sábado, 9 de janeiro de 2010

A tomada de decisão

'(...) Perante um público de dirigentes, chefias, coordenadores de equipas e projectos, coloca-se a seguinte questão:

- Imaginem que chegam a casa e os vossos dois filhos discutem porque apenas existe uma laranja em casa e ambos a desejam. Que fariam? Eles perguntam que vocês os ajudem a tomar a decisão de quem fica com a dita laranja. Que fazem?

Ainda não terminei a questão e chovem sugestões!
"- Corta ao meio!
- Ninguém a come!
- Fico eu com ela!
- Quem achou primeiro!
- Quem comeu a anterior não come esta!
(mais um conjunto delas)"

Questiona-se se há mais...e sai a pergunta: "O que ainda não fizeram para tomar essas decisões?". Algum silêncio...e alguém se lembra de dizer "Não perguntámos a razão, porque queriam a laranja". Podemos perguntar a um dos filhos e ele responde-nos "Preciso da casca para fazer um bolo". E o outro "Do conteúdo para um sumo". Muito mais se pode seguir e geralmente, a chegada a esta conclusão demora alguns segundos, ou minutos.'

Não passa de um conto utilizado para estimular esta competência, mas pretende-se fazer o transfer para a realidade que é:
- decide-se rapidamente sem termos as informações básicas para a tomada de decisão;
- as pessoas não querem saber da escuta activa;
- o cargo de chefia e a quem decide exige-se saber recolher informação;
- a partilha entre razões, interesses, vontades e fins, é uma das melhores formas de gestão e concretização de objectivos.

A verdade é que somos estimulados para decidir rápido. Na nossa vida, no nosso trabalho premeia-se quem aparece com a decisão mais rápida e no desporto, os atletas, treinadores, juízes e dirigentes têm de decidir rapidamente, face aos múltiplos acontecimentos que acontecem constantemente.

A decisão deve ser rápida, sim! Mas dentro do timing que possuímos para decidir. Se um árbitro pode decidir em 01'' não precisa de se precipitar em milésimos. Se um atleta verifica que tem 5'' para decidir o que faz, pode recolher mais informação do que se tivesse de decidir em 2''.

Mais uma vez, no dirigismo, não partilhamos informação, sabendo por vezes que a razão e o interesse é o mesmo, mas preferindo ter mais adversários do que parceiros. Duplicam-se esforços, recursos financeiros e outros, baixam-se os impactos das acções e projectos, para finalmente, mostrar-se algo inferior.

Precisa-se de uma visão e missão bem definida para o desporto. 'Apenas' uma certa desorganização de quem faz o quê, e o ainda excesso (ou seja, a existência) de recursos financeiros possibilita sustentar pequenas vontades e permite que os dirigentes desportivos não trabalhem também eles em equipa e em rede.

11 comentários:

Luís Leite disse...

