segunda-feira, 12 de maio de 2008

E depois do adeus

Organizar a Expo é mais fácil, mil vezes mais fácil, do que levar as artes, as letras,
as ciências, às escolas; do que ter uma cidade limpa, do que ter serviços públicos humanizados
e razoavelmente eficientes.
(António Barreto)

Bruxelas, o nosso farol e o guarda que zela pelos nossos bons costumes e boas praticas orçamentais, estima que em 2009 passemos de sétimo para o nono país mais pobre da União Europeia, sendo ultrapassados pela Eslováquia e Estónia no "ranking" da riqueza por habitante.
Num país que, ano após ano, empobrece e se depauperiza, faz sentido falar da possibilidade de acolher grandes eventos desportivos internacionais e para tal afectar significativos recursos públicos? Malgré tout, pode ainda fazer algum sentido. É o que se passa a explicar.
Não vamos repetir o que sobre a matéria já escrevemos aqui em outros espaços de opinião. A realização de grandes eventos desportivos internacionais comporta vantagens, que importa potenciar, e riscos que importa impedir e/ou limitar. Uns e outros estão abundantemente demonstrados em muita da literatura existente sobre o assunto.
Muitos países, candidatos á organização de grandes eventos desportivo centram-se, actualmente, não tanto no custo da respectiva realização mas no chamado “legado “dos eventos, querendo com isto significar o custo decorrente do funcionamento de estruturas que tendo sido planeadas par acolher esses eventos carecem posteriormente de lógicas de reconversão e de outro tipo de aproveitamento. Muitas agências especializadas em elaborar cadernos de encargos para grandes eventos, ou tão só estudos de avaliação de viabilidade, começam a dedicar a atenção à fase do pós-evento . Este deslizar para o que vem a seguir à festa e aos foguetes este verdadeiro depois do adeus, continua, nos estudos que conhecemos, muito centrado nos custos das infra-estruturas e no seu funcionamento e menos nos ganhos (ou custos?) no plano desportivo. É certo que nenhum governo, aqui ou em outra parte do mundo, se propõe acolher um grande evento desportivo internacional em que o objectivo principal seja o de melhorar o desporto internamente. Mas se o fizer, melhor seria. Os países podem, e a meu ver devem, aproveitar esses eventos para melhorar e valorizar os sistemas de práticas desportivas. Até porque os grandes eventos, a prazo, podem penalizar as respectivas realidades desportivas com “facturas” cujo pagamento desliza no tempo.
De modo a que ocorra um efeito positivo, não se pode esperar que ele surja automaticamente. Torna-se necessário tomar decisões políticas e programáticas que apostem nesse sentido. Que permitam retirar o máximo aproveitamento desportivo do conjunto de interesses que esses eventos mobilizam. O papel das autoridades públicas não se deve resumir ao mais óbvio: o financiamento. Devem sobretudo apostar nas sinergias que podem resultar desse financiamento de modo a que dele resulte não apenas uma despesa, mas sobretudo um investimento em termos desportivos. Mas as entidades e organizações desportivas também não podem ficar expectantes de que tudo tenha de acontecer na orbita dos governos. Espaçadamente, uns e outros, abordam a possibilidade de retornar ao acolhimento a grandes eventos desportivos. Seria útil que entre o deve e haver dessas possibilidades o que ganha desporto não fosse esquecido. É apesar de tudo o mais dificil.

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