quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Actor ou figurante?

Permita-me, José Manuel Constantino, acrescentar neste espaço algo ao que escreveu…
Em Portugal o empreendorismo não é realmente apoiado porque a nossa sociedade não valoriza o risco e valorizar o risco começa por saber apoiar e dar condições para arriscar de novo e aprender com o insucesso. Por isso temos patrões não temos empresários.
Valorizar o risco começa por um ethos que reconheça a competência e o esforço dos que se aventuram em projectos inovadores e procuram criar e romper com as rotinas e reproduções mecânicas do “one best way”que se fazia há 20 anos, como se a sociedade uma realidade estática.
Fundamentalmente começa por não rotular como “falhados” a maior parte daqueles poucos que arriscam passar das palavras aos actos e dar-lhes condições para começar de novo. Começa por perceber que o desejável se atinge pela soma de vários possíveis. O desporto é sobre isto uma boa escola, constantemente citada pelos que se debruçam sobre estudo do empreendorismo.
Infelizmente a realidade não é uma folha em branco onde se apliquem os modelos transmitidos nos bancos da escola. A complexidade e interdependência dos problemas existentes, a escassez de recursos, a institucionalização das pessoas e a cristalização de interesses vários obstaculizam a inovação e viabilizam, quanto muito, o fazer de novo e assim se opta também mais pelo falar do que pelo fazer, ou pelo siciliano “fazer algo para que tudo fique na mesma”.
As reformas, quando se fazem, fazem-se na forma, mexendo pouco na substância. Já aqui se falou do excesso de regulamentação e da escassez de regulação…
É sabido pelas teorias da escolha pública que a racionalidade dos políticos é diferente da dos cidadãos, mas isso não explica tudo.
Tenho dificuldade em encontrar uma reforma que corrija as enormes falhas de mercado que existem neste nosso sector do “take it from the poor and give it to the rich” onde pouco mais de 20% da população pratica desporto, mas já não tenho essa dificuldade em encontrar ideias, planos e projectos, ainda que conceda que o estudo técnico-cientifico do desporto seja escasso.
Se a isso juntarmos, particularmente no caso do desporto, a falta de liderança, transparência, competência, eficiência e rigor na gestão de muitas organizações desportivas torna-se ainda mais difícil passar das palavras aos actos e aceitar (valorizar é pedir demais) aqueles que se dispõem a “sujar as mãos” na gestão pública, como bem disse outrora.
Não sei se é uma perspectiva de pessimismo ou desencantamento, mas “as pegadas na areia do tempo não são deixadas por pessoas sentadas”. No entanto, neste percurso de alguns anos pela areia desportiva, muitas vezes me pergunto se é preferível ser actor ou figurante. Andar ou ficar sentado na areia?
O seu contributo avivou essa questão...

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