segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Angola é nossa?

Texto publicado no Público de 23 de Setembro de 2012.

1. Uma ficção. No dia 15 - o sábado de todos os sábados -, um turista australiano, acompanhado de um outro visitante de Portugal, nacional dos Camarões, miravam a televisão portuguesa e ficaram retidos pelas imagens de um jogo de hóquei em patins. Não conhecendo este tipo de desporto, solicitaram alguns esclarecimentos ao empregado de mesa do café. Foi por ele adiantado, após uma sumária explanação sobre as regras do jogo, que se tratava de um jogo muito importante entre as selecções nacionais de Portugal e de Espanha, que iria determinar quem era o campeão europeu.

 
2. Agradeceram os turistas, mas não ficaram totalmente esclarecidos, ficando a pairar nos seus espíritos alguma desconfiança pelas informações prestadas. Com efeito, desde que começaram a ver a transmissão televisiva, o que se lhes apresentava era uma equipa cujo equipamento, trazia bem estampada nas costas das camisolas, Angola 2013. O empregado de mesa só podia estar a mentir. Então ele afirmava que aquela equipa era a selecção nacional de Portugal e os jogadores surgiam com aquela referência, bem visível, a Angola? E como é que era possível tratar-se de um campeonato europeu se Angola estava a jogar? A "coisa", realmente não batia bem e, por isso, mudaram de canal e, à saída, não deixaram qualquer gratificação.

 
3. O Governo português, esse, não tem dúvidas: era a selecção nacional de Portugal. O secretário de Estado Mestre Picanço, no dia 17, endereçou publicamente os parabéns à selecção nacional vice-campeã da Europa. É bonito. E disse mais: sublinhou o sucesso organizativo no acolhimento, em Portugal, do Europeu de hóquei em patins. Mais ainda: "Esta é mais uma prova - para quem ainda subsiste em duvidar e/ou criticar - de que os nossos atletas, técnicos e dirigentes têm condições para ombrear, ao mais alto nível, com os seus congéneres europeus e mundiais".

 
4. Não sou um nacionalista, de todo em todo (gosto assim).Convenhamos, todavia, que a situação criada aos turistas, merecia um parágrafo na mensagem de Mestre Picanço, já que entende ele - o Instituto Português do Desporto e Juventude e o Governo - que a situação não impõe qualquer reparo à Federação Portuguesa de Patinagem ("parece" - mas não o afirmem em voz alta - que exerce poderes públicos delegados pelo Estado).


6 comentários:

Luís Leite disse...

Ou nós é que somos de Angola?

Aquilo a que se assistiu naquele Portugal-Espanha do Europeu de Hóquei em Patins é uma despudorada vergonha, pelos vistos não assumida por quem de direito.
E note-se bem: não falo do golo da derrota consentido a 6 segundos do fim.
E acrescento: Se fosse jogador, recusava-me a representar Portugal com aquelas camisolas.
E depois queria ver como seria julgado pelo órgão de justiça federativo.

Anónimo disse...

Muito interessante este comentário do Doutor J.M.Meirim.
Talvez haja um imediatismo injusto neste post. Injusto, por ser talvez uma crítica demasiado unilateral. Será que se subentende a seguinte tradução: «Angola 2013» quer dizer «Portugal é (agora) nosso»?

Nos tempos que correm não creio que em Desporto, ou fora dele, os exercícios invertidos de «Colonialismo versus Post-Colonialismo» sejam adequados. Esse tempo terminou com a dita «globalização». Em que as «identidades reais» suplantam as «identidades dos Estados-Nação construídas no pós-1945», mas também aquelas «construídas artificial e burocraticamente» como é o caso da famigerada «União Europeia». Como se sabe, quase todas as Universidades um pouco por todo o mundo têm cursos sobre este tema do «Colonialismo e Post-Colonialismo» (basta ir aos sites). É um tema saturado. Há uma enorme bibliografia constituída por dezenas de milhares de obras. Para quem se interessar por essa «dialética» há as mais lidas (J-L Amselle, 2008, “Critique Postcoloniale: attention aux dérapages”; W.C. Bissell, 2005, “Engaging Colonial Nostalgia”; T. Mitchell, 1998, "Orientalism and the Exhibitionary Order"; J. Clifford, 1994, “Diasporas”; P. Gilroy, 1993, “The Black Atlantic: Modernity and Double Consciousness”; R. Rosaldo, 1989, “Imperialist Nostalgia”; E.W. Said, [1978] 1995, Orientalism. Western Perceptions of the Orient”.)

Muitos portugueses e angolanos (contra todas as lógicas que lhes tentaram impingir), aceitaram continuarem a interpenetrar-se. Em negócios e em sentimentos. Esta miscegenação conseguiu ultrapassar todos os obstáculos interiores e exteriores. Para um australiano, para um funcionário da União Europeia, ou para quem pretence a «culturas segracionistas», este fenómeno é inexplicável. De facto aí J.M.Meirim tem razão: não conseguem compreender a que lado do Mundo pretence essa Identidade Miscegenada. Essa mistura é algo que não alcançam e não aceitam. Sobretudo quando a língua e a economia, em conjunto, já vão no quinto ou sexto lugar do raking da dita «globalização». E continuam a crescer.
Um português do século anterior profetizou: “A minha Pátria é a língua portuguesa”.
Não foi na diápora brasileira que conseguimos manter a independência quando um desses da União Europeia nos quis conquistar?
Aonde pretencemos? Senão aos Nossos?
O “Outro” não é uma ignomínia?

Talvez

Anónimo disse...

Peço desculpa: pertencer, miscigenar, diáspora, ranking.

Talvez

Luís Leite disse...

Não, não foi na diáspora que conseguimos manter a independência quando Napoleão decidiu invadir Portugal.
Foi em pleno território nacional, na colónia do Brasil que D. João VI e a sua corte se instalaram.
Os seus argumentos vão contra o essencial do Direito Internacional.
Existem estados soberanos onde se podem falar e falam muitas línguas ou poucas.
Nem Portugal é Angola, nem Angola é Portugal.
E isso nada tem a ver com a cor da pele ou com miscigenação.

Anónimo disse...

Porque é que o Meirim na sua congénita depressão insiste em tratar de uma forma depreciativa o Secretário de Estado do Desporto. Meirim começa a demonstrar não ter respeito por ele próprio. Quanto ao que escreve não lhe ficava mal ser mais claro, porque para confusões já basta o governo.

Anónimo disse...

Tanto 'barulho'...
Há uns anos atrás, a TAP patrocinava uma selecção europeia de andebol que...até defrontou Portugal em Lisboa para um apuramento...
Ao que contam, os LL e JMM da altura, a FAP pediu 'pouco' para ser subsidiada...