, pese embora expresse preocupações no alargamento e generalização da prática desportiva, em todos os seus actos, até simbólicos, premeia e apropria-se acima de tudo dos resultados de representação desportiva. Nunca ninguém foi agraciado ou simplesmente reconhecido por colocar centenas de crianças a praticar desporto. É-o porque internacionalmente ganhou isto ou aquilo. O Estado, ao fazê-lo, empurra as federações desportivas para um lógica de visibilidade e de afirmação sobretudo no que respeita ao que se convencionou chamar de alta competição. Se juntarmos a isto a atenção mediática, verificamos o dilema em que se movem as organizações desportivas. O que, trocado por miúdos, significa investir prioritariamente na busca de sucesso no contexto da competição desportiva internacional. Que é pela sua própria natureza um contexto de risco. Onde os custos são maiores. E onde a imponderabilidade dos factores de sucesso desportivo são mais elevados. E onde a leitura do sucesso é perversa. É que não basta melhorar resultados e elevar o grau de competitividade externa. O sucesso é, muitas vezes,e infelizmente, medido apenas em função dos lugares de pódio alcançados.
Esta contradição entre os estímulos do Estado, a economia da oferta das federações desportivas e a procura de serviços desportivos dá como resultado um desequilíbrio entre o investimento público e o retorno que esse investimento potencia. Numa linguagem simples: os recursos financeiros (e de outra natureza) direccionados como estão, condicionam os próprios resultados alcançados. Essa a razão porque o problema do financiamento público está a jusante do modelo de desenvolvimento.Com o mesmo modelo, o esforço financeiro terá resultados sempre limitados. E a sua melhoria pede crescentemente mais recursos financeiros. Que não há onde os ir buscar.
A solução não está num idílico regresso a um desporto sem internacionalização. Ou numa espécie de anatematização da alta competição. Mas numa alteração de procedimentos que valorize, em sede de financiamento público, quem aposta no alargamento da prática desportiva e seja selectivo em relação às modalidades melhor preparadas para responder à competitividade externa. As soluções para o primeiro objectivo estão ao alcance de todas as modalidades. As segundas não. O Estado sabe, mas não assume. As federações desportivas seguem o mesmo caminho. Neste particular, Estado e federações desportivas convergem.
Os factores que contribuem para que isso ocorra são de dois tipos: a progressiva administrativização e burocratização na relação das políticas públicas com as federações desportivas como extensão do chamado regime de utilidade pública desportiva; o acentuar da crise financeira com reflexo em toda a economia das federações e a não apenas no âmbito do financiamento público. O silêncio tem sido o preço a pagar pelas organizações perante o receio de que, em qualquer momento, o apoio recebido possa ser condicionado por um posicionamento crítico.
Estes são fenómenos que à superfície dos factos se podem elencar, e que são, em parte, determinados pela conjuntura. Passível de alteração se houver mudanças de estratégia e modos de liderar. Mas por baixo de todos deles está um outro bem mais complexo e importante: o modelo de funcionamento.
O modelo que existe está concebido para uma procura em torno dos jovens e do desporto de rendimento e tem sentido muita dificuldade em se adaptar a uma outra procura, mais diversificada e segmentada, com forte incidência da população adulta e sénior, assente em outros motivos para a prática do desporto.
O Estado, pese embora expresse preocupações no alargamento e generalização da prática desportiva, em todos os seus actos, até simbólicos, premeia e apropria-se acima de tudo dos resultados de representação desportiva. Nunca ninguém foi agraciado ou simplesmente reconhecido por colocar centenas de crianças a praticar desporto. É-o porque internacionalmente ganhou isto ou aquilo. O Estado, ao fazê-lo, empurra as federações desportivas para um lógica de visibilidade e de afirmação sobretudo no que respeita ao que se convencionou chamar de alta competição. Se juntarmos a isto a atenção mediática, verificamos o dilema em que se movem as organizações desportivas. O que, trocado por miúdos, significa investir prioritariamente na busca de sucesso no contexto da competição desportiva internacional. Que é pela sua própria natureza um contexto de risco. Onde os custos são maiores. E onde a imponderabilidade dos factores de sucesso desportivo são mais elevados. E onde a leitura do sucesso é perversa. É que não basta melhorar resultados e elevar o grau de competitividade externa. O sucesso é, muitas vezes,e infelizmente, medido apenas em função dos lugares de pódio alcançados.
Esta contradição entre os estímulos do Estado, a economia da oferta das federações desportivas e a procura de serviços desportivos dá como resultado um desequilíbrio entre o investimento público e o retorno que esse investimento potencia. Numa linguagem simples: os recursos financeiros (e de outra natureza) direccionados como estão, condicionam os próprios resultados alcançados. Essa a razão porque o problema do financiamento público está a jusante do modelo de desenvolvimento.Com o mesmo modelo, o esforço financeiro terá resultados sempre limitados. E a sua melhoria pede crescentemente mais recursos financeiros. Que não há onde os ir buscar.
A solução não está num idílico regresso a um desporto sem internacionalização. Ou numa espécie de anatematização da alta competição. Mas numa alteração de procedimentos que valorize, em sede de financiamento público, quem aposta no alargamento da prática desportiva e seja selectivo em relação às modalidades melhor preparadas para responder à competitividade externa. As soluções para o primeiro objectivo estão ao alcance de todas as modalidades. As segundas não. O Estado sabe, mas não assume. As federações desportivas seguem o mesmo caminho. Neste particular, Estado e federações desportivas convergem.