Tudo isto está muito certo, mas o problema é, ainda, e será por muitos e longos anos cultural.
Portugal está completamente futebolizado, devido aos interesses políticos em manipular e estupidificar a população.
No Desporto como na Música, nas Artes Plásticas, na Arquitectura, nas Artes Cénicas e em muitas outras áreas da Cultura e da Ciência, existem minorias muito reduzidas com conhecimento geral e específico. O resto são analfabetos culturais ou funcionais...
No caso do dirigismo desportivo, a clubite futebolística e os interesses associados ainda continuam a prevalecer e mesmo os mais altos dignitários do Desporto Português não conseguem e não querem fugir a esta tradição demagógica terceiro-mundista.
O nível cultural desportivo das elites e da população em geral é (sempre foi) muito baixo. E não está a melhorar. Basta olhar para os diários desportivos...
O próprio Ensino (não digo Educação) tem vindo a ser massificado, nivelando o mais possível por baixo. Tudo com a mesma finalidade: estupidificar, para manipular.
Só assim se compreende que Portugal tenha, em termos relativos, a pior prestação europeia em Jogos Olímpicos de Verão: apenas 22 medalhas em 22 presenças. Comparemos com outros países à volta ou abaixo dos 10 milhões de habitantes:
Suécia: 475 medalhas em 25 participações, para 9,2 milhões;
Hungria: 459 em 24, para 10,1 milhões;
Finlândia: 299 em 23, para 5,3 milhões;
Suiça: 181 em 26, para 7,8 milhões;
Dinamarca: 170 em 25, para 5,5 milhões;
Noruega: 144 em 23, para 4,8 milhões;
Bélgica: 139 em 24, para
Bulgária: 212 em 18, para 7,5 milhões;
Grécia: 108 em 26, para 11,2 milhões;
Áustria: 86 em 25, para 8,3 milhões;
República Checa: 33 em 4, com 10,3 milhões;
Estónia: 31 em 10, com 1,3 milhões.
Até a Irlanda tem mais medalhas (23) em apenas 19 participações, com 4,3 milhões de habitantes.
Mesmo os novos estados europeus com muito menor população e muito poucas presenças (4) já nos ultrapassaram ou irão fazê-lo em breve (Eslováquia, Croácia, Eslovénia, etc.)
Portanto, o problema é acima de tudo cultural e de política de ensino.
É que nós ainda estamos (estaremos?) no princípio e os outros já vão longe!
Visão e decisão, sim senhor, mas para começar pela Educação!

Tiago Viana disse...

Mais um excelente post.
A sua aplicação no nosso quotidiano
ajudar-nos-ia imenso.

Anónimo disse...

Bom poste.
O método que usa é eficaz.
Se o passar a enriquecer com citações científicas a sua utilidade aumenta porque você é capaz de as inserir no fio do debate actual.
Não tenha receio porque as pérolas serão apanhadas por quem delas necessita e dão-lhe credibilidade.

joão boaventura disse...

Dizia um médico:

"Se tenho 5 minutos para fazer uma operação e salvar o paciente, penso 4 minutos em como fazê-la, e opero num minuto."

A decisão depende da gestão do tempo.

Rui Lança disse...

Caro Luís Leite,

O problema é capaz de ser cultural, mas é bastante mais transversal do que indica. Acredite, e falo por experiência própria, que este caso específico de julgarmos e decidirmos sem recolha da informação qualitativa (de quantidade estamos nós cheios) vai muito para além do fenómeno futebolístico e do dirigismo apenas desportivo.

É verdade que o cenário do dirigismo desportivo não tem melhoras muito significativas. É verdade que ao dar aulas...penso por vezes "chegam cada vez mais com menores competências sociais e de relações humanas".

É verdade que há muito a fazer...mas estamos cá para isso mesmo. Foca a questão da Educação, concordo em absoluto. Quanto mais cedo tivermos estas softskills...melhor.

Obrigado pelo seu comentário.

Cumps,

Rui Lança disse...

Grande amigo Tiago,

Obrigado. Eu tento, e quero acreditar que há mais por aí que o fazem e aplicam.

Abraço.

Rui Lança disse...

Caro anónimo (das 20:15),

Obrigado pelo seu comentário. Acredite que até há mais citações do que exemplos destes. Tal como foco mais o experiencial em vez do expositivo, também estes exemplos às vezes têm mais impacto.

Cumps,

Rui Lança disse...

Caro João Boaventura,

Não sou expert em gestão do tempo. Ouvi em tempos um método, que de alguma forma aborda 3 focos:

- urgência;
- tempo que demoram a fazer as tarefas;
- importância.

Depois existem as outras abordagens...o que é importante para quem decide tem geralmente uma importância diferente para quem depende da decisão.

Cumps,

Anónimo disse...

Muito interessante o texto.

CR

Nuno Lopes disse...

Amigo Rui,

Continuo a achar que o problema também passa por nós. É claro que o sistema está instalado, é quem lá está não quer partilhar o que tem, e maior das ignorâncias, nem sequer quer aprender. Mas precisamos de GRITAR mais alto.

Um abraço

Rui Lança disse...

Caro Nuno Lopes,

Pode até ser uma 'batalha' desigual, mas disseste muito bem o que também se passa.

Abraço,