7 comentários:
Em toda a parte do mundo, as Federações desportivas têm por objecto fundamental a organização dos campeonatos nacionais e preparação das selecções nacionais para a participação nas competições internacionais. E a formação de treinadores, juízes e árbitros, bem como a homologação dos locais de competição.
O desenvolvimento desportivo de base, em Portugal, não deveria ser da responsabilidade das Federações, mas sim do desporto escolar e universitário e, obviamente, dos clubes, através de diversas formas directas de financiamento do Estado, através das autarquias, mas sobretudo de auto-financiamento através de patrocinadores empresariais, que deveriam ser fortemente compensados em sede de IRC pela significância do seu mecenato.
Ao contrário do que se pensa e se faz crer, as verbas consignadas em Portugal ao alto rendimento desportivo são ridículas e insignificantes, quando comparadas com qualquer país civilizado. Os melhores desportistas portugueses, obviamente todos profissionais, não vivem das miseráveis bolsas que o Estado atribui. Vivem de vencimentos (dos clubes) e de patrocinadores privados.
Com esta ideia de atribuir às Federações, com os reduzidos meios de que dispõem, tudo, nunca iremos além daquilo que já somos: uns amadores ou pseudo-profissionais, esmagados no concerto desportivo europeu, perdendo, em quase todas as modalidades, com países europeus com 2 ou 3 milhões de habitantes, nos desportos colectivos de maior expansão.
Veja-se o nível dos resultados obtidos nas últimas semanas no basquetebol e no voleibol em campeonatos da Europa. Só derrotas! Para não falar na pobre Natação...
Bom, mas há outra hipótese para os medalhados! Virem a ser funcionários do IDP.... com remuneração mensal limitando-se a existir, a ir a um bailarico ou dois por ano, fomentando o desporto como se diz.....
Foi um longo calvário. Durante o qual ouvi de tudo. Primeiro riram-se; depois enxovalharam; em seguida, começaram a ficar em silêncio; agora, já se ouvem algumas vozes, apesar de ainda serem lá ao fundo.
É o caso deste texto de JMConstantino. Lendo o que escreveu não há muito tempo, vemos que mudou de opinião. Ainda bem.
Em 1907, William James escreveu na célebre “Concepção Pragmática da Verdade”o seguinte: “Primeiramente uma nova teoria é atacada porque é absurda; depois admite-se que ela é verdadeira, mas óbvia e insignificante; finalmente ela é considerada tão importante que os seus adversários reclamam que foram eles próprios que a descobriram.”. É assim que a Vida é, e se renova.
Finalmente, está-se a acordar do sono ideológico que tem prejudicado o Desporto nas últimas décadas.
Mais dois ou três influentes ideólogos como JMConstantino a dizer o mesmo, e já se conseguia pôr num ‘programa de governo’ a folha A4 que apresentei com essa solução operacionalizada.
Ventos da mudança?
Funcionário do Estado
Venha de lá o texto em que o JMC defendia o contrario do que agora defende...eu que julgava conhecer o que ele habitiualmente escreve e tem publicado
Colega do Funcinário público
Continua o mistério da folha A4, cujo único defeito foi o de os superiores hierárquicos não terem acreditado no milagre das folhas A4, e ter ido direitinha para o arquivo.
O próprio que a fez também descrê do que idealizou, e então, para se consolar, resta-lhe agora publicitá-la gratuitamente, em vez de publicá-la.
Entende-se que deve ter perdido actualidade, daí a manutenção do segredo da Folha A4.
Malhas que o Império tece
Jaz morto e apodrece
A folha A4 que aborrece
E Anónimo entristece
Por Funcionar ainda no Estadece.
J.M. Constantino não mudou de ideias.
Permanece fiel a um paradigma. Entende que as Federações têm capacidade para fazer TUDO.
Eu, como expliquei, acho que não.
O alto rendimento, na actualidade, pouco ou nada tem a ver com "modelos de desenvolvimento desportivo" (existe algum que eu desconheça ou só existe a folha A4?) e muito menos com o "mexa-se".
Tem a ver, exclusivamente, com as regras de mercado. Profissional.
O Funcionário Público está, portanto, duplamente enganado.
Seja como for, na conjuntura financeira actual, não há dinheiro para esbanjar em nada.
Nem em "modelos desportivos".
Ainda bem!
O desporto nacional já está em acelerada recessão, embora não se note muito, dado o fraco nível global anterior.
Provavelmente nem se vai notar, mesmo após os previsíveis resultados olímpicos.
Anónimo das 12.37, colega do colega do Funcionário Público
JMMeirim coloca questões importantes. Mas ninguém diz nada.
O que mostra claramente a impreparação da maioria dos que aqui comentam.
Muitos são meros produtos do marketing mediático, com nome na «praça», e completa ausência de mérito e substância.
Sabem criticar o vento das filosofias baratas, sabem falar e inventar intrigas entre pessoas e partidos, até comentam o papel higiénico que uns e outros usam, mas quando chega a hora de darem opinião sobre o concreto, fogem a sete pés.
Não sabem propor qualquer solução sensata e com sustentabilidade.
No início enxovalhavam a Função Pública, agora todos querem ser Funcionários do Estado. Até dizem que já são «colegas». Vê-se por aqui a espinha dorsal da sua estatura ética.
Funcionário do Estado
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